Projeto de Monografia

Documentos relacionados
Conteúdo 1 - História da Escrita. professor Rafael Hoffmann

Observação Tipográfica: Centro Histórico de Porto Alegre

Linguagem Oral e Escrita

Tipografia. noções básicas. Linguagem gráfica, dsg Prof. Ricardo Artur Carvalho

Surgimento da Escrita

Tópicos de Ambiente Web Web Design Tipografia

Estilos de escrita pré-tipografia monumentais, gregas e romanas (600 a.c. 400 d.c.*)

Desenvolvimento de Tipografia para textos: Uma nova proposta para formas antigas

LETRAS POREXPAN > PACK INICIAIS PARA CASAMENTOS

Importância da Tipografia no projeto

Tipografia. Tipografia x tipologia. Por que TIPO...? Tipo - vem do grego, Typos, significa molde, sinal.

LETRAS POREXPAN > TEXTOS PERSONALIZADOS

Centro Universitário Senac Bacharelado em Design. Programa de Disciplina. Tipografia. Profa. Dra. Anna Paula Silva Gouveia

Docente responsável: Profa. Dra. Priscila Lena Farias Estagiário PAE: Fábio Mariano Cruz Pereira

Caligrafia Técnica. NBR 8402 (Mar/ 1994) Professor Luiz Amilton Pepplow, M.Engª paginapessoal.utfpr.edu.br/luizpepplow

Material protegido pelas leis de direito autoral Proibida qualquer tipo de divulgação sem à devida autorização ou citada a fonte de forma correta.

o signo monetário universal: uma análise do cifrão na história da moeda de papel no brasil fichas de análise

Aspectos terminológicos da tipografia

Conteúdo 7 - Escolha e Combinação de Tipos

18/09/2016 TIPOGRAFIA. Professora: Teresa Poças

Letra. Pictograma. Ideograma. Fonograma A.C. no Oriente Próximo os fenícios não fundiram consoantes em sílabas (ba, di, gu, etc.).

HISTÓRIA E CONCEITUAÇÃO DA TIPOGRAFIA

1. Linguagem escrita - Apresentação

5 th Brazilian Conference of In form ation Design

Parâmetros para o desenvolvimento de variações tipográficas em famílias sem serifa

MANUAL DE IDENTIDADE CORPORATIVA

Tipografia tátil Tactile typography

História e Filosofia da Matemática e da Educação Matemática. Lívia Lopes Azevedo

Design Gráfico Tecnologia Gráfica

Desenho Técnico. Prof. José Henrique Silva. Engenharia

22/04/2015. Publicidade Gráfica. Tipografia. Você sabe qual a importância da Tipografia no mundo em que vivemos?

SISTEMAS DE NUMERAÇÃO

DESENHO TÉCNICO MECÂNICO I (SEM 0564) Aula 01 Introdução. Prof. Associado Mário Luiz Tronco. Prof. Associado Mário Luiz Tronco

Tipografia PROF. PAULO CÉSAR CASTRO

O que veremos hoje: Definição: Tipografia e Tipologia Funções Partes do tipo Variações estruturais Categorias Como combinar os tipos

alcuni blog e siti di tipografia algum blog e dominios da tipográfia

TIPOGRAFIA saudade Tiago Porto novembro, 2007

Este material não deve ser considerado como única fonte de pesquisa. Use em conjunto com as observações anotadas em classe.

GAULTIER TYPE: A ESTÉTICA DE UM ESTILISTA COMO DESENHO TIPOGRÁFICO Gaultier Type: the aesthetics of a stylist as typography design

Manual de Identidade Visual

MANUAL DE IDENTIDADE VISUAL

DESENHO TÉCNICO MECÂNICO I (SEM 0564)

SOCIEDADE EDUCACIONAL DO AMANHÃ

Manual Resumido Identidade Corporativa Projeto Piatam

professor Rafael Hoffmann

Escolar, uma fonte contemporânea para aprender a ler e escrever em Portugal. Apresentação da fonte digital OpenType «Escolar Portugal».

