UM EXAME TEÓRICO METODOLÓGICO DA UTILIZAÇÃO DO ESPORTE DE ORIENTAÇÃO COMO ATIVIDADE DIDÁTICA NO ENSINO DE CARTOGRAFIA NO CURSO DE GEOGRAFIA Guilherme de Oliveira Bueno Graduando em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia buenogeo@yahoo.com.br Lucas Carneiro Machado Graduando em Geografia, Universidade Federal de Uberlândia lucas_carneiromachado@yahoo.com.br Antonio Marcos Machado de Oliveira Professor Doutor, Universidade Federal de Uberlândia taba@ig.ufu.br INTRODUÇÃO O desenvolvimento de novos métodos de ensino e ferramentas que auxiliem o processo de ensino aprendizagem deve estar sempre na pauta das discussões e das pesquisas, a fim de proporcionar novas possibilidades e alternativas para a prática pedagógica docente. Nessa perspectiva, buscamos uma nova forma de contribuição para o ensino de Cartografia utilizando o esporte de orientação. A priori, o esporte apresenta vários procedimentos, conceitos e técnicas que são fundamentais para o conhecimento cartográfico e geográfico. Porém, em uma análise aprofundada dos componentes do esporte notamos que esta interface entre a cartografia e geografia só seria possível com um melhor estudo de suas técnicas, instrumentos e fundamentações teóricas. O enfoque deste trabalho se resume em fazer uma análise do mapa utilizado no esporte de orientação e da linguagem cartográfica presente nos mesmos. Os mapas, em uma consideração geral constituem um importante meio de pesquisa, registro, análise, interpretação, síntese, apresentação e comunicação de informações espaciais, sendo amplamente utilizado não apenas nos estudos em diferentes áreas do conhecimento, mas hoje também pelos meios de comunicação. É fundamental dominar essas linguagens para se 1
compreender o significado real das informações veiculadas pela mídia através de imagens tal como os mapas assim como os fatos e as notícias, situando-os no contexto mais amplo em que se inserem o mundo atual. Sendo assim, destacamos a importância de se proporcionar um trabalho que reflita sobre os elementos constituintes do mapa e sua influência no aprendizado. Entretanto, ao realizar uma corrida de orientação como atividade didática para o ensino de cartografia no curso de geografia, e durante o desenvolvimento de um projeto em que tivemos como proposta, fazer a escolha de um local para a prática do esporte de orientação e a produção de um mapa de orientação que sejam adequados à realização de uma atividade didática utilizando o esporte, tínhamos entre outros objetivos a proposta de se fazer uma análise do esporte de orientação e identificar o conteúdo cartográfico que envolve os mapas; estabelecer os fundamentos teórico-práticos do ensino e da aprendizagem do mapa e pelo mapa na Cartografia. A proposta de exame do mapa utilizado no esporte se justifica, pois os elementos que constituem os mapas de orientação são de grande relevância para se apresentar e esclarecer vários conceitos da cartografia, tanto a sistemática quanto a temática. Contudo, a utilização do esporte e especificamente do mapa de orientação como recurso didático necessita de uma abordagem que assegure uma eficiente aprendizagem. Outro aspecto é a construção do mapa, os seus elementos como escala, legenda, e outros, que devem seguir um rigor teórico, pois qualquer fuga dos procedimentos de elaboração dos itens do mapa comprometerá o entendimento da linguagem cartográfica. Portanto essa análise permite delinear a forma de utilização dos elementos do mapa e propor uma revisão teórico metodológica da aplicação do esporte de orientação enquanto atividade pedagógica. CARTOGRAFIA DO ESPORTE DE ORIENTAÇÃO O esporte de orientação envolve conhecimentos básicos de Cartografia como leitura e interpretação de mapas, orientação e localização, simbologia, escalas e projeção. Segundo Scherma e Ferreia (2008, p. 960), o esporte de orientação: [...] é constituído de regras, em que o praticante orienta-se ao longo de uma série de pontos de controle, usando uma bússola e um mapa, seguindo uma ordem para percorrer os pontos pela escolha de uma rota entre eles, sendo livre essa escolha. [...] O orientador deve ter em 2
