BOAS PRÁTICAS DE MANEJO EM PISCICULTURA NA AGRICULTURA FAMILIAR Área Temática: Tecnologia e Produção Betina Muelbert (Coordenadora da Ação de Extensão) Betina Muelbert 1, Maude Regina de Borba 2, Sílvia Romão 2, Bruno Fernandes de Oliveira 2, Luisa Helena Cazarolli 2, Josimeire Aparecida Leandrini 2, Susanna Ziegler 3, Clarice Antunes 3, André Santos 4, Leonardo Cararo 4, Lucinha Santos 4, Patrícia Welter 4, Renato Glowka 4, Ronaldo de Souza 4. Palavras-chave: aquicultura, produção de peixes, Cantuquiriguaçu. Resumo: O projeto objetiva inserir boas práticas no cultivo de peixes na agricultura familiar, contribuir com a sustentabilidade econômica e elevar o nível de conhecimento técnico dos pequenos produtores rurais da região. Está sendo desenvolvido (fevereiro 2011 a abril 2012) com 11 agricultores dos municípios de Porto Barreiro e Laranjeiras do Sul (PR) que estão cultivando o jundiá com orientação através de visitas técnicas quinzenais e palestras mensais. Participam da equipe alunos do curso de Engenharia de Aquicultura, professores e técnicos da UFFS. Introdução O território da cidadania Cantuquiriguaçu, abrange 20 municípios do estado do Paraná e reúne cerca de 250 mil habitantes, sendo uma região extremamente carente de serviços públicos, apresentando baixos índices de desenvolvimento sociais e econômicos e altíssimos índices de concentração de renda. A inserção da Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS) nesta região tipicamente agrícola, caracterizada por pequenas propriedades e culturas de subsistência, encontra na agricultura familiar uma base estruturadora e dinamizadora do processo de desenvolvimento associado à valorização e proposição de novas alternativas para a atual matriz produtiva. O curso de Engenharia de Aquicultura da UFFS tem como objetivo formar profissionais de nível superior, conscientes e comprometidos com o desenvolvimento sustentável e capazes de atender as necessidades sócioeconômicas regionais e nacionais no domínio da Aquicultura. A universidade tem como funções a produção do conhecimento e a formação de recursos humanos qualificados. Este papel consubstancia-se na relação com a sociedade através da extensão como indutora de projetos que visem enfrentar problemas da sociedade. Neste contexto o projeto Boas práticas de manejo em piscicultura na agricultura familiar foi aprovado no PROGRAMA DE EXTENSÃO UNIVERSITÁRIA PROEXT 2010 MEC/SESu, que abrange projetos de extensão universitária, com ênfase na 1 Doutora em Engenharia de Produção, Curso de Engenharia de Aquicultura, Universidade Federal da Fronteira Sul (UFFS), betina.muelbert@uffs.edu.br. 2 Professores - Universidade Federal da Fronteira Sul. 3 Técnicos - Universidade Federal da Fronteira Sul; 4 Alunos bolsistas do Curso de Engenharia de Aquicultura da Universidade Federal da Fronteira Sul.
inclusão social. A adoção de práticas na piscicultura baseadas na utilização de insumos provenientes da região, pouca renovação de água e manejo ecológico dos efluentes são fundamentais para o desenvolvimento de uma piscicultura sustentável que gera impactos positivos do ponto de vista social, ambiental e econômico. A criação de peixes em pequenas propriedades rurais contribui para o melhor aproveitamento dos recursos disponíveis, incrementa a qualidade nutricional da dieta familiar e gera receita adicional com a comercialização de parte da produção (Kubitza, 2010). Muitos agricultores possuem viveiros escavados com peixes, porém a piscicultura não está inserida na agricultura familiar de maneira técnica e sustentável na região. É notória a necessidade da busca de alternativas econômicas para os agricultores familiares, aliada ao uso sustentável dos recursos naturais. O presente projeto contempla a capacitação e o desenvolvimento de tecnologias voltadas ao crescimento e à sustentabilidade ambiental e alimentar, visando contribuir para a melhoria da qualidade de vida dos agricultores familiares do Território Cantuquiriguaçu. Metodologia O projeto está sendo desenvolvido nos municípios de Laranjeiras do Sul e Porto Barreiro (PR, no período de fevereiro de 2011 a abril de 2012) com utilização de 3.000 m 2 de lâmina de água de viveiros de 11 agricultores familiares (Tabela 1). Tabela 1- Dados dos agricultores familiares envolvidos no projeto. Município Localidade Nome do produtor Área de cultivo Laranjeiras do Sul Alto São João Vilmar Pedro e Salete 350 m 2 Alto São João Sérgio e Salete 310 m 2 Alto São João Mário Darci e Merces 160 m 2 Vila Nogueira Damiano e Verônica 200 m 2 Ervino 170 m 2 Olímpio e Antônia 325 m 2 Vilmar e Marilda 550 m 2 Porto Barreiro Km 13 (29/03) Francisco e Elza 240 m 2 Km 13 (14/05) Everaldo 210 m 2 Sede Celso 375m 2 Rio Novo Pedro 150 m 2 TOTAL 3.040 m 2 Os produtores participam de todas as atividades realizadas durante o projeto: cultivo, monitoramento da qualidade da água, elaboração e formulação de rações, cursos e palestras. Os viveiros foram povoados na densidade de 1 peixe/m 2 e o
