BERNARDO ERHARDT DE ANDRADE GUARACY INTERNACIONALIZAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS MINEIRAS ATRAVÉS DE CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO



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Transcrição:

BERNARDO ERHARDT DE ANDRADE GUARACY INTERNACIONALIZAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS MINEIRAS ATRAVÉS DE CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Curso de Relações Internacionais 2003

Bernardo Erhardt de Andrade Guaracy INTERNACIONALIZAÇÃO DE MICRO E PEQUENAS EMPRESAS MINEIRAS ATRAVÉS DE CONSÓRCIO DE EXPORTAÇÃO um estudo de caso do consórcio MovExport Monografia de conclusão do Curso de Relações Internacionais da Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Orientador: Sherban Leonardo Cretoiu Belo Horizonte 2003 1

Curso de Relações Internacionais Pontifícia Universidade Católica de Minas Gerais Bernardo Erhardt de Andrade Guaracy Internacionalização de micro e pequenas empresas através de consórcio de exportação, Belo Horizonte 2003. Sherban Leonardo Cretoiu (orientador) PUC Minas Taiane Las Casas PUC Minas Roberto González Duarte PUC Minas 2

SUMÁRIO RESUMO... 5 INTRODUÇÃO... 6 CAPÍTULO 1 - POLÍTICA DE EXPORTAÇÃO... 9 1.1) PARÂMETROS NACIONAIS... 9 1.2) AS POLÍTICAS DE EXPORTAÇÃO PARA AS MICRO E PEQUENA EMPRESAS... 19 1.3) A QUESTÃO DA COMPETITIVIDADE... 25 CAPÍTULO 2 - O ASSOCIATIVISMO ENTRE AS EMPRESAS... 28 2.1) CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO COMO ESTRATÉGIA DA COMPETITIVIDADE... 29 2.2) CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO E INSTITUIÇÕES DE APOIO... 33 2.3) FASES DE FORMAÇÃO DE UM CONSÓRCIO... 35 2.3.1) PRIMEIRA FASE: APOIO À CRIAÇÃO DO CONSÓRCIO... 36 2.3.2) SEGUNDA FASE: CONSTITUIÇÃO DO CONSÓRCIO... 36 2.3.3) TERCEIRA FASE: MANUTENÇÃO DO CONSÓRCIO... 37 2.4) TIPOS DE CONSÓRCIOS... 38 2.4.1) CONSÓRCIO DE PROMOÇÃO À EXPORTAÇÃO... 40 2.4.2) CONSÓRCIO DE VENDAS... 40 2.5) VANTAGENS PROPORCIONADAS PELOS CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO... 41 2.5.1) PENETRAÇÃO EM NOVOS MERCADOS NO EXTERIOR... 41 2.5.2) ESTABELECIMENTO DE CONTATO COM NOVOS COMPRADORES... 42 2.5.3) SEGURANÇA ALCANÇADA PELA DIVERSIFICAÇÃO DE MERCADO E PELA OPERAÇÃO EM CONJUNTO... 43 2.5.4) A ATENUAÇÃO DAS INCERTEZAS DAS TROCAS COMERCIAIS... 43 2.5.5) A REDUÇÃO DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO E DAS DESPESAS GERAIS DE EXPORTAÇÃO... 43 2.6) DIFICULDADES ENFRENTADAS PELOS CONSÓRCIOS... 44 2.6.1) FINANCIAMENTO... 44 2.6.2) IDENTIDADE PRÓPRIA X IDENTIDADE DO GRUPO... 44 2.6.3) PROTEÇÃO DAS INFORMAÇÕES CONFIDENCIAIS... 45 2.6.4) LINHA DE PRODUTO... 45 2.6.5) MUDANÇAS ENFRENTADAS NO PRÓPRIO CONSÓRCIO... 46 2.6.6) CARÊNCIA DE PESSOAL ESPECIALIZADO... 46 CAPÍTULO 3 - ANÁLISE DE DADOS E ESTUDO DE CASO: MOVEXPORT... 47 3.1) BALANÇO DA ECONOMIA MINEIRA EM 2002... 47 3.2) PRODUTO INTERNO BRUTO (PIB)... 48 3.3) COMÉRCIO EXTERIOR BRASIL E MINAS GERAIS... 49 3.4) CONSÓRCIOS DE EXPORTAÇÃO EM MINAS GERAIS... 51 3.5) ESTUDO DE CASO: CONSÓRCIO MOVEXPORT... 53 3.5.1) CARACTERÍSTICAS DA INDÚSTRIA MOVELEIRA NO BRASIL... 54 3.5.2) O SETOR NA REGIÃO DE UBÁ E O MOVEXPORT... 59 CONCLUSÃO... 66 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS... 67 3

4

RESUMO Este trabalho foi pensado e desenvolvido para analisar a inserção das micro e pequenas empresas no cenário internacional através da formação de consórcios de exportação. Estas empresas são, notadamente, geradoras de empregos e renda locais, mas a atuação no fluxo de comércio mundial exige uma preparação específica e um planejamento estratégico. Atualmente, o governo tem se empenhado em criar programas que visam a alavancagem das exportações e o alargamento da base exportadora do país. Para executar diretrizes, tem destinado verba e profissionais a instituições que promovam o comércio exterior e capacitem os empresários. Particularmente, em relação à micro e pequenas empresas, programas de formação de consórcios de exportação são formulados pelos órgãos competentes tais como APEX e SEBRAE que procuram articular a política de exportação vigente no país às condições peculiares das firmas de pequeno porte. No trabalho a seguir, é discutida a formação de consórcios de exportação como forma de inserção competitiva no processo de exportação, fazendo parte de uma estratégia nacional de impulsionar as vendas de produtos brasileiros no exterior. 5

