TÉCNICA DE IM UNOFLUORESCÊNCIA IN D IR E TA P A R A A A V A LIA Ç Ã O DE ANTICORPOS ANTI-RÃRIC O S EM SOROS DE BOVINOS. Adaptação da técnica

Documentos relacionados
Masaio Mizuno ISHIZUKA * Omar MIGUEL * Dalton França BROGLIATO ** Regina A yr Florio da CUNHA *** João Antonio GARRIDO *** R FM V -A /28

FluoCon IgG/IgM. Antigamaglobulina G/M marcada com isotiocianato de fluoresceína. IgG - CÓD. 112-I: 1 ml IgM - CÓD. 113-I: 1 ml.

NOTA SOBRE O EMPREGO DA GLICERINA NA CONSERVAÇAO DO VÍRUS DA RAIVA AMOSTRA C.V.S.

PREVALÊNCIA DE ANTICORPOS ANTI-TOXOPLASMA EM SOROS DE CÃES DO M UNICÍPIO DE SÃO PAULO

ESTUDO COMPARATIVO ENTRE AS PROVAS DE SARIN-FELDMAN E IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA PARA A AVALIAÇÃO DE ANTICORPOS ANTI-TOXOPLASMA EM SOROS DE CÃES

INTRODUÇÃO. PEDRO MANUEL LEAL GERMANO Professor Assistente Doutor Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP

ESTUDO EVOLUTIVO DE ANTICORPOGÊNESE EAA HJMANOS VACINADOS CONTRA RAIVA PELA R.F.C. EM P.ACA. *

1.1 Antígenos virais para uso na técnica de ELISA indireto com anticorpo de captura

A V A L IA Ç Ã O DA RESPOSTA IM U N IT Á R IA DA

OTIMIZAÇÃO DA IMUNOFLUORESCÊNCIA DIRETA PARA DIAGNÓSTICO DE RAIVA*

Imunoensaios no laboratório clínico

ESQUEMA REDUZIDO DE VACINAÇÃO ANTI-RÁBICA HUMANA PRÉ-EXPOSIÇÃO E AVALIAÇÃO DE DOSES ANUAIS DE REFORÇO

DIAGNÓSTICO DA ESQUISTOSSOMOSE MANSÔNICA MEDIANTE TÉCNICA DE IMUNOFLUORESCÊNCIA COM ESPOROCISTOS EM TECIDOS DE PLANORBÍDEOS

PAULO EDUARDO BRANDÃO, PhD DEPARTAMENTO DE MEDICINA VETERINÁRIA PREVENTIVA E SAÚDE ANIMAL FACULDADE DE MEDICINA VETERINÁRIA E ZOOTECNIA UNIVERSIDADE

Me. Romeu Moreira dos Santos

ESTUDO SOROLÓGICO DE INFECÇÕES EXPERIMENTAIS POR Trypanosoma evansi, EM COBAIAS

UNITERMOS: Toxoplasmose, suínos*; Imunofluorescéncia indireta*.

Ms. Romeu Moreira dos Santos

Introdução às Práticas Laboratoriais em Imunologia. Prof. Helio José Montassier

Disciplina Biologia Celular

Bio-Manguinhos IFI - CHAGAS. DOENÇA DE CHAGAS IFI - CHAGAS Bio-Manguinhos IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA (IFI) PARA DIAGNÓSTICO DA INFECÇÃO PELO T.

PURIFICAÇÃO PARCIAL DOS ANTICORPOS PRESENTES NO SORO NORMAL ATRAVÉS DA PRECIPITAÇÃO DA FRAÇÃO GAMA- GLOBULINA COM SULFATO AMÔNIO

PRÁTICAS LABORATORIAIS EM IMUNOLOGIA BÁSICA E APLICADA

MSc. Romeu Moreira dos Santos

TÉCNICA TESTE PARA IDENTIFICAÇÃO DE ANTICORPOS IRREGULARES *4

ISOLAMENTO DE VÍRUS RÁBICO DE CÃES, APARENTEMENTE NORMAIS, INOCULADOS EXPERIMENTALMENTE

Vírus da Peste suína Clássica - VPSC. Diagnóstico Laboratorial

Ms. Romeu Moreira dos Santos

Ms. Romeu Moreira dos Santos

Ensaios imunes. Profª Heide Baida

IV. MATERIAIS E MÉTODOS:

PESQUISA DE ANTICORPOS ANTI-RÁBICOS EM BOVINOS VACINADOS DA REGIÃO DE ARAÇATUBA, SP 1,2

Faculdade de Farmácia da Universidade de Lisboa. Teste prático de Imunologia (2º ano) 2014/2015

