Fundamentos da Citometria de Fluxo. Elizabeth Xisto Souto

Documentos relacionados
FUNDAMENTOS DE CITOMETRIA DE FLUXO. Dayane Alves Costa Priscilla Ramos Costa Programa de Alergia e Imunopatologia- LIM 60 USP

Partículas sujeitas à análise: célula eucariótica; organelas citoplasmáticas; cromossomos; células agregadas (ex: células tumorais); bactérias;

CURSOS DE CITOMETRIA DE FLUXO - HOSPITAL AMARAL CARVALHO

Aplicações Clínicas da Citometria de Fluxo

APLICAÇÕES ATUAIS DA CITOMETRIA DE FLUXO NA ROTINA LABORATORIAL

Métodos imunológicos na avaliação da resposta à vacinação.

29/06/2015. A utilização da CF permite maior controle de qualidade, precisão, eficácia e obtenção de resultados padronizados e confiáveis.

Hemograma automatizado

Aplicações da citometria de fluxo na pesquisa farmacológica de plantas medicinais

DIAGNÓSTICO DA LEUCEMIA MIELOIDE AGUDA

Imunoensaios no laboratório clínico

Curso CURSO TEÓRICO-PRÁTICO DE INICIAÇÃO Á CITOMETRIA DE FLUXO

IMUNOFENOTIPAGEM NAS LEUCEMIAS AGUDAS

Hematopoese, células-tronco e diferenciação Imunofenotipagem. Silvia I.A.C.de Pires Ferreira HEMOSC Lab Medico Santa Luzia Florianópolis, SC

Imunofenotipagem nas doenças hematológicas: Doenças linfoproliferativas crônicas. Dr. Edgar Gil Rizzatti Grupo Fleury

CONHECIMENTO BÁSICO E APLICAÇÕES CLÍNICAS.

CONHECIMENTOS ESPECÍFICOS

Recomendações das indicações e laudo de imunofenotipagem para SMD (OMS):

CLASSIFICAÇÃO DAS LEUCEMIAS

Alessandra Comparotto de Menezes IHOC-2013

IHQ em material fixado em formol e incluído em parafina ð Método de escolha

LEUCEMIAS E LINFOMAS CITOLOGIA HEMATOLÓGICA AVANÇADA Professor: Márcio Melo

Aplicações da Citometria de Fluxo no diagnóstico oncohematológico

FERNANDA DE LIMA GOMES DOS SANTOS ALTERAÇÕES HEMATOLÓGICAS NO DIAGNÓSTICO LABORATORIAL DE LEUCEMIAS LINFOCÍTICAS

φ Fleury Stem cell Mastócitos Mieloblastos Linfócito pequeno Natural Killer (Grande linfócito granular) Hemácias Linfócito T Linfócito B Megacariócito

Caso 1 Citometria de Fluxo Detecção de Múltiplos Clones

Dr. Marçal C A Silva

Receptores de Antígeno no Sistema Imune Adaptativo

Hematopoiese. Aarestrup, F.M.

GRUPO BRASILEIRO DE CITOMETRIA DE FLUXO SUBCOMITÊ DE CONTROLE DE QUALIDADE. TMO - 15 anos PROGRAMAÇÃO

Aula teórica: Hematopoese

ENFERMAGEM. DOENÇAS HEMATOLÓGICAS Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

Células do Sistema Imune

MÉTODOS SOROLÓGICOS INTERAÇÃO GENO-ANTICORPO. Curso de Ciências Biológicas Disciplina: Imunologia Profa. Dra. Wilma A.

leveduras Área/Laboratório Microbiologia

ANÁLISE CIENCIOMÉTRICA DAS APLICAÇÕES DA CITOMETRIA DE FLUXO EM DESORDENS HEMATOPOIÉTICAS NOS ÚLTIMOS 16 ANOS

CÉLULAS SANGUÍNEAS. Professora Janaina Serra Azul Monteiro Evangelista

Estabelecendo a linhagem das leucemias agudas. Elizabeth Xisto Souto

MSc. Romeu Moreira dos Santos

13/08/2010. Marcos Fleury Laboratório de Hemoglobinas Faculdade de Farmácia UFRJ

Declaração de Conflito de Interesse

Hematologia Clínica : bases fisiopatológicas

Requisitos básicos. Nas regiões hematopoéticas, 50% do tecido medular é representado por gordura. O tecido hematopoético pode ocupar áreas de gordura.