INTRODUÇÃO O comércio internacional é componente da dinâmica dos fluxos transnacionais e responsável pelo intercâmbio de divisas, mercadorias e serviços entre as nações. Através das empresas instaladas nos diversos países, há sempre uma busca pelos meios de produção, novos mercados, novos produtos, novas tecnologias, mão de obra qualificada ou barata e recursos naturais. Este é o jogo do comércio mundial. Mas para fazer parte deste jogo, as economias nacionais devem proporcionar um ambiente favorável para a atração de empresas estrangeiras e a capacitação das nacionais, visando torná-las mais produtivas e competitivas. Ao se tornarem competitivas, as empresas podem alcançar mercados externos através das exportações e assim aumentar seus lucros. Mas exportar não pode ser considerada uma estratégia secundária, ou um meio para que as empresas desloquem seus produtos do mercado doméstico para o mercado externo. As políticas de exportação devem ser desenvolvidas visando a continuidade, ou seja, através de um planejamento estratégico por parte das empresas e órgãos governamentais competentes e não visto como um processo momentâneo, de curto prazo. O Brasil, com a abertura comercial no inicio da década de 90, pode ser considerado um país com a economia internacionalizada pelo montante de investimento internacional que recebe: US$ 21 bilhões em 2002, sendo o 11º receptor mundial (OMC, 2002) e pelas empresas multinacionais que aqui estão produzindo. No entanto, o país tem uma participação irrisória no comércio mundial, com suas exportações atingindo US$ 60,3 bilhões no final de 2002, correspondendo a apenas 0,9% das exportações mundiais e ocupando o 28º lugar no ranking da Organização Mundial do Comércio (OMC, 2000). Qual a razão deste paradoxo? Por que o Brasil não consegue alavancar suas exportações em uma época em que o comércio internacional é dinâmico devido, em grande parte, à globalização que estreitou as barreiras transnacionais com o avanço das tecnologias de informação e transporte? Qual(is) a(s) grande(s) dificuldade(s) para exportar no Brasil? O governo brasileiro tem tido uma grande preocupação em reverter os resultados na balança comercial, que acumulou seguidos déficits desde o Plano Real implantado em 1994, pois a política cambial, favoreceu as importações. Este fato, somado à necessidade de modernizar o sistema produtivo do país (processo iniciado com o presidente Fernando Collor em 1990) resultaram em uma balança comercial deficitária durante quase 10 anos. Assim, o governo FHC (principalmente no 2º mandato) se empenhou em promover políticas de 6

exportação, pois considerou essencial a entrada de divisas externas através da exportação, o que contribui no abatimento dos mesmos déficits do balanço de pagamentos. É neste cenário nacional que as micro e pequenas empresas (MPE s) 1 ganham atenção e notoriedade. As micro e pequenas empresas, no âmbito local, são diretamente agentes geradoras de emprego; no período 1995 a 2000, o número de trabalhadores em empresas de grande porte cresceu 0,3% enquanto que nas microempresas o crescimento do número de trabalhadores foi de 25,9% 2. A geração de empregos é o grande desafio da economia moderna já que o Estado e tampouco as grandes corporações estão conseguindo absorver a mão de obra que chega ao mercado de trabalho e aquela que se encontra inativa devido, justamente, à falta de oportunidades. O crescimento vertiginoso nos últimos cinco anos das MPE s rompeu com a tradição de que as grandes empresas são as maiores empregadoras e produtoras do país. Realmente elas (as grandes) possuem uma posição de liderança pela capacidade de barganha e pelo volume de capital que carregam em suas estruturas, aumentando as vendas e lucros em seus fluxos comerciais. As grandes empresas ainda empregam mais, segundo dados da Relação Anual de Informações Sociais 3 (RAIS) publicada em 2000, significando percentualmente 54% da força de trabalho nacional contra 46% das micro, pequenas e médias. Outro dado interessante de ser apontado como justificativa ao estudo da importância das MPE s é a migração de empregos das grandes para estas: 1,9 milhão de empregos foram criados nas micro e pequenas firmas, enquanto que as médias e grandes criaram apenas 88.100 vagas 4 no período de 1995 a 2000. Este diagnóstico é necessário para se traçar programas efetivos de capacitação para a inserção de seus produtos e serviços no mercado internacional. É fato que somente uma parcela destas MPE s têm capacidade e interesse em exportar, dependendo da área em que atuam. Em um âmbito global, estas empresas correspondem à cerca de 20% do PIB brasileiro 5, sendo as micro responsáveis por 8% e as pequenas por 12%. A tabela abaixo demonstra a participação quantitativa das MPE s no total dos estabelecimentos industriais, comerciais e do setor de serviço no cenário econômico do Brasil 1 De acordo com a classificação do SEBRAE: micro empresa emprega de 1 a 19 pessoas e as pequenas de 20 a 99 pessoas, ambas no setor industrial. 2 Disponível em <http://www.mdic.gov.br> 3 disponível em< http://www.bndes.gov.br> 4 Revista VOCÊ S.A. ano5, n.46, p.23, abril 2002. 7

Tabela 1 Participação das MPE s no total de estabelecimentos Industriais, Comerciais e do setor de serviço Setor Composição % Micro % Pequena % Média e Grande % Indústria 15,0 82,85 12,77 4,38 Comércio 52,5 90,92 7,79 1,29 Serviço 32,5 93,56 5,42 1,02 TOTAL 100,0 90,60 7,70 1,70 Fonte: Sebrae Baseado nestes dados, na percepção da crescente participação das MPE s na economia brasileira e justamente na necessidade de uma alavancagem nas exportações, decidi eleger como objeto de estudo as MPE s exportadoras de Minas Gerais. Pretendo assim, investigar a capacidade competitiva das mesmas quanto à formação de consórcios de exportação para comercialização seus produtos e analisar a dinâmica comercial e as estratégias para atingir o mercado internacional. A análise dos programas governamentais de capacitação à exportação oferecidos, principalmente, através do SEBRAE e APEX, assim como os recursos disponibilizados pelo governo (financiamentos, incentivos fiscais, promoção comercial) também serão alvos da pesquisa. No primeiro capítulo foram levantados aspectos gerais da atual política de exportação brasileira, e particularmente as medidas destinadas às MPE s, identificando o que se tem realmente executado e as principais dificuldades para implementação. O conceito de competitividade também é discutido ao final desta parte. No segundo capítulo é feita uma discussão sobre a formação dos consórcios de exportação para as MPE s, procurando envolver tanto os aspectos operacionais quanto as instituições de apoio e os mecanismos para a implantação da estrutura do consórcio. Por fim, no terceiro e último capítulo foi realizado em estudo de caso. O objeto escolhido foi o consórcio de móveis da região de Ubá/MG, denominado MovExport. A partir deste caso, os conceitos anteriormente propostos são discutidos em uma perspectiva prática e de análise de resultados. 5 Revista Economia Estado de Minas, n 23, p.64, março de 2000 8

