INFLUÊNCIA DO TIPO DE PLASTIFICANTE E DAS CONDIÇÕES DE PROCESSAMENTO NA ESTABILIDADE TÉRMICA E PROCESSABILIDADE DO POLI (CLORETO DE VINILA)

Documentos relacionados
ESTUDO COMPARATIVO DA INFLUÊNCIA DE DIFERENTES TIPOS DE PLASTIFICANTE NO PVC

INFLUENCIA DOS PLASTIFICANTES DE ORIGEM VEGETAL EM POLICLORETO DE VINILA (PVC)

EFEITO DA NATUREZA E TEOR DE PLASTIFICANTE SOBRE AS PROPRIEDADES TÉRMICAS DE COMPÓSITOS DE PVC

Prof. Marco-A. De Paoli

AVALIAÇÃO DE DIFERENTES PLASTIFICANTES EM COMPOSIÇÕES DE POLI(CLORETO DE VINILA)

Vantagens da Utilização da Borracha Nitrílica em Pó na Modificação de PVC

Apresentação Auriquímica Overview Plastificantes Ftálicos Alternativa Procedimento Experimental Resultados Conclusão

Profa. Márcia A. Silva Spinacé

Palavras-chave: polipropileno; borracha nitrílica; extrusão mono-rosca; elastômeros termoplásticos.

INFLUÊNCIA DO CARBONATO DE CÁLCIO NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DE ESPUMAS DE EVA

ANÁLISE TÉRMICA E RESISTÊNCIA À FLEXÃO DE COMPÓSITOS DE HDPE E VERMICULITA

Índice. 1. Por que os ftalatos estão sendo proibidos no mundo? 2. As opções existentes para substituir os ftalatos

Propriedades Térmicas de Polímeros

ESTUDO DAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DA BLENDA DE POLI(CLORETO DE VINILA) E POLICAPROLACTONA

DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITO TERMOPLÁSTICO-MADEIRA FEITO COM ADESIVO DE AMIDO PARA MOLDAGEM POR INJEÇÃO Maurício de Oliveira Gondak, MSc (UFPR)

OBTENÇÃO DE PLACAS DE MADEIRA PLÁSTICA A BASE DE PVC RECICLADO PARA USO EM CONSTRUÇÃO CIVIL

Estudo da influência do processo de mistura na dispersão de argilas em plastificantes

UTILIZAÇÃO DO ENSAIO DE OOT COMO ALTERNATIVA AO OIT PARA COMPOSTOS COM BAIXA ESTABILIDADE TERMO-OXIDATIVA

OBTENÇÃO E CARACTERIZAÇÃO DE BLENDAS DE POLI(m-FENILENO. SANTOS, Sandra Cruz dos; LOGUERCIO, Lara Fernandes; GARCIA, Irene Teresinha Santos 1 ;

INFLUÊNCIA DO TIPO DE CERA EM BLENDAS POLIOLEFÍNICAS PARA FABRICAÇÃO DE SACOLAS PLÁSTICAS

Título: Influência da umidade na estabilidade dimensional de bioespumas.

ESTUDO COMPARATIVO DAS PROPRIEDADES DO POLICLORETO DE VINILA UTILIZANDO PLASTIFICANTES ALTERNATIVOS AO DIOCTIL FTALATO. Daiane Schilling de Vargas

A Wanhua Chemical foi estabelecida em 1998 e relacionada na Bolsa de Valores de Xangai em 2001.

Processamento do WPC Técnicas, Vantagens e Desvantagens. ENG. ESP. CLAUDIO R. PASSATORE, MSc.

POLYURETHANE. A Yantai Wanhua Polyuretanes Co., Ltd. foi estabelecida em 1998 e relacionada na Bolsa de Valores de Xangai em 2001.

POLIURETANAS OBTIDAS A PARTIR DA UREIA CATALISADA POR TRIFLUORETO DE BORO (BF3) - ESTABILIDADE TÉRMICA

Especialidades Químicas

Termogravimetria. Duncan Price IPTME, Loughborough University

ANÁLISE COLORIMÉTRICA DO POLIPROPILENO APÓS DEGRADAÇÃO TERMOMECÂNICA SOB MÚLTIPLAS EXTRUSÕES

ESTUDO DO EFEITO DE PLASTIFICAÇÃO INTERNA DO PVC QUIMICAMENTE MODIFICADO

ESTRUTURA E PROPRIEDADES DE POLIMÉROS. PMT Introdução à Ciência dos Materiais para Engenharia 8 a aula autora: Nicole R.

