A Gestão das Bacias Hidrográficas Hispano-Portuguesas

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This project has received funding from the European Union s Horizon 2020 research and innovation programme under grant agreement No

Transcrição:

A Gestão das Bacias Hidrográficas Hispano-Portuguesas É tão intensa a utilização da água dos rios para fins económicos diversos que este recurso não pode deixar de ver o seu aproveitamento regulado. A gestão decorre a vários níveis que têm de ser constantemente ajustados e compatibilizados através de diálogo e uma negociação: na Península, temos regiões hidrográficas que cobrem as bacias dos rios principais; há também responsabilidades nacionais de harmonização de interesses regionais e de protecção dos direitos dos cidadãos; e é necessário regular a cooperação entre os dois Estados que partilham algumas bacias hidrográficas. A gestão decorre, portanto, a vários níveis político-administrativos e deve promover e organizar a articulação entre eles; mas é necessário que também sejam envolvidas as pessoas, os grupos sociais mais directamente interessados, as organizações nãogovernamentais, os órgãos de comunicação e todos aqueles que aceitam assumir responsabilidades dentro da sociedade. Isto por razões éticas e porque esse é o espírito da democracia; mas também por razões de eficácia. Nas bacias hidrográficas lusoespanholas o diálogo e negociação têm de melhorar qualitativamente e envolver mais todas as entidades oficiais e os grupos sociais com responsabilidades e interesses nesta matéria. O Quadro Jurídico Ao abordar a gestão das bacias hidrográficas hispano-portuguesas devo começar por referir o quadro legal em que se desenvolve. Desde meados do século XIX que Portugal e Espanha tomaram iniciativas diplomáticas em matéria dos recursos hídricos compartidos, já contemplados no Tratado de Limites de 1864. Seguiram-se-lhe outros textos legais, que culminaram com Convénios de 1964 e 1968 que tratam essencialmente de regular o aproveitamento hidroeléctrico dos rios partilhados. O Acordo de 1968 trata ainda de temas como a necessidade de garantir caudais mínimos de estiagem e o uso da água para outros fins para além dos hidroeléctricos. A Convenção de Albufeira A necessidade de garantir o bom estado das águas, o abastecimento das populações e a satisfação das necessidades de desenvolvimento económico sustentável levaram os dois países a iniciar processos de planificação hidrológica mais intensa e regular a partir dos anos 80. Tal planeamento conduziu à tomada de consciência da necessidade de maior coordenação bilateral quanto às medidas a aplicar às bacias hidrográficas compartilhadas, considerando que o alcance dos acordos anteriores era insuficiente. Iniciaram-se negociações para formular um novo Convénio que foi assinado, em 30 de Novembro de 1998, em Albufeira. A Convenção sobre Cooperação para a Protecção e o Aproveitamento Sustentável das Águas das Bacias Hidrográficas Luso-Espanholas e o seu Protocolo Adicional ( Convenção de Albufeira ) entrou em vigor em 17 de Janeiro de 2000. Reflecte no plano da gestão partilhada e sustentável dos recursos hídricos, a evolução do Direito Internacional, tanto a nível global como a nível regional. Teve nomeadamente, em conta a reforma do Direito Comunitário então em curso, e que foi concretizada na Directiva-