CAPÍTULO 1 - POLÍTICA DE EXPORTAÇÃO 1.1) PARÂMETROS NACIONAIS O Brasil estabelece comércio de mão dupla (exportações e importações) com vários parceiros isoladamente e/ou com blocos comerciais. É a partir desta dinâmica que se torna essencial a elaboração de uma política de exportação eficaz que incentive um número cada vez maior de empresas a participar deste processo comercial. Somente com uma política bem definida, programas serão idealizados e terão maiores chances de alcançar resultados satisfatórios, pois estarão direcionados aos setores e empresas com maior competitividade. As MPE s também fazem parte de alguns setores estratégicos para exportação, apesar de contribuírem muito pouco nas exportações globais: cerca de 5% do montante exportado pelo país em 2001, o que corresponde a US$ 3,5 bilhões 6, mesmo existindo 9.186 MPE s exportadoras (vide tabela 6) que correspondem a 70% das empresas exportadoras brasileiras no total (incluindo grandes, médias, pequenas e micro). Quanto ao estado de Minas Gerais, os setores os quais as MPE s exportadoras mineiras têm uma presença considerável são: malharia, móveis, café, artesanato, fogos de artifício e pedras de revestimento. O volume exportado pelo estado no ano de 2002 foi de US$ 6,3 bilhões 7. As MPE s mineiras seguem a lógica nacional demonstrada anteriormente: respondem por cerca de 80% das firmas exportadoras mineiras, mas contribuem para a balança comercial do estado somente com um montante de US$ 180 milhões, ou 3% do volume exportado 8. 6 Dados da FUNCEX a partir do projeto: Desempenho e potencial exportador das micro e pequenas empresas de Minas Gerais: bases para uma ação eficaz de promoção comercial julho/2002. 7 Disponível em http://www.mdic.gov.br 9

Tabela 2 Perfil das empresas exportadoras de MG - 1998/2000 Tamanho da Empresas Exportadoras 2 Valor da Exportação Firma 1 (Nº. absoluto) (em US$ 10 6 ) 1998 1999 2000 1998 (%) 1999 % 2000 % Micro 635 687 562 366,5 4,8 324,5 5,1 267,8 4,0 Pequena 253 271 293 798,1 10,5 612,5 9,6 584,6 8,7 Média 240 240 231 1.328,4 17,5 1.147,7 18,0 1.109,2 16,5 Grande 145 159 160 5.094,1 67,1 4.290,4 67,2 4.717,8 70,3 Não Classificado 3 14 16 196 0,7 0,0 6,4 0,1 30,0 0,4 TOTAL 1.287 1.373 1.442 7.587,8 100,0 6.381,5 100,0 6.709,4 100,0 Fonte: Banco de dados FUNCEX, com base em informações da SECEX/MDIC e Rais/MTE. Obs.: (1) Baseado no número de empregados. (2) Inclui empresas industriais e comerciais. (3) Não informaram o número de empregados. Trata-se, muito provavelmente, de micro e pequenas empresas. As MPE s merecem ter programas direcionados a elas quanto às políticas de exportação. Há um consenso entre os especialistas em comércio exterior e economistas sobre o fraco desempenho das exportações: baixa rentabilidade da atividade exportadora em virtude dos tributos, existência de uma base exportadora estreita, concentração das exportações em um número restrito de produtos, escassa diversificação dos mercados de destino, descoordenação das ações governamentais, baixo valor agregado de nossas exportações e ausência de uma cultura empresarial exportadora. Outros fatores podem ser apontados, mas em termos gerais, este é o escopo das dificuldades para concretizar a exportação. A definição de uma política eficaz de exportação deve ter um alvo específico para atuar. Talvez esse seja o dilema do governo: apoiar as empresas exportadoras dando-lhes totais recursos e incentivos ou deslocar atenção e os mesmos recursos para empresas com potencial para a exportação? O passo inicial, segundo Ricardo Markwald e Fernando Puga, é a escolha do público alvo na definição da política estratégica de exportações: 8 Dados da FUNCEX a partir do projeto: Desempenho e potencial exportador das micro e pequenas empresas de Minas Gerais: bases para uma ação eficaz de promoção comercial julho/2002. 10

A seleção da clientela à qual serão destinadas de forma prioritária as ações de promoção segue um processo de aproximações sucessivas que inicia, freqüentemente com a seguinte indagação: é conveniente concentrar os esforços nas empresas não exportadoras, com o intuito de promover o alargamento da base exportadora doméstica, ou é preferível restringir o foco da política de promoção e privilegiar iniciativas em benefício de firmas com experiência prévia na atividade exportadora? (Markwald e Puga, 2002, pg.4) É pertinente, no entanto, usar uma definição para política de promoção de exportações antes de prosseguir explorando o tema. Usarei a definição de Seringhauss e Rosson (1990): promoção de exportação é definida como medida de política pública na qual engloba atividade de exportação verdadeira ou potencial de uma empresa, indústria ou a nível nacional. Logo, a função da promoção da exportação é a criação de uma consciência da atitude exportadora como uma opção de crescimento, expansão do mercado, redução ou remoção das barreiras para exportar e a criação de uma promoção que incentive e dê assistência aos atuais e potenciais exportadores. (Seringhauss, F.H.R. e Rosson, P. J. Government export promotion: a global perspective, tradução livre). Retomando a discussão de incentivar novas empresas a exportar ou privilegiar aquelas que já exportam, é importante ressaltar que as opções não são necessariamente excludentes e são raros os países cuja política de promoção exportações ignore completamente um ou outro objetivo. Assim, vale a pena examinar os argumentos em favor de uma ou a outra opção. Segundo Markwald e Puga (2002), as iniciativas destinadas a transformar não exportadores em exportadores ativos atendem a um objetivo permanente da política de promoção de exportações: garantir um fluxo contínuo de novas empresas capaz de alimentar, expandir e diversificar a base exportadora local. Trata-se, por definição, de uma política cujos objetivos e resultados apontam para o longo prazo. Há, no entanto, diversas circunstâncias que podem contribuir para que a política, além de permanente, seja considerada também prioritária: Quando a base exportadora é excessivamente estreita, quando o ingresso de novos exportadores é reduzido ou quando as empresas domésticas carecem de uma adequada percepção das oportunidades oferecidas pelo mercado internacional justifica-se a escolha dos não exportadores como alvo prioritário da política de promoção de exportação. (Markwald e Puga, 2002, pg.5) 11