Fluidos de base sintética VISCOBASE. Desempenho e eficiência para aplicações exigentes

Polimerização em Cadeia via Radical Livre. Free Radical Polymerization

ANÁLISE DO REAPROVEITAMENTO DE RESÍDUO DE PVC, PROVENIENTE DA INDÚSTRIA DE TUBOS, ADITIVADO COM ESTEARATO DE CÁLCIO

MATERIAIS POLIMÉRICOS

MOLDAGEM ROTACIONAL ROTOMOLDAGEM

Palavras-chave : poli(tereftalato de etileno) ; PET ; poli(naftalato de etileno) ; PEN ; blendas poliméricas PET/PEN ; comportamento mecânico.

Soluções para adesivos e selantes

Preparação e determinação da resistividade elétrica de blendas de silicone e polianilina dopada com ácido cítrico

ESTUDO DE PROPRIEDADES TÉRMICAS, ELÉTRICAS E MECÂNICAS DE NANOCOMPÓSITOS PVC/NANOTUBOS DE CARBONO OBTIDOS PELO PROCESSO DE COMPACTAÇÃO A QUENTE

NEOPAC : EMULSÕES PU ACRÍLICAS PARA TINTAS BASE ÁGUA

5 Discussão dos resultados

Introdução: Injeção de Metais

CPV seu pé direito também na Medicina

Joyci Camila da Silva (1,2), André Luiz Medeiros Ramos (3), Luiz Henrique Caparrelli Mattoso

Título: Influência da Granulometria nas Propriedades Térmicas e Reológicas da Madeira Plástica Feita a Partir de Resíduos Sólidos

TUDO QUE VOCÊ PRECISA SABER SOBRE O MATERIAL:

LISTA N 01-3 A, B, C, D, E CATAGUASES PROF. SÍLVIO QUÍMICA ORGÂNICA 3 BIM. ENTREGAR FOLHA DE RESPOSTAS DIA 16/09/2011 (SEXTA FEIRA)

Márcio Rogério Silveira da Silveira 1, Edson Luiz Francisquetti 1* Campus Farroupilha, Caxias do Sul, RS, Brasil. *Orientador

DESENVOLVIMENTO DE ELASTÔMEROS TERMOPLÁSTICOS COM POLIAMIDA E BORRACHA NITRÍLICA CARBOXILADA.

Disciplinas» Suporte» Idioma Matheus Fernandes Barbosa

EFEITOS DO PROCESSAMENTO REATIVO COM EXTENSORES DE CADEIA NA CRISTALIZALIZAÇÃO DE PET RECICLADO

CAP 12 MATERIAIS POLIMÉRICOS E COMPÓSITOS

3 Comportamento dos materiais compósitos em exposição a altas temperaturas

FITA VHB CV 150 DATASHEET

3. Material e Métodos

LaPol Laboratório de Materiais Poliméricos

DESENVOLVIMENTO DE PVC RÍGIDO REFORÇADO COM FIBRA DE VIDRO PARA FABRICAÇÃO DE PRODUTOS MOLDADOS

Plásticos. Prof. Geraldo Lopes Crossetti. Prof. Geraldo Lopes Crossetti 11/12/2012. Page 1

121/ESTUDO DO IMPACTO DA RESINA ALQUÍDICA LONGA EM ÓLEO DE SOJA NO DESEMPENHO DE EMULSÃO ÁGUA EM ÓLEO PARA FABRICAÇÃO DE TINTA IMOBILIÁRIA

Os materiais termoplásticos e termorígidos podem ser empregados na fabricação de tubulações em substituição aos metais. No campo dos polímeros

POLÍMEROS. Química Professora: Raquel Malta 3ª série Ensino Médio

Extrusão com dupla rosca

4. MATERIAIS E MÉTODOS EXPERIMENTAIS

COMPÓSITOS PP/NANO-ZrPoct: EFEITO DA CARGA NAS PROPRIEDADES TÉRMICAS DO PP

Desenvolvimento de Materiais Híbridos com Aplicações Biomédicas. Prof. Joana Lancastre

5. Resultados e Discussão

Foram realizados nos corpos de prova prismáticos com base no método A da norma ASTM

MATERIAIS POLIMÉRICOS MATERIAIS POLIMÉRICOS

121/DETERMINAÇÃO DE NOVOS PARÂMETROS DE QUALIDADE DE RESINAS ALQUÍDICAS PARA MELHORIA DA REPRODUTIBILIDADE E REPETITIVIDADE NA PRODUÇÃO DE TINTAS

Deixe nossas inovações surpreender você!

