INVENTÁRIO DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIBEIRÃO DO REBOJO UGRHI PONTAL DO PARANAPANEMA ESTADO DE SÃO PAULO BRASIL Eder Pereira dos Santos edy_phn@yahoo.com.br Licenciado e Bacharel em Geografia FCT/UNESP campus de Presidente Prudente Antonio Cezar Leal cezar@fct.unesp.br Professor Doutor FCT/UNESP campus de Presidente Prudente Messias Modesto dos Passos passos@stetnet.com.br Professor Livre Docente FCT/UNESP campus de Presidente Prudente Introdução A presente pesquisa nascendo dos estudos empreendidos na bacia hidrográfica do rio Paranapanema e na Raia Divisória São Paulo Paraná Mato Grosso do Sul, com apoio da FAPESP e do CNPq, visou ser uma contribuição ao planejamento ambiental da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo tendo em vista os inúmeros problemas sócio-ambientais presentes nesta bacia e no Pontal do Paranapanema, região da qual faz parte. Tais problemas mencionados e oriundos de um histórico processo de uso e ocupação do solo exigem medidas e ações mitigadoras e de gestão dos seus recursos naturais que se revertam, portanto, na melhoria de seu estado ambiental. Objetivando ser uma contribuição ao planejamento ambiental, tais estudos suscitam o debate acerca do recorte bacia hidrográfica bem como denota a importância dos recursos naturais nesta bacia, notadamente os recursos hídricos. Em meio ao contexto que denota a importância dos recursos hídricos e o necessário processo de planejamento e gestão, evidenciamos a bacia hidrográfica como recorte geográfico para tais ações isso por que: O critério de bacia hidrográfica é comumente usado porque constitui um sistema natural bem delimitado no espaço, composto por um conjunto de terras topograficamente drenadas por um curso d água e seus afluentes, onde as interações, pelo menos físicas, são integradas e, assim, mais facilmente interpretadas. (SANTOS, 2004, p.40). 1
A bacia do Ribeirão do Rebojo (Figura 1), perfaz a área compreendente da bacia do rio Paranapanema e inserida nos limites da Unidade de Gerenciamento de Recursos Hídricos do Pontal do Paranapanema-UGRHI 22, assim definida pela política estadual de gestão dos recursos hídricos do Estado de São Paulo. Considerando a importância dos recursos naturais, notadamente dos recursos hídricos, mencionamos o uso e ocupação do solo que nesta bacia hidrográfica e região, acarretou inúmeros problemas sócio-ambientais que a impactam grandemente em seu contexto e processo de desenvolvimento. 2
Figura 1: Mapa de localização da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo. O uso e ocupação do solo é fator determinante para analisarmos a qualidade do meio ambiente em um dado espaço ou território na medida em que o mesmo, sendo feito de forma inadequada, pode contribuir para a produção e mesmo aceleração da desestabilização dos elementos constituintes desse espaço. 3
Um dos principais problemas identificados ao longo da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo certamente é o elevado déficit de vegetação em seus cursos d água que notoriamente está ligado ao mencionado histórico de uso e ocupação processado na região do Pontal do Paranapanema bem como os processos erosivos, bastante expressivos: O processo de erosão é um fenômeno natural que ocorre de forma lenta, sem causar maiores problemas ao meio. No entanto, este processo pode ser apressado pela ação do homem, sendo as principais causas da erosão acelerada: o desmatamento; as práticas agrícolas inadequadas; a ocupação incorreta de áreas, tais como de encostas, de margem de recursos hídricos, de terrenos mais sujeitos à erosão; alteração no escoamento natural da águas; movimentos de terra como os aterros e escavações; impermeabilização de terrenos. (MOTA, 1995, p.122). Segundo Mota (1995, p.122), o controle do processo erosivo baseado no disciplinamento do uso e ocupação do solo, pode ser alcançado através de algumas medidas como: proteção da vegetação; controle na ocupação de encostas; preservação das margens de recursos hídricos; etc. Diante do contexto exposto reafirmamos o papel indispensável da gestão dos recursos naturais bem como do próprio planejamento ambiental este último sendo mencionado por Almeida (1999) como um tipo de planejamento que não possui uma definição muito precisa já que ora se confunde com o planejamento territorial e mesmo com os planejamentos setoriais onde os integra como que uma extensão desses em suas considerações ambientais. Quanto a sua definição Almeida vai considerar o mesmo como sendo: Um grupo de metodologias e procedimentos para avaliar as conseqüências ambientais de uma ação proposta e identificar possíveis alternativas a esta ação, ou um conjunto de metodologias e procedimentos que avalia as contraposições entre as aptidões e usos dos territórios planejados.(almeida, 1999, p.14). No contexto do planejamento a proposta metodológica de Leal (1995) e Rodriguez (1994) e Rodriguez et al. (2004), considera-se o mesmo como de fundamental importância para o desenvolvimento da qualidade de vida da população e de uma nova relação sociedade-natureza. Assim, Mateo Rodriguez, considerando a importância do planejamento 4
