A NUTRIÇÃO MINERAL E A ADUBAÇÃO DO SISAL

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Transcrição:

A NUTRIÇÃO MINERAL E A ADUBAÇÃO DO SISAL Gilvan Barbosa Ferreira Dr. Solos e Nutrição de Plantas Pesquisador da Embrapa Algodão O sisal (Agave siselana Perr.) é uma espécie de origem tropical (notadamente da região semi-árida do Sul do México) que produz a principal fibra dura natural utilizada no mundo. No Brasil, o cultivo do sisal concentra-se na região Nordeste, sendo os estados da Bahia e Paraíba os principais produtores. A agaveicultura é predominantemente familiar, e constitui fonte de renda e emprego para um grande contingente de trabalhadores (cerca de um milhão de pessoas), sendo em algumas regiões, em função das condições de clima e solo, a única alternativa de cultivo (BARROS et al., 1999). Apesar de ter potencial de produzir até 3,7 e 6,8 t de fibra/ha/ano, para as variedades agave sisalana e híbrido 11648, respectivamente, em condições de manejo otimizado, como feito no Kênia em condições experimentais (Malavolta, 1996), no Brasil a produtividade de fibra é de cerca de 950 kg de fibra/ha/ano (safra 1995/1996, Barros et al., 1999). Dados da FAO de 1989, citados por Malavolta (1996) apontam produtividades médias de 697 kg/ha/ano na África, 516 kg/ha/ano na América Central, 673 kg/ha/ano na América do Sul e 1.081 kg/ha/ano na Ásia. Na Tanzânia, com chuvas entre 1.000 e 1.200 mm, sob boas condições de cultivo e solo, o híbrido 11648 pode produzir 25 t/ha de fibra em um ciclo de 10 anos e oito cortes, ou seja, 3,1 t/ha/ano após o primeiro corte, feito com 2-3 anos do plantio (Hartemink, 2002). Desta forma, apesar de ser um cultura de clima árido e ter produtividade abaixo do seu potencial na maioria das condições de cultivo, o sisal é uma planta originária de solos ricos e clima semi-árido e pode exportar da área de produção até 491, 100, 1.067, 1.400 e 605 kg/ha de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente, em um período de 24 anos de cultivo nas condições climáticas da Tanzânia (Hartemink, 1997). A Agave Sisalana exporta 27-33, 5-7, 59-69, 42-70 e 34 kg/t de fibra/ano de N, P, K, Ca e Mg, respectivamente; e a Agave Híbrido 11648, 22-26, 3-4, 30-44 e 79-83 kg/t de fibra/ano, respectivamente (Hartemink, 2002). Essa forte extração de nutrientes do solo, sem sua reposição pela adubação, pode exaurir a fertilidade natural em dois ou três ciclos (20 a 30 anos), em especial se eles forem das classes dos Argissolos e Latossolos. Segundo Amorim Neto e Beltrão (1999) os principais solos usados no Brasil para o cultivo do sisal são os Neossolos Quartzarênicos distróficos, Nitossolos vértico e não-vértico, Latossolo Vermelho Amarelo distrófico, Neossolos Líticos distróficos e eutróficos, Argissolos Vermelho-Amarelos eutróficos e distróficos, Planossolos, Neossolos Regolíticos e suas associações. Destes solos, apenas os Nitossolos e, talvez, os Planossolos têm condições de ser cultivados continuamente sem reposição de nutrientes com pouco efeito sobre os estoques de nutrientes e a produtividade da cultura. Os Latossolos, Argissolos e Neossolos são facilmente exaurível com dois ou três ciclos de sisal ou 20 a 30 anos de cultivo contínuo e isto pode promover forte redução na produtividade. Evidências circunstanciais coletadas na Tanzânia sobre diversos Latossolos têm mostrado que a produtividade do sisal se reduz de 2,3 t/ha/ano para 1,5 t/ha/ano quando se passa de um solo de ph 6,5, com 5 mg/dm 3 de P, 79% de saturação de bases e 0,0 mmol c /dm 3 de Al + para outro com ph 5,0, 3 mg/dm 3 de P, 16% de saturação de bases e 11 mmol c /dm 3 de Al + (saturação de 18%). Na região em que foi feita essa pesquisa, entre as décadas de 1970 e 1990 o número e o tamanho das folhas foram reduzidos e a fração de folhas longas caiu de 80% para 40% (Hartemink, 2002). Isso mostra que a redução da fertilidade com os anos de cultivo contínuo na mesma área, sem reposição de nutrientes pela adubação, impões sérias perdas de produtividade e de qualidade da fibra colhida.

