Sustainable Viticulture: geotechnology for characterization of land use and identification of permanent preservation areas in the Serra Gaúcha, Brazil



Documentos relacionados
AVALIAÇÃO DA SITUAÇÃO TOPOGRÁFICA DOS VINHEDOS NO VALE DOS VINHEDOS, RIO GRANDE DO SUL, BRASIL

O uso do GVSIG como apoio aos estudos de indicações geográficas para vinhos finos Farroupilha e Altos Montes, Serra Gaúcha, RS, Brasil.

II CONGRESSO BRASILEIRO DE ROCHAGEM 12 A 17 DE MAIO DE 2013 POÇOS DE CALDAS/MINAS GERAIS

CAPÍTULO 2 GEORREFERENCIAMENTO DA REGIÃO DE REFERÊNCIA DA INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA PINTO BANDEIRA: CARTAS IMAGEM

VII Reunião de Atualização em Eucalitptocultura

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO ESCOLA SUPERIOR DE AGRICULTURA LUIZ DE QUEIROZ DEPARTAMENTO DE CIÊNCIAS FLORESTAIS LCF-1581

Análise dos Indicadores de Sustentabilidade na Cidade de Serafina Corrêa - RS

UTILIZAÇÃO DE TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO COMO FERRAMENTA PARA DELIMITAÇÃO DE ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO MUNICÌPIO DE BRASÓPOLIS MG.

Rafael Munari Torri 1 Guilherme da Costa Menezes 1 Rosemary Hoff 1

AFINAL, O QUE É O TERROIR?

Diagnóstico da Área de Preservação Permanente (APP) do Açude Grande no Município de Cajazeiras PB.

Município de Colíder MT

Caracterização das Unidades de Manejo Florestal Lote-1 da Floresta Estadual do Amapá

Indicação Geográfica (IG) para Vinhos no Brasil

ELABORAÇÃO DE PLANO DE DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL DO MEIO RURAL DO MUNICÍPIO DE JAÚ -SP

Avaliação da ocupação e uso do solo na Região Metropolitana de Goiânia GO.

ARRANJO PRODUTIVO LOCAL VALE DOS VINHEDOS

Lei /2012. Prof. Dr. Rafaelo Balbinot Departamento. de Eng. Florestal UFSM Frederico Westphalen

Glossário das Camadas do SISTEMA CADEF

MODELAGEM DA PRODUÇÃO DE SEDIMENTOS USANDO CENÁRIO AMBIENTAL ALTERNATIVO NA REGIÃO NO NOROESTE DO RIO DE JANEIRO - BRAZIL

Para realizar a avaliação do impacto da aplicação da legislação ambiental nos municípios foram realizadas as seguintes atividades:

DISTRIBUIÇÃO DO USO E COBERTURA DA TERRA POR DOMÍNIOS GEOMORFOLÓGICOS NA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO SÃO JOÃO - RIO DE JANEIRO

Panorama vitivinícola do Brasil. Eng. Agr. Mauro Zanus Chefe-Geral Embrapa Uva e Vinho

10 FÓRUM DE EXTENSÃO E CULTURA DA UEM COMPARAÇÃO DE FUSÃO ENTRE AS IMAGENS DO SATÉLITE RAPID EYE, CBERS E SPOT.

DELIMITAÇÃO DAS ÁREAS DE PROTEÇÃO PERMANENTE DA BACIA HIDROGRÁFICA DO JI-PARANÁ

Diagnóstico Ambiental do Município de Alta Floresta - MT

TERMO DE REFERÊNCIA PLANO DE TRABALHO 123: GEOPROCESSAMENTO E CADASTRAMENTO DE PROPRIEDADES DO OESTE BAIANO

MATERIAL DE APOIO PROFESSOR

ANÁLISE DO USO DO SOLO EM ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO ALTO CURSO DA BACIA DO RIO COTEGIPE, FRANCISCO BELTRÃO - PR