ambiental para a conquista da sustentabilidade e como sendo grande subsídio para a política ambiental, vai elucidar que o principal objetivo deste será: Garantir de forma completa, as condições ecológicas para o desenvolvimento efetivo da produção social, e de todas as atividades da população, através do uso racional e da proteção dos recursos do meio ambiente, articulando-se através de quatro níveis devidamente integrados: a organização ambiental do território; a avaliação ambiental de projetos; a auditoria e peritagem ambiental e a gestão do modelo de Planejamento Ambiental.(RODRIGUEZ, 1994, p.583-584). Para Leal, o planejamento ambiental deve acima de tudo considerar a participação popular como um dos instrumentos mais importantes. Assim, (Leal, 1995, p.46) ressalta que essa participação popular no planejamento ambiental só tornar-se-á realidade dentro de um processo sério e persistente de formação e capacitação de professores, alunos e comunidade nas lides do planejamento. Objetivos A presente pesquisa objetivou ser uma contribuição ao planejamento ambiental da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo, por meio da realização de inventário e diagnóstico ambiental da bacia e a apresentação de propostas para seu planejamento e gestão. Um dos objetivos específicos mais importantes e positivos foi certamente a possibilidade de se verticalizar conhecimentos sobre teorias e metodologias de planejamento ambiental de bacias hidrográficas e de recursos hídricos. Metodologia Para alcançar seus objetivos essa pesquisa teve seu embasamento na proposta metodológica de Rodriguez (1994), Rodriguez et al. (2004) e Leal (1995) de forma que a mesma se concretizou mediante a construção de um Plano Ambiental composto das etapas: inventário; diagnóstico ambiental; prognóstico e propostas. A etapa de inventário foi fundamental para os resultados alcançados com trabalhos de campo visando angariar informações, dados e imagens e aplicação de questionários. 5
Para a elaboração das cartas temáticas propostas pela metodologia utilizou-se a ferramenta de processamento de imagens SPRING 5.0.4 e a interpretação de imagens de satélite CBERS 2. Resultados Na etapa de Inventário identificamos as unidades físicas da bacia elaborando cartas temáticas, na escala 1: 50 000 referentes a sua: geologia, geomorfologia (Figura 2), pedologia, declividade, hipsometria, vegetação (com ênfase nas áreas de APP`s áreas de Preservação Permanente) (Figura 3), unidades de uso e ocupação do solo ( urbana e rural ) (Figura 4), características climáticas. Subsídios importantes para chegarmos a identificação e mapeamento de suas unidades de paisagem (Figura 5). A bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo em se tratando de sua geomorfologia apresenta em seus aspectos físicos a presença de colinas médias, ocorrentes principalmente no alto e médio curso; colinas amplas ocorrentes principalmente no baixo curso. Outra característica geomorfológica da bacia é sua planície aluvial em seu deságüe junto ao rio Paranapanema. 6
Figura 2: Carta geomorfológica da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo. Com relação à pedologia da bacia temos as seguintes formações em seus domínios: PVe8: podzólico vermelho-amarelo, eutrófico, abrúptico, textura arenosa/média + podzólico vermelho-amarelo eutrófico, textura arenosa/média encontrados no alto curso do Ribeirão do Rebojo; PVe6: podzólico vermelho-amarelo, textura arenosa/média e média + podzólico vermelho-amarelo abrúptico, textura arenosa/média ocorrentes principalmente no médio curso do Rebojo e se prolongando pelo baixo curso à oeste em sua margem direita; PVe5: podzólico vermelho-amarelo eutrófico + podzólico vermelho-escuro eutrófico e distrófico, textura arenosa/média e média predominantes no baixo curso do Rebojo em sua margem esquerda, à leste. São encontrados ainda os Lea8: latossolo vermelho-escuro álico, textura média encontrados no alto curso do Córrego do Veado, principal afluente do Ribeirão do Rebojo, e numa estrita faixa à sudoeste do Córrego do Urutu afluente do Ribeirão do Rebojo em seu médio curso; Lea29: latossolo vermelho-escuro álico, textura média + podzólico 7