Quadro Sobre a Acção Comunitária no Domínio da Política da Água ( Directiva- Quadro da Água de 2000) e que se enquadra no contexto mais alargado de desenvolvimento da Política Comunitária para o Ambiente. O regime de cooperação instituído na Convenção de Albufeira respeita portanto não só os princípios de Direito Internacional mas também o Direito Comunitário aplicável, nomeadamente no que se refere ao princípio de precaução, à acção preventiva, à avaliação de impacte ambiental, ao desenvolvimento sustentável, à equidade intra e inter-geracional, ao princípio poluidor-pagador, à unidade da bacia hidrográfica e à participação pública. A Convenção define também o quadro de cooperação entre as Partes para a protecção das águas superficiais e subterrâneas e dos ecossistemas e aplica-se às actividades de aproveitamento sustentável dos recursos hídricos, em curso ou projectadas, em especial as que causem ou sejam susceptíveis de causar impactes transfronteiriços. Prevê também acções de cooperação para garantir a qualidade das águas e a prevenção e controle da poluição. As situações excepcionais de incidentes de poluição acidental, de cheias e de seca e escassez de recursos hídricos são igualmente contempladas. A Convenção de Albufeira definiu o quadro de cooperação entre Portugal e Espanha para a protecção das águas superficiais e subterrâneas e dos ecossistemas aquáticos e terrestres deles directamente dependentes e para o aproveitamento sustentável dos recursos hídricos das bacias hidrográficas dos rios Minho, Lima, Douro, Tejo e Guadiana. Os princípios incluídos podem-se sintetizar nos pontos seguintes: a ampliação do quadro territorial e material de referência dos acordos em vigor, passando dos troços fronteiriços para as regiões hidrográficas; uma perspectiva global de cooperação e respeito entre as Partes; o respeito e a compatibilidade com as situações existentes e derivadas dos acordos em vigor; a coordenação da gestão das águas por bacia hidrográfica. Neste ponto, a Convenção acolhe o princípio de unidade da bacia hidrográfica como unidade de referência para estudo, planeamento e gestão do meio hídrico, abrangendo tanto as águas superficiais e subterrâneas como os ecossistemas relacionados com o meio hídrico, pelo que as transferências de caudais entre bacias só são admitidas a título excepcional e dentro de condições a observar pelas Partes, designadamente a avaliação do respectivo impacte ambiental. Em relação aos acordos luso-espanhóis do passado, centrados no aproveitamento hidroeléctrico dos desníveis e caudais dos troços fronteiriços e afluentes afectados, poder-se-á dizer, em síntese, que a Convenção de Albufeira é mais ambiciosa porque trata não apenas do aproveitamento das águas, mas também da sua protecção, assim como dos ecossistemas ribeirinhos e estuarinos e de outros ecossistemas associados. É também mais abrangente porque, ao contrário dos instrumentos jurídicos que regulam aqueles troços fronteiriços dos rios luso-espanhóis, o seu âmbito de aplicação é as regiões hidrográficas e tem em vista assegurar o desenvolvimento económico, social e ambiental de forma sustentada. Para além dos caudais mínimos provisórios convencionados até ao momento, a Convenção prevê que os Planos de Gestão de Região Hidrográfica (PGRH) em curso de elaboração definam o regime de caudais que há-de substituir o regime provisório, o que confere a este processo de elaboração uma necessidade de coordenação acrescida no seio da CADC. 2