CARACTERIZAÇÃO DE NANOCOMPÓSITOS PREPARADOS COM BLENDA DE POLIETILENO.

Relações estrutura- processamento no PVC

POLIMEROS. Por que estudar Polimeros?

Materiais Poliméricos. Conceitos Gerais

Excelência em Carbonatos

AVALIAÇÃO DOS EFEITOS DA RADIAÇÃO POR FEIXES DE ELÉTRONS NAS PROPRIEDADES MECÂNICAS DO POLIPROPILENO

Livros Grátis. Milhares de livros grátis para download.

Você sabia que o PIB é um tipo de M.V.I?

CENTRO UNIVERSITÁRIO FUNDAÇÃO SANTO ANDRÉ FACULDADE DE ENGENHARIA ENGENHEIRO CELSO DANIEL

AVALIAÇÃO DE COMPOSTOS DE BORRACHA NATURAL USADOS EM EQUIPAMENTOS DE SEGURANÇA

UNILUB. Indice TINTAS ESPECIAIS... 5 TINTAS GRÁFICAS... 5 TINTAS ANTI-ADERENTES E PARA REVESTIMENTOS... 5 RESINAS TERMOPLÁSTICAS...

UTILIZAÇÃO DE POLIPROPILENO RECICLADO NO DESENVOLVIMENTO DE COMPÓSITOS REFORÇADOS COM BAGAÇO DE CANA-DE-AÇÚCAR

PROPRIEDADES TÉRMICAS, ESPECTROSCÓPICAS E DE CONDUTIVIDADE ELÉTRICA EM COMPLEXOS DE POLI(VINILPIRIDINAS)/CLORETO DE FERRO(III)

Solventes. Junho 2015

Equipamentos para Mistura e Processamento de Compósitos com Altos Teores de Cargas (WPC) uso de Misturador Termocinético (Drais):

ÓLEOS DE PROCESSO. Matéria Técnica

4 Resultados Experimentais

Environmental, Economic and Technical Performance: A Comparative Study of Carrier Bags CARVALHO, J. S.; MACEDO, J. R. N.; OLIVEIRA, S. A.; ROSA, D.

Estrutura e Propriedades dos Polímeros

Introdução aos materiais poliméricos. Profa. Dra. Daniela Becker

Para a preparação do PVC, original e reciclado, conforme descrito anteriormente, - Granuladora Dupla Rosca Paralela. - Pulverizador Turborotor G-90

Química de Polímeros. Prof a. Dr a. Carla Dalmolin Polímeros em Solução

PFA PTFE POLIAMIDA PU EVA EPOXI

Processamento de materiais cerâmicos Preparo de massas cerâmicas

Os valores obtidos no ensaio de tração (Tabela 9 no Anexo II) para carga máxima,

CARACTERIZAÇÃO MECÂNICA E MORFOLÓGICA DE COMPÓSITOS DE POLIPROPILENO E ESFERA OCA DE VIDRO

CARACTERIZAÇÃO ESPECTROSCÓPICA E FISICO- QUÍMICA DE FILMES DE BLENDAS DE AMIDO E CARBOXIMETILCELULOSE.