METODOLOGIA PARA O GEORREFERENCIAMENTO DE ILHAS COSTEIRAS COMO SUBSÍDIO AO MONITORAMENTO AMBIENTAL

Claudia Ana Reczko 1 Rafael Munari Torri 2 Rosemary Hoff 3

Painel 3 - Sustentabilidade: o produtor rural como gestor do território

Produtos de qualidade, Patrimônio cultural e Desenvolvimento Territorial: O Caminhos de Pedra e o Vale dos Vinhedos

LEVANTAMENTO E MONITORAMENTO DOS RECURSOS FLORESTAIS DOS TABULEIROS COSTEIROS DO NORDESTE DO BRASIL*

15- Representação Cartográfica - Estudos Temáticos a partir de imagens de Sensoriamento Remoto

PREFEITURA DO MUNICÍPIO DE SÃO BERNARDO DO CAMPO Secretaria de Habitação e Meio Ambiente Diretoria de Licenciamento e Avaliação Ambiental

NOVO CÓDIGO FLORESTAL: IMPLICAÇÕES E MUDANÇAS PARA A REALIDADE DO PRODUTOR DE LEITE BRASILEIRO

DESIGUALDADE AMBIENTAL DO MUNICÍPIO DE SALINAS MG

GEOPROCESSAMENTO COMO INSTRUMENTO DE ANÁLISE NOS IMPACTOS AMBIENTAIS: MINERADORA CAMPO GRANDE TERENOS/MS.

Relações mais harmoniosas de convívio com a natureza; O mundo como um modelo real que necessita de abstrações para sua descrição; Reconhecimento de

Módulo fiscal em Hectares

DELIMITAÇÃO DAS ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE EM TOPO DE MORRO. ESTUDO DE CASO: SUB-BACIA DO RIO CANOAS, MONTES CLAROS - MG

Saiba mais sobre o Novo Código Florestal Brasileiro e o CAR COLADO NA CAPA

AVALIAÇÃO DO USO DA TERRA NO PROJETO DE ASSENTAMENTO CHE GUEVARA, MIMOSO DO SUL, ESPÍRITO SANTO

Definiu-se como área de estudo a sub-bacia do Ribeirão Fortaleza na área urbana de Blumenau e um trecho urbano do rio Itajaí-açú (Figura 01).

Izabel Cecarelli. GEOAMBIENTE Sensoriamento Remoto

Anais do Simpósio Regional de Geoprocessamento e Sensoriamento Remoto - GEONORDESTE 2014 Aracaju, Brasil, novembro 2014

Grupo: Irmandade Bruna Hinojosa de Sousa Marina Schiave Rodrigues Raquel Bressanini Thaís Foffano Rocha

GERAÇÃO DE MAPAS DIGITAIS E MODELOS TRIDIMENSIONAIS DE SUPERFÍCIES. Manoel Silva Neto Engenheiro Cartógrafo

10º LEVANTAMENTO DE SAFRAS DA CONAB /2013 Julho/2013

Sensoriamento remoto e SIG

ENCONTRO E PROSA PARA MELHORIA DE PASTAGENS: SISTEMAS SILVIPASTORIS

PREFEITURA MUNICIPAL DE TAPEJARA SECRETARIA DE AGRICULATURA E MEIO AMBIENTE

Análise da qualidade de imagens Landsat-1-MSS entre os anos de 1972 e 1975 para o bioma Cerrado

Compartimentação geomorfológica da folha SF-23-V-A

8º. Curso de Atualização em Eucaliptocultura. Adequação Legal da Propriedade Rural

DETERMINAÇÃO DAS ÁREAS DE CONFLITO DO USO DO SOLO NA MICROBACIA DO RIBEIRÃO ÁGUA-FRIA, BOFETE (SP), ATRAVÉS DE TÉCNICAS DE GEOPROCESSAMENTO

Estudo da Delimitação por MDE de Ottobacias de Cursos de Água da Sub-Bacia 63 Visando o Cálculo de Perímetro e Área de Drenagem

