ANÁLISE DA PRESENÇA DO CANAL CAVO-INTER-RADICULAR EM MOLARES ESTUDO IN VITRO



Documentos relacionados
ANATOMIA INTERNA DENTAL

Análise da anatomia apical do canal radicular de pré-molares inferiores em microscopia eletrônica de varredura

PRESENÇA DO CANAL CAVO-INTERRADICULAR EM MOLARES DIFANIZADOS THE PRESENCE OF THE FURCATION CANAL IN CLARIFYING MOLARS

ODONTOLOGIA ENDODONTIA I. 5º Período / Carga Horária: 90 horas

DIAGNÓSTICO COLETA DE DADOS RACIOCÍNIO E DEDICAÇÃO

PALAVRAS CHAVE: Diagnóstico diferencial, lesão endo-periodontal, tratamento endodôntico, lesão de furca.

PROJETO DE EXTENSÃO: TRATAMENTO DE INFECÇÕES DENTÁRIAS / PROEC

IMAGENS DAS ALTERAÇÕES DA COROA DENTAL

Aula 12: ASPECTOS RADIOGRÁFICOS DAS LESÕES PERIODONTAIS

Aspectos de interesse à endodontia

Curso de Especialização em Endodontia

ASPECTO RADIOGRÁFICO DAS ALTERAÇÕES DO PERIODONTO

ASPECTO RADIOGRÁFICO DAS ALTERAÇÕES DA COROA DENTAL

Fazendo de seu sorriso nossa obra de arte

ANATOMIA DO PERIODONTO

Microlocalização de canais radiculares: relato clínico de um primeiro molar inferior com três canais mesiais

CURSO DE ODONTOLOGIA Autorizado pela Portaria MEC nº 131 de , DOU de

Moss et al. (2001) realizaram uma pesquisa com o objetivo de descobrir qual a conduta da comunidade endodôntica dos Estados Unidos em relação ao

ANATOMIA DENTAL INTERNA

ODONTOLOGIA CANINA. Introdução

Técnicas radiográficas. Técnicas Radiográficas Intraorais em Odontologia. Técnicas Radiográficas Intraorais. Técnicas Radiográficas

Classificação dos Núcleos

Assessoria ao Cirurgião Dentista. Publicação mensal interna a Papaiz edição 1I maio de papaizassociados.com.br

Aula 11: ALTERAÇÕES DO ORGÃO DENTÁRIO RAIZ

Dr. Felipe Groch CRO Especialização em Implantes Dentários

ENDODONTIA I ABERTURA CORONÁRIA

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL FACULDADE DE ODONTOLOGIA ESPECIALIZAÇÃO EM ENDODONTIA JULIANA CÔRTES DA SILVEIRA

ASPECTOS DE IMAGEM DAS ALTERAÇÕES DA RAIZ DENTAL

MANTENEDORES DE ESPAÇO

Cirurgiã-dentista, UFES, Vitória, Brasil. 2. Mestre em Saúde Coletiva, EMESCAM, Vitória, Brasil. 5

Retratamento de incisivo lateral superior com dois canais radiculares

ODONTOLOGIA PERIODONTIA I. 5º Período / Carga Horária: 90 horas

AVALIAÇÃO DE TRATAMENTOS ENDODÔNTICOS REALIZADOS POR ALUNOS DE GRADUAÇÃO COM PROSERVAÇÃO DE SEIS MESES

Área de Biologia Craniofacial e Biomateriais

ASPECTO RADIOGRÁFICO DAS ALTERAÇÕES DA RAIZ DENTAL. radiográficas da raiz dental. As ocorrências, em sua maioria, são provenientes de

MEDIDAS DE ADEQUAÇÃO DO MEIO BUCAL PARA CONTROLE DA CÁRIE DENTÁRIA EM ESCOLARES DO CASTELO BRANCO

ANATOMIA RADICULAR E SUAS IMPLICAÇÕES NA TERAPÊUTICA PERIODONTAL Influence of radicular anatomy in periodontal therapy

MAÍRA ROBERTA DE LIMAS POLYANA BREDA VIEIRA DO CANAL RADICULAR COM CLOREXIDINA GEL A 2% E HIPOCLORITO DE SÓDIO A 5,25% ASSOCIADOS AO EDTA

Cárie Dental Conceitos Etiologia Profa Me. Gilcele Berber

É a etapa inicial do tratamento do canal, consiste em o dentista atingir a polpa dentária (nervinho do dente).