IFI - LEISHMANIOSE HUMANA Bio-Manguinhos IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA PARA DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE HUMANA

REAÇÃO DE SOROGLUTINAÇÃO MODELO TITULAÇÃO DE ANTICORPOS HEMAGLUTINANTES. Prof. Helio José Montassier

Z O O N O S E S E A D M I N I S T R A Ç Ã O S A N I T Á R I A E M S A Ú D E P Ú B L I C A LEPTOSPIROSE DIAGNÓSTICO LABORATORIAL

Questionário - Proficiência Clínica

Cultivo celular de hibridomas: produção de anticorpos monoclonais

RECUPERAÇÃO ESPONTÂNEA DE UM CÃO RAIVOSO, EXPEMENTALMENTE INFECTADO

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

BMM 160 Microbiologia Básica para Farmácia Prof. Armando Ventura. Apostila de Virologia

CONTROLE Rh Monoclonal

HBsAg Quantitativo Sistema ARCHITECT / Abbott (Clareamento do HBsAg)

LISTA DE EXERCÍCIOS # 05 QUÍMICA ANALÍTICA PROF. Wendell

AVALIAÇÃO PRELIMINAR DO TESTE DE AGLUTINAÇÃO RÁPIDA PARA DIAGNÓSTICO DE ANTICORPOS CONTRA Babesia bigemina

HEMOCENTRO RP TÉCNICA FENOTIPAGEM ERITROCITÁRIA. 1. OBJETIVO Determinar os antígenos e fenótipos eritrocitários em doadores de sangue e pacientes.

Técnica de Imunodifusão para a Detecção de Anticorpos Precipitantes contra Antígenos Solúveis. Prof. Helio José Montassier

Universidade Federal de Pelotas Medicina Veterinária Zoonoses. Diagnóstico laboratorial Brucelose TESTE DO 2-MERCAPTOETANOL

Interações Ag-Ac: reações sorológicas e testes sorológicos secundários. Viviane Mariguela- pós-doutoranda

Departamento de Bioquímica Instituto de Química USP EXERCÍCIOS BIOQUÍMICA EXPERIMENTAL QBQ 0316N Professores. Carlos T. Hotta Ronaldo B.

3. CASUÍSTICA E MÉTODOS

TRATAMENTO TÓPICO COM MEL, PRÓPOLIS EM GEL E CREME A BASE DE ALANTOÍNA EM FERIDAS EXPERIMENTALMENTE INFECTADAS DE COELHOS.

CARACTERIZAÇÃO DA FRAÇÃO GAMA-GLOBULINA E IgG BOVINAS POR IMUNOELETROFORESE

Inquérito sorológico para toxoplasmose em equinos na região de Botucatu-SP

CARACTERIZAÇÃO DAS FRAÇÕES GAMA-GLOBULINA E IgG PURIFICADAS POR IMUNOELETROFORESE. Prof. Helio José Montassier

Profa. Dra. Fernanda de Rezende Pinto

Diagnóstico de infecções virais

Fagocitose LABORATÓRIO 1. Suspensão de antígenos: hemácea de galinha + hemácea de carneiro (HG e HC) a 0,5%

ENSAIO CINÉTICO PARA REAÇÕES DE FIXAÇÃO DE COMPLEMENTO NO SISTEMA MOLÉSTIA DE CHAGAS *

ANTICORPOS INIBIDORES DA HEMAGLUTINAÇÃO PARA O VÍRUS PARAINFLUENZA 3 (HA-1), EM GADO BOVINO (1)

Cuidados com a amostra de líquor para fazer o VDRL

Aplicações de anticorpos em métodos diagnósticos

CARACTERIZAÇÃO DAS FRAÇÕES GAMA-GLOBULINA E IgG POR IMUNOELETROFORESE. Doutoranda Priscila Diniz Lopes

Diagnóstico de Zika vírus. Prof. Dr. Edison Luiz Durigon Departamento de Microbiologia Instituto de Ciências Biomédicas Universidade de São Paulo.

