Ò )S PODER JUDICIÁRIO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO TRIBUNAL DE JUSTIÇA DE SÃO PAULO ACÓRDÃO/DECISÃO MONOCRATICA REGISTRADO(A) SOB N I MUI lllll lllll!ll ]l J! ]']!''" '"*''"''" Vistos, relatados e discutidos estes autos de Apelação / Reexame Necessário n 0113172-13.2006.8.26.0000, da Comarca de Limeira, em que são apelantes PREFEITURA MUNICIPAL DE LIMEIRA e JUÍZO EX- OFFICIO sendo apelados ASSOCIAÇÃO DE DEFESA E PROTEÇÃO DOS DIREITOS DO CIDADÃO, ASSOCIAÇÃO DE MORADORES DO PARQUE RESIDENCIAL BELINHA OMETTO e INSTITUTO MACUCO. ACORDAM, em 4 a Câmara de Direito Público do Tribunal de Justiça de São Paulo, proferir a seguinte decisão: "POR MAIORIA, NEGARAM PROVIMENTO AO RECURSO. VENCIDO PARCIALMENTE O REVISOR QUE DECLARARÁ VOTO.", de conformidade com o voto do(a) Relator(a), que integra este acórdão. O julgamento teve a participação dos Desembargadores THALES DO AMARAL (Presidente) e RUI STOCO. São Paulo, 10 de outubro de 2011. FERREIRA RODRIGUES RELATOR
Voto n 18.661 Apelação cível n 0113172-13.2006.8.26.0000 (994.06.113172-0) Apelante: Prefeitura Municipal de Limeira e outro Apelados: Associação de Defesa e Proteção dos Direitos do Cidadão e outros 'V Comarca: Limeira Juiz: Marcelo leio Amaro Ação civil pública - Tombamento e obras de restauração e preservação de imóvel denominado "Palacete Levy" da cidade de Limeira - Patrimônio histórico e cultural - Reconhecimento de sua existência pelo Judiciário - Admissibilidade - Sentença de procedência - Recurso desprovido. A Associação de Defesa e Proteção dos Direitos do Cidadão, Instituto Macuco e Associação (ie Moradores do Parque Residencial Belinha Omgtfp^juimcairrésta apo civil pública em face da
Prefeitura Municipal de Limeira objetivando, como salientado a fls. 2, impedir e reprimir danos ao patrimônio histórico, o imóvel conhecido como Palacete Levy. Esclarecem que referido imóvel começou a ser edificado no século XIX na cidade de Limeira, sendo a "expressão nítida da elite cafeeira da época. Dizem que teve preservada suas características arquitetônicas, embora tenha sofrido nas últimas décadas mudanças sensíveis em sua estrutura. Aludem a trabalho que descreve toda a trajetória do imóvel ao longo de mais de um século e demonstra pertencer à memória cultural e histórica de Limeira. Mas, dizem, em virtude da ação do tempo e do descaso em se manter uma restauração adequada e voltada para a preservação do prédio este vem gradativamente destruído e chegará à ruína em curto espaço de tempo se providências imediatas não forem tomadas. Alegam que o imóvel está recheado de cupins e muito em breve esses cupins estarão migrando para a igreja matriz da Boa Morte e prejudicará também este outro patrimônio sem tombamento adequado da cidade de Limeira. A fls. 11 mencionou como o ano de 1881 como da inauguração do imóvel e a destinação que teve durante anos, culminanclô com a desapropriação amigável pela Prefeitura de Limeire Apelação cível n o 0U3af2a3^6.8.2 46OO (994.06.113172-0)
ápfe gd L PODER JUDICIÁRIO Querem com a presente demanda que o juízo declare o valor histórico, paisagístico e cultural de todo o imóvel, obrigando sua inscrição no Livro do Tombo, a restauração completa do bem, de acordo com as especificações contidas em estudo anexado à inicial, contratando-se peritos no assunto, compelindo-se, em suma, a Prefeitura a preservá-lo com os necessários reparos e manutenção. Tudo como segue a fls. 2/22. A sentença julgou procedente a ação para, "em preservação do imóvel conhecido como "Palacete Levy", melhor descrito na petição inicial e laudo de fls. 237 e 247, reconhecê-lo e