TABELA DE PREÇOS. (Estomatologia)

TOMOGRAFIA COMPUTADORIZADA DO CONE BEAM HIGH DEFINITION PARA AVALIAÇÃO PERIODONTAL

TABELA DE EQUIVALÊNCIA Curso de Odontologia

MOLARES INFERIORES COM QUATRO CONDUTOS RADICULARES: TRATAMENTO ENDODÔNTICO MANDIBULAR MOLAR WITH FOUR CANALS: ENDODONTICS TREATMENT

5 Discussão dos Resultados

ROL DE PROCEDIMENTOS Atendimento em consultórios particulares dos cooperados em todo o Brasil

PLANO DE ENSINO - 1º/2014

FACULDADE DE ODONTOLOGIA DE BAURU- USP

PREPARO DO CANAL. - Indicação. 1. Material necessário Instrumentos Manuais tipo K. - Pulpectomias e Desobturações. Flexofile ou Flex-R.

ESPECIALIZAÇÃO EM ENDODONTIA

Abertura. Abertura ria. ria. Abertura. Abertura. Requisitos Principais. abertura coronária. Abertura ria. Requisitos Principais. ria.

CANAL MÉSIO-CENTRAL EM PRIMEIRO MOLAR INFERIOR

C U R S O O D O N T O L O G I A

Transplante Dental* Coordenador: MACEDO, Sérgio Bruzadelli

Essas duas questões serão estudadas nesta aula. Além delas, você vai ver quais erros podem ser cometidos na rebitagem e como poderá corrigi-los.

Localização de canais calcificados com auxílio do microscópio clínico operatório: Série de casos clínicos

ASPECTO DE IMAGEM DAS ESTRUTURAS DO DENTE

Procedimentos Odontológicos da NOVA TABELA IPAG ODONTO; 2) Nova divisão e classificação dos Procedimentos Odontológicos;

Lentes de contato dental: construindo um protocolo previsível

INSTRUMENTAL E INSTRUMENTAÇÃO EM PERIODONTIA

Diretrizes Assistenciais

Gislaine Adams Sabrine Louise Souza

ODONTOMETRIA. CDC- cemento dentina canal. Referências Radiográficas

Estado do Ceará PREFEITURA MUNICIPAL DE CEDRO CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Faculdade de Ciências Médicas e da Saúde de Juiz de Fora ATLAS DE HISTOLOGIA DENTAL

Obturação dos Canais Radiculares

UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA CENTRO DE CIÊNCIAS DA SAÚDE PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA ÁREA DE CONCENTRAÇÃO ODONTOPEDIATRIA

Por: Renato Fabricio de Andrade Waldemarin;Guilherme Brião Camacho e Vinícius Marcel Ferst

avaliação dos modos de descolagem e a presença de fraturas no esmalte, após os ensaios mecânicos.

Fundamentos essenciais na remoção de pinos pré-fabricados não metálicos: onde a magnificação faz a diferença?

Dr. Marco António Castro Clínicas Médicas e Dentárias

Alterações Morfológicas na Cavidade Pulpar que Influenciam no Tratamento Endodôntico

Objetivo Analisar a anatomia radicular interna de pré-molares inferiores por meio dos exames radiográfico e tomográfico.

O que são os Ensaios Não Destrutivos

Prevalência de foraminas e canais acessórios em região de furca e assoalho pulpar e sua influência na etiologia da lesão endo-periodontal

COTIP Colégio Técnico e Industrial de Piracicaba (Escola de Ensino Médio e Educação Profissional da Fundação Municipal de Ensino de Piracicaba)

Pós-graduação lato sensu

5 Instrumentos Convencionais Acionados a Motor para Uso Endodôntico

PROCEDIMENTOS PARA A UTILIZAÇÃO DO SISTEMA DE SOLICITAÇÃO DE ORDEM DE SERVIÇO (SOSI) STI Unesp - Campus Experimental de Ourinhos

ROTEIRO DE TÉCNICAS ANESTÉSICAS

Diretoria de Saúde da Marinha Centro Médico Assistencial da Marinha Odontoclínica Central da Marinha

TOTVS Gestão Hospitalar Manual Ilustrado Central de Material Esterilizado. 11.8x. março de 2015 Versão: 3.0

Este documento tem o objetivo de esclarecer alguns procedimentos e definir parâmetros para facilitar o processo.