DESMATAMENTO DA MATA CILIAR DO RIO SANTO ESTEVÃO EM WANDERLÂNDIA-TO

Rosemary Hoff 1 Jorge Ricardo Ducati 2 André Luis Silva Coutinho 1 Jorge Tonietto 1

Sistema de Informação Geográfica Aplicado na Agricultura

Prof. Charles Alessandro Mendes de Castro

ÁREAS DE PRESERVAÇÃO PERMANENTE NO ENTORNO DO PARQUE NACIONAL DO CAPARAÓ, NO ESTADO DO ESPÍRITO SANTO

Cálculo da área de drenagem e perímetro de sub-bacias do rio Araguaia delimitadas por MDE utilizando imagens ASTER

CONFLITO DE COBERTURA DE TERRAS EM REGIÃO DE FLORESTA ESTACIONAL DECIDUAL, EM RELAÇÃO À APLICAÇÃO DO CÓDIGO FLORESTAL EM VIGOR 1

ambientes de topografia mais irregular são mais vulneráveis a qualquer tipo de interferência. Nestes, de acordo com Bastos e Freitas (2002), a

Caracterização de subambientes costeiros com base na análise de superfície de tendência: exemplo do delta do rio Doce

Novo Código Florestal, Adequação Ambiental e CAR

ecoturismo ou turismo. As faixas de APP que o proprietário será obrigado a recompor serão definidas de acordo com o tamanho da propriedade.

MAPEAMENTO FLORESTAL

LUIZ CARLOS TOMEDI JUNIOR A DESCRIÇÃO DA CARACTERIZAÇÃO GEOGRÁFICA DA REGIÃO DA INDICAÇÃO DE PROCEDÊNCIA DE PINTO BANDEIRA, BENTO GONÇALVES RS.

MATRIZ CURRICULAR DO CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO AMBIENTAL. Válida para os acadêmicos ingressantes a partir de 2010/1

RELATÓRIO FINAL DO PROJETO

GESTÃO AMBIENTAL. Zoneamento Ambiental. Espaços Territoriais especialmente protegidos ... Camila Regina Eberle

USO DA TERRA NO BRASIL 851 milhões de hectares

Geral : Geração de Modelo Digital de Terreno (MDT) da bacia do ribeirão Taquarussu no município de Palmas /TO.

6 - Áreas de Influência Delimitação das Áreas de Influência Área de Influência Direta (AID)... 2

CARACTERIZAÇÃO DO USO E OCUPAÇÃO DA TERRA E ANÁLISE DOS REMANESCENTES FLORESTAIS DA BACIA HIDROGRÁFICA DO RIO NIOAQUE UTILIZANDO GEOTECNOLOGIAS

Monitoramento do Bioma Cerrado

Sumário. 1 Características da propriedade Cobertura vegetal Hidrografia Topografia Área de reserva florestal legal 3

PÓL Ó O L O DE E UVA V DE E ME M S E A E E VI V N I HO NO O ES E T S A T DO DO ES E P S ÍR Í IT I O O SAN A TO T

IMPACTOS AMBIENTAIS EM ÁREA DE RIO SÃO FRANCISCO, PETROLINA PE.

Notas Técnicas A região do Vale do Submédio São Francisco está se desenvolvendo intensamente nos últimos anos. A viticultura, ou seja, a produção de

Geração de modelo digital de elevação e obtenção automática da hidrografia da bacia do rio Grande

Guilherme da Costa Menezes 1 Luiz Carlos Tomedi Junior 1 Rosemary Hoff 1 Ivanira Falcade 2 Jorge Tonietto 1

SENADO FEDERAL PROJETO DE LEI DO SENADO Nº 368, DE 2012

CAPÍTULO III CARACTERIZAÇÃO DA VITICULTURA POR MEIO DA GEOMORFOLOGIA NA REGIÃO DE REFERÊNCIA DA IG MONTE BELO

FICHA PROJETO - nº383-mapp

2. METODOLOGIA DE TRABALHO

O CENSO 2010: BREVE APRESENTAÇÃO E RELEVÂNCIA PARA A GEOGRAFIA

Extensão do Sistema de Metadados para Recursos Naturais

Uso da terra na Área de Preservação Permanente do rio Paraíba do Sul no trecho entre Pinheiral e Barra do Piraí, RJ

Opções de utilização de produtos cartográficos e gerenciamento de bases de dados espaciais na Gestão Municipal, Prefeitura de Joinville/SC.