Plano de Trabalho Docente

ARBITRARIEDADE E CONVENCIONALIDADE DO SIGNO GRÁFICO Maria Lucia Mexias-Simon (USS)

Sinalização Desenvolvimento

Visualidade nas provas de vestibular: tipografia e princípios básicos de design

Manual de Identidade Visual Golin. Módulo Anexo II Informações Essenciais

MAT A Matemática na Educação Básica

Aula 04 Tipografia. Tipografia

Apresentação da ANABB

Características da Linguagem Verbal

Manual de Identidade Visual. versão reduzida

Plano de Trabalho Docente

Manual de. Universidade Federal do Recôncavo da Bahia. Identidade Visual

Transformação de sinais em linguagem

Conteúdo 8 - Tipografia como forma de expressão

Semana 01 e 02 BREVE HISTÓRIA DA EDITORAÇÃO E PRINCÍPIOS BÁSICOS DE DIAGRAMAÇÃO DE MATERIAIS

Manual de Identidade Visual. Versão 1.0 / Abr. 2012

município de Albergaria-a-Velha. manual de normas

Manual de Identidade Visual Golin MIV55

Para muitos autores como Richard Hollis (2000), quando ocorre a transição

TIPOGRAFIA GARIBALDI: desenvolvimento de uma fonte tipográfica neo-humanista com base na caligrafia

T I P O M E T R I A. Fournier estabeleceu que: Mais um pouco de história... Mais um pouco de história... o ponto tipográfico valeria = 0,35 mm

2.UNIDADES E SERVIÇOS DA UNIVERSIDADE DE LISBOA

Manual de identidade visual

CIDI 5TH InfoDesign 6TH CONGIC 6 th Inform ation Design International Conference. 5 th Brazilian Conference of In formation Design

Conteúdo 4 - Anatomia, classificação e famílias

PLANIFICAÇÃO A MÉDIO/LONGO PRAZO

E C O S S I S T E M A D E I N O VA Ç Ã O. Manual de Identidade Corporativa

R Capim Brazil. Capim Brazil manual de identidade visual

EXEMPLOS DE APLICAÇÕES

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso null - null. Ênfase. Disciplina A - Tipografia III. Docente(s) Fernanda Henriques

Conceber Pictogramas

DESIGN EDITORIAL. Aula #03 - Planejamento visual. Prof.: esp. Diego Piovesan Medeiros

Construir a Realidade

Manual de Identidade Visual Simplificado. Manual de identidade visual do CEFET-MG Apresentação

Tecnologia tipográfica e escrita manual: o Unicode, o Opentype e as inovações na programação de fontes de simulação da escrita humana

Manual de Identidade Visual. Normas e padrões de utilização

Mirella De Menezes Migliari, D.Sc. Escola Superior de Propaganda e Marketing ESPM Rio de Janeiro

Manual de identidade Visual

Tipografia. A M O Q Re W e a d e g m o p y Classificação das famílias

MANUAL DA MARCA DEFENSORIA PÚBLICA DO TOCANTINS

INSTITUTO SUPERIOR DE TECNOLOGIAS AVANÇADAS. Manual de Normas Gráficas

Pensando a frente de seu tempo

PROJETO GRÁFICO DO LIVRO DE DIRETRIZES DE DESIGN E USABILIDADE DE APLICATIVOS DE SMARTPHONE

Os sistemas de classificação de fontes mais aceitados são: Classificação de Maximilien Vox (1954)

MANUAL DE IDENTIDADE VISUAL

Normas de Desenho Técnico

ROTEIRO DE ESTUDO DO ENSINO FUNDAMENTAL I 1ª AVALIAÇÃO MENSAL FEVEREIRO / 2014 OBSERVAÇÕES

DISCIPLINA CRÉD CH PRÉ-REQUISITO 1ª FASE Desenho Geométrico

5 th Brazilian Conference of In form ation Design

Madeira Manual de Marca. Elementos Básicos

Origem da escrita. A letra manuscrita, criada pelos egípcios anos antes de Cristo.

Organizando e identificando tipos: definição de método para a catalogação de tipos da oficina tipográfica da FAUUSP

Leitura e Interpretação de Desenho Técnico Mecânico

Transcrição:

Projeto de Monografia Desenvolvimento de uma fonte tipográfica digital inspirada na caligrafia de Iberê Camargo, um dos grandes artistas plásticos do século XX. Aluno: Sandro Fetter Bacharelado em Design Habilitação em Design Gráfico Centro Universitário Ritter dos Reis

Conhecer Adquirir os conhecimentos sobre os múltiplos aspectos que a caligrafia e os caracteres tipográficos assumiram em diferentes períodos históricos.

