TRANSPARÊNCIA MUNICIPAL

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Transcrição:

TRANSPARÊNCIA MUNICIPAL MEDIDAS QUE PODEM SER TOMADAS PELOS MUNICÍPIOS FRENTE À CRISE FINANCEIRA François E. J. de Bremaeker Salvador, março de 2009

Transparência Municipal 2 Medidas que podem ser tomadas pelos Municípios frente à crise financeira François E. J. de Bremaeker Consultor da Transparência Municipal Gestor do Observatório de Informações Municipais francois.bremaeker@tmunicipal.org.br www.tmunicipal.org.br/oim Já se acumulam, nos gabinetes de Prefeitos, Governadores e do Presidente da República, problemas causados pela queda da receita. No caso dos Municípios, os números impressionam, com a queda da arrecadação do IPI e do IR, que vão constituir o FPM. As estimativas da Secretaria do Tesouro Nacional, feitas antes da crise econômica, apontavam no sentido de um crescimento da ordem de 10,59% para o ano de 2009. No entanto, no primeiro trimestre de 2009 o FPM apresentou uma queda de 9,10% em relação a igual período do ano anterior, sem levar em consideração a inflação do período. Os Municípios de menor porte demográfico dependem mais do FPM do que os demais Municípios. Nos grandes Municípios o ICMS (repasse estadual) tem um peso maior nas finanças municipais. O comportamento da arrecadação do ICMS, da qual 25% vai para os Municípios, varia bastante de Estado para Estado. Os Municípios da região Sudeste recebem 56,75% de todo o ICMS transferido a eles. Para a região Sul vai 15,93% e para o Nordeste 14,51%. O Presidente da República pouco mais poderá fazer pelos Prefeitos do que, como prometeu em Salvador, "olhar com carinho" para o problema financeiro que eles estão enfrentando por causa da redução dos valores que recebem da União por meio do Fundo de Participação dos Municípios (FPM). O ministro das Relações Institucionais, reconhece a procedência das reivindicações dos Prefeitos e admite que, para aliviar a situação dos municípios, o governo poderá liberar as emendas ao Orçamento da União feitas pelos congressistas e que foram congeladas. Mas essas verbas são carimbadas, isto é, têm destinação própria e compulsória, e não resolverão o problema de caixa dos Prefeitos.

Transparência Municipal 3 Segundo o Ministro, como a crise atinge a arrecadação tributária dos três níveis de governo e a hora é de contenção de gastos. Medidas de curto prazo É difícil cortar gastos quando o principal item de despesa dos Municípios, que se refere aos salários e encargos foi reajustado em 12% a partir de 1º de fevereiro, como se não existisse a crise financeira. Na hora de começar a cortar despesas, as primeiras ações são voltadas para os investimentos, para o corte das horas-extras, para a redução do número de cargos comissionados, para o adiamento do pagamento dos fornecedores e dos prestadores de serviços. Outra saída é não conceder o reajustamento para os servidores que ganham acima de um salário mínimo nas mesmas bases. Efetuar cortes na compra de material de consumo e restringir o uso de veículos produz alguma economia, mas pode representar uma queda de qualidade nos serviços prestados, principalmente na área da saúde e da educação. Deixar de cuidar da cidade representa diminuir a qualidade de vida dos cidadãos. Mas será que são apenas estas as despesas passíveis de contenção? E as despesas efetuadas pelos Municípios com serviços, ações e programas de responsabilidade dos Estados e da União? O sacrifício tem de ser feito apenas com os serviços municipais ou poderia ser feito no custeio dos serviços de responsabilidade (competência) dos Estados e da União. Estudo elaborado pela Transparência Municipal mostra que em 2007 o custeio destes serviços representava um gasto da ordem de R$ 9,66 bilhões. Em 2009 este gasto pode chegar a R$ 11 bilhões. E o pior é que estes serviços são relativamente mais caros para os Municípios de menor porte demográfico. Para Municípios com população até 10 mil habitantes são comprometidos 10,75% do seu orçamento. Para Municípios com população acima de 1 milhão de habitantes são comprometidos 1,62% do seu orçamento.

