EXCELENTÍSSIMO (A) DOUTOR (A) JUIZ (A) DE DIREITO DA 21ª VARA CÍVEL DO FORO CENTRAL DA REGIÃO METROPOLITANA DA COMARCA DE CURITIBA PARANÁ. Autos sob nº 0045404-70.2011.8.16.0001 ZENI MARIA PAULA CASTANHO E SILVA, já devidamente qualificada nos autos em epígrafe, que move em desfavor de BATISTA DE OLIVEIRA E ALBUQUERQUE MÓVEIS E ELETRODOMÉSTICOS LTDA., vem, respeitosamente, perante Vossa Excelência, por meio de procurador legal, expor e requerer o que segue. A exequente tentou inúmeras vezes ver seu crédito satisfeito, porém não havendo recíproca pacífica em todas as tentativas, a exequente resolveu requerer a tutela jurisdicional, já que tem como certo que a Executada continua a exercer suas atividades comerciais de modo irregular. Tendo em vista o motivo do retorno negativo do A.R., mudou-se, conforme fls. 101/102 dos autos, quando da intimação pessoal da Executada para constituir novo procurador nos autos, resta evidente que esta finalizou suas atividades comerciais de modo irregular sem se quer cumprir com suas obrigações junto à exequente.
Além disso, o endereço da referida carta de intimação é o mesmo indicado desde 2011, quando foi ajuizada a presente medida judicial. Importante destacar, inclusive, que em 07 de outubro de 2011 o Sr. Oficial de Justiça obteve êxito na citação da Executa em diligência ao endereço indicado, conforme certidão de fls. 41: Neste sentido, o ato em tela remonta à hipótese clara de fraude a credores. Em virtude do não pagamento dos créditos devidos, da evidente fuga e inércia da Executada no que tange à suas obrigações
assumidas, mesmo sendo intimada por meio de seu representante legal, a exequente vem expor seu pedido para a desconsideração da personalidade jurídica. Ressalta-se, ainda, que a situação cadastral da executada perante a Receita Federal é ATIVA, conforme comprovante a seguir, o que demonstra de forma inequívoca que não houve baixa regular, fundamental para afastar a situação de irregularidade e abuso da personalidade jurídica, posto não estar desempenhando suas atividades naquele endereço.
Vale destacar, que a desconsideração da personalidade jurídica não reclama ação autônoma, mas mero incidente no processo, com o redirecionamento da execução à figura dos sócios, que passam a integrar a lide (com a expedição de mandado citatório). É nítido que a pessoa jurídica tem existência distinta da dos seus membros. Tem ela aptidão para ser sujeito de direitos e obrigações, bem como capacidade para constituir seu próprio patrimônio. Essa é a regra geral. Ocorre que o direito pátrio também tem admitido, em casos de prova inconteste de fraude ou de prática de atos manifestamente ilícitos contra terceiros ou contra o fisco, a desconsideração da personalidade jurídica da empresa. Desconsideração essa que, no presente caso, busca a responsabilidade pessoal dos sócios da Executada, logo, objetiva que a penhora recaia sobre os bens de propriedade dos mesmos, diante da dissolução irregular ocorrida. Esse entendimento, aliás, está estampado no art. 596, caput, do Código de Processo Civil, verbis: Art. 596. Os bens particulares dos sócios não respondem pelas dívidas da sociedade senão nos casos previstos em lei; o sócio, demandado pelo pagamento de dívida, tem direito a exigir que sejam primeiro excutidos os bens da sociedade. Assim, somente nessas circunstâncias excepcionais,
devidamente comprovadas, justifica-se o chamamento dos sócios à lide para que, em verdadeira solidariedade, respondam pessoalmente pelos prejuízos causados pela pessoa jurídica. Nesse mesmo sentido, o autor Guilherme Calmon Nogueira da Gama, autor do livro Desconsideração da Personalidade Jurídica, expõe: A teoria da desconsideração da personalidade jurídica, visa, justamente, a impedir que essas fraudes e esses abusos de direito, perpetrados com a utilização do instituto da pessoa jurídica, sejam realizados. Trata-se de uma elaboração teórica destinada à coibição da práticas fraudulentas que se valem da pessoa jurídica. E é, ao mesmo tempo, uma tentativa de preservar o instituto da pessoa jurídica, ao mostrar que o problema não reside no próprio instituto, mas no mau uso que se pode fazer dele. Debate-se, agora, frente à ausência de bens em nome da executada, se há ou não a possibilidade da desconsideração da personalidade jurídica. Faz-se indispensável, portanto, que haja uma das seguintes hipóteses: que os sócios tenham agido com abuso de direito, desvio de poder, fraude à lei, praticado ato ilícito, violado os estatutos ou o contrato social ou, ainda, que os atos praticados por aqueles que tenham causado prejuízo a terceiros. De plano deve ser considerado, que se a sociedade é simplesmente desativada sem cumprir suas obrigações, os bens particulares do administrador ou dos sócios devem ser objetos de constrição por aplicação da própria lei e da teoria da desconsideração.