Grupo de Pesquisa em Toxicologia Analítica

AULA PRÁTICA 3-02/06/2015. Roteiro de aula prática. Infecção de macrófagos por Leishmania (Leishmania) amazonensis

ANTI CDE (Anti Rho, rh e rh ) (Humano)

PESQUISA DE ANTICORPOS IgM ANTI-TOXOPLASMA GONDII POR MEIO DE TÉCNICA IMUNOENZIMÁTICA REVERSA RESUMO

Diagnóstico Laboratorial de Infecções Virais. Profa. Claudia Vitral

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO VETERINÁRIO

DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DA RAIVA NO ESTADO DE GOIÁS NO PERÍODO DE 1976 A 2001

TÍTULO: ANÁLISE TITRIMÉTRICA (Volumétrica)

ESTUDO SOROLÓGICO DA TOXOPLAS MOSE CANINA, PELA PROVA DE IMUNOFLUORÉSCENCIA INDIRETA, NA CIDADE DE CAMPINAS, 1981

Vacinas e Imunoterapia

PREVALENCIA DA RAIVA EM BOVINOS, OVINOS E CAPRINOS NO ANO DE 2007 NO ESTADO DO PARANÁ. ABSTRACT

Purificação parcial, Caracterização e Imobilização de lectina de sementes de Brosimum gaudichaudii.

Disciplina de Imunologia 2013 UNESP/FCAV-Jaboticabal. Msc: Ketherson Rodrigues Silva (Médico Veterinário) Orientador: Prof. Dr. Hélio José Montassier

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

Eficiência da PCR convencional na detecção de Leishmania spp em sangue, pele e tecidos linfoides

IMUNOLOGIA CURSO TÉCNICO EM ENFERMAGEM

ENFERMAGEM IMUNIZAÇÃO. Política Nacional de Imunização Parte 4. Profª. Tatiane da Silva Campos

Métodos de Pesquisa e Diagnóstico dos Vírus

TRANSFUSION TECHNOLOGY. Control Kit + CONFIANÇA + SEGURANÇA + SIMPLICIDADE INCLUA ESTE KIT NA SUA ROTINA

Resumo. Introdução. Palavras Chave: Saúde Animal, Saúde Pública Veterinária, Raiva. Keywords: Animal Health, Veterinary Public Health, Rabies.

Revista de Saúde Pública

Art. 2º Aprovar os métodos previstos nos Anexos I e II desta Instrução Normativa.

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

IFI - LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA Bio-Manguinhos IMUNOFLUORESCÊNCIA INDIRETA PARA DIAGNÓSTICO DA LEISHMANIOSE VISCERAL CANINA

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

RESUMO DAS CARACTERÍSTICAS DO MEDICAMENTO

Programa Analítico de Disciplina BIO250 Imunologia

PURIFICAÇÃO DE PROTEÍNAS

Extracção de lípidos 2

Métodos de Purificação de Proteínas Nativas

Calcule o ph de uma solução de HCl 1x10-7 mol L-1

mundo inteiro com uma variedade de aplicações como clonagem, genotipagem e sequenciamento.

TITULAÇÃO EM QUÍMICA ANALÍTICA

UTILIZAÇÃO DE BACULOVÍRUS COMO SISTEMA DE EXPRESSÃO PARA A PROTEÍNA DO CAPSÍDEO DO CIRCOVÍRUS SUÍNO TIPO 2 (PCV2)

Anticorpo Monoclonal Conjugado de Isotiocianato de Fluoresceína (FITC) HLA-B27 Número de catálogo B27F50X (10

Transcrição:

Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo 11:139-45, 1974 TÉCNICA DE IM UNOFLUORESCÊNCIA IN D IR E TA P A R A A A V A LIA Ç Ã O DE ANTICORPOS ANTI-RÃRIC O S EM SOROS DE BOVINOS I Adaptação da técnica Masaio Mizuno IS H IZ U K A * Omar M IG U E L * Dalton França BROGLIATO ** RFMV-A/1F ISH izu K A, M. M. et al. Técnica de imunofluorescência indireta para a avaliação de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos. I Adaptação da técnica. Rev. Fac. Med. vet. Zootec. Univ. S. Paulo, 11: 139-45, 1974. R es u m o : A adaptação da técnica de IF R A para soros de bovinos, foi conseqüente à modificação da prova utilizada para soros humanos, devido ao fato da membrana dos neurônios representar uma barreira aos anticorpos bovinos. Essa dificuldade foi facilm ente superada pelo tratamento de decalques de corno de Amonn de cães sabidamente raivosos, por uma solução Jiipotônica (0,15 M ) de sacarose por 30 minutos a 37<>C. Outras modificações foram : utilização de CVS a 40% para fins de neutralização dos anticorpos e o fracionamento de soro normal de bovino em coluna de D E A E -C E L L U - LOSE. R a iva *; Soro-neutralização (S V )*; Imunofluorescência in U n ite rm o s : direta U F R A )*. I INTRODUÇÃO A soroneutralização (S N ), não obstante considerada prova padrão para a pesquisa de anticorpos anti-rábicos (A T A N A S IU *, 1967), apresenta várias limitações decorrentes da variabilidade apresentada pelos diferentes valores de D L50 do vírus empregado, em diferentes provas para fins de titulação dos soros; do tempo prolongado necessário à leitura; do elevado número de camundongos a utilizar; e da variabilidade individual da resistncia de outros fatores de morbidade e mortalidade que podem dificultar a interpretação da prova. Justifica-se, assim, a preocupação de diferentes pesquisadores na busca de outras técnicas capazes de determinar quantidades de anticorpos anti-rábicos no soro. * Professor Assistente Doutor. * Técnico de Laboratório. Departamento de Medicina Veterinária Preventiva e Saúde Animal da Faculdade de Medicina Veterinária e Zootecnia da USP. 139

ISHIZUKA, M. M. et al. Técnica de imunofluorescêncla Indireta para a avaliação de anticorpos antl-ráblcos em soros de bovinos. I. Adaptação da técnica. Re v. Fac. Med. vet. KIN G et al. 12 (1865), ensaiaram a prova de soroneutralização in vitro avaliada pela prova de Imunofluorescência direta, mais precisamente, pela inibição da mesma para fins de titulação de soros humanos cujos resultados foram comparáveis a SN in vivo. B E R N K O PH & N A C H T IN G A L 5 (1943) estudaram a reação de Fixação de Complemento comparativamente à SN, com soros de cobaios imunizados contra a raiva. Embora os autores tivessem considerado a não existência de correlação entre os titulos de anticorpos, esta conclusão não é entretanto, sustentada por L IP T O N & F R E U N D 15 (1953) quando estudaram soros de cobaios e coelhos pelas mesmas provas. P E R E IR A 1!) (1969), estudou a mesma relação, porém, com soros humanos. TIIO M AS et al. 21 (1963) realizaram trabalho pioneiro da adaptação da prova de Imunofluorescência indireta (IF R A ) para a avaliação qualitativa de anticorpos antirábicos em soros humanos. A este trabalho pioneiro segue-se uma série de outros, mas sempre voltados à aplicação da prova em soros humanos. São exemplos, os trabalhos de LARSH 13 (1965), L E F F IN G - W E L L & IRONS ' * (1965), G ISPEN & S A S T H O F 10 (1965) e P E C K «(1966). Em bovinos, entretanto, a literatura é omissa no que respeita ao emprego da IF R A para fins de terminação de anticorpos anti-rábicos. É possível que este fato se deva às características peculiares do soro de bovino, que pelo menos em relação a algumas provas como a Fixação de Complemento (R IC E & C A R P IE R E 20 (1961), não se comporta igualmente aos soros humanos, de cobaios ou de coelho. O estudo da imunidade anti-rábica apresenta grande interesse do ponto de vista teórico e prático, pois, ACHA 1 (1968) estima que nas Américas, morre aproximadamente, um milhão de bovinos em conseqüência à raiva, transmitida principalmente por morcegos hematófagos. Apresenta interesse o estudo do nivel de imunidade, visto a prevenção da raiva em bovinos basear-se, fundamentalmente, na imunização ativa do suscetível. Tais estudos tem sido realizados em base à SN que apresenta os incovenientes já citados. O presente trabalho cuida da adaptação da prova de IF R A para a determinação de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos. Adaptação da prova de Imunofluorescência Indireta Nossas numerosas tentativas de aplicação da técnica de IF R A como descrita por THOM AS et al. 22 (1963), já citado, para a pesquisa de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos não ofereceram resultados satisfatórios. De fato, conseguimos visualizar número diminuto de corpúsculos de N egri fluorescentes que não pareciam estar localizados no interior dos neurônios, embora os decalques de corno de Ammon de cão e de cérebro de camundongo infectados se revelassem ricos em corpúsculos, avaliados pela prova de imunofluorescência direta (A T A N A S IU 3, 1966). Procuramos indagar das razões deste comportamento e paralelamente testar os diferentes componentes da prova. Empregando o mesmo antígeno e o mesmo conjugado, realizamos provas de inibição da imunofluorescência direta (A T A N A S IU 3, 1966), utilizando, respectivamente, soros humano, de cão e de bovino ricos em anticorpos anti-rábicos, avaliados pela SN. A inibição foi conseguida nos dois primeiros casos, mas não com o soro bovino, indicando assim comportamento diverso deste em relação aos primeiros. Resolvemos então, empregar, como antígeno, não mais decalques de corno de Ammon de cão raivoso e de cérebro de camundongo infectado, mas sim, esfregaço de sus 140