29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul cultivo terá duração de 8 meses. Os peixes são alimentados com ração considerando o tamanho e a temperatura da água. A cada dois dias são registradas a temperatura da água pela manhã (07h00min) e a tarde (17h00min). A cada 30 dias são analisados transparência com disco de Secchi, ph, dureza, amônia e oxigênio dissolvido com kit de análise de água (Figura 1). (a) (b) (c) (d) Figura 1 - Povoamento do viveiro do Sr. Ervino (a); análise da água do viveiro do Sr. Olímpio (b); medição do viveiro do Sr. Celso (c); povoamento do viveiro do Sr. Francisco (d). O trabalho de campo está sendo acompanhado por 6 bolsistas acadêmicos do curso de engenharia de aquicultura e os produtores são visitados quinzenalmente Ao final do cultivo todos os peixes serão contados, pesados e medidos para avaliação do crescimento, taxa de sobrevivência (%) e produtividade (kg/ha). Os parâmetros de crescimento a serem determinados para avaliação do cultivo serão: Ganho médio em peso diário (GPD) e Taxa de crescimento específico (TCE%). As rações fornecidas na fase inicial do cultivo são do tipo farelada. Na segunda fase do cultivo uma parte dos produtores (4) alimentará os peixes com uma ração artesanal confeccionada com ingredientes orgânicos e os demais (7) alimentarão com ração comercial. Considerando uma conversão alimentar de 2:1; serão utilizados 300 kg de ração para a fase inicial e 1.200 kg para a segunda fase de
29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul engorda. Os produtores aprenderão também a produzir sua própria ração, após treinamento, com máquinas moedora e peletizadora. Será adotado sistema de despesca parcial (seletiva), com redes próprias e retirada do peixe que atingir o peso superior a 500 g, aproximadamente após 6 meses de cultivo. Para cada agricultor foi elaborada uma planilha contendo os dados: peso e quantidade inicial de peixes, temperatura da água, peixes despescados e seu destino: consumo familiar; merenda, feira ou venda direta, que será preenchida ao longo do projeto. A análise de custos do cultivo será realizada com auxílio de software desenvolvido por Tomazelli e Casaca (2000). Como parte do projeto estão programadas palestras mensais para a capacitação dos agricultores. Um primeiro encontro foi realizado em, abordando o tema Boas Práticas de Manejo no cultivo de peixes (Figura 2). Este encontro foi utilizado, também, como momento para integração entre os produtores e levantamento de dados sobre as condições da atividade de piscicultura desenvolvida nas propriedades. O levantamento foi realizado na forma de questionamentos informais utilizando-se um roteiro a ser seguido para a apresentação dos produtores. Foram coletados dados sobre número de viveiros, tempo de construção dos viveiros, nível de conhecimento dos agricultores sobre cultivo de peixe, tipo de alimentação e manejo utilizado em seus viveiros, existência de atividade de comercialização e principais dificuldades encontradas na atividade desempenhada até o momento. Estes dados serão utilizados para o planejamento de ações e das demais capacitações que serão realizadas ao longo do ano, abordando os temas: nutrição e alimentação, prevenção de doenças, qualidade da água, tratamento de efluentes e técnicas de despesca. (e) (f) Figura 2 - Capacitação dos produtores: boas práticas de manejo no cultivo de peixes, local: auditório da UFFS (e); (f). Algumas instituições participam como parceiras entre elas a Companhia Paranaense de Energia (COPEL), com a doação de alevinos produzidos na Estação Ictiológica da Usina Hidrelétrica de Segredo; a Secretaria de Agricultura dos municípios envolvidos com o apoio na reforma dos viveiros de alguns produtores; o Movimento
dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Centro de Desenvolvimento Sustentável e Capacitação em Agroecologia (CEAGRO) no auxíliio na seleção dos agricultores. Conclusão Ao término do projeto espera-se que cada produtor além de cultivar peixes adotando boas práticas de manejo, seja um disseminador da piscicultura para outros agricultores familiares na região, contribuindo para a sustentabilidade econômica das famílias. Durante as disciplinas específicas do curso o aluno estuda parâmetros de boas práticas em piscicultura e participando do projeto ele tem um contato direto com a atividade na relação com a sociedade. A piscicultura sustentável é uma linha de pesquisa do curso de Engenharia de Aquicultura e dados do projeto servirão para subsidiar novos elementos na pesquisa do curso. Vale ressaltar que em continuidade a este projeto foi aprovado um Programa no Edital 04 - PROEXT 2011 intitulado Aquicultura Familiar em Sistema Orgânico: Processo Produtivo e Viabilização Econômica Através de Cooperativismo e das Políticas Públicas. Referências ARANA, LUIS V. Aqüicultura e desenvolvimento sustentável. Subsídios para a formulação de políticas de desenvolvimento da aqüicultura brasileira. Florianópolis: Ed. da UFSC,1999. BORBA M., ESQUIVEL GARCIA, J.R, ESQUIVEL, B., FRACALOSSI, B., RODRIGUES FILHO, R. Growth response, feed utilization and body composition of jundiá, Rhamdia quelen, fingerlings to varying protein concentration in practical diets at field conditions. XIII International Symposium on fish nutrition and feeding. Florianópolis, jun 2008. BRASIL. Instrução Normativa nº 64, de 18 de dezembro de 2008. Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento.. Disponível em: < http://extranet.agricultura.gov.br/sislegis-consulta/consultarlegislacao.do? operacao=visualizar&id=19345>. Acesso em: 25 mar. 2011. KUBITZA, F E ONO, F. Piscicultura familiar como ferramenta para o desenvolvimento e segurança alimentar no meio rural. Panorama da Aquicultura, Rio de Janeiro: v.117, jan/fev. 2010. TOMAZELLI, O.; CASACA. J. Planilha para cálculos de custo de produção de peixes. EPAGRI: Documento 206. 2000.