tombá-lo como patrimônio histórico, cultural e arquitetônico no interesse da comunidade determinando-se a devida e competente escrituração para tanto; ainda, para condenar a ré a restaurá-lo por inteiro segundo as especificações técnicas e utilizando de profissionais próprios para o mister; ainda, uma vez restaurado, que seja o imóvel preservado, mantendo-o segundo suas concepções históricas" (fls. 278/280). Embargos de Declaração de fls. 287/290 foram rejeitados a fls. 291. Foi anotado o ree^egme-nepessário a fls. 280. Apelação cível n OVm?ító0O5^26^0Oü (994.06.113172-0) 3
Apela a Municipalidade de Limeira a fls. 308/320 perseguindo a improcedência da demanda. Contrarrazões a fls. 341/349. Manifestou-se o Ministério Público em ambos os graus pelo improvimento do recurso (fls. 358/364 e 381/383). É o relatório. A sentença está correta e deve ser mantida por seus próprios fundamentos (fls. 278/280), que ficam aqui ratificados. Não se questiona o fato de ser o denominado Palacete Levy um patrimônio histórico do Município de Limeira. O próprio réu, ao contestar, deixou isso expresso (fls. 184). Nesse sentido, aliás, são os elementos carreados para os autos com o trabalho que se fez juntar a fls. 102 e seguintes sob a denominação de "Memórias do Palacete Levy". E conquanto não tenha o subscritor do laudo de fls. 237/239 tecido maiores considerações quanto a esse aspecto, ao discorrer sobre o estado do imóvel, disse que, dado o adiantado estado de deterioração, não se pode aguardar muito tempo mais para que obras necessárias sejam executadas "a fim de que se mantenha o prédio em sua arquitetura e valor histórico para a populaçãod^^ade de^limeira" (fls. 238). O perito Apelação cível n 0113^4^2M6^^flDO^(994.06.113172-0)
confirmou que o prédio ("Palacete Levy") está tomado por cupins e se encontra deteriorado em razão da falta de cuidados de prevenção. Deixou expresso que necessita obras urgentes. As fotos de fls. 240/243 bem demonstram a situação precária em que se encontra o citado palacete. Nestas condições, observados os precedentes de jurisprudência de fls. 170/173 e 174/176, com razão as associações autoras no que argumentam na inicial, impõe-se mesmo reconhecer o valor histórico e cultural do citado imóvel, a tornar inevitável a procedência da demanda. O Poder Público Municipal, que já tem o prédio integrando o seu patrimônio em decorrência de desapropriação que ajuizou, tem a obrigação de conservá-lo e preservá-lo, evitando que se deteriore mais ainda, promovendo-lhe o tombamento. Inacolhíveis as razões do apelo (fls. 308/320). Levo em conta também as manifestações de fls. 358/364 e 381/383 do Ministério Público. É de se manter integralmente a sentença, inclusive quanto ao tombamento, pois demonstrado o valor histórico-cultural do imóvel. Com essas considera^ej^nejs^iqyijpento ao recurso. Apelação cível n 0113172-13.2006.8.26.0000 (994.06.113172-0) 5
VOTO N. 13.734/11. - Revisor. 4 a Câmara de Direito Público Relator: Ferreira Rodrigues - Voto n. 18.661. Apelação Cível n. : 0113172-13.2006.8.26.0000 - Limeira RECORRENTES: JUÍZO EX OFFICIO E PREFEITURA MUNICIPAL DE SÃO PAULO RECORRIDOS: ASSOCIAÇÃO DE DEFESA E PROTEÇÃO DOS DIREITOS DO CIDADÃO E OUTROS DECLARAÇÃO DE VOTO PARCIALMENTE DIVERGENTE VISTOS, Estou divergindo em parte do ilustre e culto relator, que manteve integralmente a r. sentença recorrida. Entendo admissível que, para preservar bens com valor histórico, paisagístico, etc, possa o Judiciário impor ao Poder Público o tombamento visando a manutenção de valores importantes para a urbe. Todavia, na hipótese sub examine, parece-nos que não