ORÉADES NÚCLEO DE GEOPROCESSAMENTO RELATÓRIO DE ATIVIDADES

XIII Encontro de Iniciação Científica IX Mostra de Pós-graduação 06 a 11 de outubro de 2008 BIODIVERSIDADE TECNOLOGIA DESENVOLVIMENTO

Projeto de adequação socioeconômica e ambiental das. rurais. Minas Gerais. Aqui, o trabalho por um mundo mais sustentável já começou.

Transcrição:

Sustainable Viticulture: geotechnology for characterization of land use and identification of permanent preservation areas in the Serra Gaúcha, Brazil Vitivinicultura sustentável: geotecnologias para caracterização de uso da terra e identificação de áreas de preservação permanente na região da Serra Gaúcha, Brasil Rosemary Hoff 1 André Rodrigo farias 1 Eliege Cassiele Buffon 2 Rafael Munari Torri 3 1 Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária, Embrapa Uva e Vinho. Rua Livramento, 515-95700-000 - Bento Gonçalves RS Brasil. E-mail: rosehoff@cnpuv.embrapa.br, afarias@cnpuv.embrapa.br 2 Universidade Federal de Santa Maria. Centro de Ciências Naturais e Exatas. Faixa de Camobi, Prédio 13 - Campus UFSM. CEP.: 97105-900 - Santa Maria RS Brasil. E-mail: elibuffon@gmail.com 3 Adega Torri - Sucos Naturais. Estrada municipal de Val Feltrina, s/n. CEP.: 97195-000 - Silveira Martins RS Brasil. E-mail: rafaeltorri@gmail.com Abstract. The Serra Gaúcha wine region is important for production of grapes and wines in Brazil and it is looking for recognition by geographical indications (GI) for wines. Environmental preservation is an important requirement to set a GI. In the research project developed by Brazilian Agricultural Research Corporation, one objective was to identify permanent preservation areas (PPA) in accordance with the Brazilian Forest Code and Environmental Laws. The geotechnologies were applied to identify the vineyards into PPA from high resolution aerial photographs to generate digital elevation model (DEM) and land use survey. The vineyards areas were obtained from the register of vineyards. From the intersection of vineyards and PPA, were identified the percentage of vineyards belonging to the GI located in the PPA. This work was identifying vineyards located in PPA areas within the Vale dos Vinhedos, Monte Belo and Pinto Bandeira GI. The studies were developed in the GIS laboratory of Embrapa Grape and Wine. First, were prepared the slope and distances maps and was elaborated the map of PPA, areas with slopes exceeding 47% and drainage, as well as the map of vineyards obtained by vectorization upon the aerial image. The map of conflict areas was generated by crossing the PPA and vineyards maps, showing vineyards deployed in conservation areas. The conflict area was characterized mostly by few vineyards deployed across drainage and the three GI areas showed a good preservation for the cultivation of the vine and the conflict areas must be converted in reclamation areas. Key words: GIS, vineyards, geographical indications, remote sensing, environment Palavras chave: SIG, vinhedos, indicações geográficas, sensoriamento remoto, meio ambiente.