vermelho-amarelo eutrófico, textura arenosa/média e média + podzólico vermelho-escuro eutrófico e distrófico, textura arenosa/média presentes principalmente ao sul do alto curso da bacia; LEd3: latossolo vermelho-escuro distrófico, textura argilosa + podzólico vermelho-escuro eutrófico, textura média/argilosa e média encontrados em pequenas faixas do alto curso da bacia; LEd4: latossolo vermelho-escuro distrófico, textura argilosa e média + latossolo roxo eutrófico textura argilosa e muito argilosa encontrado no baixo curso da bacia justamente na área de deságüe do Ribeirão do Rebojo. A vegetação presente na faixa oeste do Estado de São Paulo, na região denominada de Pontal do Paranapanema, é constituída pelo domínio de mata atlântica que se estende até o rio Paraná. A predominância dessa vegetação na região é constituída e classificada como Floresta Tropical Semi-decídua. Outra tipo de vegetação presente nos domínios dessa região é a ocorrência do cerrado. Figura 3: Carta de vegetação remanescente da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo. 8
No entanto, em se tratando da existência da vegetação acima mencionada o que se percebe é a visível supressão dessa vegetação ao longo de toda a região do Pontal do Paranapanema. Atualmente o que observamos são enclaves de matas que estão fragmentadas por toda essa região. Tal supressão da vegetação natural presente nesta região se remete ao seu passado, sendo evidenciado pela história de uso e ocupação dessa extensa área de terras drenadas à oeste pelo rio Paraná e ao sul pelo rio Paranapanema. A vegetação remanescente presente na bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo (Figura 3) é visivelmente encontrada de forma esparsa ao longo da bacia. Observamos a ocorrência de fragmentos de mata principalmente ao sul do alto curso e à oeste do baixo curso do Rebojo. As matas ciliares ao longo do curso d`água do Rebojo e de seus afluentes são quase que inexistentes. Até mesmo as áreas de APP`s do Rebojo em torno de suas nascentes podem ser consideradas em estágio crítico assim como de seus afluentes. Em trabalho de campo pôde-se perceber tal dinâmica imposta à bacia do Ribeirão do Rebojo onde se verificou uma fragmentação acentuada de sua vegetação remanescente e uma quase que total falta de mata ciliar protegendo o curso d`água do Rebojo e de seus afluentes. Também foi possível enxergar de perto as áreas de expansão da lavoura canavieira principalmente no baixo e médio curso do Rebojo que avança em uma área onde as matas ciliares são quase que inexistentes mesmo em se tratando de suas nascentes. Ainda considerando o desenvolvimento e andamento da etapa de inventário, o estudo do uso e ocupação do solo na área da bacia se mostrou fundamental não apenas para o reconhecimento espacial de quais e onde estão dispostas as diversas formas de uso e ocupação do solo na bacia como também nos fez refletir acerca da adequação ou não dessas formas nas áreas em que estão dispostas. O uso e ocupação na bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo (Figura 4) têm certamente sua história marcada pela dinâmica vivenciada pelo Pontal do Paranapanema em seu processo de ocupação. Quanto aos aspectos do uso e ocupação no alto curso da bacia, em seu trecho pertencente ao município de Tarabaí, observa-se uma pequena malha urbana constituída por 6.108 habitantes (IBGE, 2007). Embora sendo de pequeno porte, trás consigo certos problemas que já merecem atenção por parte do poder público. Observa-se um crescimento principalmente para as áreas ao sul de sua malha urbana ocupadas principalmente por 9
populações com menor poder aquisitivo. Tais áreas mostram-se declivosas e com arruamentos voltados principalmente para o fundo de vale e muito próximas das áreas de nascentes do Rebojo. Figura 4: Carta de uso e ocupação da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo. No médio curso, principalmente nos limites do município de Estrela do Norte, a dinâmica do uso e ocupação refere-se a pequena malha urbana deste município com 2.454 habitantes (IBGE, 2007). Outra dinâmica importante é o grande crescimento da expansão canavieira que não possui planta industrial de usinas de produção de açúcar e álcool no município mas somente vastas áreas de cultura canavieira. No baixo curso do Rebojo, basicamente dentro dos limites administrativos do município de Pirapozinho, a dinâmica do uso e ocupação do solo é representada principalmente pela área de expansão da cultura canavieira. Nesse trecho do Ribeirão do Rebojo, em trabalhos de campo, verificou-se a 10