Há evidências empíricas que justificam iniciativas com foco nas empresas não exportadoras. Um estudo de Roberts e Tybout (1997) que examinou três episódios de crescimento acelerado das exportações, que foram Marrocos, Colômbia e México verificou que, em dois deles, mais da metade do crescimento total das exportações de produtos manufaturados deveu-se à contribuição de exportadores estreantes. De outro lado, as empresas com experiência exportadora anterior não fizeram grandes ajustes nos volumes exportados. É preciso destacar também que os surtos exportadores analisados no trabalho de Roberts e Tybout (1997) não decorreram de ações ou iniciativas que possam ser atribuídas a uma política de promoção comercial strictu sensu, mas resultaram de mudanças na política cambial (desvalorizações). Ainda assim, esses episódios destacam a existência, entre os não exportadores, de empresas maduras, prontas para exportar, e que poderiam ser alvo de políticas de promoção. As experiências examinadas por Roberts e Tybout (1997) sugerem que iniciativas destinadas a reduzir os custos de entrada na atividade exportadora podem, em alguns casos, obter resultados significativos, inclusive no curto prazo. A principal crítica às políticas de promoção com foco nas empresas não exportadoras é baseada no argumento de que o ingresso na atividade exportadora resulta de um processo típico de auto seleção, em que as firmas mais eficientes e produtivas se auto selecionam para o atendimento ao mercado externo. Políticas de promoção de exportação do tipo seleção dos potenciais exportadores seriam, portanto ineficazes ou até dispensáveis. Para incrementar a taxa de entrada líquida de novos exportadores, os formadores de política deveriam empenharse na elaboração de medidas para reduzir os custos de entrada na atividade exportadora e aumentar, assim, os lucros esperados dos potenciais exportadores. Há evidências de que esses custos são grandes e de que sofrem rápida depreciação: após três anos fora do mercado externo as firmas constatam que lhes resulta tão caro retornar ao mercado quanto para uma firma que jamais exportou (Roberts e Tybout, 1997). Do outro lado, os custos iniciais de novos exportadores, embora expressivos, declinam à medida que um número maior de firmas passa a se envolver na atividade exportadora. Essa redução é explicada pelas externalidades de informação, bem como pela maior eficiência dos serviços especializados de apoio à exportação quando proporcionados em larga escala. É possível imaginar, portanto, um círculo virtuoso: a política pública reduz os custos de entrada na exportação facilitando o acesso ao mercado externo das firmas não exportadoras maduras, processo que contribui para baixar ainda mais esses custos, em benefício das empresas iniciantes. 12

Segundo Markwald e Puga: Além do argumento da auto-seleção, há diversas outras razões a recomendar que a base exportadora existente seja escolhida como alvo prioritário da política de promoção. Em primeiro lugar, os resultados de iniciativas com foco nos exportadores ativos costumam aparecer em prazos bem mais curtos do que as ações voltadas para o universo de empresas não-exportadoras. Em segundo lugar, aumentar a eficiência das empresas exportadoras existentes parece, a priori, um objetivo mais fácil de se alcançar que o de transformar não-exportadores em exportadores. De fato: (i) o público-alvo é muitíssimo menor; (ii) as empresas exportadoras podem ser facilmente identificadas, cadastradas e classificadas (por porte, freqüência exportadora, setor de atividade, volume de exportação, mercados de destino, etc.); e, não menos importante, (iii) as empresas exportadoras, presumivelmente, já ultrapassaram muitas das barreiras (motivacionais, informacionais, etc.) que dificultam o acesso dos não-exportadores ao mercado externo. Por último, não raro, é possível detectar, na base exportadora, problemas e deficiências (elevada taxa de mortalidade entre exportadores iniciantes, alto número de exportadores esporádicos ou oportunistas, baixa propensão a exportar de empresas com razoável potencial para concorrer nos mercados internacionais, etc.) que podem ser alvo de ações eficazes de uma política de promoção comercial. (MARKWALD e PUGA,2002 pg.6). No Brasil, há um diagnóstico consensual que atribui o fraco desempenho exportador do país à estreiteza da base exportadora. Algumas das ações desenvolvidas com base nesse diagnóstico, como realização de seminários de mobilização e sensibilização destinados a aumentar a percepção, entre o público participante, da importância do mercado externo, tem eficácia duvidosa. Outras destinadas a simplificar procedimentos e agilizar o processo de exportação, como a instituição do SISCOMEX, são extremamente válidas. A evolução da base exportadora brasileira é um aspecto que devemos levar em conta no estudo da formulação de políticas de exportação. Somente fazendo um diagnóstico da questão poderemos avaliar se a base exportadora é, de fato, estreita ou o contrário. A tabela a seguir retrata numericamente a questão. 13

Tabela 3 Evolução da base exportadora 1990/2001 Ano Antigas Estreantes (1) Empresas Exportadoras Total (2) Variação Absoluta Part. (%) (1/2) Exportação (US$ Milhões) Antigas Estreantes Total Part. (%) (3) (4) (3/4) Exportação por empresa (4/2) 1990 8.537 31.414 3,68 1991 6.602 2.871 9.473 936 30,3 30.855 766 31.621 2,4 3,34 1992 7.916 3.708 11.624 2.151 31,9 35.124 669 35.793 1,9 3,08 1993 9.623 4.005 13.628 2.004 29,4 37.876 826 38.701 2,1 2,84 1994 10.804 3.492 14.296 668 24,4 42.868 690 43.558 1,6 3,05 1995 10.626 2.807 13.433 (863) 20,9 45.550 956 46.506 2,1 3,46 1996 10.610 2.787 13.397 (36) 20,8 46.710 1.037 47.747 2,2 3,56 1997 10.695 3.155 13.850 453 22,8 52.358 628 52.986 1,2 3,83 1998 10.935 3.031 13.966 116 21,7 50.154 952 51.106 1,9 3,66 1999 11.459 3.709 15.168 1.202 24,5 46.697 1.299 47.995 2,7 3,16 2000 12.479 3.537 16.016 848 22,1 53.480 1.606 55.061 2,9 3,44 2001 13.114 3.707 16.821 805 22,0 57.023 1.116 58.139 1,9 3,46 Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: Funcex. Esta tabela discrimina a base exportadora distinguindo entre as empresas exportadoras antigas e empresas exportadoras estreantes. Pode-se notar, a partir destes dados, que no período 1991/2001, uma média de 3.500 novas empresas incorporou-se anualmente à base exportadora. Ou seja, a cada ano, entre ¼ e 1/5 da base exportadora é constituída por empresas que fazem sua estréia no mercado externo, contribuindo em média com 2% das exportações brasileiras anuais. O diferencial entre o número de exportadores estreantes (média de 3.350 empresas/ano) e a variação líquida da base exportadora (incremento médio de 750 empresas/ano) revela que a taxa de evasão (2.600 empresas/ano) é também significativa. As causas dessa evasão, segundo Markwald e Puga (2002), são: mortalidade de empresas exportadoras (fenômeno que afeta particularmente os exportadores estreantes) e a presença, na base exportadora, de exportadores esporádicos ou oportunistas. Tabela 4 Crescimento da base exportadora segundo sub-períodos Período Variação Absoluta (Nº de empresas) Crescimento (% a.a.) 1990/94 5.759 13,8 1994/98 (330) - 0,6 1998/2001 2.855 6,4 1990/2001 8.284 6,4 Fonte: SECEX/MDIC. Elaboração: Funcex 14