APOSTILA DE RADIOLOGIA

perfazendo carga horária semanal de 120 hs. semanais + 1 Auxiliar em Saúde Bucal (ASB) por CD *

DENTINOGÊNESE BANDA EPITELIAL CAVIDADE BUCAL PRIMITIVA. Morfologia II UNINOVE. Ü 22 o dia: formação da mb bucofaríngea. 2º Mês de V.I.U.

MANUAL INSTRUTIVO DOS CÓDIGOS ODONTOLÓGICOS DO SIA/SUS - TSB E ASB -

Higienização do Ambiente Hospitalar

Anatomia do assoalho da câmara pulpar de molares superiores: Parte I

EFEITO DA ESTRUTURA BAINÍTICA EM AÇOS PARA ESTAMPAGEM

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM ESTÉTICA E COSMÉTICA Autorizado pela Portaria MEC nº 433 de 21/10/11 - DOU de 24/10/11 PLANO DE CURSO

guia de instalação cisterna vertical

Faculdade Independente do Nordeste Credenciada pela Portaria MEC 1.393, de 04/07/2001 publicada no D.O.U. de 09/07/2001.

CURSO ODONTOLOGIA Autorizado pela Portaria no 131, de 13/01/11, publicada no DOU no 11, de17/01/11, seção 1, pág.14 P L A N O D E C U R S O

Técnicas Anestésicas Aplicadas à Cirurgia Oral

RSBO Revista Sul-Brasileira de Odontologia ISSN: Universidade da Região de Joinville Brasil

CURSO de ODONTOLOGIA - Gabarito

4 Materiais e Métodos

PROTOCOLO DE DESCONTAMINAÇÃO ORAL

Transcrição:

ARTIGO ANÁLISE DA PRESENÇA DO CANAL CAVO-INTER-RADICULAR EM MOLARES ESTUDO IN VITRO IN VITRO ANALYSIS OF ACESSORY FORAMINA IN MOLAR TEETH Cunha, Fernanda Silveira da* Machado, Geovana** Neuvald, Lilian*** RESUMO Evidências significativas sugerem a inter-relação existente entre a região de furca de dentes multirradiculados com o desenvolvimento de lesões endo-periodontais, principalmente, quando da presença do canal cavo-inter-radicular. Com o objetivo de compreender os mecanismos envolvidos na etiopatogenia de tais doenças periodontais, assim como propiciar o diagnóstico e o tratamento precoces, buscou-se melhor caracterizar essa região dando ênfase à morfologia do assoalho da câmara pulpar. Para este estudo foram selecionados 42 molares humanos extraídos, sendo 21 superiores e 21 inferiores. Após realizadas as aberturas coronárias e localizadas as entradas dos canais radiculares, os dentes tiveram parte das porções coronária e radicular cortada perpendicularmente ao longo do seu eixo, com o auxílio de disco de carburundum. Depois de uma criteriosa limpeza dos espécimes, esses foram secos em câmara de ponto crítico, sendo, a seguir, preparados para análise em microscópio eletrônico de varredura (Philips, modelo XL30, Holanda). Os dados foram analisados através do Teste U de Mann- Whitney e do teste Qui-quadrado. Com base nos resultados obtidos e de acordo com a literatura pertinente, pôde-se verificar que: 1. o diâmetro e o número de túbulos dentinários encontrados por mm 2 assim como a presença de foraminas no assoalho da câmara pulpar sugerem a permeabilidade dessa região; 2. o diâmetro maior de algumas foraminas identifica a presença do canal cavo-inter-radicular. UNITERMOS: câmara pulpar; microscopia eletrônica de varredura; permeabilidade. SUMMARY Mounting evidence has suggested a relationship between the existing furcation region in multirradicular teeth and the development of endoperiodontal lesions. This effect is particulary pronounced when accessory foramina are present. In order to improve our understanding of the mechanisms involved in the etiopathogeny of periodontal disease, as well as facilitate early diagnosis and treatment, an attempt was made to characterize this region with special attention to the morphology of the pulp chamber floor. Forty-two extracted human molars (21 maxillary and 21 mandibular molars) were used in this study. After the crows had been resected and the root canals openings identified, part of the coronal and radicular sections of the teeth were split longitudinally their axes with carborundum disc. After meticulous cleansing, the teeth were dried in a critical point dry chamber and then prepared for analysis in a Philips XL-30, Holland, SEM. The collected data were submitted to statistical analysis by Mann-Whitney Test and Qui-square Test. The results obtained and a revision of literature shows that: 1.the number and diameter of dentinal tubules per mm 2 found, as well as the presence of foramina on the pulp chamber floor are indicators of permeability in this region; 2. the wider diameter of some foramina indicate the presence of accessory foramina. UNITERMS: permeability; pulp chamber; scanning electronic microscopy. * Mestranda em Clínica Odontológica, ênfase em Radiologia, UFRGS. ** Doutora em Polímeros pela UFRGS. Responsável técnica pelo Laboratório de Microscopia e Microanálise da UFRGS. *** Doutora em Endodontia pela FOBUSP-Bauru. Coordenadora do Curso de Especialização em Endodontia ABO/RS. 40 Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 20, n. 47, jan./mar. 2005