ISHIZUKA, M. M. et al. Técnica de imunofluorescêneia indireta para a avaliação de anticorpos pensão de vlrus fixo CVS. Neste caso, a inibição foi conseguida também com soro de bovino. Realizando-se, então, com o mesmo anti- geno, a prova de IF R A com os soros já mencionados, em todos os casos ela foi conseguida, tendo-se observado grande número de corpúsculos intensamente corados. Estas observações levaram-nos à hipótese de que, relativamente aos anticorpos anti-rábicos de bovinos, a membrana celular poderia representar uma barreira. Orientamo-nos no sentido de tratar os decalques de corno de Ammon de cão raivoso e de cérebro de camundongo infectado, por processos que pudessem lesar a parede celular e, assim, facilitar a reação antígeno anticorpo. Os procedimentos empregados com corno de Ammon de cão morto por raiva e cérebro de camundongo infectado com vírus de rua a fim de preparar as lâminas para a prova IF R A com soros de bovino contendo anticorpos anti-rábicos foram: a) trituração com solução salina e centrifugação a 1.500 r p m, preparando-se os esfregaços a partir do sobrenadante. Os resultados não foram satisfatórios em virtude da dificuldade na preparação de decalques finos e ricos em corpúsculos para atender a exigência da técnica de fluorescência; b) congelação a 20 C e descongelação a 37 C e 45 C segundo diferentes intervalos de tempo. Obtivemos resultados variáveis quanto à intensidade de fluorescência; c) baseando-nos na referência de A L F - F R E Y 2 (1960) de que a solução de sacarose nas concentrações entre 0,05 e 0,25 M é hipotõnica para células, sendo capaz de romper a membrana celular, tratamos então os decalques com solução de sacarose 0,15 M antes de utilizados na IFRA. Os resultados obtidos quanto à intensidade de fluorescência foram comparáveis aos que normalmente se observam pelo método de imunofluorescêneia direta e facilmente reprodutíveis. Tentativas realizadas com diferentes temperaturas e tempos de exposição levaram-nos a selecionar 37 C e 30 minutos como condições ideais para a ação da sacarose sobre os preparados. Os resultados obtidos com esta última alternativa conduziu-nos a selecioná-la para o prosseguimento do trabalho. Para o fracionamento dos soros a fim de se obter a gama globulina de bovino utilizamos a técnica de cromatografia dos soros em coluna de DEAE-CELLULOSE como referido por B U T L E R 8 (1 69) e segundo técnica de K A B A T & M AYE R n (1961) em lugar da precipitação com solução saturada de sulfato de amónio (C A MARGO», 1967). A suspensão de vírus fixo CVS para a neutralização dos anticorpos anti-rábicos presentes nos soros a serem testados, foi utilizada na concentração de 40%, pois a 20% como recomendada por T H O M A S 21 et al. (1963), resultaram apenas neutralizações parciais. Fundamentalmente, as modificações introduzidas na técnica de THOM AS et al. 21 (1963), que permitiram a pesquisa e determinação de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos mediante a prova de IF R A foram: tratamento dos decalques de corno de Ammon de cães com solução de sacarose 0,15 M ; suspensão de CVS a 40% e fracionamento dos soros de bovino normal pela cromatografia em coluna DEAE- -CELLULOSE. Para a coloração de fundo utilizamos solução de Azul de Evans, segundo N I- C H O LS 17 (1962). Preparamos as antiglobulinas de bovino pela imunização de coelhos segundo M OLLISON et al. 1«(1966). Resumimos a seguir a técnica, como por nós preconizada. 141