O exame da evolução da base exportadora brasileira mostra que o número de exportadores quase duplicou no prazo de 11 anos e que, a cada ano, mais de 3.000 novas empresas ingressam na atividade exportadora. Porém, como avaliar esses dados? O diagnóstico que atribui nosso ineficiente desempenho exportador à estreiteza da base exportadora continua válido? O ritmo de expansão da base exportadora pode ser considerado satisfatório? Para responder a essas questões é necessário fazer duas comparações: a comparação com a experiência internacional e a comparação com a base produtiva doméstica. A comparação internacional fica difícil devido à escassez de informações relativas ao tamanho da base exportadora de outros países. Contudo, Markwald e Puga (2002) disponibilizam tais dados relativos às experiências de promoção comercial de oito países selecionados por um estudo recente do International Trade Center (2000), o qual os referidos autores consultaram. A tabela a seguir mostra que o Brasil é uma economia fechada e detém, de fato, uma base exportadora muito estreita. Mesmo na comparação com a Argentina, cujo coeficiente de exportação de bens e serviços é apenas um pouco superior ao do Brasil, o tamanho da base exportadora brasileira parece muito reduzido. A ordenação dos países da amostra com base num índice que relaciona a base exportadora com o tamanho da economia (número de empresas exportadoras/pib), normalizado para o caso chileno, mostra, ainda, que o Brasil ocupa o último lugar segundo esse indicador. Os dados da tabela 5 também destacam a importância de se considerar também um outro indicador, segundo os autores: a exportação média por empresa. Nesse sentido, Nova Zelândia e México, de um lado, e Finlândia e Irlanda, do outro, servem para ilustrar duas alternativas diferenciadas de se alcançar um desempenho exportador satisfatório. Nova Zelândia e México, países que detêm coeficientes de exportação similares ao do Chile, compensam a baixa exportação média de suas empresas com uma ampla base exportadora. De outro lado, Finlândia e Irlanda, duas economias com volume de exportação equivalente ao do Brasil e bases exportadoras também razoavelmente estreitas, compensam essa limitação com índices de exportação média por empresa muito superiores aos dos demais países da amostra. 9 9 Irlanda e Finlândia são dois casos recentes de sucesso exportador. Irlanda baseou sua estratégia exportadora em uma agressiva política de atração de investimentos externos em setores da alta tecnologia. Das 3.600 empresas exportadoras, 1.100 são empresas multinacionais. Finlândia, por sua vez, baseou sua estratégia no desenvolvimento de clusters, com destaque para o setor de telecomunicações (Grupo Nokia). 15

Tabela 5 Base exportadora em países selecionados Ano de 1998 Discriminação Ilhas Maurício Nova Zelândia Chile Argentina Filipinas Finlândia Brasil Irlanda México Exportações de bens (US$ bilhões) 1,7 12,2 14,8 18,5 (1) 29,5 43,4 51,1 65,0 117,5 Empresas exportadoras (Número) 486 10.000 5.850 10.909 (1) 8.422 4.500 13.966 3.600 55.000 Exportação por empresa (US$ milhões) 3,5 1,2 2,5 1,7 (1) 3,5 9,6 3,7 18,1 2,1 Memo: Exportação de bens e serviços / PIB (%) PIB (US$ bilhões) 65 4,3 29 55,4 Base exportadora / PIB (Índice: Chile = 100) 143 228 100 47 135 45 23 66 189 Fonte: (a) Nº de exportadores: ITC (2000) exceto para México (www.global 21.com.br) e Argentina (Moori Koenig et alii, 2001). (b) Demais dados: Banco Mundial, World Economic Indicators 2000 (Dados para 1998). Obs.: (1) Empresas exclusivamente industriais. 28 73,9 10 290,3 56 78,9 40 125,1 7 767,6 80 69,3 31 368,1 O Brasil combina, portanto, três deficiências: uma base exportadora estreita, empresas com baixa propensão a exportar e baixo número de empresas exportadoras de grande porte capazes de se constituírem em atores no mercado internacional. Quanto à segunda comparação entre a base exportadora brasileira e a produtiva doméstica, verifica-se que a participação das empresas exportadoras no universo das empresas brasileiras é muito reduzida, por volta de 0,8% nos anos considerados pela tabela. É com base neste tipo de comparação que o alargamento da base exportadora foi escolhido como um dos alvos prioritários da política brasileira de promoção de exportações. Nota-se que no ano de 2000, ao restringir a comparação às empresas de tamanho pequeno, médio e grande, a participação da base exportadora na base produtiva local eleva-se de 0,7% para 5,7%. A exclusão das micro empresas foi justificada pelos autores da seguinte forma: No Brasil, cerca de 93% das empresas são microempresas, sendo que mais de 75% delas conta com menos de 5 empregados. De outro lado, a introdução de uma segunda restrição, baseada na exclusão de empresas que desenvolvem atividades tipicamente não-tradeable (serviços e outros), aumenta ainda mais essa participação, que passa de 5,7% para 11,2%. Ambas qualificações parecem-nos relevantes e elucidativas. (MARKWALD e PUGA,2002, pg.11). 16

Tabela 6 Base produtiva e base exportadora, segundo tamanho e tipo de atividade da empresa 1995 e 2000 Número de Empresas 1995 Tamanho Industriais Comerciais Serviços Agropecuárias Outras (1) Total X Total (%) X Total (%) X Total (%) X Total (%) X Total (%) X Total (%) Micro (2) 2.288 179.307 1,3 2.314 598.439 0,4 316 516.529 0,1 102 202.098 0,0 552 130.610 0,4 5.572 1.626.983 0,3 Pequena 3.105 26.671 11,6 376 24.481 1,5 52 42.915 0,1 61 5.638 1,1 20 12.637 0,2 3.614 112.342 3,2 Média 2.782 7.342 37,9 148 2.694 5,5 57 8.488 0,7 50 754 6,6 22 5.898 0,4 3.059 25.176 12,2 Grande 1.035 1.350 76,7 50 119 42,0 67 1.485 4,5 17 136 12,5 19 1.926 1,0 1.188 5.016 23,7 Total 9.210 214.670 4,29 2.888 625.733 0,46 492 569.417 0,09 230 208.626 0,11 613 151.071 0,41 13.433 1.769.517 0,76 Memo: - Pequenas + Médias + Grandes 7.861 142.534 5,52 Tamanho Número de Empresas 2000 Industriais Comerciais Serviços Agropecuárias Outras (1) Total X Total (%) X Total (%) X Total (%) X Total (%) X Total (%) X Total (%) Micro (2) 2.964 205.153 1,4 3.127 784.892 0,4 338 706.046 0,0 129 242.957 0,1 491 95.611 0,5 7.049 2.034.659 0,3 Pequena 3.891 31.399 12,4 573 28.502 2,0 73 50.504 0,1 107 5.635 1,9 74 11.084 0,7 4.718 127.124 3,7 Média 2.833 6.976 40,6 130 2.656 4,9 67 9.077 0,7 69 736 9,4 39 5.936 0,7 3.138 25.381 12,4 Grande 953 1.102 86,5 51 104 49,0 56 1.780 3,1 34 137 24,8 17 2.003 0,8 1.111 5.126 21,7 Total 10.641 244.630 4,35 3.881 816.154 0,48 534 767.407 0,07 339 249.465 0,14 621 114.634 0,54 16.016 2.192.290 0,73 Memo: - Pequenas + Médias + Grandes 8.967 157.631 5,69 Fonte: RAIS 1995, RAIS 2000 (preliminar) e SECEX/MDIC. Obs.: (1) Construção Civil, Administração Pública, Serviços de Utilidade Pública e empresas não classificadas. (2) Inclui as empresas exportadoras de tamanho não identificado. Nota: X = Empresas exportadoras. Os dados da tabela 6 trazem ainda algumas informações interessantes: (i) 86,5% das empresas industriais grandes, 40,6% das firmas industriais médias e 12,4% das empresas industriais pequenas são exportadoras; (ii) 49,0% das empresas comerciais grandes são exportadoras; e (iii) 24,8 % das empresas agropecuárias grandes são, também, exportadoras. Destaque-se, por último, que entre 1995 e 2000 as empresas exportadoras dos setores tradeable (indústria, comércio e agropecuária) aumentaram sua participação na base produtiva, principalmente as de maior tamanho. É importante depois da apresentação destes dados, apontar algumas conclusões: a base exportadora brasileira é estreita, diagnóstico que a comparação com os outros países tende a confirmar. No entanto, a base exportadora vem evoluindo a um ritmo bastante satisfatório, da ordem de 6,4% ao ano. A exclusão das micro empresas sugere ainda que a relação entre o número de empresas exportadoras e a base produtiva formal da economia não é desprezível: 11,2%. 17