1. Introdução A crescente preocupação com a questão ambiental pressiona cada vez mais a agricultura no sentido de preservar o ambiente e manter a sustentabilidade. No entanto, os problemas ambientais vêm atingindo dimensões expressivas em todas as escalas de análise, comprometendo a estabilidade dos ecossistemas. As buscas de novos meios de produção que respeitem o meio ambiente necessitam primeiramente do levantamento de dados suficientes para a tomada de decisão. Segundo Rocha et al. (2009) os reflexos sentidos no meio socioeconômico direcionam a tomada de consciência desses problemas pelas pessoas, o que torna necessária a condução, por parte da comunidade científica, de trabalhos que busquem soluções para os impactos ambientais provocados pela sociedade. Num estudo realizado por Nascimento et al. (2005) na bacia hidrográfica do Rio Alegre no Espírito Santo (Brasil), 78 % da área foram afetados por uso da cafeicultura, restando pouco do sistema fitosionômico natural, restando poucos fragmentos florestais nativos. No trabalho realizado por Pedron et al. (2006), foram identificados conflitos de uso em 13,4 % da área em estudo. Esse problema é resultado da expansão de áreas com aptidão agrícola para lavouras e pastagens plantadas e naturais sobre áreas de preservação permanente - APP. Segundo Falcade e Mandelli (1999) a evolução da vitivinicultura no Estado do Rio Grande do Sul, principalmente na região da Serra Gaúcha, está diretamente ligada à identidade do imigrante italiano. Os descendentes de imigrantes italianos, instalados desde o século XIX nos municípios da Região Vitivinícola Serra Gaúcha, adquiriram uma colônia de terras por família (aproximadamente 25 hectares), o que gerou uma intensa exploração agrícola dessas áreas como única alternativa de renda dessas famílias. Ao longo dos anos, as práticas agrícolas desconsideraram as áreas de preservação ambiental na propriedade no momento de implantar um vinhedo, sendo bastante comum obras de drenagem para eliminar os cursos de água e nascentes. No entanto, a Região Vitivinícola Serra Gaúcha, maior produtora de uvas e vinhos do Brasil, busca reconhecimento de seus vinhos por meio de indicações geográficas (IG) com intuito de valorizar os produtos no mercado interno e externo. Desde a década de 90 do século XX, as associações de vitivinicultores buscam caracterizar o território de produção de vinhos finos no Rio Grande do Sul por meio do estabelecimento de IG, entendendo que a variável ambiental valoriza a região produtora (Tonietto 2002). Atualmente, os estudos para caracterização de IG são feitos por meio de parceria entre a Embrapa Uva e Vinho, instituições de pesquisa e as Associações de Produtores. Destacam-se neste estudo as IG Vale dos Vinhedos (Falcade e Mandelli 1999), Monte Belo (Tonietto et al. 2008), e Pinto Bandeira (Flores et al. 2005), mostradas na Figura 1. Estas IG levam em consideração, entre outros aspectos, a questão ambiental incluindo as áreas de preservação permanente (APP), as quais foram identificadas mais precisa e rapidamente por meio de técnicas de sensoriamento remoto e geoprocessamento, baseando-se em critérios do Código Florestal Brasileiro Lei nº 4771, de 15 de setembro de 1965 (Brasil 1965).