Líder mundial em lubrificantes para compressores

APLICAÇÃO DOS POLÍMEROS EM ODONTOLOGIA CLASSIFICAÇÃO DOS POLÍMEROS REQUISITOS PARA UMA RESINA ODONTOLÓGICA. 1. Compatibilidade Biológicos:

Transcrição:

INFLUÊNCIA DO TIPO DE PLASTIFICANTE E DAS CONDIÇÕES DE PROCESSAMENTO NA ESTABILIDADE TÉRMICA E PROCESSABILIDADE DO POLI (CLORETO DE VINILA) Mônica Mattana 1, Ruth M.C. Santana 2, Edson Francisquetti 3 Departamento de Materiais, Universidade Federal de Rio Grande do Sul - UFRGS, Campus do Vale, Porto Alegre, RS - Brasil ( 1 monica.mattana@gmail.com, 2 ruth.santana@ufrgs.br, 3 edson.francisquetti@farroupilha.ifrs.edu.br) RESUMO O poli(cloreto de vinila) - PVC é considerado um polímero muito versátil devido à possibilidade deste ser formulado mediante a incorporação de aditivos, alterando as características da resina dentro de um amplo espectro de propriedades. Plastificantes a base de ftalatos, como o dioctil ftalato (DOP) são os mais utilizados, no entanto, existem regulamentações que estão restringindo a sua utilização, intensificando-se os estudos com possíveis alternativos. Nesse sentido, o objetivo deste trabalho é avaliar a influência dos plastificantes de diferentes naturezas nas propriedades do PVC, como estabilidade térmica, processabilidade e aspectos do produto final. Para formulação do composto foram usados seis diferentes plastificantes, entre eles o diisononil ciclohexano (DINCH), dioctil ciclohexanoato (DOCH), dioctil adipato (DOA), óleo de soja epoxidado (OSE) e outros. Resultados indicam que os plastificantes provenientes de origem vegetal possuem boa estabilidade térmica no composto quando comparados ao DOP, contudo, para o melhor entre eles os resultados de cor foram insatisfatórios. Palavras-chave: poli(cloreto de vinila), plastificantes, dioctil ftalato (DOP) INTRODUÇÃO O PVC - Poli(cloreto de vinila) é um termoplástico extremamente versátil, sendo adequado tanto para a produção de peças flexíveis, quando usado com plastificantes, como para rígidas. Ele foi reconhecido e caracterizado há cerca de 100 anos, e é produzido comercialmente há mais de 50 anos. O grande impulso na sua produção ocorreu na Alemanha, durante a II guerra mundial, tendo sido utilizado como substituto da borracha natural (1,2,3). A versatilidade do PVC é consequência de suas características físicas, algumas das quais apresentadas na Tabela 1: 9894

Tabela 1: Características físicas do PVC Peso Molecular 50.000-100.000 g/mol Massa Específica 1,39 g/cm 3 Índice de Refração 1,53-1,56 Tg (trans. vítrea) 81 C Cristalinidade 5-15% Fonte: PVC Handbook (4) Geralmente, esta resina é na forma de pó branco ou grânulos quando combinada com outros ingredientes auxiliares é convertida em produtos através de diversos tipos de processos. Os aditivos mais comuns utilizados nesses processos e que serão avaliados ao longo desse trabalho, são os plastificantes, que tem como objetivo transformar o polímero duro em um polímero flexível (5). Para algumas aplicações o PVC é favorecido em relação aos outros plásticos commodities, como as poliolefinas, uma vez que ele possui uma resistência natural à chama, mofo e luz ultravioleta, de modo que os aditivos para controle desses parâmetros são geralmente desnecessários, ao contrário do que acontece com polímeros olefínicos (5). Conforme a definição da IUPAC (International Union of Pure and Applied Chemistry) os plastificantes são substâncias que incorporadas a plásticos ou elastômeros com a finalidade de aumentar sua flexibilidade, processabilidade ou capacidade de alongamento. Ou seja, o plastificante pode reduzir a viscosidade do fundido, temperatura de transição vítrea (Tg) ou seu módulo de elasticidade. Assim, podemos definir os plastificantes como toda e qualquer substância que, incorporada ao PVC, reduz sua dureza e aumenta sua flexibilidade (6). Normalmente são classificados como ésteres incolores e inodoros, principalmente ftalatos. Isso abre um enorme leque de possibilidades para novas aplicações. Além disso, um dos principais benefícios que os plastificantes conferem ao PVC é a durabilidade, o que pode garantir um tempo de vida elevado do produto de até mais de 50 anos (7). De todos os plastificantes produzidos, cerca de 95% são utilizados na produção de PVC flexível, aproximadamente 6,4MT em 2011. As principais aplicações para o PVC flexível incluem revestimentos de pisos e paredes, revestimento de telhados, cabos elétricos e isolamento de fio, aplicações automotivas, dispositivos médicos, produtos de couro sintético e assim por diante. Alguns plastificantes podem também ser utilizados em produtos de borracha, tintas, tintas de impressão, adesivos, selantes e para uso profissional (7)(8). 9895