INTRODUÇÃO O conhecimento da morfologia do sistema de canais radiculares é fundamental para o diagnóstico, tratamento, prognóstico e proservação de casos clínicos. Além do canal principal temos uma rede de canais acessórios, secundários, laterais, interconduto e cavo-inter-radicular. O canal cavointer-radicular é definido como aquele que sai do assoalho da câmara pulpar, percorre a dentina inter-radicular e alcança o ligamento periodontal na região de furca (Bramante, Bramante, Vale, 1996). Esse pode estabelecer uma comunicação entre o complexo dentino-pulpar e o periodonto. O mecanismo de formação desse canal não é conhecido, mas é provável que ocorra durante a formação do órgão dentário, com o surgimento de defeitos localizados na Bainha Epitelial de Hertwing (Gutmann, 1978). Ten Cate (2001) complementa colocando que aberrações na divisão do forame apical primário podem levar a formação de canais pulpo-periodontais nos locais de fusão das lingüetas do epitélio. Já Avery (1981) diz que em áreas onde a dentina está se formando e o desenvolvimento da raiz encontra um vaso sangüíneo é possível que um tecido mineralizado se forme ao redor dele, aparecendo um canal. A conexão entre o complexo dentino-pulpar e o ligamento periodontal, na qual produtos tóxicos podem passar por entre esses tecidos através de uma rede de canais sugere a inter-relação entre a região de furca de dentes multirradiculados com o desenvolvimento de lesões endoperiodontais (Simon, Glick, Frank, 1971; Bender, Seltzer, 1972; Gutmann, 1978; Vertucci, Antony, 1986; Saffar, Giavanolli, 1988; Barkordar, Stewart, 1990; Bramante, Bramante, Vale, 1996; Jansson, Ehnevid, 1998; Favieri, Piacsek, Freitas, 1999). Dessa maneira, Motta, Milano (2002) colocam que seria desejável a instrumentação e o adequado preenchimento desse canal com material biocompatível após a obturação dos canais principais. Assim, este estudo tem o objetivo de identificar na região de assoalho de câmara pulpar de molares superiores e inferiores o canal cavo-interradicular. METODOLOGIA Seleção das amostras A partir de uma amostra de dentes humanos extraídos foram selecionados aleatoriamente vinte e um molares superiores e vinte e um molares inferiores. A integridade da coroa dentária e dos terços radiculares foram utilizados como critério de inclusão das amostras no estudo. Sendo os dentes oriundos de doação, as fichas clínicas dos pacientes não foram analisadas, portanto o motivo da exodontia, bem como a posição do dente na arcada dentária não eram conhecidos. Os dentes selecionados foram previamente desinfetados e armazenados em soro fisiológico. Preparo das amostras Aberturas coronárias foram realizadas com pontas diamantadas 1014 (S.S. White Rio de Janeiro, Brasil) e broca Endo-Z (Dentsply Konstanz, Alemanha) novas, em alta rotação, com irrigação constante. Os orifícios de entrada dos canais radiculares foram localizados com limas endodônticas # 10 e # 15 (Dentsply Konstanz, Alemanha). A seguir dois cortes, com disco de carborundum e ponta diamantada 3070 (S.S. White Rio de Janeiro, Brasil), perpendiculares ao longo eixo de cada dente foram realizados, um corte 2 mm acima da junção amelocementária e outro corte 2 mm abaixo da região da furca. Limpeza das amostras As amostras foram colocadas em solução de hipoclorito de sódio a 2%, Virex (Johnson & Johnson São José dos Campos, São Paulo), por uma hora, para que sua ação química promovesse a solvência dos tecidos orgânicos aderidos à superfície dentária. A seguir as amostras foram lavadas em água corrente por oito horas para que os resíduos da solução fossem totalmente removidos. Sendo então, imersos em ácido etileno diamino tetracético (EDTA) trissódico (Farmácia Calêndula, Porto Alegre, Rio Grande do Sul) por quinze minutos, para que assim, obtivéssemos a remoção da smear layer. A seguir, as peças foram novamente lavadas em água corrente por oito horas e secas com jatos de ar. Após nova lavagem em água corrente elas passaram pelo banho em ultrasom com acetona pró-análise, durante 30 minutos. A secagem final de cada amostra foi feita na câmara de ponto crítico (Critical Point Dry CPD modelo CPD 030/Baltec). As amostras foram fixadas em um suporte metálico e, então receberam uma fina camada de ouro (Au) de 30 nm de espessura. Seqüencialmente, foram aplicadas siglas em cada amostra para facilitar sua identificação durante a análise: MID, molar inferior direito; MIE, molar inferior esquerdo; MSD, molar superior direito e MSE, molar superior esquerdo. Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 20, n. 47, jan./mar. 2005 41