As origens dos ALfABetos Segundo Adrian Frutiger, as primeiras escrituras ocidentais conhecidas foram encontradas na Suméria, sul da Mesopotamia (atual Iraque) e datam do ano de 3500 antes de cristo. Inicialmente, serviriam para registrar trocas comerciais. Inicialmente a escrita representava formas do mundo (pictogramas). Estas primeiras escritas foram pictográficas e mais tarde se tornaram cuneiformes.- (Adrian Frutiger, 2001) No início, os primeiros pictogramas eram gravados em tabuletas de argila, em seqüências verticais de escrita, com um estilete feito de bambu que gravava traços verticais, horizontais e oblíquos. No entanto, a escrita hieroglífica é, provavelmente, o mais antigo sistema organizado de escrita no mundo, e já era utilizada por volta de 3000 anos ac. Com o tempo evoluiu para formas mais simplificadas, como o Hierático, uma variante mais cursiva que se podia pintar em papiros ou placas de barro, e ainda mais tarde, com a influência grega crescente no oriente próximo, a escrita evoluiu para o Demótico. Foram os povos semitas, especificamente os fenícios, que idealizaram uma escrita mais simplificada constituida por 22 signos: o alfabeto. Tais signos se inspiraram nas escrituras demóticas e cuneiformes. Estes signos alfabéticos representavam imagens estilizadas de objetos comuns e facilmente reconhecíveis. Conhecer 19

A Evolução do Alabeto Latino Quadro ilustrativo da evolução dos alfabetos grego e romano, a partir das escrituras fenícias. (Adrian Frutiger, En Torno de La Tipografia. 2001) Conhecer 20

Manuscrito Carolíngio, minúsculas e maiúsculas. Séc XI Conhecer 21

Para pronunciar a escrita fenícia, bastava ler o princípio do nome de cada pictograma reproduzido (sistema acrofônico). Por exemplo, o som B é resultado da articulação do início do nome do pictograma que representava o plano de uma casa: Beth. Assim como o alfabeto árabe e o hebraico, o alfabeto fenício não tem símbolos para representar sons de vogais; cada símbolo representa uma consoante. As vogais precisavam ser deduzidas no contexto da palavra. O alfabeto fenício chegou a Grécia por volta do ano 900 ac. Os gregos adaptaram as formas de seus caracteres e idealizaram as vogais para transliterar com precisão as articulações os idiomas falados no país. O alfabeto grego foi exportado para a cultura etrusca e, desta, mais tarde, a cultura romana. Estudar Analisar em profundidade os elementos estruturais e morfológicos do alfabeto e as diferentes configurações que caracterizam o desenho de letras e a sua composição.

tabelas Comparativas fontes ManUSCritaS Conhecer 24

tabelas Comparativas fontes HiStÓriCaS fundição digtal P22 Conhecer 26

Análise Tipográfica - Tabela de análise organizada em grupos de caracteres com semelhanças construtivas/formais. Tipografia, ordem e progresso, Fábio Lopes. Revista Tupigrafia nº 5 (julho 2004). Conhecer 28

Conhecer 34

Anatomia Tipográfica - Baseada no livro Tipologia Comparada de Claudio Rocha, p. 122/123 Fontes Adobe Caslon, serifada e P22 Johnston Underground, sem serifa. Estudar 35

Anatomia de Tipografia Script (histórica/caudal) Fonte Cezanne Regular (1996), de Richard Kegler para P22. Estudar 38

Projetar A partir dos conhecimentos adquiridos, confrontar os dados de projeto e investigação estabelecendo os melhores desenhos para a nova fonte tipográfica.

Amostra de mansucrito do artista Iberê Camargo Documento 00485 Original digitalizado cedido pela Fundação Iberê Camargo Os documentos fornecidos cubriam cerca de 30 anos de correspondência privada do artista, foi constatado que sua letra apresentou significativas mudanças durante o decorrer de sua vida. Em seus últimos anos, sua caligrafia era mais vibrante e expresiva, no entanto pouco legível para uma transposição digital. O documento 485 datado de 1954 foi escolhido como fonte principal para a construção da tipografia digital Iberê por sua legibilidade, uniformidade de eixo, gestualidade no traçado e sensível modulação de contraste nas espessuras dos traços. Projetar 40

Amostra de mansucrito do artista Iberê Camargo após tratamento de imagem Depois da análise de cerca de 100 originais digitalizados, cerca de cinco exemplares de cada letra, (incialmente caixas altas, depois as caixas baixas, numerais e demais caracteres) foram escolhidos. Seguindo as orientações de Leslie Cabarga, para a preparação de originais digitalizados no desenho de uma fonte, cada imagem de manuscrito foi contrastada eliminando ao máximo os meios tons para facilitar assim, o trabalho de vetorização automática dos especimes. Projetar 41

Amostras de glifos maiúsculos do artista Iberê Camargo A coleta dos especimes é realizada ainda em imagem digitalizada. Posteriormente, as amostras serão vetorizadas e trabalhadas na composição do alfabeto final. As caixas altas, escassas em um só documento manuscrito, foram coletadas em cerca de 30 originais. Tal situação criou diversas complicações na obtenção dos glifos: inconsistência nos eixos, diferença entre as alturas, diferentes modulações e contrastes, entre outros fatores. Projetar 42