Os plastificantes são produzidos por uma reação de um álcool com um ácido, tal como ácido adípico, anidrido ftálico, e assim por diante. A escolha de álcool e ácido irá determinar o tipo de éster que pode ser produzido e, portanto, o tipo de agente plastificante. As combinações são quase infinitas, mas apenas um número muito limitado sobreviveu aos requisitos de desempenho, custo, disponibilidade, saúde e aspectos ambientais que são impostas pelo mercado (7). Muitos estudos têm sido realizados nos últimos anos, para avaliar os efeitos dos plastificantes em seres humanos e para o ambiente devido a possível migração dos ftalatos (7). Assim grandes investimentos estão sendo feitos no setor de investigação e desenvolvimento para melhorar o desempenho de plastificantes ou produzir novas alternativas que podem melhor refletir as necessidades do mercado e ao mesmo tempo respeitando todos os critérios de segurança exigidos pelo REACH (Regulation European Chemical Agency). Segundo um porta voz da Emerald Kalama Chemical, os formuladores podem oportunamente utilizar tereftalatos como o di(2-etil hexil tereftalato) (DEHTP) ou diisononil ciclohexano-1,2-dicarboxilato (DINCH). No entanto, em muitas aplicações, os formuladores podem não alcançar o desempenho necessário apenas com esses plastificantes não-ftalatos. Apesar das preocupações com a saúde, meio ambiente e regulamentos, as alternativas com ftalatos são ainda essenciais para otimizar e adaptar principais propriedades e características de processamento, tais como a durabilidade a longo prazo, viscosidade, tempo de fusão e resistência do filme (9). Os dados dos últimos 15 anos podemos notar que o uso de plastificantes, tais como o DINCH e tereftalato de dioctilo (DOTP) aumentaram (7), o que reflete o compromisso da indústria no desenvolvimento de novos e seguros produtos através de importantes investimentos na investigação e inovação. O plastificante para ser efetivo no PVC deve conter na sua estrutura uma fração polar e outra apolar. A parte polar da molécula deve ser capaz de ligar-se reversivelmente com o polímero enquanto a apolar aumenta o volume livre e contribui efeitos de blindagem em outros sítios polares na cadeia de polímero. O balanço entre a porção polar e apolar da molécula é essencial. Se um plastificante é muito polar ele tende a funcionar mais como um solvente em temperatura ambiente obtendo um produto com desempenho global fraco, já se a fração apolar for maior podem surgir problemas de compatibilidade com elevados níveis de exsudação do plastificante (10). 9896

Neste sentido o objetivo deste trabalho é realizar um estudo comparativo da influência de diferentes tipos de plastificante no PVC nas suas propriedades térmicas, físicas, químicas e de processabilidade. MATERIAIS E MÉTODOS Materiais Os materiais usados neste estudo foram PVC, plastificantes, estabilizante térmico, óleo de soja epoxidado, estearato de cálcio e estearina como lubrificante externo. Os diferentes plastificantes avaliados nesta pesquisa estão listados na Tabela 2 a seguir. ABREVIAÇ ÃO DOP DOA DINCH DOCH DOTP OSE DIMIT Tabela 2 Plastificantes utilizados neste estudo. NOME QUÍMICO Dioctil ftalato Dioctil adipato Di-isononil ciclohexano-1,2-dicarboxilato Dioctil Ciclohexanoato Dioctil tereftalato OLVEX 51 - Ester graxo vegetal modificado Plastificante de fonte renovável obtido a partir de óleos vegetais e que está em fase de teste (foi requerido patente) Preparação e caracterização A preparação do composto foi realizada em misturador intensivo do tipo batedeira - Dryblend. Esse composto foi formado pela adição da resina de PVC, estabilizante térmico, lubrificante e o plastificante. Nesse estudo comparativo o teor de todos os plastificantes foi mantido constante conforme a formulação descrita na Tabela 3. Tabela 3 Composição dos compostos de PVC Composição pcr * PVC Norvic SP 1000 100 Plastificantes avaliados 60 Estabilizante térmico 5 Óleo de soja epoxidado 20 Estearato de cálcio 0,1 Estearina lubrificante externo 0,1 *pcr: parte por cem de resina Os compostos de PVC do estudo foram plastificados e homogeneizados em uma extrusora dupla rosca, co-rotante ZSK 18 ML, da Coperion, com roscas de 9897