Transparência Municipal 4 E quais são estes serviços? Na área da saúde pública: fornecer material e efetuar a manutenção de prédios estaduais ceder pessoal e manter os serviços estaduais de apoio; manter o serviço estadual de hemocentro; suplementar os recursos não previstos nos convênios; fornecer suporte às campanhas de vacinação. Na área da educação: ceder professores para as escolas estaduais; fornecer merenda escolar e transporte escolar para os alunos das escolas estaduais; efetuar a manutenção das escolas estaduais; ceder pessoal e manter os serviços estaduais de apoio. Na área da assistência social: manutenção de serviços de assistência social estadual. Na área da administração fazendária: manter um núcleo de atendimento aos contribuintes; ceder pessoal e manter os serviços estaduais e do Governo federal de agências, postos, delegacias e exatorias. Na área da agricultura: manter a unidade municipal de cadastramento; manter o serviço de extensão rural; manter os serviços de polícia florestal e do horto estadual. Na área das comunicações: manter o serviço de correios e telégrafos; manter o posto telefônico.

Transparência Municipal 5 Na área do judiciário: manter o Fórum; manter os serviços da justiça eleitoral e dos cartórios; manter os serviços de defesa do consumidor; manter os serviços de juizados especiais (juizado de menores, juizado de pequenas causas, vara da infância e da juventude); manter os serviços de defensoria pública; manter os serviços de promotoria de justiça; dar suporte à manutenção do pessoal do judiciário. Na área da segurança pública: manter a junta de alistamento militar e o tiro de guerra; auxiliar na manutenção da polícia militar; auxiliar na manutenção da polícia civil; auxiliar na manutenção do corpo de bombeiros; auxiliar na manutenção de delegacias especiais (entorpecentes, idoso, meio ambiente, mulher); auxiliar na manutenção do instituto médico legal; auxiliar na manutenção da polícia rodoviária. Na área do trabalho e da previdência: auxiliar na manutenção de órgãos do setor (delegacia, secretaria, posto): auxiliar na manutenção do Serviço Nacional de Emprego; auxiliar na manutenção do Tribunal Regional do Trabalho; expedir cartas de trabalho. Na área de transporte e trânsito: auxiliar na manutenção dos departamentos e circunscrições de trânsito; manutenção de estradas federais e estaduais; manutenção de aeroportos. Mais detalhes a respeito do trabalho elaborado pela Transparência Municipal sobre as despesas municipais com os serviços dos Estados e da União, pode ser encontrado no Observatório de Informações Municipais, clicando em estudos.

Transparência Municipal 6 Medidas de médio e longo prazos Com relação aos repasses do FPM eventuais medidas de aliviamento da crise dependem de autorizações por lei e até mesmo por Emenda à Constituição. Portanto, são demoradas. Segundo a Secretária da Receita Federal do Brasil, a única solução por parte dos Municípios seria se adequar ao momento, "apertando os cintos", ou seja, reduzindo as despesas. Em eventos e em entrevista que se encontra na seção de "artigos" do Observatório de Informações Municipais, sob o título "Crise dá tom ao início dos mandatos nas Prefeituras", já se fazia uma advertência quanto ao muito provável cenário desfavorável e que a recomendação era de "precaução, precaução e mais precaução" com as despesas em início de mandato, principalmente aquelas que diziam respeito aos compromissos de campanha. As possíveis medidas de atenuamento da crise financeira que se abate sobre os Municípios seriam: 1) Emenda à Constituição para liberação do adicional de 1% do FPM antes do dia 10 de dezembro ou mesmo, em caráter emergencial, permitindo a liberação mensal até a normalização do repasse do FPM; 2) Lei (ou Medida Provisória inicial) compensando os Municípios pelas perdas com as renúncias fiscais promovidas pelo governo federal com o Imposto de Renda e com o Imposto sobre Prosutos Industrializados; 3) Lei (ou Medida provisória inicial) aumentando os valores por habitante/ano do Piso de Atenção Básica (PAB); 4) Lei (ou medida Provisória inicial) aumentando os valores por aluno referentes à merenda escolar; 5) Lei (ou Medida Provisória inicial) revendo os coeficientes do FUNDEB, com vistas a reduzir os prejuízos imputados aos Municípios com a manutenção do ensino infantil e de juvens e adultos; e 6) Lei (ou medida Provisória inicial) aumentando os valores referentes ao ressarcimento dos procedimentos médicos pelo Sistema Único de Saúde. Este conjunto de medidas poderia aliviar significativamente as finanças dos Municípios, que são os entes governamentais que têm a menor participação na repartição federativa dos recursos e que são aqueles que estão mais próximos da população.