A dissolução irregular da sociedade, mediante mera paralisação de suas atividades, por si só, já constitui infração à lei. Ao revés o Código Civil (CC, art. 1033 e ss) além da lei de registro de empresas, requer procedimento específico para extinção da sociedade empresária. Assim, o desaparecimento da sociedade sem a devida extinção com obediência dos ditames legais importa na presunção de culpa de seus administradores. Desta feita, são suficientes para autorizar a constrição dos bens particulares dos sócios, com a desconsideração da personalidade jurídica, pois assim cita o art. 50 do Código Civil: CC Art. 50. Em caso de abuso da personalidade jurídica, caracterizado pelo desvio de finalidade, ou pela confusão patrimonial, pode o juiz decidir, a requerimento da parte, ou do Ministério Público quando lhe couber intervir no processo, que os efeitos de certas e determinadas relações de obrigações sejam estendidos aos bens particulares dos administradores ou sócios da pessoa jurídica. do Estado do Paraná na seguinte decisão análoga: Neste sentido já se manifestou o Tribunal de Justiça DECISÃO: ACORDAM os Magistrados integrantes da Sétima Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Paraná, por unanimidade de votos, em dar provimento ao agravo de instrumento interposto, nos termos da fundamentação supra. EMENTA: AGRAVO DE INSTRUMENTO - AÇÃO MONITÓRIA - TEORIA DA DESCONSIDERAÇÃO DA PERSONALIDADE JURÍDICA UTILIZAÇÃO EM SITUAÇÕES EXCEPCIONAIS CABIMENTO ART. 50 DO CÓDIGO CIVIL - DISSOLUÇÃO IRREGULAR DA EMPRESA CLÁUSULA QUE DECLARA A INEXISTÊNCIA DE PASSIVO A SER LIQUIDADO
SITUAÇÃO QUE PERMITE A APLICAÇÃO DA DESCOSIDERAÇÃO RECURSO PROVIDO. ilustram a posição do STJ sobre o tema: Ainda, torna-se válido destacar as decisões que bem EMBARGOS DE TERCEIRO. EXECUÇÃO. PENHORA INCIDENTE SOBRE OS BENS PARTICULARES DO SÓCIO. DISSOLUÇÃO IRREGULAR DAS EMPRESAS EXECUTADAS. CONSIDERAÇÃO ADMISSÍVEL. O sócio de sociedade por cotas de responsabilidade limitada responde com seus bens particulares por dívidas da sociedade quando dissolvida esta de modo irregular. Incidência dos arts. 592, II, 596 e 10 do Decreto n. 3.708, de 10.01.1919. Recurso especial não conhecido. REsp. 140.564-SP (1997/0049641-4), Rel. Min. Barros Monteiro, 4ª Turma do STJ, j. 21.10.2004, DJU 17.12.2004). PROCESSUAL CIVIL. EMBARGOS DE DECLARAÇÃO. AUSÊNCIA DE INDICAÇÃO DE QUAISQUER DOS VÍCIOS PREVISTOS NO ART. 535 DO CPC. REJEIÇÃO. EFEITOS INFRIGENTES. IMPOSSIBILIDADE. (RECURSO ESPECIAL. EXECUÇÃO FISCAL. SOCIEDADE POR QUOTAS DE RESPONSABILIDADE LIMITADA. EXISTÊNCIA DE INDÍCIOS DE DISSOLUÇÃO IRREGULAR. REDIRECIONAMENTO DA EXECUÇÃO PARA O SÓCIO GERENTE. POSSIBILIDADE) 1. A existência de indícios do encerramento irregular das atividades da empresa executada autoriza o redirecionamento do feito executório à pessoas do sócio (...) 2. In casu, consta expressamente do voto condutor do arresto impugnado a existência de inúmeros indícios que indicam a ocorrência de dissolução irregular da empresa executada. (EDcl no REsp 750.335-PR (2005/0078672-2), Rel. Min. Luiz Fux, 1ª Turma do STJ, j. 28.03.2006, DJU 10.04.2006). Por oportuno, também, é indispensável citar que a jurisprudência do E. SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA consolidou
entendimento na Súmula 435, no sentido de que se presume dissolvida irregularmente a empresa que deixar de funcionar em seu domicilio fiscal, sem a comunicação aos órgãos competentes, legitimando o redirecionamento da execução fiscal para os sócios. Isto posto, é certo o cabimento do art. 50 do Código Civil brasileiro, motivo pelo qual requer-se a inclusão do sócio da empresa ora executada no polo passivo da presente medida judicial SEBASTIÃO ALBUQUERQUE DA SILVA, inscrito no CPF sob nº 368.736.403-87, residente e domiciliado na Av. Iguaçu, nº 1321, apto: 32, Rebouças, Curitiba-PR. Por fim, requer nova expedição de Ofício à UNIÃO CATARINENSE ADMINISTRADORA DE CONSÓRCIOS LTDA., credor fiduciário do veículo em nome da Executada, no seguinte endereço: Rua XV de Novembro, nº 45, Sala 202, Centro, Rio do Sul SC, CEP: 89.160-033, a fim de dar prosseguimento ao feito. Termos em que pede deferimento Curitiba, 24 de outubro de 2013. GIOSER ANTONIO OLIVETTE CAVET OAB/PR 29.594