conta sua condição física e sua habilidade para orientar-se e escolher a melhor rota com as informações contidas no mapa. Percebe-se então que a utilização do mapa e da bússola são instrumentos essenciais para realização da corrida de orientação. O manuseio desses instrumentos compreende conceitos e técnicas que são pautadas no conhecimento cartográfico. Sendo assim, ao praticar o esporte, seja na forma de corrida, caminhada, em áreas de campo, cidade, parques e outros, pode-se utilizá-lo como atividade para o ensino de cartografia. Os mapas utilizados no esporte de orientação como podem ser observados nas figuras 1, 2 e 3 possuem geralmente uma escala grande, identificada no mesmo, apresentam símbolos para identificar os objetos presentes no terreno, seguindo um padrão internacional de legenda e possuem também os pontos de controle, ponto de início e de chegada. Outros elementos como as linhas do norte magnético, para se obter uma melhor orientação através da bússola e as curvas de nível também fazem parte da composição do mapa de orientação. 3
Figura 1 - Mapa clínica para estudantes. Parque do Sabía, Uberlândia - MG. Fonte: Clube de Orientação do Triângulo Mineiro COTRIM, 2009. 4
Figura 2 - Mapa 1º Percurso Treino 2010. Parque dos Papagaios. Araguari - MG. Fonte: COTRIM, 2010. 5
Figura 3 - Mapa Percurso Escola. Cruzeiro dos Peixotos, Uberlândia - MG. Fonte: COTRIM, 2009. A confecção dos mapas de orientação segue uma linha de atributos básicos como: [...] a escala numérica com a medida original 1:7.500; legenda elaborada com os símbolos básicos segundo a convenção internacional estabelecida pela Federação Internacional de Orientação (IOF); a sinalética referente à tabela que contém a medida do percurso a partir das linhas que ligam os pontos, seqüência de controle que o participante deverá passar, os códigos equivalentes a cada ponto de controle, a natureza do elemento que estará a baliza, a localização e posicionamento da baliza, por ultimo os meridianos e a orientação que são respectivamente as linhas paralelas que sobrepõem o mapa e o norte magnético. (MACHADO, BUENO e OLIVEIRA, 2010). 6
Os componentes dos mapas de orientação confeccionados pelo Clube de Orientação do Triângulo Mineiro - COTRIM, em conformidade com o padrão estabelecido pela Federação Internacional de Orientação - IOF, são adequados para a prática do esporte, mas para a utilização em uma atividade pedagógica alguns elementos como símbolos, cores, legenda e escala, necessitam de uma adequação. Essa adaptação atende a expectativa de proporcionar uma linguagem simples e objetiva. PROPOSTAS DE ADAPTAÇÕES DO MAPA DE ORIENTAÇÃO PARA O ENSINO DE CARTOGRAFIA A proposta de desenvolver uma atividade didática que sirva de apoio ao ensino de Cartografia com base no esporte de orientação tem como fundamento os componentes teóricos e técnicos que envolvem o esporte de orientação. O objetivo desse trabalho, além de apresentar o esporte e suas possibilidades para o ensino de Cartografia, é fazer uma análise do mapa utilizado na corrida de orientação e da linguagem cartográfica presente no mesmo e com isso, identificar os elementos do mapa que são válidos para a prática pedagógica e propor adequações no mesmo através de técnicas da Cartografia Temática que possam contribuir para a melhor construção do mapa voltado para prática do ensino. Nessa perspectiva desenvolvemos em um outro momento, a construção de um mapa de orientação, ver figura 4, que atendesse à aprendizagem efetiva do conteúdo cartográfico. 7