Estudos no Brasil com calibração de nutrientes para o sisal são raro. Entretanto, alguns trabalhos tem sido feitos em nosso meio para caracterizar as deficiências de macronutrientes (Salgado et al., 1982), esclarecer as razões da necrose da base da folha (deficiência de potássio, Medina, 1943) e fornecer alguma diretriz técnica para o uso de adubos e corretivos (CEFS, 1989; Malavolta, 1996; Salgado, 1996). Segundo Salgado et al. (1982), em geral, a deficiência de nitrogênio (N) produz plantas atrofiadas, de pequeno porte e com clorose generalizadas nas folhas. Há ainda necrose e seca nas extremidades das folhas próximas da base. Em solos deficientes em N pode ocorrer secamento súbito e típico das extremidades das folhas. Sob deficiência de fósforo (P), as plantas têm pequeno desenvolvimento e intensa coloração esverdeada das folhas. Nas deficiências de potássio (K), ocorrem necrose na base da folha e seca das extremidades destas. Inicialmente ocorre pequenas manchas pretas na base das folhas, que coalescem, invadem toda a base, formando um anel preto de tecido necrosado que determina, por estrangulamento, a interrupção da circulação da seiva na folha, que perde a turgescência, amolece, enrola-se no sentido longitudinal até que, no final, se dobra para trás pela parte necrosada, ficando a sua extremidade apoiada no solo. Na deficiência de cálcio (Ca), assim como sob solos ácidos, as plantas ficam praticamente arrasadas pelo matizado clorótico das folhas e pela necrose. As folhas necrosadas secam da base para os ponteiros, dobrando-se para o chão até secarem totalmente. Baixo teor de Ca no solo produz comumente podridão do cepo. Já na deficiência de magnésio (Mg) as plantas ficam fracas, com folhas finas, clorose generalizada e folhas da base moles dobradas para o chão. E na deficiência de enxofre (S) as plantas ficam amareladas, com clorose generalizada fraca e necrose ocasionais na base das folhas. Essas deficiências podem estar limitando a produtividade do sisal no Nordeste do Brasil, diminuindo sua rentabilidade e tornando a cultura improdutiva em vista da ocorrência conjunta de deficiência hídrica comum na região. Assim, uma definição de um sistema de manejo da adubação adequado é muito importante para a manutenção de altas produtividade e de sua sustentabilidade. A restituição do resíduo do desfibramento é uma prática consagrada e recomendada há muito tempo (Doop, 1939a, b e 1940). Como apenas 3-5% da folha é de fibra aproveitável, constituída de celulose principalmente, os 95-97% restante contém a maior parte dos nutrientes extraídos anualmente pela cultura. Segundo Malavolta (1996), uma tonelada de composto feito com resíduo de desfibramento, contém 6 kg N, 1 kg P, 0,8 kg K, 1,6 kg Mg, 25 kg Ca e 2,5 kg S. Como o sisal produz anualmente cerca de 20-25 t/ha de folhas (das quais 95-97% viram resíduo) pode-se observar que o retorno desse material para as plantas no campo deve promover uma ciclagem substancial de nutrientes. Seu retorno ao solo após o desfibramento pode ser uma alternativa viável para dar sustentabilidade à exploração do sisal com o mínimo de uso de insumo. Entretanto, é interessante que se meça a eficiência de resposta da planta a esse resíduo, comparando com a resposta aos nutrientes minerais, e se determine a dosagem mínima necessária para manter uma produtividade adequada. As plantas de sisal necessitam ter teores adequados de nutrientes nas folhas para que a planta seja produtiva. Segundo Malavolta (1996), os teores considerados satisfatório nas folhas frescas recém maduras são os mostrados na Tabela 1. Segundo Malavolta (1996), o sisal exige ph de 5,5 a 6,5, que deve ser corrigido com calcário dolomítico antes do transplantio das mudas. Em solos com baixos teores de Ca as plantas de sisal podem manifestar frequentemente sintomas de manchas foliares ou apodrecimento da base da folha. Tabela 1. Teores de macro e micronutrientes nas folhas recém maduras do Sisal considerados satisfatório para o pleno crescimento da cultura. N P K Ca Mg S