Uma conclusão interessante que deve ser ressaltada é o fluxo de entrada de novos exportadores que é muito significativo. De fato, conforme destacado acima, uma média de 3,35 mil empresas incorpora-se anualmente à base exportadora, respondendo por mais de 20% dos exportadores efetivos anuais. O diferencial entre o número de exportadores estreantes e a variação líquida da base exportadora (incremento médio de 750 empresas/ano) revela, no entanto, que a taxa de evasão (2.600 empresas/ano) é, também, muito expressiva. A desistência (mortalidade) e a baixa freqüência exportadora de algumas empresas (exportadores descontínuos, esporádicos ou oportunistas) explica esse diferencial. As conclusões nos permite afirmar que o direcionamento das políticas de exportação deve ser mesmo para as empresas que já realizam a exportação. Mesmo assim, a elaboração ações que incentivem empresas não-exportadoras a se converterem em exportadoras de fato é relevante justamente para alargar a base exportadora brasileira. Um público interessante parece ser as micro, pequenas e médias empresas industriais não-exportadoras que totalizam um número acima de 30 mil firmas 10. Markwald e Puga (2002) preferem outras ações práticas a concentrar esforços em demasia nestas empresas com potencial exportador. Para os autores, é mais importante: Mais do que iniciativas destinadas a aumentar a percepção da importância do mercado externo, advogamos ações horizontais destinadas a simplificar procedimentos, aumentar a rentabilidade e reduzir os custos da atividade exportadora. A burocracia, a incompleta desoneração tributária, as dificuldades para reunir a informação comercial relevante e diversos entraves que afetam a logística da atividade exportadora continuam ocupando o topo na lista de reclamações das firmas que iniciam sua experiência de internacionalização. De outro lado, a importância de se considerar a exportação como uma atividade estratégica da firma parece razoavelmente consolidada. (MARKWALD e PUGA,2002 pg.12) As micro, pequenas e médias empresas podem contribuir para a balança comercial brasileira. Assim, na seção seguinte demonstrarei como elas são atores relevantes e no próximo capítulo, como elas podem ser competitivas no cenário externo ao se associarem, em consócios, otimizando assim o processo de inserção internacional de seus produtos. 10 Para a maioria dos Estados brasileiros, o público-alvo, assim definido, não ultrapassaria umas poucas centenas de empresas, mesmo antes de qualquer tentativa de seleção mais fina. Não é uma clientela que não possa ser atingida pelo amplo leque de agências e instituições públicas e privadas (SEBRAE s, centros internacionais de negócios, secretarias de industria, agencias de promoção de exportações, núcleos da APEX, federações de 18

1.2) AS POLÍTICAS DE EXPORTAÇÃO PARA AS MICRO E PEQUENA EMPRESAS As micro e pequenas ganharam relevância a partir da década de 80, pois foi atribuída a elas uma função econômica diferente daquela que, usualmente, lhes era conferida: gerar renda e emprego na economia nacional e não ser somente um empreendimento de caráter familiar com atuação restrita. O Estado começou a deslocar atenção e elaborar políticas públicas direcionadas às MPE s, pois constatou o dinamismo como empregadoras que elas exerciam (e exercem cada vez mais), assim como a capacidade de flexibilizar a produção. Somados a estas duas características, as empresas tiveram um maior acesso às tecnologias de produção (que até então eram restritas às grandes e médias empresas) e da informação para suprir as oscilações de demanda e também agregar valor à produção de serviços e bens. Este acesso reduziu, relativamente, a distância entre elas e as grandes firmas. Apesar de políticas públicas terem sido elaboradas com direcionamento, três problemas centrais foram identificados em termos de política econômica para as firmas em questão: (a) a heterogeneidade das MPE s, tanto pelas características próprias da empresa, quanto à articulação entre elas mesmas e com outras empresas e instituições. Esta heterogeneidade dificulta o planejamento e execução de planos e ações para alavancar a produção das MPE s, pois elas são muito segmentadas; (b) selecionar as empresas com maior potencial de desenvolvimento e modernização, elaborando estratégias que as tornem mais competitivas e garantindo não somente a sobrevivência delas, mas sim a potencialização de suas capacidades produtivas; (c) necessidade em facilitar o acesso das MPE s aos recursos de informação, gerenciais/organizacionais e de financiamento necessários à sua modernização para garantir presença nos mercados em que atuam. Para tentar sanar estes problemas centrais, as políticas públicas foram e ainda são desenvolvidas em dois sentidos: criar para as MPE s um ambiente de cooperação que possam ser criados vínculos permanentes em uma rede de empresas e instituições e convergir, em indústria, Banco do Brasil, bancos regionais de desenvolvimento, associações de classe, câmaras de comércio, 19