Em termos operacionais, a Convenção de Albufeira já conseguiu implementar um sistema de monitorização do regime de caudais o qual, aliás, tem vindo a ser, sucessivamente, adensado e robustecido. Em contrapartida, devemos reconhecer que ainda está longe a monitorização da qualidade, aspecto que pode por isso constituir um objectivo aglutinador de novo esforço de convergência. A Convenção constitui uma resposta equilibrada, equitativa e moderna ao objectivo do estabelecimento de um novo regime jurídico das águas das bacias hidrográficas lusoespanholas, tornando este recurso natural um factor de aproximação e entendimento entre os dois países e paradigma de cooperação entre dois Estados-membros da União Europeia em matéria de gestão das águas de rios compartilhados. A DQA A Política comunitária assenta nos princípios da precaução e da acção preventiva, da abordagem integrada, correcção, prioritariamente na fonte, dos danos causados ao ambiente e do que se designa por poluidor-pagador. A DQA pretende estabelecer um enquadramento legal transparente, eficaz e coerente como enquadramento para o desenvolvimento e aplicação de forma coordenada e integrada de acções para a protecção e a utilização sustentável da água na União Europeia, obedecendo ao princípio da subsidiariedade. Assim, constitui-se como um instrumento para coordenar as iniciativas a aplicar pelos Estados-membros com vista à melhoria da protecção dos meios hídricos na UE, de modo a promover o uso sustentável da água, a proteger os ecossistemas aquáticos e os ecossistemas terrestres e as zonas húmidas directamente associados e a salvaguardar as futuras utilizações da água. De entre os principais aspectos introduzidos pela DQA devem-se destacar os seguintes: a abordagem integrada de protecção das águas (águas de superfície e águas subterrâneas); a avaliação do estado das águas através de uma abordagem ecológica; o planeamento integrado a nível da bacia hidrográfica; uma estratégia para a eliminação da poluição causada por substâncias perigosas; instrumentos financeiros; o incremento da divulgação da informação e o incentivo à participação do público. Foi previsto que os objectivos ambientais da DQA seriam cumpridos através da execução de programas de medidas a ser incluídos nos Planos de Gestão de Regiões Hidrográficas. Com a finalidade de cumprir esses objectivos, os Estados-membros comprometeram-se a realizar, numa primeira fase, a análise das características da região hidrográfica e dos impactes da actividade humana no estado das águas de superfície e subterrâneas, bem como a análise económica dos usos das águas. Seguidamente devem ser elaborados e implementados os programas de medidas que se julguem adequados para o cumprimento dos objectivos estabelecidos. No contexto de caracterização da região hidrográfica deverão ser identificadas as zonas protegidas e as autoridades competentes para a aplicação das regras da directiva, podendo ser designado um organismo internacional já existente como autoridade competente para as regiões hidrográficas internacionais (artigo 3º da DQA). Constata-se que muitos dos objectivos preconizados pela CADC são realizados não exclusivamente por força desta, mas sobretudo pela obrigação do cumprimento das Directivas Comunitárias e dos direitos internos de cada país, questionando-se com 3

frequência, em sede de discussão pública, se a existência da Convenção traz vantagens sobre os instrumentos legais vigentes na União Europeia, designadamente a DQA. As grandes vantagens da Convenção sobre a DQA estarão no facto da Convenção permitir o estabelecimento do regimes de caudais a cumprir pelas partes que vão para além dos caudais ecológicos previsto na DQA, matéria que não é especificamente abordada nos outros instrumentos legais comunitários, e permitir uma abordagem de natureza estratégica e política entre Estados, que melhor defende os interesses gerais de cada país e o desenvolvimento da equidade e cooperação inter-regional, ao invés da DQA que preconiza uma gestão centrada apenas na região hidrográfica. Em suma, a DQA é, toda ela, um intenso programa de trabalhos e, certamente, o seu cumprimento irá muito para além de 2015, pelo que obrigará a um esforço conjunto e a uma responsabilidade partilhada no caso dos rios ibéricos. A CADC Os órgãos de Cooperação instituídos para a prossecução dos objectivos da Convenção são a Conferência das Partes (COP) e a Comissão para a Aplicação e Desenvolvimento da Convenção (CADC). Esta última é o órgão privilegiado para resolução das questões relativas à interpretação e aplicação da Convenção. A sua atribuição é a definição das orientações estratégicas no domínio da Convenção, servindo como um instrumento de cooperação para facilitar a permuta regular e sistemática de informação, a consulta entre as Partes e as medidas técnicas, jurídicas e administrativas necessárias para a aplicação e o desenvolvimento da mesma. Para a prossecução dos seus objectivos, a CADC decidiu criar vários grupos de trabalho e definir programas bianuais de actividades prioritárias, como estudos conjuntos sobre cheias e normas de gestão das infraestruturas hidráulicas em situação de emergência, estudos sobre secas e medidas a adoptar, regime de caudais, coordenação de actuações no âmbito da DQA a permuta de informação sobre o acompanhamento e monitorização e a participação pública. Fundamentando-se em critérios e bases devidamente explicitados, com o objectivo de garantir caudais ambientais mínimos, foram fixados caudais integrais anuais para as bacias do Minho, Douro Tejo e Guadiana, modulados pelos valores da precipitação registados em estações de referência e, no caso do Guadiana, também pelos volumes armazenados nas principais albufeiras a montante de Badajoz e por um caudal médio diário. A CADC negociou e propôs a revisão do Regime de Caudais, que tomou a forma de um Protocolo Adicional em 2008 precisando o regime de caudais, que passaram a ser cumpridos com maior periodicidade, e assegurando uma maior sustentabilidade ambiental aos rios luso-espanhóis, como anteriormente referido. No âmbito da participação pública realizaram-se várias Jornadas Técnicas. Afigurou-se também primordial implementar uma rede de informação mais fluida e abrangente, tendo por objectivo informar, além das entidades oficiais envolvidas, o público, incluindo as ONGs, e os grupos de interesse que se movem neste sector. Assim, foi considerado necessário incrementar a divulgação da página da CADC na Internet (www.cadc-albufeira.org) e imprimir uma maior dinamização dos seus conteúdos. 4