ISHIZUKA, M. M. et al. Técnica de imunoíluorescêncla indireta para a avaliação de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos. I. Adaptação da técnica. Re v. Fac. Med. vet. II Antígeno: M ATE RIAL E MÉTODOS Os decalques em número de 8 por lâmina, foram preparados a partir de corno de Ammon de cães sabidamente raivosos, obtidos junto ao Instituto Pasteur de São Paulo, e como testemunhas, o mesmo material originário de cães normais, de igual procedência. Antes da sua utilização como antígeno, o material era submetido à prova de Imunofluorescência direta segundo A T A N A S I U (1966), para fins de confirmação de sua positividade e avaliação da riqueza do material em corpúsculos de Negri. Os decalques foram inativados pela radiação durante 5 minutos e em seguida tratados pela sacarose 0,15 M a 37 C, durante 30 minutos, ao fim dos quais as lâminas estavam prontas para receber os soros de bovinos a serem testados. D iluente: As suspensões de cérebro normal de camundongo (C N ) e de CVS, foram preparadas segundo A T A N A S IU 3 (1966) sendo as concentrações de 20% e 40% respectivamente, sendo que o título do CVS foi de 10-«-3 DLso/0,03 ml. Conjugado: A gama globulina de bovino normal foi obtida segundo técnica de K A B A T & M AYE R 11 (1961) para o fracionamento em coluna de DEAE-CELLULOSE em tampão fosfato 0,005 M e ph 8.0, sendo a pureza da fração constatada pela técnica de Imunoeletroforese. Valemo-nos de coelhos para a obtenção de anti-gama-globulina obedecendo-se o esquema referido por CA M AR G O 9 (1967). Acompanhou-se a resposta imunitária desses animais empregando-se a técnica de precipitação em gel de ágar como descrito por B E U T N E R 7 (1965). As antiglobulinas foram marcadas com Isotiocianato de fluoresceina BBL, Isômero I, cristalino, cromatograficamente puro, lote 9101581, para fins de marcação pelo método lento, retirando-se o excesso de fluorocromo não conjugado por gel filtração em coluna de Sephadex G 25, segundo descrito por C A M A R G O 9 (1967). O conjugado apresentou as seguintes características: Isotiocianato de fluoresceína (F )... 9.5 mg% Proteina (globulina) (P ).. 2.5 g% Relação F/P... 3.8x10-3 As dosagens foram realizadas segundo B E U T N E R «(1971). Atividade fluorescente inespecífica: Os decalques de corno de Ammon de cães raivosos foram tratados com diferentes diluições do conjugado (1:2; 1:4; 1:8; 1:16 e 1:32) não se observando coloração inespecífica em nenhum dos decalques tratados. Atividade fluorescente especifica: Decalques preparados a partir de corno de Ammon de cães normais e raivosos foram tratados com soros reagentes e não reagentes a SN (ver técnica da reação) diluídos a 1:5. Realizamos diluição dobrada do conjugado a partir do puro ( 1:1 a 1:16) e a cada diluição foram adicionadas suspensão de cérebro normal de camundongo e solução Azul de Evans a 1:4.000 na proporção de 1 parte de conjugado diluído, 3 partes de suspensão de cérebro normal e quatro partes de Azul de Evans. Resultou intensa fluorescncia nos decalques positivos quando o conjugado diluído até 1:128 e ausência de fluorescência nos decalques testemunhas. O conjugado foi utilizado na diluição de 1:16. 142