18 mm de diâmetro, com elementos de mistura e cisalhamento, e L/D igual a 32, com velocidade da rosca de 250 rpm. Para o processamento dos compostos de PVC utilizou-se o alimentador lateral (side feeder) da extrusora posicionado na zona 3 do equipamento. No processo de extrusão foi utilizado um perfil de temperatura conforme dados apresentados na Tabela 4 a seguir. Tabela 4 Perfil de temperatura da extrusora Zona Temperatura ( C) 1 128 2 155 3 165 4 170 5 175 6 170 7(matriz 170 ) Os compostos extrusados em forma de spaguetti foram picotados em forma de grânulos em um moinho de corte tipo faca. A injeção dos corpos de provas foi realizada em uma injetora Golden Eagle GEK 180 T, da Tien Kang CO, capacidade de plastificação de 34,7 g.s -1, diâmetro da rosca de 60 mm, relação L/D de 21. O molde utilizado para a injeção dos corpos de prova segue o padrão segundo a norma ASTM D882. Além disso, para efeitos de comparação os compostos e corpos de prova foram produzidos nas mesmas condições de processamento. Os compostos foram caracterizados pelos ensaios físicos, químicos e térmicos. Como ensaio físico foi determinado o índice de fluidez do fundido (MFI) baseado na norma ASTM D1238 utilizando um plastômero de IF Instron CEAST 7023.000 com uma carga predefinida de 2,16 kg, temperatura de 190 C e balança analítica OHAUS modelo Explorer. Para caracterização dos plastificantes foi realizado análise de Infravermelho por transformada de Fourier (FTIR) seguindo a norma ASTM D5576 com um equipamento Frontier com acessório ATR - Attenuated Total Reflectance. Avaliou-se o comportamento térmico de cada composto utilizando o equipamento PerkinElmer 4000 para avaliação termogravimétrica (TGA), conforme ASTM E1131, com rampa de aquecimento de 30 o C a 900 o C, com taxa de aquecimento de 20 C/min e gás de nitrogênio como ambiente inerte. Estabilidade térmica em uma estufa METRASTAT a 210 C por 60 min conforme norma ASTM D2115, sendo que o ensaio foi realizado a partir de amostras obtidas na calandra 9898

(crepe) a 170 C por 2 min e a 25 RPM de rotação. Perda de massa segundo a ABNT NBR NM IEC 60811-3-2:2005 a uma temperatura de 105 C com um tempo de envelhecimento de 24 e 168 horas. Avaliou-se também testes colorimétricos e ópticos do produto final como cor L*a*b segundo as normas ASTM D-6290 e ASTM E-313, para essa análise foi utilizado um espectrofotômetro de cor LabScan XE que trabalha no intervalo de comprimento de onda de 400-700 nanômetros (nm). Já as propriedades óticas como brilho, opacidade e claridade foram avaliadas de acordo com a norma ASTM D1003 no equipamento da marca BYK-Gardner, modelo Haze- Garde Plus. RESULTADOS E DISCUSSÃO Características físicas Os resultados do Índice de Fluidez do fundido (MFI) dos compostos de PVC em função do tipo de plastificante estão apresentados na figura 1. Figura 1 IF dos compostos de PVC em função do tipo de plastificante usado. Observa-se que apesar de manter constante o teor de plastificante nas formulações, destaca-se a variabilidade dos resultados de IF entre os compostos. Os plastificantes DOA e DINCH apresentaram os maiores valores de IF e o plastificante denominado como DIMIT apresentou um valor bem inferior quando comparado aos demais. Esse baixo valor de IF pode ser devido às interações e/ou entrelaçamentos da cadeia polimérica e a alta massa molar deste plastificante, pois, durante o processamento foi observado que tratava-se de um aditivo mais viscoso. No entanto, é importante destacar que mesmo apresentando fluidez baixa não houve problemas durante o processo de injeção das peças. 9899