plano nacional, medidas que garantam às empresas o acesso a tecnologia, treinamento de mão de obra e recursos financeiros para alavancagem da produção; e induzir o desenvolvimento da oferta de prestação de serviços para as empresas, ainda que em forma de subsídios. É notório o conjunto de dificuldades que as MPE s enfrentam para executar o processo de exportação: falta de informação sobre a operacionalidade do processo (transporte, embalagem, despacho e vendas no exterior), falta de capacidade em sustentar uma oferta constante para o mercado internacional, falta de uma estratégia elaborada de marketing internacional e promoção comercial e, por fim, a falta de uma cultura exportadora do empresariado por causa de uma herança decorrente do modelo produtivo brasileiro ao longo dos tempos. As MPE s estão muito mais expostas aos riscos na atividade internacional do que as grandes firmas. Estes riscos são de natureza cambial, protecionista dos diversos países, normatização da produção e de obtenção de financiamento. Somente correndo estes riscos e superando as dificuldades citadas, as MPE s poderão exportar com regularidade e estrategicamente para cobrir os custos da atividade, além de aumentarem a rentabilidade. A maioria não consegue e exporta por pouco tempo, exercendo uma postura de descontinuidade. Por causa desta descontinuidade, a adoção de medidas voltadas para reduzir os riscos e custos de entrada e permanência das MPE s nas exportações é essencial. O desempenho das MPE s na exportação é bastante volátil, já que a maior parte se faz por uma inserção oportunista. Mesmo as exportadoras contínuas enfrentam dificuldades para ampliar o volume exportável e consolidar novos mercados. Ocorre também uma herança das políticas industriais e comerciais do período de substituição de importações que apresentavam forte viés para as grandes empresas. A diferença do volume de recursos aplicados entre as grandes e pequenas empresas é elevado e se ampliou ao longo da crise dos anos 80 e do processo de estabilização da década de 90, como afirmou Pedro Motta Veiga: etc.) que, aparentemente, priorizam o esforço exportador. 20

Neste caso, as ineficiências infra-estruturais, institucionais e empresariais herdadas do período protecionista ainda não foram superados e, além disso, há grandes dificuldades para adequar qualitativamente, de um lado, a oferta pública (e privada) de recursos a empresas exportadoras e, de outro, a demanda por tais recursos que emana das MPE s. Na realidade, esta inadequação entre oferta e demanda de recursos que caracteriza as políticas de apoio às MPE s exportadoras ou não no Brasil e na América Latina reflete a escassa tradição das instituições de fomento industrial e de promoção comercial no tato dos problemas específicos das MPE s. (VEIGA,1998, pg. 62). As MPE s somente se configurarão como agentes econômicos exportadores relevantes quando houver, por parte do governo, políticas de apoio às exportações para atrair novas empresas e fazer com que as exportadoras sinalizem com um compromisso a longo prazo, reduzindo os custos para executar o processo. Tais políticas de apoio devem envolver: incentivos fiscais para os exportadores ganharem competitividade, adoção de um regime (cambial e comercial, como sugere a experiência internacional) que assegure continuidade às empresas exportadoras e incentive novas empresas a exportarem e, por último, agregação de valor ao volume exportável para que o retorno seja maior, tanto para as empresas (como lucro) quanto para o país (como superávit comercial). Segundo conclusões do estudo de Roberts e Tybout (1997), que analisa os booms de exportação em diversos países, a entrada de MPE s nas exportações contribui, como exportadores iniciantes, para aumentar a oferta exportadora, reduzir custos de entrada no processo e aumentar o nível de capacitação e recursos para exportar. Assim, os casos de sucessos apontados por Roberts e Tybout (1997) em relação às MPE s são atribuídas graças a duas causas principais: (a) ao modelo de inserção produtiva que caracteriza estas empresas em alguns países e regiões, onde ressalta a existência de fortes relações de cooperação entre as MPE s (principalmente consórcios) ou de relações estáveis entre estas empresas e as grandes firmas; e (b) à montagem de uma rede público privada de instituições de apoio às exportações das MPE s, que busca de forma coordenada reduzir os custos de transação especificamente vinculadas à atividade exportadora. Mais uma vez é citado a associação entre as MPE s como estratégia competitiva no cenário internacional e como forma de consolidar uma oferta exportadora sustentada e crescente, superando o problema de volatilidade da oferta, decorrente da inserção oportunista e da elevada rotatividade das MPE s na exportação. 21

Certamente, a maior dificuldade para implementar as políticas de promoção de exportação é a heterogeneidade do universo das MPE s. Partindo-se deste ponto, as políticas devem separar, previamente, as empresas com experiência exportadora daquelas que não a possui. Assim, as políticas terão mais chances de serem eficazes, já que existem empresas com padrões muito diferenciados de inserção nas exportações ou em estágios diversos de envolvimento com a atividade internacional e apresentam distintas preocupações requerendo políticas direcionadas para tais preocupações. Pedro Motta Veiga (1998), em relação a esta questão da heterogeneidade afirma: De fato, ao se lidar com a heterogeneidade das MPE s exportadoras, o risco principal que cerca a política é tentar atingir alvos muito diferenciados ou amplos, gerando dispersão de recursos e baixa coordenação no uso de instrumentos. No caso de países onde o objetivo principal seja trazer para a atividade exportadora novas MPE s e garantir-lhes condições para manter-se nesta atividade, é importante identificar os segmentos e grupos com maior capacidade de resposta, selecionando empresas líderes com elevado potencial (VEIGA,2002, pg. 66). Além de trabalhar a heterogeneidade do ambiente das MPE s, as políticas de exportação devem enfocar a capacitação das empresas em adaptar seus processos de produção e seus produtos às necessidades e requerimentos dos mercados internacionais. Esforços promocionais (como feiras e exposições) de vendas devem ser secundários, para não se gastar recursos na tentativa de vender produtos não competitivos em preço e qualidade. O foco principal deve ser então a produtividade, inovação e aperfeiçoamento tecnológicos das MPE s, além da questão do financiamento. Devido às estas dificuldades, o Estado deve tentar superar a distância que há com as MPE s, que gera um desencontro na elaboração e adoção das políticas de exportação, respectivamente. Em se adotando tais políticas, as empresas enfrentam um dilema em comum: concentrar as exportações em poucos produtos e ganhar maior vantagem competitiva em mercados direcionados ou adotar uma estratégia de maior diversificação de produtos e também de alargamento de mercados, ou seja, a busca por novos mercados consumidores. Deste modo, o Estado deve estabelecer uma política de exportação com opções e estrutura para que as empresas escolham qual melhor estratégia a ser utilizada. Esta intervenção estatal deve passar, necessariamente, por três pontos que juntos devem formar o escopo do conjunto de políticas de exportação: 22