[SHIZUKA, M. M. et al. Técnica de imunoíluorescência indireta para a avaliação de anticorpos TÉCNICA DA REAÇÃO Os soros a ensaiar foram diluídos paralelamente em suspensão de CN e de CVS na razão 5, de 1:5 a 1:625 e incubados a 37 C por 30 minutos. Simultaneamente, foram preparados decalques, recobertos por solução 0,15 M de sacarose e incubados a 37 C durante 30 minutos. Ao fim deste período, formou-se uma película de sacarose sobre os mesmos. Distribuiram-se as diluições dos soros sobre os decalques bastando uma lâmina positiva e uma negativa para cada soro, pois cada lâmina comportava 8 decalques. Os preparados foram incubados por 30 minutos a 37 C, após os quais lavados duas vezes em salina tamponada (NaC l 0,15 M fosfatos 0,01 M, ph 7.2). Distribuiu-se sobre os decalques, o conjugado devidamente diluído e em quantidade suficiente para recobrir os preparados. Incubavam-se novamente a 37 C durante 30 minutos. Repetiam-se as lavagens como acima referido. Secavam-se as lâminas e montavam-se em glicerina tamponada (9 partes de glicerina pura e uma parte de solução tampão carbonato bicarbonato 0,5 M e ph 8.5). As leituras foram realizadas ao microscópio de fluorescência Zeiss, com filtro excitador UGI e barreira 43 Zeiss. Soros testemunhas: A cada titulação incluia-se um soro reagente e um não reagente às provas de SN e IFR A. Preparados testemunhas: Examinavam-se, sistematicamente, em paralelo, preparados testemunhas de decalque de corno de Ammon de cão normal. Reprodutibilidade da reação: Para aquilatarmos da reprodutibilidade da prova, valemo-nos de cinco soros apresentando reatividades diversas à prova de SN (A T A N A S IU '*, 1966). Dentre eles foi incluído um soro não reagente. Cada um dos soros foi dividido em 5 (cinco) alíquotas e codificadas para permitir leitura cega. Os resultados obtidos estão na tabela I. TABELA I Titulos de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos medidos pela prova de IFR A. São Paulo, 1972. \ n. do soro 03 08 09 51 10 n. da replicação 1.» 125 625 25 25 2.» 125 125 25 5 3.» 125 625 5 5 4.«125 625 25 25 5.» 125 625 25 5 143

ISHIZUKA, M. M. et al. Técnica de lmunofluoreseêncía indireta para a avaliação de anticorpos I I I DISCUSSÃO A adaptação da prova de THOM AS et al. 2 (1963), para a pesquisa de anticorpos anti-rábicos em soros de bovinos, implicou na introdução de algumas alterações, no- tadamente, no emprego como antígeno de decalques de corno de Ammon de cão morto por raiva. Também, encontrou-se o tratamento prévio dos preparados com solução de sacarose 0,15 M concentração esta hipotônica para células conforme A L F - F R E Y 2 (1960), como etapa indispensável ao sucesso da prova. Os resultados obtidos com este tratamento sugerem, embora as razões intrínsecas do fenômeno não tenham sido estudadas, que a imunoglobulina bovina comporta-se diferentemente das demais imunoglobulinas testadas de outras espécies, quanto à capacidade de atravessar a membrana celular. Relativamente à suspensão de vírus fixo CVS, utilizado para fins de neutralização dos anticorpos anti-rábicos de soros bovinos, houve a necessidade de se aumentar a concentração de 20% para 40%, posto que, com a primeira concentração, persistia nas preparações testemunhas, a presença de fluorescência, não obstante a suspensão de CVS apresentasse elevado título (10- «.8 DLso/0,03 m l). Como demonstram os resultados da T a bela 1, a prova apresenta boa reprodutibilidade, não se observando diferenças maiores do que aquelas correspondentes a uma diluição. RFMV-A/16 ISH izu K A, M. M. et al. Indirect immunoflourescence rabies antibody technique fo r bovine serum. I Technique adaptation. Rev. Fac. Med. vet. S u m m a ry: The adaptation of the I F R A technique fo r bovine serum was consequent to the m odification of the technique used in human serum, because the nervous cells membrane actuated as a barrier to the bovine antibodies. This dificult was eliminated by the treatment of the Amonn horn smears from dogs w ith rabies, with a hipotonic (0,15 M ) solution of sacharose during SO minutes fo r 37 C. Others modifications w ere: the use o f 40% CVS suspension fo r the antibodies neutralization and the fractionation o f bovine normal serum through D E A E -C E L L U L O S E columm. U n ite rm s : R abies*; Serum-neutralization * ; Indirect immunofluorescence rabies antibody technique *. REFERENCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. ACHA, P. N. Epidemiologia de la rabia bovina paralítica transmitida por los quiropteros. Boi. Ofic. sanit. panamer., 64(5) :411-29, 1968. 2. ALFFREY, V. The isolation o f cellular components. In: BRACKET, J. & MIRSKY, A. E., ed. The cell. New York, Academic Press, 1960, v. 1, p. 193-290. 3. ATANASIU, P. Laboratory techniques in rabies. Genebra, Worlld Health Organization, 1966. [Monograph Series, n. 23]. 144