Características químicas Os espectros de cada composto de PVC obtidos por infravermelho por transformada de Fourrier (FTIR) estão apresentados na figura 2. Figura 2 Espectros comparativos dos compostos de PVC com diferentes plastificantes. Nota-se que os espectros para os compostos com OSE e DIMIT foram semelhantes. Para esses plastificantes observa-se principalmente as bandas de ligações CH (3000, 1400, 1300 cm -1 ) da cadeia de um óleo vegetal (hidrocarbonetos alifáticos) formado normalmente por uma sequência de CH2 e a ligação C=O presente em ésteres (1736 cm -1 ). Para o DOP encontramos bandas características das ligações C=C de anéis aromáticos na região de 3000 cm -1 e 1580 cm -1 e ainda um leve deslocamento das bandas de C=O, característica dos ftalatos. Já o DOTP obteve um resultado semelhante ao DOP pois, ambos diferem-se principalmente em relação à posição meta e para das ligações. Verifica-se ainda que a diferença principal entre os plastificantes adipatos - DOA e os ftalatos é a ausência das ligações C=C do anel aromático (~1580 cm -1 ). O espectro do DINCH apresenta, além das bandas de CH, C=O, bandas na região de 1300-1100 cm -1 normalmente atribuídas às ligações C-O, bem semelhante ao espectro do DOCH. Propriedades térmicas PVC. A figura 3 mostra as curvas comparativas de TGA para cada composto de 9900

Figura 3 Curvas comparativas de TGA dos compostos de PVC com diferentes plastificantes Entre os plastificantes estudados, verifica-se que o plastificante nomeado como DIMIT teve um comportamento semelhante ao do oléo de soja. A composição química destes plastificantes vegetais contribuiram para uma melhor estabilidade térmica, o detalhe (ampliação) do gráfico mostra que o plastificante DIMIT iniciou o processo de degradação a uma temperatura maior que os demais. Para avaliação da estabilidade térmica estática do composto foi realizado um ensaio no METRASTAT. Na Figura 4, encontra-se a imagem das amostras do composto em função do tempo de exposição. Figura 4 Estabilidade térmica estática dos compostos de PVC com diferentes plastificantes. 9901

Os compostos de PVC plastificado com maior estabilidade térmica foram os nomeados como DIMIT e OSE confirmando os resultados de TGA, fato que pode estar influenciado pelo tamanho e/ou composição química dos plastificantes respectivos, como discutidos nos resultados de IF e FTIR. Quanto aos demais plastificantes, observa-se que o inicio de degradação das amostras foi semelhante ao tempo do DOP (referência). A figura 5 apresenta os resultados de variação da perda de massa após um período de envelhecimento das amostras em estufa. Figura 5 Perda de massa dos compostos de PVC com diferentes plastificantes. Pode-se perceber que a amostra DIMIT possui a menor porcentagem de perda de massa após os dois períodos de envelhecimento. Esse resultado era esperado após o ensaio de TGA e METRASTAT terem mostrado que este composto apresentava maior estabilização térmica em relação aos demais. Destaca-se aqui que o DOTP apresentou resultados satisfatórios em termos de perda de massa que não haviam sido evidenciados com significância nos testes supracitados. Além disso é possível verificar que o DOA e o DOCH tiveram as maiores perdas de massa, principalmente após 168 horas de avaliação. Cor das amostras processadas A seguir é apresentado os gráficos de avaliação de cor e propriedades óticas dos compostos processado. 9902

(a) (b) (c) Figura 6 Avaliação de cor nas peças injetadas (a) Yellow e White Index, (b) L.a.b, (c) brilho, opacidade e claridade Através dos gráficos acima verifica-se que os parâmetros de cor tiveram pouca variação na maior parte das amostras avaliadas, no entanto, a com composto DIMIT apresentou YI significativamente superior e WI inferior em relação aos outros plastificantes utilizados. Além disso, os parâmetros L, *a, *b mostram que o produto que contém esse aditivo possui uma cor com tendências mais cinza, amarela e vermelha que os demais. Destaca-se aqui que o produto contendo o OSE como plastificante apresentou um resultado de cor *a bem inferior aos outros, ou seja, é uma amostra que tende mais ao verde na escala desse parâmetro. Em relação as propriedades óticas observam-se grandes variações entre os resultados. O composto com plastificante DOA aponta como a amostra de menor brilho e com maior claridade. As amostras contendo o OSE e o DIMIT apresentaram os menores valores de opacidade, contudo o resultado desse parâmetro para o OSE 9903