PATOLOGIA DO SISTEMA HEMATOPOIÉTICO

Investigação Laboratorial de LLA

TÍTULO: MONITORAMENTO DE DOENÇA RESIDUAL MÍNIMA PÓS TRANSPLANTE DE MEDULA ÓSSEA EM PACIENTES COM LEUCEMIA LINFOIDE AGUDA

MSc. Romeu Moreira dos Santos

Pesquisa de DRM por Citometria de Fluxo: quando é útil e o que estamos fazendo como grupo no Brasil? Reunião GBCFLUX Hemo 2016

TROMBOPOESE ou TROMBOCITOPOESE ou PLAQUETOPOESE

Ontogenia de Linfócito T. Alessandra Barone

BIOLOGIA. Moléculas, células e tecidos. Estudo dos tecidos Parte. Professor: Alex Santos

Highlights. Chandra C. Cardoso Farmacêutica Bioquímica - HU/UFSC/SC. Rodrigo de Souza Barroso Médico Hematologista - Hospital Albert Einstein/SP

HEMATOLOGIA ºAno. 8ª Aula. Hematologia- 2010/2011

ACADEMIA DE CIÊNCIA E TECNOLOGIA

TECIDOS LINFÓIDES PRIMÁRIOS ONTOGENIA DE LINFÓCITOS

Proliferação. Diferenciação. Apoptose. Maturação. Ativação funcional. SCF PSC TPO CFU GEMM. BFU EMeg CFU GMEo BFU E IL-3. CFU EMeg CFU GM EPO.

Imunologia. Diferenciar as células e os mecanismos efetores do Sistema imune adquirido do sistema imune inato. AULA 02: Sistema imune adquirido

Leucemias Agudas: 2. Anemia: na leucemia há sempre anemia, então esperamos encontrar valores diminuídos de hemoglobina, hematócrito e eritrócitos.

Estudo da resposta imune humoral em mulheres com neoplasia ovariana.

Resposta Imune Contra Tumores

Resposta imune adquirida

Peculiaridades do Hemograma. Melissa Kayser

31/10/2013 HEMOGRAMA. Prof. Dr. Carlos Cezar I. S. Ovalle. Introdução. Simplicidade. Baixo custo. Automático ou manual.

Caso Clínico. Nydia Strachman Bacal Centro de Hematologia de São Paulo Hospital Israelita Albert Einstein

LEUCEMIAS. Profª Ms. Priscila Ferreira Silva

Disciplina: Imunologia Tema: Imunologia Iniciando o Conteúdo

Professora Sandra Nunes

O sistema imune é composto por células e substâncias solúveis.

ANÁLISE COMPARATIVA DA INTENSIDADE DE FLUORESCÊNCIA DE CD10 E DE CD19 EM BLASTOS LEUCÊMICOS E HEMATOGÔNIAS.

UNIVERSIDADE DE CUIABÁ NÚCLEO DE DISCIPLINAS INTEGRADAS DISCIPLINA DE CIÊNCIAS MORFOFUNCIONAIS IV A ORIGEM DAS CÉLULAS SANGUÍNEAS - HEMATOPOIESE

TECIDO HEMATOPOIÉTICO E SANGUÍNEO

Aplicações clínicas de células tronco hematopoiéticas

ASPECTOS MORFOLÓGICOS, CITOQUÍMICOS E IMUNOLÓGICOS DA LEUCEMIA MIELÓIDE AGUDA NO ESTADO DO AMAZONAS

Aulas e discussão dos casos.

FACULDADE META IMUNOLOGIA CLÍNICA. Profª MSc. Karolina Sabino.