referida dinâmica de forma que tal paisagem predomina e se impõe tanto do lado paulista como do lado paranaense, após o rio Paranapanema. A definição das unidades de paisagem da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo, como exposto pela metodologia trabalhada, necessitou do desenvolvimento da etapa de inventário que procurou realizar um detalhamento da bacia gerando o mapeamento de suas unidades físicas e de uso e ocupação do solo considerando suas características específicas. A partir dessas informações gerou-se cartas síntese analíticas das unidades físicas e das unidades de uso e ocupação do solo, ou seja, considerou-se as inter-relações presentes em cada uma dessas unidades. Posteriormente se considerou uma inter-relação entre a carta síntese analítica das unidades físicas e a carta síntese analítica das unidades de uso e ocupação do solo. Tais informações presentes e inter-relacionadas nestas unidades, do meio físico e de uso e ocupação do solo foram a base para a identificação das unidades de paisagem da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo, assim como, a confecção da carta temática (Figura 5) representando tal informação. 11
Figura 5: Carta síntese das unidades de paisagens da bacia hidrográfica do Ribeirão do Rebojo. Com base na metodologia proposta chegou-se as seguintes unidades de paisagem da bacia: I. Deságüe do Ribeirão do Rebojo; II. Vale do Ribeirão do Rebojo; III. Afluentes do Ribeirão do Rebojo; IV. Colinas amplas do baixo curso com cana, pastagem e agricultura sobre podzólicos; V. Colinas amplas do médio curso com cana e pastagem sobre podzólicos; VI. Colinas médias da vertente leste do médio curso com pastagem, cana e malha urbana sobre podzólicos; VII. Colinas médias da vertente oeste do médio curso com agricultura, pastagem e cana sobre podzólicos e latossolos; VIII. Espigão central dos afluentes do alto curso com agricultura, pastagem, cana e malha urbana sobre podzólicos; IX. Espigão do alto curso de colinas médias com cana e pastagem sobre latossolos e podzólicos; Tais unidades de paisagem com as inter-relações de seu meio físico e do uso e ocupação do solo denotam certas particularidades importantes e fundamentais para a compreensão das dinâmicas ora processadas em seus domínios onde o conhecimento e o planejamento das mesmas podem ser fundamentais devido a possibilidade de focar cada unidade em suas particularidades, problemas e possíveis adequações. Outro aspecto fundamental foi a publicação dos resultados da pesquisa como um todo em forma de monografia junto ao Departamento de Geografia da FCT/UNESP bem como sua disposição a toda comunidade e órgãos públicos ligados ao planejamento e gestão ambiental. Referências bibliográficas ALMEIDA, J.R. et al. Planejamento Ambiental. Rio de Janeiro: Thex Ed.: Biblioteca Estácio de Sá, 1993. 153p. DE BIASI, M. A carta clinográfica: os métodos de representações e sua confecção. Revista do Departamento de Geografia. FFLCH/USP, São Paulo, v.6, 1992. IBGE, Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística. Cidades. Brasil, 2009. LEAL, A.C. Gestão das Águas no Pontal do Paranapanema - São Paulo. Campinas, 2000. Tese (Doutorado em Geociências Área de concentração em Administração e Política de Recursos Minerais) Inst. de Geociências UNICAMP, 299p. LEAL, A.C. Meio ambiente e urbanização na microbacia do Areia Branca - Campinas - São Paulo. Rio Claro, 1995. 155p. Dissertação (Mestrado em Geociências e Meio Ambiente) - Instituto de Geociências e Ciências Exatas, Universidade Estadual Paulista. 12
MOTA, S. Preservação e conservação de recursos hídricos. 2.ed. Rio de Janeiro: ABES, 1995. RODRIGUEZ, J.M.M, SILVA, E.V da, CAVALCANTI, A.P.B. Geoecologia das Paisagens: uma visão geossistêmica da análise ambiental. Fortaleza, Editora UFC, 2004. RODRIGUEZ, J.M.M. Planejamento Ambiental como campo de ação da Geografia. In: C.B.G, 5, 1994, Curitiba/PR. Anais... Curitiba: AGB, 1994. V.1. SANTOS, R.F. dos. Planejamento Ambiental: teoria e prática. S.Paulo: Oficina de textos, 2004. 13