Figura 1. Localização das Indicações geográficas Vale dos Vinhedos, Monte Belo e Pinto Bandeira, Brasil (http://mapas.geographicguide.net/mapa-sul.htm e Falcade 2011). 2. Material e método Os estudos foram desenvolvidos no laboratório de sensoriamento remoto e geoprocessamento da Embrapa Uva e Vinho, sendo utilizados os softwares livres de geoprocessamento SPRING (Câmara et al. 1996) e gvsig (GVA, 2011). A base cartográfica deste estudo foi gerada por meio de vôos aerofotogramétricos de alta resolução (60 cm), realizados em 2005 e 2006, os quais resultaram em produtos na escala de detalhe (1: 5000). A partir destes dados, foi gerado um modelo digital de elevação (MDE) que serviu de base para produtos derivados como declividades nas IG. Mediante a manipulação do MDE conjuntamente com a interpretação do mosaico aerofotogramétrico, produziram-se mapas de uso da terra e de áreas de preservação permanente nas citadas IG. O mapa de vinhedos foi gerado pela digitalização das parcelas sobre o mosaico ortorretificado de imagem aérea no e as distâncias de drenagens foram geradas pelo processamento do modelo digital de elevação (MDE) com resolução de dois metros. Foram consideradas APP as áreas situadas ao longo da rede de drenagem e as nascentes, a faixa considerada mínima de 30 metros ao longo da rede de drenagem com largura inferior a 10 metros, a faixa de 100 metros a margem da rede de drenagem para cursos d água de 50 a 200 metros de largura e o raio de 50 metros para as nascentes, também conhecidos como olhos d água. Com o auxílio da ferramenta buffer, foram geradas as APP, a partir da rede de drenagem, sendo adotados os valores estabelecidos pelo Código Florestal Brasileiro. A partir do cruzamento do mapa de distâncias da rede de drenagem e nascentes com o mapa de vinhedos, foi realizado o cruzamento das informações em SIG, o que mostrou as áreas de conflito entre vinhedos e APP dentro das IG Vale dos Vinhedos, Monte belo e Pinto Bandeira na região Vitivinícola Serra Gaúcha. 3. Resultados e discussão Os estudos nas IG Vale dos Vinhedos, Monte Belo e Pinto Bandeira mostraram os seguintes resultados. A IG Vale dos Vinhedos possui uma área total de 8121,65 hectares. A altimetria da área varia desde 204 metros até 732 metros, com média de 547 metros. A topografia caracteriza-se por topos achatados contendo colinas suaves e encostas íngremes dos vales, possuindo áreas de declividade acima de 47 %, como mostra a Tabela 1.

Tabela 1. Classes de declividade da IG Vale dos Vinhedos. Declividade Área em hectares Área em porcentagem 0 a 8% 1.125,85 13,86 8 a 20% 3.028,67 37,29 20 a 47% 3.127,59 38,50 47 a 100% 779,29 9,59 Maior que 100% 60,25 0,74 Total 8.121,65 100 Toda área com a declividade acima de 47 % foi considerada de preservação permanente, pois a derrubada da mata não é permitida, impedindo assim a implantação de vinhedos. Estas áreas compõem 839,54 hectares da IG Vale dos Vinhedos. As áreas compreendidas por preservação de nascentes e cursos de água somam 762,24 hectares. Em alguns locais, a preservação é determinada tanto pela declividade quanto pela drenagem, estes casos foram incluídos numa mesma classe para o somatório, como mostra a Tabela 2. Tabela 2. Classes de APP da IG Vale dos Vinhedos. APP Área em hectares Área em porcentagem drenagem 762,24 9,39 declividade 839,54 10,34 Total de APP 1.499,45 18,46 Do total da área da IG vale dos Vinhedos, um montante de 1.499,45 hectares são áreas de preservação permanente (Figura 2). -29º 08 22 S -51º 38 10 W Figura 2. Mapa de áreas de preservação permanente da IG Vale dos Vinhedos. Com base na digitalização de vinhedos, foi possível identificar 1.932,86 hectares com vinhedos representando 23,8 % da área total da IG (Figura 3). Segundo IBGE (2008) o estado do Rio Grande do Sul possuí área total de 47.206 hectares de vinhedos implantados, ou seja, a Indicação de Procedência Vale dos Vinhedos possui 4,09 % do total de uvas produzidas no estado.