foi muito similar a referência (DOP). Além disso, a amostra com DIMIT foi a que apresentou o menor valor de claridade. É importante ressaltar que a cor do produto final é um parâmetro importante quando o composto é usado para a fabricação de um produto transparente, no entanto, aspectos negativos dessas propriedades podem ser contornados quando a aplicação é em produtos opacos e/ou coloridos. CONCLUSÕES Os resultados desse trabalho mostram que dependendo da natureza do plastificante o composto pode apresentar características distintas embora mantendo constante o teor. De acordo com os ensaios realizados nesse estudo, todos os plastificantes testados apresentam vantagens e desvantagens frente ao plastificante DOP, considerado como referência. Os compostos de origem vegetal usados neste estudo apresentaram estabilidade térmica superior aos demais, no entanto, para o composto de PVC plastificado com DIMIT o resultado de índice de fluidez ficou bem inferior as das demais alternativas, isso pode caracterisar problemas de processamento para em uma aplicação industrial. Além disso, verificou-se que os resultados de cor para este aditivo não satisfazem produtos que exigem transparência e brancura, assim sendo, este poderia substituir o DOP em aplicações específicas. O OSE seria uma alternativa viável no que diz respeito a estabilidade térmica e cor do composto. Agradecimentos Os autores agradecem a Braskem S.A., a Grendene-RS e ao professor Dr. Dimitrios Samios pela disponibilização de material. REFERÊNCIAS 1. Burgess, R. H.: "Manufacture and Processing of PVC". London, Applied Science Publishers Ltd, edited by Burgess, R. H., vii (1982). 2. Clark, M.: "Particle Formation", in "Particulate Nature of PVC". London, Applied Science Publishers Ltd, edited by Butters, G., chp. 1, 1-51 (1982). 3. Johnston, C. W.: "Polyvinyl Chloride: Polymerization and Manufacture", in: "Encyclopedia of PVC", New York and Basel, Dekker, edited by Nass, L. I., chp. 3, 81-82 e 94-95 (1976). 9904

4. Charles E. Wilkes, James W. Summers, Charles A. Daniels, PVC Handbook, Hanser, 2005 5. CHEMSYSTEMS PERP Program April 2013, Polyvinyl Chloride (PVC) - PERP 2012-8, Nexant; Michelle Lynch, New York, USA 6. RODOLFO, ANTONIO; NUNES, LUCIANO; ORMANJI, WAGNER. Tecnologia do PVC. Pro Editores, 2006. 7. VERA KOESTER, Plasticizers Benefits, Trends, Health, and Environmental Issues, 05 de maio de 2015, Wiley-VCH Verlag GmbH & Co. KGaA, Weinheim. 8. CULLEN STEVE, Business Director, Plasticizers - Eastman Chemical Company, SPI Flexible Vinyl Products Conference July 2012 9. Revista - Film and sheet extrusion, setembro de 2016, ISSN 2053-7190, páginas 21 a 28. 10. GODWIN, ALLEN. Applied Plastics Engineering Handbook: Plasticizers. Elsevier, 2011. INFLUENCE OF PLASTICIZER TYPE AND PROCESSING CONDITIONS ON THERMAL STABILITY AND PROCESSABILITY POLY (VINYL CHLORIDE) ABSTRACT The poly (vinyl chloride) - PVC is a very versatile polymer due to the possibility of being formulated by incorporating additives, which can change the resin characteristics in a wide spectrum of properties. Plasticizers composed of phthalates in basis, such as dioctyl phthalate (DOP), are the most used. However, there are regulations restricting its use and a strong research for possible replacement alternatives. In this way, the objective of this work is to evaluate the influence of plasticizers from different sources in PVC properties such as thermal stability, processability and final product features. Seven different plasticizers were used for formulating, including cyclohexane diisononyl (DINCH), dioctylcyclohexanoate (DOCH), dioctyl adipate (DOA), epoxidized soybean oil (OSE) and others. Results indicate that plasticizers derived from vegetable origin have good thermal stability when compared to the compound with DOP, however, for the best among them color results were unsatisfactory. Keywords: poly (vinyl chloride), plasticizers, dioctyl phthalate (DOP) 9905