BIANCA CHIESA BIGARDI A IMPORTÂNCIA DA IMUNOFENOTIPAGEM NO DIAGNÓSTICO DAS LEUCEMIAS, COM DESTAQUE PARA A LEUCEMIA BIFENOTÍPICA

SANGUE Funções (transporte):

EXAME HEMATOLÓGICO Hemograma

Introdução a imunologia clínica. Alessandra Barone

Célula tronco. Célula tronco

Imunologia. Introdução ao Sistema Imune. Lairton Souza Borja. Módulo Imunopatológico I (MED B21)

Identificando doenças hematológicas através da morfologia celular no hemograma

Variedades de Tecido Conjuntivo

Órgãos linfoides e Células do Sistema Imune. Profa. Alessandra Barone

PADRÕES DE DIFERENCIAÇÃO CELULAR EM MEDULA ÓSSEA NORMAL

Célula tronco. Célula tronco

mielodisplasia doenças mieloproliferativas m i e l o f i b r o s e Crônicas : Policitemia Vera Agudas: LMC grânulo-megacariocítica

SÉRIE-UN Solução modular de automatização da urinálise

03/08/2016. Patologia Clínica e Análises Laboratoriais Prof. Me. Diogo Gaubeur de Camargo

Bioensaios celulares: Princípios e Aplicações

Resposta Imune Humoral Dr. Carlos R Prudencio

Declaração de Conflitos de Interesse

Células do Sistema Imune

1) Qual translocação é característica da Leucemia mielóide crônica? a) t(14;18) b) t(9,21) c) t(9;22) d) t(22,9) e) t(7;22)

CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO-SENSU EM HEMATOLOGIA E BANCO DE SANGUE ( )

Diagnóstico Laboratorial em Hematologia. Marcos K. Fleury Laboratório de Hemoglobinas Faculdade de Farmácia - UFRJ

- Condição adquirida caracterizada por alterações do crescimento e da diferenciação celular

Imunidade adaptativa celular

Hematopoese. Prof. Archangelo P. Fernandes Profa. Alessandra Barone

Anexo 2. Chave de classificação. Célula-tronco hematopoética (CT-H)

Transcrição:

Fundamentos da Citometria de Fluxo Elizabeth Xisto Souto

A Citometria de Fluxo consiste de tecnologia laser que analisa partículas suspensas em meio líquido e fluxo contínuo. Estas partículas podem ser células, componentes celulares ou material não celular. Sistema de análise multiparamétrico

Citometria de fluxo uso clínico Análise multiparamétrica de células Tamanho Complexidade interna (granulosidade) Tipos de antígenos de membrana, de citoplasma e intranuclear Intensidade da expressão dos antígenos Análise do conteúdo nuclear (DNA)

O citômetro dispoe de um sistema que gera um fluxo laminar contínuo de partículas, fazendo com que as mesmas passem uma a uma frente a um feixe de laser. CÂMARA DE FLUXO FOCO HIDRODINÂMICO LASER

O raio luminoso sofrerá desvio de acordo com as características físicas das partículas e será captado por detectores diretamente a frente do emissor de raios laser ou a 90 deste.

Forward Angle Light Scatter (FSC) Laser (Argônio) FSC Sensor R1

90 Degree Light Scatter (SSC) Laser FSC Sensor R1 SSC Sensor

Citometria de fluxo Imunofenotipagem Além da análise de tamanho e granularidade utiliza-se a análise da expressão antigênica das células através da imunofenotipagem. Nesta utilizam-se marcadores de membrana, de citoplasma ou intranucleares, que são anticorpos monoclonais também designados CDs (clusters of differentiation). Este método é utilizado por ex. para caracterização da linhagem celular envolvida na neoplasia hematopoética (linfóide B ou T, mielóide e seus subtipos). O diagnóstico é definido de acordo com o padrão de marcação encontrado.

Célula antígeno anticorpofluocromo

Anticorpos Monoclonais Linfóide B: CD10, CD19, CD20, CD22, CD23, CD 79a, CD79b, IgM, Kappa, Lambda Linfóide T: CD1a, CD2, CD3, CD4, CD5, CD7, CD8, TCR alfa/beta, TCR gama/delta Mielóide: CD13, CD33, CD65, CD117, MPO Mielomonocíticos: CD14, CD64, CD4, CD11b Eritróides: glicoforina A, CD36, CD71 Megacariocíticos: CD41, CD61, CD42b Outros: CD34, HLA-DR, TdT,

Anticorpos ligados ao fluocromo se ligam aos epítopos específicos na superfície ou dentro das células.

Common Laser Lines 350 457 488 514 610 632 300 nm 400 nm 500 nm 600 nm 700 nm FLUOCROMOS PE-TR Texas Red PI Ethidium PE (ficoeritrina) FITC (fluoresceina) cis-parinaric acid A incidência do feixe de laser sobre estes fluocromos causa excitação e emissão de ondas luminosas de diferentes comprimentos de ondas de acordo com o fluocromo utilizado (FITC, PE, etc).