-29º 08 22 S -51º 38 10 W Figura 3. Mapa de vinhedos da IG Vale dos Vinhedos. Após efetuar o cruzamento do mapa de áreas de preservação permanente com o mapa de vinhedos, identificaram-se 140,85 hectares de vinhedos implantados em áreas de preservação permanente, representando 7,29 % dos vinhedos da IG e 1,73 % da área total. Quanto ao total das áreas de preservação permanente, 9,39 % destas estão sobre vinhedos (Figura 4), representando áreas de conflito de uso. -29º 08 22 S -51º 38 10 W Figura 4. Mapa de conflito de uso da IG Vale dos Vinhedos. A área de conflito de uso da IG Vale dos Vinhedos se caracteriza na maior parte por vinhedos implantados em APP de redes de drenagem. Isso ocorre principalmente pela facilidade de tornar cultivável uma área com pequenos cursos de água ou em torno dos mesmos, o que já não ocorre em áreas de grande declividade onde a mecanização é dificultada. A ocupação das APP por vinhedos pode ser considerada baixa no Vale dos Vinhedos (9,39 %) se comparado com estudos realizados com outras culturas. Pode-se concluir que a IG Vale dos Vinhedos possui uma boa preservação de suas APP no que se refere ao cultivo da videira.

Além disto, estes estudos contribuíram para a evolução da delimitação da IP Vale dos Vinhedos para DO Vale dos Vinhedos, recentemente aprovada no Instituto Nacional da Propriedade Industrial INPI (2012). No município de Monte Belo do Sul, que possui área de 6858 hectares (IBGE 2007), ocorrem 1825 hectares ocupados por vinhedos. Na Figura 5 é possível observar, além da rede de drenagem, as APP, os vinhedos e as áreas em conflito. As APP referentes à rede de drenagem e nascentes do município de Monte Belo do Sul foram identificadas por meio das técnicas semelhantes àquelas aplicadas na IG Vale dos Vinhedos, representando 39 % da sua área total e os vinhedos que farão parte da futura IG correspondem a 27 % da área total do município. -29º 05 16 S -51º 42 13 W Figura 5. Mapa das áreas de conflito de vinhedos em APP no município de Monte Belo do Sul, Brasil Assim, a área de conflito de vinhedos localizados em APP em relação à área total dos vinhedos corresponde a 31 % e em relação à área total do município de Monte Belo do Sul corresponde a 8 %, como observado na Tabela 3. Tabela 3. Síntese das Informações de APP no Município de Monte Belo do Sul Classes de APP em Monte Belo do Sul Área (ha) Porcentagem (%) APP (rede de drenagem e nascentes) 2687 39 Área de Vinhedos (da futura IG) 1825 27 Área de Conflito 566 8 Área Total 6858 100 As áreas de conflito que deveriam ser destinadas as APP e apresentam uso agrícola, refletem a intensa exploração pela viticultura, seja devido à sobrevivência das famílias ou pelo desconhecimento por parte dos produtores do Código Florestal Brasileiro, o que favorece o aumento destas áreas que deveriam estar preservadas. Na IG Pinto Bandeira, a digitalização de vinhedos e as drenagens foram geradas a partir de aerolevantamento realizado em 2006, sendo empregadas as mesmas técnicas dos casos anteriores. Na Figura 6, são observadas em detalhe as áreas de conflito nas APP com uso para viticultura, notando-se que, apesar da supressão em área a ser plantada com videiras, o manejo do vinhedo mantendo a APP poderá valorizar o mesmo.

-29º 07 12 S -51º 27 02 W Figura 6. Mapa das áreas de conflito de vinhedos em APP na IG Pinto Bandeira, RS, Brasil 4. Conclusões e recomendações Os dados obtidos - APP e áreas de conflito com viticultura são o resultado da utilização de dados de alta resolução espacial, mostrando um elevado grau de detalhamento, o que gerou informações bastante precisas. Isto foi bastante útil na região da Serra Gaúcha que possui relevo ondulado que favorece o aumento da área em conflito quando sob pressão do uso agrícola, como no caso dos vinhedos. O mapeamento das APP, no entanto, vem a favorecer áreas a serem recuperadas e preservar outras, agregando valor ao produto regional, ou seja, o vinho fino. Com base neste estudo será possível planejar a implantação de novos vinhedos e melhorar os vinhedos existentes frente às APP, conforme as diretrizes da legislação ambiental. Além disto, o mapeamento realizado numa resolução de 2 metros tornou os dados aptos para trabalhos de agricultura de precisão no âmbito do vinhedo. Tais produtos possibilitaram uma interpretação da atual condição de desenvolvimento da vitivinicultura e de suas potencialidades, bem como seus conflitos de usos, servindo de suporte a ações futuras de planejamento, seja este em nível público ou privado nas áreas de indicações geográficas. Agradecimentos Os autores agradecem ao Dr. Jorge Tonietto da Embrapa Uva e Vinho, à Prof. Ivanira Falcade da Universidade de Caxias do Sul, à Financiadora de Estudos e Projetos Finep, ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico CNPq e á Fundação de Amparo à pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul - FAPERGS. Referências bibliográficas BRASIL. Lei Federal n lei n 4.771/65. Código Florestal Brasileiro. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l4771.htm