(a) visar desconcentrar e diversificar a pauta exportadora; (b) incentivar um maior número de empresas a exportar seus produtos; (c) trabalhar sobre os produtos exportáveis, no sentido de alcançarem mercados não tradicionais. Criando-se incentivos através deste modelo, caberá à empresa decidir se concentra sua vendas em poucos mercados, canalizando os recursos disponíveis e tendo uma presença efetiva no mercado e logo, maiores retornos garantidos. No entanto, Petreli Guimarães (2002) faz uma ressalva a esta estratégia: (...) concentrar-se em poucos mercados tem seus riscos, os quais a diversificação pretenderia justamente atenuar. Com efeito, a estabilidade das receitas de exportação pode ficar ameaçada quando se depende apenas de uns poucos mercados, de tal modo que qualquer variação no fluxo de vendas nesses mercados pode interromper a continuidade do faturamento externo. (GUIMARÃES,2002, pg.07) Em se optando por uma política de prospecção de novos mercados, a empresa enfrentará um segundo dilema: optar por mercados semelhantes aos que ela já atua ou escolher outros mercados com características diferentes e peculiares. Há vantagens e desvantagens em ambos. No caso de mercados similares, a empresa pode se beneficiar de economias de escala na produção e estratégia de marketing (já que há uma certa similaridade cultural do consumidor) como vantagens e a dependência deste padrão de mercado no seu faturamento como desvantagem. É o caso do Mercosul, pois as empresas dispõem de um mercado consumidor similar ao brasileiro pelo perfil cultural sul americano e geograficamente beneficiadas quanto aos custos de transporte e distribuição. No entanto, se ocorrer uma crise sistêmica como está acontecendo hoje (decréscimo de 22,5% nas exportações em 2002, segundo dados do MDIC) na Argentina e Uruguai, a empresa certamente terá seu faturamento comprometido. No caso da opção ser por mercados distintos, a empresa alargará a sua base vendedora e diversifica seu mercado consumidor. Através de uma estratégia de adaptação de seu produto às exigências do consumidor novo, a empresa estará realizando novas combinações produtivas e, portanto, fazendo um trabalho de pesquisa e desenvolvimento (P&D) para atender a demanda. Em compensação, poderá ter dificuldades na manutenção de seus produtos e na distribuição. Um bom exemplo é o acréscimo do fluxo comercial de 23

exportações com a Ásia (aumento de 7% em comparação com 2001, segundo dados do MDIC). As MPE s enfrentam maiores dificuldades no momento de deslocar sua produção para exportação e adotar uma estratégia que apoie a continuidade do processo. É importante ressaltar, mais uma vez, que a exportação deve ser um movimento contínuo e não um surto passageiro pelo que a empresa pode passar. Para haver esta continuidade, as MPE s devem se preparar adequadamente e aguardarem por um retorno a longo prazo. Esta preparação envolve produção capacitada para atender pedidos maiores, estratégia de marketing (catálogo para divulgação dos produtos e participação em feiras), promoção comercial, logística de transporte e distribuição e informações constantes sobre os mercados em que atuam. Operacionalmente, as MPE s não conseguem ter o controle do processo de exportação ao atuarem de um modo isolado, pois não têm estrutura para suportar os custos envolvidos no processo. As grandes empresas, neste ponto, conseguem ampliar seus mercados externos se obtiverem elementos em suas estruturas que possibilitem a elas o controle do processo, como por exemplo, escritórios de representação no exterior, logística de armazenamento em outros países e mecanismos de reforço da marca no exterior. Assim, os programas de exportação direcionados às MPE s devem dar estímulo e apoio nas áreas mercadológica e tecnológica. Estes programas, elaborados pelo Sebrae nacional em parceria com a APEX, partem da concepção que agrupadas, as MPE s são mais competitivas e capazes de sustentar a dinâmica da exportação. Segundo Petreli Guimarães: A ampliação de mercados, o poder de negociação, a imagem dos produtos, a representação internacional, distribuição dos produtos no país de destino, etc, são fatores fortalecidos numa estratégia modelada em termos de aglomerado industrial vis a vis o isolacionismo entre firmas, desconcentradas regionalmente. (GUIMARÃES, 2002, pg 12) No decorrer da pesquisa, enfocarei os consórcios de um modo detalhado, explorando o modelo quanto à sua competitividade para as MPE s formadoras. Também analisarei os consórcios apoiados pela APEX e SEBRAE MG e o impacto destes na política de exportação das MPE s mineiras. 24

1.3) A QUESTÃO DA COMPETITIVIDADE Para realizar e desenvolver uma política de exportação com sucesso e atingir as metas planejadas, uma empresa deve ser competitiva em relação aos seus concorrentes internacionais. Nesta seção tentarei discutir o conceito de competitividade e assim levantar os fatores que levam uma MPE mineira a figurar no cenário internacional através da exportação de seus produtos. Desta forma, o primeiro passo da pesquisa será dado: estabelecer parâmetros de competitividade para as MPE s exportadoras. Ao se estabelecer estes parâmetros de competitividade, estarei explorando os canais e estratégias nas quais as MPE s utilizam para efetivarem suas exportações. Assim, a dinâmica comercial internacional destas empresas estará sendo analisada quanto á efetividade e cumprimento das metas estipuladas tanto pelo governo, quanto pelas próprias empresas. No ambiente de negócios do mercado externo, principalmente, ser competitivo significa superar a concorrência e ter uma presença cada vez maior nos mercados que se deseja atingir. Para alcançar tal superação, é necessário que a empresa disponha de recursos que sustentem seu plano de crescimento, e tais recursos são de natureza tecnológica, humana, financeira e de informação que somados atribuirão valor e qualidade do produto a ser colocado no mercado. Em se tratando de mercado internacional, a exigência é bem maior que no âmbito doméstico. Para cumprir esta exigência, a empresa deve combinar seus recursos de uma maneira otimizada, aumentar sua produtividade para desenvolver suas ações. A competição se intensificou de forma prática ao longo das duas últimas décadas em todo o mundo, segundo Porter (1993). Poucos são os setores em que a competição não é um tema em debate. Nenhum país, e naturalmente as respectivas empresas, tem condições de ignorar a necessidade de competir. O panorama nacional tem o papel central no âmbito competitivo das empresas e, ao mesmo tempo, o padrão de vida de um país depende, a longo prazo, de sua capacidade em atingir um alto nível de produtividade nos setores em que suas empresas competem. É importante utilizar Porter (1993) para afirmar que a competitividade não se reduz a políticas governamentais, recursos naturais, macroeconomia e mão de obra barata. O autor afirma que não há uma teoria que explique a competitividade nacional, apesar de todas as discussões e debates. Como exemplo, relaciona a competitividade a aspectos macroeconômicos ligados às taxas de câmbio e de juros e aos déficits governamentais. Outros atribuem a competitividade à existência de mão-de-obra barata e abundante, o que atualmente 25