ISHIZUKA, M. M. et al. Técnica de imunoíluorescência indireta para a avaliação de anticorpos Zootec. Univ. S. Paulo, 11:139-45. 1974. 4. ATANASIU, P. Titrage des anticorps rabiques pratiqué sur les serums humaines. Bull. Of!, int. Êpizoot., 67 (3/4): 383-7, 1967. 5. BERNKOPH, H. & NACHTIGAL, D. Complement fixation test with sera animals immunized with rabies v i rus. Proc. Soc. exp. Biol. (N.Y.), 95:1176-99, 1943. 6. BEUTNER, E. H. et al. Field trials by ten laboratories of six commercial conjugate prepared from antisera to human IgG. Ann. N.Y. Acad. S ci., 177:361-403, 1971. 7. BEUTNER, E. H. et al. A new fluorescent antibody method: mixed antiglobulin immunofluorescence-staining. Nature (Lond.), 308:353-5, 1965. 8. BUTLER, J. E. Bovine immunoglobulin: a review. J. Dairy Sc*., 52 (12): 1895-905, 1969. 9. CAMARGO, M. E. Introdução às técnicas de imunoíluorescência. São Paulo, Instituto de Medicina Tropical, 1967. [Apostila] 10. GISPEN, R. & SASTHOF, B. Neutralizing and fluorescent antibody response in man after antirabies treatment with suckling rabbit brain vaccine. Arch. ges. Virusforsch., 15(3): 377-86, 1965. 11. KABAT, E. A. & MAYER, M. M. Gamma (gammas) globulin. In: Experimental immunochemistry. 2nd. ed. Springfield, C. C. Thomas, 1961. p. 760-77. 12. KING, D. A. et al. A rapid quantitative in vitro serum neutralization test for rabies antibody. Canad. vet. J., 6(8):187-93, 1965. 13. LARSH, S. E. Indirect fluorescent antibody and serum neutralization response in pre-exposure profilaxis against rabies. Ann. intern. M ed., 63(6) :955-64, 1965. 14. LEFFINGW ELL, L. & IRONS, J. U. Rabies antibodies in human serum titrated by the indirect FA method. Publ. Hlth. Rep. (Wash.), 80(11): 999-1004, 1965. 15. LIPTON, M. M. & FREUND, J. The formation of complement fixing and neutralizing antibodies after infections of Inactivated rabies virus with adjuvants. J. Im m unol., 71:98-109, 1953. 16. MOLLISON, P. L. et al. Production of antibody against purified human globulin in rabbits, goats, sheep and horses. Immunology, 10:271-9, 1966. 17. NICHOLS, R. L. & McCOMB, D. E. Immunofluorescent studies with trachoma and related antigens. J. Im m unol., 89:545-54, 1962. 18. PECK, F. B. (Jr.) The dection of human rabies antibody by the indirect fluorescence test. In: INTERNATIO N A L SYMPOSIUM ON RABIES, Talloires, 1965. Proceedings. Basel, Karger, 1966. v. 1, p. 201-6. 19. PEREIRA, O. A. C. Contribuição ao estudo da imunidade anti-rábica. Sua avaliação por métodos serológicos. São Paulo, 1969. [Tese Faculdade de Medicina da U S P ]. 20. RICE, C. E. & CARRIERE, J. The effect of unheated normal bovine on the complement-fixing activity of heat inactivated bovine antiserum with homologous antigen. J. Im m unol., 87(6):665-74, 1961. 21. THOMAS, J. B. et al. Evaluation of indirect fluorescent antibody techniques for detection of rabies antibody in human sera. J. Im m unol., 91: 721-3, 1963. R e c e b id o p a r a p u b lic a ç ã o e m 28-8-74 A p r o v a d o p a r a p u b lic a ç ã o e m 29-8 -74 145