------------------------------------- g kg -1 ------------------------------------------- Macronutriente 24,0 1,8 25,0 4,0 8,0 1,0 B Cu Fe Mn Mo Zn Co ---------------------------------------------- mg kg -1 ---------------------------------------------- Micronutriente 12 6 100 40 0,2 23 0,5 Fonte: Malavolta (1996) Os fertilizantes são normalmente aplicados em baixas ao longo das linhas de plantio e a aplicação profunda não é necessária, exceto no transplantio, pois o sistema radicular do sisal é muito superficial. À medida que as plantas crescem, deve-se aumentar a largura da faixa adubada. A deficiência de boro pode ser evitada pela aplicação de 0,5 a 1,0 kg/ha de boro na adubação de plantio. A deficiência dos demais micronutrientes pode ser evitada ou corrigida com uso de adubação foliar. A adubação mineral recomendada para o estado de São Paulo é feita seguindo a Tabela 2, especialmente para P e K, tanto na adubação de plantio como na manutenção anual. Após o primeiro corte de folhas, são recomendadas a aplicação de 50 kg/ha de N em cobertura. Tabela 2. Adubação do sisal no estado de São Paulo. P disponível cmolc/dm 3 de K Em mg/dm 3 <0,07 0,08-0,15 0,16-0,30 >0,31 kg/ha de N P 2 O 5 K 2 O <6 0-60-70 0-60-60 0-60-50 0-60-15 7-15 0-50-70 0-50-60 0-50-50 0-50-15 16-40 0-30-70 0-30-60 0-30-50 0-30-15 >40 0-0-70 0-0-60 0-0-50 0-0-15 Obs.: P e K extraídos com Resina de troca iônica; N 50 kg/ha após o primeiro corte. Para o semiárido nordestino, Malavolta (1996) recomenda seguir a tabela 3. Neste caso, a adubação do primeiro ano é feita no sulco ou cova onde será posta a muda. A adubação de cobertura e a do segundo ano em diante é feita em faixa ao lado da fileira de plantas. Tabela 3. Adubação do Sisal no Nordeste do Brasil No primeiro ano: Nutriente Cova para transplantio Cobertura kg/ha de N Nitrogênio 20 40 Fósforo (mg/dm 3 ) kg/ha de P 2 O 5 <6 70-7-13 50-14-20 30 -

Potássio kg/ha de K 2 O <30 35 35 31-60 25 25 61-90 15 15 Obs.: P e K extraídos por Mehlich-1. Adubação de Manutenção após o primeiro corte (kg/ha/ano): - N = 40 kg - P e K, seguir a tabela 3. A adubação total deve ser aplicada, preferencialmente, em duas aplicações anuais. Uma delas no começo do período chuvoso e a outra logo após o corte das folhas, desde que haja umidade no solo. A adubação mineral do sisal atualmente recomendada no Nordeste é de 60 kg/ha de N (1/3 no pegamento da muda e 2/3 no início do ano chuvoso seguinte); 30 a 70 kg/ha de P 2 O 5 no plantio; 30 a 70 kg/ha de K 2 O, ½ (ou todo) no plantio e ½ no ano chuvoso seguinte. Após o primeiro corte, deve-se aplicar 30-70 kg/ha de P 2 O 5, 40 kg/ha de N e 30-70 kg/ha de K 2 O, sendo ½ após o corte e a outra metade de 30 a 60 dias após a primeira aplicação. As menores doses de P 2 O 5 e K 2 O (30 kg/ha) são indicadas para os solos com teores altos ou suficientes nestes nutrientes; à medida que os teores detectados pela análise do solo vão baixando de médio para baixo, acrescenta-se 20 kg/ha daqueles nutrientes para cada nível (CEFS, 1989; Malavolta, 1996; Salgado, 1996). Com