Análise através da microscopia eletrônica de varredura As amostras foram analisadas no MEV (microscópio eletrônico de varredura), Philips, modelo XL30 (Philips, Holanda), pertencente ao Centro de Microscopia e Microanálises-CEMM/PUCRS. O assoalho da câmara pulpar de cada espécime foi dividido em quadrantes e cada quadrante foi analisado quanto à presença ou não de foraminas. O diâmetro dos túbulos dentinários foi utilizado como padrão para a identificação das foraminas, sendo que foraminas de maior diâmetro foram consideradas como canal cavo-inter-radicular, conforme Figs. 1 a 5. As imagens resultantes foram salvas em disco em formato BMP (Bipmap). Análise estatística Os dados foram analisados através do teste U de Mann-Whitney e do teste Qui-quadrado. Figura 3 Fotomicrografia da região do assoalho de câmara pulpar revelando a presença de túbulos dentinários e destacando, conforme seta, uma foramina, sugestiva do canal cavo-inter-radicular (molar inferior direito, 400 ). Figura 4 Maior aumento da área destacada na Figura 3 (molar inferior direito, 1610 ). Figura 1 Fotomicrografia revelando, conforme setas, as diversas foraminas presentes no assoalho da câmara pulpar (molar inferior direito, 23 ). Figura 5 Maior aumento da área destacada nas Figuras 3 e 4 (molar inferior direito, 6284 ). RESULTADOS Figura 2 Fotomicrografia destacando, em maior aumento, as foraminas observadas na Figura 1, conforme setas (molar inferior direito, 48 ). Os resultados estão representados através das Tabelas 1 e 2, aonde se verifica não existir diferenças significativas entre a quantidade de foraminas 42 Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 20, n. 47, jan./mar. 2005