Amostras de glifos maiúculos do artista Iberê Camargo Para cada caractere, foram coletadas o máximo de variações possíveis. Assim seria possível estabelecer e analisar quais os traçados mais característicos de cada espécime. Posteriormente, a fonte resultante deverá estabelecer um conjunto agradável, coerente e representativo da caligrafia do artista. Projetar 43

Diagrama de Construção Baseado nas técnicas do especialista Leslie Cabarga e nos conhecimentos adquiridos durante as pesquisas e análises realizadas previamente neste estudo, elaborouse um diagrama construtivo a partir da caligrafia do documento 485. Este diagrama foi utilizado na construção de cada caractere. Durante o processo de construção, foram analisadas, individualmente, as junções de entrada e saída, justaposições dos ductos, espessuras máximas e mínimas, eixos caligráficos, entre outros fatores. Cada glifos é construído no interior de uma grade de 700 x 700 pontos. Projetar 46

O Caractere A em seu desenho final dentro do diagrama construtivo. Exemplar de digitalização Letra A Maiuscula. Exemplar de Traçado Automático Letra A Maiuscula.

O Desenho das Maiúsculas Constatou-se que as tabelas de agrupamento formal criada para fontes serifadas e não serifadas não se adaptavam as características formais de uma fonte script. Os estudos de antigos manuais de caligrafia, indicados pelos professores, mostravam um caminho possível para a decomposição do alfabeto num agrupamento formal que facilitaria o desenho tipográfico. Foi no livro da professora americana, Karen Cheng, que se encontrou a iluminação para a organização formal do alfabeto. Apesar de também ser criado para fontes não caligráficas, o método de Karen pôde ser facilmente adaptado as necessidades do projeto. Os glifos maiúsculos foram organizados em grupos que compartilham desenhos semelhantes. formas redondas O Q S C (G) formas Quadrado / redondas B D E P R U formas Quadradas F H (I) L T formas diagonais A V W X formas Quadrado / diagonais K M N Y Z formas Compostas com arco ou Laço (G) (I) J Projetar 49

O Desenho das Minúsculas As minúsculas foram, em sua grande maioria, coletadas do documento 485 com a finalidade de garantir mais consistência formal. Os Glifos minúsculos também foram organizados em grupos que compartilham desenhos semelhantes, como demonstrado ao lado. Obs.: não foram encontrados desenhos do w e foi encontrado apenas um desenho para o y, que se mostrou pouco interessante. formas redondas o c e formas Quadrado / redondas a s r formas Verticais i l t formas com descendentes g j p q y z formas diagonais v x (w) formas com ascendentes b d f h k formas Compostas n m u Projetar 47

Iberê Script versão I Projetar 51

Iberê Script versão I Projetar 52

Iberê Script versão II Projetar 53

Iberê Script versão II Projetar 54

Iberê Script versão I Teste do conjunto de caracteres da versão I. Projetar 55

Iberê Script versão II Teste do conjunto de caracteres da versão II. Projetar 56

BiBLioGrAfiA BRINGHURST, Robert. Elementos do estilo tipográfico (versão 3.0). São Paulo: Cosac & Naif, 2005. LUIDL, Philipp.Tipografía básica. València: Campgràfic, 2004. TUBARO, Antonio; TUBARO, Ivana. Tipografia: estudios y investigaciones. Milan: Universidad de Palermo, 1994. BLACKWELL, Lewis. Tipografía del siglo xx. Barcelona: GG, 2003. FRUTIGER, Adrian. En torno a la tipografía. Barcelona: GG, 2003. BAINES, Phil; HASLAM, Andrew. Tipografía. Función, forma y diseño. Barcelona: GG, 2004. SATUé, Enric. Aldo Manuzio: Editor, tipógrafo, livreiro. São Paulo: Ateliê Editorial, 2005. SPERÁNDIO, Amadeu. Caligrafia Curso Completo. 14ª Edição. São Paulo: Livraria Teixeira. STRIZVER, Ilene. Type Rules! The designer s guide to professionaly typography. 2ª Edição. Hoboken, New Jersey: John Wiley & Sons, Inc., 2006. ROCHA, Cláudio. Projeto tipográfico. São Paulo: Editora Rosari, 2003. FOLSOM, Rose. Calligrapher s Dictionary. London: Thames & Hudson Ltd., 1990 WEINGART, Wolfgang. Como se pode fazer tipografia suíça? / How can one make Swiss typography? São Paulo: Editora Rosari, 2003. HORCADES, Carlos M. A evolução da escrita - História ilustrada. Rio de Janiero: Senac Rio, 2004. ZAPF, Hermann. Histórias de alfabetos - A autobiografia e a tipografia de Hermann Zapf. São Paulo: Editora Rosari, 2003. Projetar 57