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Figura 4 - Mapa Percurso da Fazenda do Glória, Uberlândia - MG. Fonte: Laboratório de Ensino de Geografia - LEGEO, Universidade Federal de Uberlândia - UFU. Para a elaboração deste mapa, adotamos como tema o uso e ocupação do solo, acrescentamos uma legenda mais simples e substituímos a escala numérica pela escala gráfica. Além disso, pensamos em cores que forneçam uma melhor visualização e que permitam uma melhor reprodução deste material. Com essas adequações a leitura do mapa se torna mais simples e objetiva, o que traz para o leitor do mapa uma melhor compreensão de seu conteúdo ao se deparar com a realidade representada. CONSIDERAÇÕES FINAIS Durante o trabalho podemos concluir que a prática da corrida de orientação e, por conseguinte a utilização do mapa em uma atividade didática para o ensino de Cartografia, onde possibilita a interação entre o aluno o mapa e o espaço vivido, a apreensão prática dos elementos mapa e bússola, e leitura e análise de preceitos teóricos básicos para a cartografia como legenda, lateralidade e outros. Porém, esses mesmos elementos como a escala e as cores podem receber um adequado tratamento cartográfico com a finalidade de proporcionar uma comunicação clara e direta potencializando o processo de ensino e aprendizagem. Sendo assim, a utilização do mapa como uma linguagem gráfica no processo de ensino e aprendizagem, não pode ficar restrita a uma análise de uma figura, o conhecimento embutido no mapa deve receber o tempo e a atenção de uma atividade prática, quando de sua real aplicação na representação da realidade. Em uma didática apropriada ao conhecimento geográfico o mapa deve ser produzido na perspectiva de se proporcionar uma aprendizagem eficiente. Esse esporte com sua peculiar base cartográfica é também uma ótima atividade lúdica, uma vez que o espaço de execução e seus requisitos são alternativos ao processo de ensino aplicado em sala de aula. A abordagem lúdica no ensino é de fundamental importância em todas as faixas etárias, ela auxilia não somente para o ensino, mas também para a formação pessoal. 9
[...] A educação lúdica integra uma teoria profunda e uma prática atuante. Seus objetivos, além de explicar as relações múltiplas do ser humano em seu contexto histórico, social, cultural, psicológico, enfatizam a libertação das relações pessoais passivas, técnicas para as relações reflexivas, criadoras, inteligentes, socializadoras, fazendo do ato de educar um compromisso consciente intencional, de esforço, sem perder o caráter de prazer, de satisfação individual e modificador da sociedade [...] (ALMEIDA, 1974, p. 31-32). No dizer de Machado, Bueno e Oliveira (2010), a sistematização da cartografia e seu progresso teórico metodológico, com mapeamentos que se aproximam da realidade, possibilitam um entendimento maior acerca da relação do homem com a natureza, aspecto essencial a ser considerado no ensino e aprendizagem da Cartografia. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ALMEIDA, P. N. Educação Lúdica Técnicas e jogos pedagógicos. 9 ed. São Paulo: Loyola, 1998. CLUBE DE ORIENTAÇÃO DO TRIÂNGULO MINEIRO. A Orientação. Disponível em: http://www.cotrim.org.br/ simbologia.asp#introducao. Acesso em: 27 junho, 2010. GD4CAMINHOS, Grupo Desportivo 4 Caminhos. O que é orientação / Tudo sobre orientação. Disponível em: www.gdacaminhos.com. Acesso em: 23 junho, 2010. MACHADO, L. C.; BUENO, G. O.; OLIVEIRA, A. M. M. O esporte de orientação aplicado ao ensino de cartografia no curso de Geografia: um exemplo prático. XXIV Congresso Brasileiro de Cartografia, Aracaju SE, mai. 2010. SHERMA, E. P.; FERREIRA, E. R. Desporto de Orientação: uma contribuição metodológica para o ensino de Geografia e da Cartografia. 1º Simpósio de Pós-Graduação em Geografia do Estado de São Paulo, Rio Claro - SP, nov. 2008. 10
TOMITA, L. M. S. Trabalho de campo como instrumento de ensino em Geografia. Geografia: Revista do Departamento de Geociências. Londrina, v. 8, n. 1, jan/jun,1999, p. 13-15. 11