entre os grupos estudados, superior e inferior. Para melhor interpretação dos resultados estes estão ilustrados nas Figuras 1 a 5. TABELA 1 Resultados do teste de U de Mann-Whitney para os grupos estudados: Superior e Inferior (Porto Alegre, 2000). Grupo Nº casos Posto médio p Superior 21 20,40 0,561 Inferior 21 22,60 TABELA 2 Resultados do teste Qui-quadrado para a verificação da presença ou ausência de foraminas: Superior e Inferior (Porto Alegre, 2000). Grupo Presença Foraminas Ausência Total Superior 17 (51,5%) 4 (44,4%) 21 Inferior 16 (48,5%) 5 (55,6%) 21 Total 33 9 42 p > 0,05. DISCUSSÃO O conhecimento da morfologia do sistema de canais radiculares é fundamental para o tratamento endodôntico, uma vez que devemos procurar eliminar todas as possíveis vias de penetração microbiana. Os canais laterais e acessórios são componentes normais da morfologia radicular da dentição humana. Especial atenção deve ser dada a região de bi ou trifurcação de molares aonde o canal cavo-inter-radicular pode estar presente e constituir comunicação entre a cavidade pulpar e o ligamento periodontal adjacente. Nesse estudo apenas o assoalho da câmara pulpar foi analisado, diferentemente de outros trabalhos (Gutmann, 1978; Vertucci, Antony, 1986; Bramante, Bramante, Vale, 1996), aonde a região de furca também foi estudada. Da mesma forma, o trajeto descrito pelos canais acessórios identificados no assoalho não foi verificado devido à metodologia empregada. Assim, algumas foraminas, embora identificadas, podem não servir de via de ligação constituindo um fundo cego. A região da furca e a acessibilidade das foraminas serão objetivos de um próximo trabalho. A alta prevalência (Figs. 1 e 2) de foraminas no assoalho da câmara pulpar corrobora com os achados de outros autores (Bender, Seltzer, 1972; Lowman, Burke, Pelleu, 1973; Burch, Hulen, 1974; Gutmann, 1978; Vertucci, Antony, 1986; Bramante, Bramante, Vale, 1996). Já de Deus (1975); Hession (1977) e Motta, Milano (2002) não observaram foraminas na região inter-radicular ou então quando presentes essas estavam em pequeno número e não mereceram destaque dos autores. Concordando com Burch, Hulen (1974) e contrapondo-se a outros autores (Gutmann, 1978; Vertucci, Antony, 1986; Bramante, Bramante, Vale, 1996) os molares superiores apresentaram um maior número de foraminas do que os molares inferiores, todavia essa diferença não foi estatisticamente significante (Tabelas 1 e 2). A alta prevalência de foraminas no assoalho da câmara pulpar (Figs. 1 a 5) sugere que uma maior atenção deva ser dada a essa região, pois acreditase que a presença do canal cavo-inter-radicular possa ser responsável pelo agravamento ou desenvolvimento da doença periodontal secundária ou de lesões endoperiodontais, nos casos de necrose pulpar. A polpa e o periodonto são tecidos que se interconectam através do sistema de canais e do forame principal. Assim, a possível presença de foraminas na região de furca e no assoalho da câmara pode servir de via para a penetração de bactérias e seus subprodutos. Por outro lado, a doença periodontal severa com perda de tecido ósseo na região de furca pode expor as foraminas presentes nessa região, tornando-as suscetíveis a penetração dos periodontopatógenos que podem iniciar a infecção do tecido pulpar (Simon, Glick, Frank, 1971; Bender, Seltzer, 1972; Gutmann, 1978; Vertucci, Antony, 1986; Saffar, Giavanolli, 1988; Barkordar, Stewart, 1990; Bramante, Bramante, Vale, 1996; Jansson, Ehnevid, 1998; Favieri, Piacsek, Freitas, 1999). Além disso, concordando com Gutmann (1978); Vertucci, Antony (1986); Bramante, Bramante, Vale (1996), após a obturação do sistema de canais radiculares múltiplos esforços devem ser realizados no intuito de selar as foraminas presentes no assoalho da câmara pulpar dos dentes multirradiculares de modo a diminuir a permeabilidade dessa região e aumentar as chances de sucesso do tratamento. CONCLUSÕES 1. O diâmetro e o número de túbulos dentinários encontrados por mm 2, assim como a presença de foraminas no assoalho da câmara pulpar, sugerem a permeabilidade dessa região. 2. O diâmetro maior de algumas foraminas sugere a presença do canal cavo-inter-radicular. Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 20, n. 47, jan./mar. 2005 43