Câmara, G.; Souza, R. C. M.; Freitas, U. M.; Garrido, J. C. P. SPRING: Integrating Remote Sensing and GIS with Object-Oriented Data Modelling. Computers and Graphics, v.15, n.6, p.13-22, July 1996. Link: http://linkinghub.elsevier.com/retrieve/pii/0097849396000088 Falcade, I. & Mandelli, F Vale dos Vinhedos: Caracterização geográfica da região. Caxias do Sul: EDUCS, 1999, 144p. Falcade, Ivanira. A paisagem como representação espacial: a paisagem vitícola como símbolo das indicações de procedência de vinhos das regiões Vale dos Vinhedos, Pinto Bandeira e Monte Belo (Brasil). Tese de doutoramento. IGEO/UFRGS, 2011. Porto Alegre, 309 pp. http://hdl.handle.net/10183/36052 Flores, Carlos Alberto; Mandelli, Francisco; Falcade, Ivanira; Tonietto, J.; Salton, Marco Antônio ; Zanus, Mauro Celso. Vinhos de Pinto Bandeira: características da identidade regional para uma indicação geográfica. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2005 (Circular Técnica 55). GVA - Generalitad Valenciana. 2012. gvsig Sistema de Información Geográfica. Conselleria d'infraestructuras y Transportes (CIT), Valencia. Disponível: http://www.gvsig.gva.es/ IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (2007). Disponível em: < http: www.ibge.gov.br>. INPI - Instituto Nacional da Propriedade Industrial. 2012. http://www.inpi.gov.br/ Nascimento, M. C. et al. Delimitação automática de áreas de preservação permanente (APP) e identificação de conflito de uso da terra na bacia hidrográfica do rio alegre. Anais. XII Simpósio Brasileiro de Sensoriamento Remoto, Goiânia, Brasil, 16-21 abril 2005, INPE, p. 2289-2296. Pedron, F.A. et al. A aptidão de uso da terra como base para o planejamento da utilização dos recursos naturais no município de São João do Polêsine RS. Ciência Rural. vol.36 no.1 Santa Maria Jan./Feb. 2006. Disponível em: <<http://www.scielo.br/scielo.php?pid=s0103-84782006000100016&script=sci_arttext>>. Tonietto, J. Indicação geográfica Vale dos Vinhedos: sinal de qualidade inovador na produção de vinhos brasileiros. Anais. V Simpósio Latino-Americano Sobre Investigação e Extensão em Pesquisa Agropecuária / V Encontro da Sociedade Brasileira de Sistemas de Produção, Florianópolis: IESA/SBSP, 2002. p.1-16. (CDROM). Tonietto, J.; Guerra, C. C. ; Mandelli, Francisco; Silva, G. A. ; Mello, L. M. R. ; Zanus, Mauro Celso ; Hoff, R. ; Flores, Carlos Alberto ; Faldade, I. ; Hasenack, Heinrich ; Weber, Eliseu ; Calza, A. A. ; Fae, R.. Monte Belo: características da identidade regional para uma indicação geográfica de vinhos. Bento Gonçalves: Embrapa Uva e Vinho, 2008 (Circular Técnica 76).