se pode impor ao Poder Público, ou seja, à Administração Municipal, que promova as obras necessárias à recuperação do bem imóvel. Ora, seria uma invasão e ingerência do Poder Judiciário na própria Administração municipal, que como não se desconhece vê-se submetida a regras para poder utilizar o dinheiro do povo, seja, por força de submissão ao orçamento anual, ou seja, à previa inclusão no orçamento-programa que, inclusive deve contar com a participação da Câmara Municipal, no caso dos autos. Cabem, ainda, alguns acréscimos. É cediço e comezinho, vale reiterar, que o Poder Judiciário não pode imiscuir-se na atividade interna corporís da Administração Pública. Apenas esta pode dizer da conveniência e oportunidade para a realização de sua atividade-fim. 9
2 Não será possível ao Judiciário substituir-se ao administrador público para lhe dizer quais as metas deva cumprir ou quais as obras devam ser realizadas. Ainda que exista lei municipal prevendo a possibilidade de convênio com outros órgãos e autorizando o Chefe do Executivo a realizá-lo, tal não significa que nasça para outrem, ou seja, o eventual beneficiário, o direito de exigir a realização efetiva do referido convênio. O empenho de verbas públicas é atribuição exclusiva do Chefe do Executivo e depende de previsão prévia no orçamento-programa regularmente votado e aprovado. Aliás, impõe-se obtemperar que apenas aqueles direitos sociais que se traduzem numa vontade expressa e determinada do Constituinte, no sentido de cometer ao Estado uma prestação positiva a concretizá-los, autorizam a intervenção judicial. Nesses casos a norma constitucional transcende ao programático, ao esperado, atingindo o status de imposição de dever estatal, não sendo, contudo, a hipótese dos autos. Em conseqüência, se por um lado a cláusula da "reserva do possível" não pode ser invocada pelo Estado Administração para o só fim de exonerar-se de obrigações constitucionais, com aniquilação de direitos fundamentais, por outro, tem-se que os condicionamentos impostos por ela ao processo de concretização dos direitos de segunda geração, traduzem-se em um binômio que compreende, de um lado, a razoabilidade da pretensão deduzida em face do Poder Público e, de outro a existência de disponibilidade financeira do Estado para tornar efetivas as prestações positivas dele reclamadas. Por último - insista-se - não pode o Poder Judiciário ir além do exame da legalidade para emitir juízo de mérito sobre os atos da Administração. Como decidiu o Colendo Superior Tribunal de Justiça: "As atividades de realização dos fatos concretos pela administração depende de dotações orçamentárias prévias e do programa de prioridades estabelecidos pelo governante. Não cabe ao Poder Judiciário, portanto, determinar as obras que deve edificar, mesmo que seja para proteger o meio ambiente" (STJ - I a T. - REsp. 169.876 - Rei. José Delgado - j. 16.06.98-RSTJ 114/99). No mesmo sentido decidiu este Egrégio Tribunal de Justiça de São Paulo: Apelação Cível n. 0113172-13.2006.8.26.0000 - Limeira /
3 "Ao poder executivo cabe a conveniência e oportunidade de realizar atos físicos de administração, não podendo o Judiciário ordenar que tais realizações sejam consumadas" (TJSP - 1/ C. Dir. PúbUco - Ap. 46.882-5 - Rei. Luiz Tâmbara - j. 30.11.99 - JTJ-LEX 231/145). Também de nossa relatoria o seguinte julgado: TJSP, 13 a C. Direito Publico, Ap. Cível 269.202-5/3, Rei. Rui Stoco, j. 21.09.2005, Voto 5.623. Esses o singelos fundamentos, peles-qnais divergi, em parte, do Relator sorteado. \ \í ) RUI STOCj Re/viso/ Apelação Cíveln. 0113172-13.2006.8.26.0000 - Limeira