AGRADECIMENTOS À Faculdade de Odontologia da Pontifícia Universidade Católica do Rio Grande do Sul PUCRS; ao Centro de Microscopia e Microanálises CEMM/PUCRS; à Associação Brasileira de Odontologia, seção Rio Grande do Sul, ABO/RS. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. Barkhordar RA, Stewart GG. The potencial of periodontal formation associated with untreated acessory root canals. Oral Surg., Oral Med., Oral Pathol., Oral Radials. Endod., St. Louis, 1990; 70(6):769-72. 2. Bender IB, Seltzer S. The effect of periodontal disease on the pulp. Oral Surg, Oral Med, Oral Pathol, Oral Radiol. Endod. (St. Louis). 1972;33(3): 458-73. 3. Avery JK. Polpa. In: Bhaskar SN. Histologia e Embriologia Oral de Orban. St. Louis: C.V. Mosby, 1981:147-8. 4. Bramante CM, Bramante AS, Vale IS. Presença do canal cavo-inter-radicular em molares superiores e inferiores. Rev. de Odont. USP (São Paulo). 1996;10(3):207-14. 5. Burch JG, Hulen S. A study of the presence of acessory foramina and topography of molar furcation. Oral Surg, Oral Med, Oral Pathol, Oral Radiol Endod (St. Louis). 1974;38(3):451-5. 6. De Deus QD. Frequency, location and direction of the lateral, secondary and acessory canals. J. Endod (Seattle). 1975;1(11):361-6. 7. Favieri A, Piasek M, Freitas RM. Tratamento das lesões endoperiodontais: Revisão de Literatura e Relato de Caso. Rev Period (Rio de Janeiro). 1999; 8(1):33-8. 8. Gutmann JL. Prevalence, location and patency of acessory canals in the furcation region of permanent molars. J Periodontol (Copenhagen). 1978; 49(1):21-6. 9. Hession RW. Endodontic morphology. A radiographic analysis. Oral Surg, Oral Med, Oral Pathol, Oral Radiol Endod (St. Louis). 1977;44(4):610-20. 10. Jansson LE, Ehnevid H. The influence of endodontic infection on periodontal status in mandibular molars. J Periodontol (Copenhagen). 1998;69 (12):1392-6. 11. Lowman JV, Burke RS, Pelleu, GB. Patent acessory canals: incidence in molar furcation region. Oral Surg, Oral Med, Oral Pathol, Oral Radiol Endod (St. Louis). 1973;36(4):580-4. 12. Motta RT, Milano NF. Freqüência do Canal Cavo- Inter-Radicular. RGO, (Porto Alegre). 2002;50(3): 139-42. 13. Ten Cate AR. Embriologia da Cabeça, Face e Cavidade Oral. Ten Cate AR. Histologia bucal: desenvolvimento, estrutura e função. 5 a ed. Rio de Janeiro: Guanabara Koogan; 2001. Cap. 7. p. 93. 14. Simon JMS, Glick D, Frank A. Predictable endodontic and periodontic failures as a result of radicular anomalies. Oral Surg, Oral Med, Oral Pathol, Oral Radiol Endod (St. Louis). 1971;31(6): 823-6. 15. Vertucci FJ, Anthony RL. A scanning electrons microscopic investigation of acessory foramina in the furcation and pulp chamber floor of molar teeth. Oral Surg, Oral Med, Oral Pathol, Oral Radiol Endod (St. Louis). 1986;62(3):319-25. Recebido para publicação em: 30/07/04; aceito em: 03/11/04. Endereço para correspondência: FERNANDA SILVEIRA DA CUNHA Av. Taquara, 586/405 Petrópolis CEP 90460-210, Porto Alegre, RS, Brasil 44 Revista Odonto Ciência Fac. Odonto/PUCRS, v. 20, n. 47, jan./mar. 2005