Freq Fluorescência Estas ondas luminosas serão filtradas por um sistema óptico e detectadas por células fotomultiplicadoras. FSC Sensor Fluorescence Fluorescence detector (FL2, FL3 etc) (tubos fotomultiplicadores)

Análise dos dados no citômetro de fluxo Os dados captados pelo citômetro serão análisados pelo seu sistema informatizado segundo os parâmetros FSC, SSC e fluorescência. Estes poderão ser analisados através de gráficos de pontos ( dot plots ), de contorno ou histogramas. Adicionalmente pode ser feita análise tridimensional e com programas que permitem a análise de múltiplas populações em um mesmo gráfico (Paint -a Gate, Infinicity, etc)

Número de células Separação de populações celulares de acordo com o tamanho e a granularidade VISÃO SUPERIOR

De acordo com morfologia e/ou suspeita clínica uma população celular específica pode ser selecionada para análise separadamente. Para a isso a região a ser estudada é traçada dando origem a o que se chama de gate

SSC CD45 Percp Distribuição das populações celulares Análise no Paint a Gate Material: sangue periférico normal FSC SSC

Aplicações clínicas da imunofenotipagem por citometria de fluxo Subpopulação linfocitária (CD3, CD4, CD8, CD19, CD56) Diagnóstico e acompanhamento de neoplasias hematológicas (Leucemias, Linfomas, Mielomas, Mielodisplasias) Quantificação de células progenitoras (stem cells) CD34 Diagnóstico de doença residual mínima Diagnóstico de hemoglobinúria paroxística noturna Detecção de anticorpos antiplaquetários Imunofenotipagem plaquetária (D. Glanzman, Bernard-Soulier, etc) Análise do conteúdo de DNA Análise de reticulócitos Outras: função celular, apoptose, MDR, controle de qualidade de leucodepleção em bancos de sangue, etc

Imunofenotipagem por citometria de fluxo Materiais biológicos, características de envio e viabilidade da amostra Volume (ml) Tempo até processamento (horas) Temperatura para envio Anticoagulante Meio para conservação Sangue 5-10 24 (expc.36) ambiente EDTA ou heparina na Medula óssea 2-3 24 ambiente EDTA ou heparina na Líquidos biológicos lìquor, l.pleural, ascítico, etc Massas tumorais (gânglio, baço, etc) Aspirado de gânglio ou de massas tumorais 10-20 2 3 ambiente na na na 2-3 ambiente na Embebidas em SF 0,9% ou RPMI na 2 3 ambiente na Em SF 0,9% ou RPMI

LINHAGEM MEGACARIOCÍTICA CD41, CD61 BASÓFILO STEM CELL CD34 LINHAGEM ERITRÓIDE Glico A, CD71, CD36 EOSINÓFILO GRANULÓCITO LINHAGEM MIELOMONOCÍTICA CD34, CD117, HLA-DR, CD13, CD33,MPO MONÓCITO HLA-DR, CD13, CD33, CD11b, CD15, CD14, CD64 MACRÓFAGO LINHAGEM LINFÓIDE LINFÓCITO B CD19, CD20, CD22, IgMs STEM CELL CD34 CD34, TdT NATURAL KILLER CD56, CD16 LINFÓCITO T CD2, CD3, CD4, CD5, CD7,CD8, TCR alfa Beta, TCR gama delta

LLA L1, L2

LLA comum R1 R2

Leucemia Linfoblástica Aguda T LLA-T R1 R2 75,7%

LMA com maturação M2

LMA com maturação M2 R1 R2

SMD com evolução para LMA Diminuição de SSC= Hipogranulação Alteração de intensidade de CD13= Alterações maturativas. Blastos

Leucemia Linfocítica Crônica R1

Estudo de Doença Residual Mínima JCP LLA pré B, diag 14/09/2009 +: CD10, CD19, CD22, CD33, CD34, CD79a cito, IgM cito, HLA-DR. 11/11/2009 DRM=0,22%

Estudo de Doença Residual Mínima JCP 30/09/2010 DRM=0,09%

Obrigada!