essa recomendação espera-se, na Bahia, que a produtividade aumente de 800 kg/ha para algo entre 1.800 e 2.300 kg de fibra/ha/ano e aumento da fração de folhas e fibras longas e resistentes. A expectativa, a ser confirmada, é que essa produtividade adicional, com melhor qualidade, possa viabilizar a prática da adubação mineral na cultura do sisal no Nordeste do Brasil. Bibliografia citada: AMORIM NETO, M. da S., BELTRÃO, N.E. de M. Clima e Solo. In: SILVA, O.R.R.da.; BELTRÃO, N.E.de M. O agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI; Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999, p. 41-52. BARROS, M.A.L.; CARVALHO, O.S.; SILVA, O.R.R.da. Importância econômica e situação da cultura do sisal. In: SILVA, O.R.R.da.; BELTRÃO, N.E.de M. O agronegócio do sisal no Brasil. Brasília: Embrapa-SPI; Campina Grande: Embrapa-CNPA, 1999, p. 13-24. BRASIL. Ministério da Agricultura. Equipe de Pedologia e Fertilidade do Solo (Rio de Janeiro, RJ). Levantamento exploratório-reconhecimento de solos do Estado da Paraíba. Rio de Janeiro, 1972. 683p. (Ministério da Agricultura. Boletim Técnico, 15. SUDENE. Série Pedologia, 8). COMISSÃO ESTADUAL DE FERTILIDADE DO SOLO CEFS. Manual de adubação e calagem para o Estado da Bahia. Salvador: Secretaria de agricultura do Estado da Bahia, 1989. p.157-158. DOOP, J.E.A. den. The utilization of sisal waste in Java and Sumatra. Part. III. East African Agricultural Journal, v.4, p.343-351, 1939a.

DOOP, J.E.A. den. The utilization of sisal waste in Java and Sumatra. Part. IV. East African Agricultural Journal, v.4, p.415-425, 1939b. DOOP, J.E.A. den. The utilization of sisal waste in Java and Sumatra. Part. V. East African Agricultural Journal, v.5, p.312-320, 1940. EMBRAPA. EMPRESA BRASILEIRA DE PESQUISA AGROPECUÁRIA. Centro Nacional de Pesquisa de Solos. Manual de Métodos de Análises de Solos. 2.ed. Rio de Janeiro, 1997. 212p. (EMBRAPA- CNPS. Documentos; 1) EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Levantamento exploratório-reconhecimento de solos da margem direita do Rio São Francisco, Estado da Bahia. Recife, 1977. v.1 (Embrapa-SNLCS. Boletim Técnico, 52; SUDENE. Recursos de Solos, 10). EMBRAPA. Serviço Nacional de Levantamento e Conservação de Solos (Rio de Janeiro, RJ). Levantamento exploratório-reconhecimento de solos da margem direita do Rio São Francisco, Estado da Bahia. Recife, 1977. v.2 (Embrapa-SNLCS. Boletim Técnico, 52; SUDENE. Recursos de Solos, 10). HARTEMINK, A.E. Imput and output of major nutrients under monocropping sisal in Tanzania. London, Land Degradation & Development, v.8, p305-310, 1997. HARTEMINK, A.E. Soil fertility decline in the tropics: with case studies on plantations. Cambridge, 2002. 360p. MALAVOLTA, E. Sisal (Agave sisalana Perr.). In: International Fertilizer Industry Association (IFA) World Fertilizer Use Manual. Paris, 1996. s/p. Disponível em: http://www.fertilizer.org/ifa/publicat/html/pubman/sisal.htm MALAVOLTA, E., VITTI, G.C., OLIVEIRA, S.A. Avaliação do estado nutricional das plantas: princípios e aplicações. Piracicaba, Potafos, 1989. 201 p. MEDINA, J.C. A necrose da base da folha de sisal. Campinas, Bragantia, v.3, p.73-84, 1943. SALGADO, A.,L. de B., AZZINI, A., FEITOSA, C.T., HIROCE, R. Efeito da omissão de macronutrientes em Sisal. Campinas, v.41, n.13, p.126-134, 1982. SALGADO, A.L. de B. Sisal. In: RAIJ, B. van; CANTARELLA, H.; QUAGGIO, J.A.; FURLANI, A.M.C. Recomendações de adubação e calagem para o estado de São Paulo. Campinas: Instituto Agronômico & Fundação IAC, 1996. p.118.