As Políticas da Água e a Gestão das Bacias Partilhadas Todavia, o quadro legal e institucional em que se desenrola a gestão das regiões hidrográficas luso-espanholas dá uma visão incompleta da política seguida em matéria de recursos hídricos e da gestão que deles é feita. A aplicação e o desenvolvimento das normas e da acção das instituições dependem do que se pode designar por políticas da água. Estas consistem na aplicação e adaptação constante dos preceitos legais, tendo em conta a mudança das circunstâncias ambientais e das que são provocadas pela acção humana, bem como os meios de acção mobilizadores. As circunstâncias, sempre em mutação em que trabalhamos, os constrangimentos e interesses que influem nas decisões de quem exerce o poder político e social, condicionam a definição, a prioritização e a interpretação dos princípios e leis que é feita em cada momento por uma comunidade. Para os adaptar e aplicar precisamos de ter por base um património ético comum ou que desejamos que o seja: a ética deve guiar o direito, a evolução legislativa e a política dos estados, das comunidades, dos grupos sociais e dos cidadãos. As normas jurídicas e princípios éticos estabelecem os parâmetros, em que se desenvolvem as políticas e condicionam a gestão que é possível fazer da água. Isto leva-me a fazer aqui uma menção dos princípios éticos que devemos ter presentes, mesmo quando (inconscientemente ou hipocritamente) lhes não somos fiéis no que fazemos. Começarei por dizer que a água quase sempre teve um carácter sagrado como elemento essencial à vida humana e como fonte de purificação e renascimento espiritual. O baptismo cristão é a expressão desse valor sagrado, como o é também para outros o banho no Ganges. Nas mitologias clássicas os rios eram até habitados por divindades e o próprio Camões evoca as Tágides, ou seja as ninfas do Tejo. A modernidade trouxe uma nova concepção do homem, agora senhor da natureza e que a pode pôr ao seu serviço. A água, como muitos outros recursos naturais, foi dessacralizada. Mais tarde, com a construção sistemática de barragens e os aproveitamentos hidroeléctricos, os rios foram domesticados, os seus caudais foram normalizados e o aproveitamento para fins ligados à indústria e a uma agricultura industrializada transformou em certos casos o uso em abuso e pôs em risco os sistemas hídricos em nome do desenvolvimento económico. Estamos hoje a regressar, para assegurar o futuro, a uma forte revalorização da natureza e, neste caso, da água. Parafraseando Ortega, tomamos agora consciência de que somos nós e a nossa circunstância, incluindo nela o ambiente que nos sustenta. Desta nova visão do homem e do mundo resulta o princípio de que a água é um património comum da humanidade: os rios não pertencem a este ou àquela país ou comunidade somos apenas curadores e gestores de algo que herdámos e temos de passar aos que se nos seguirão. Mas o homem tem direitos. As Nações Unidas acrescentaram recentemente a este elenco um corolário do direito à vida: o direito à água. Trata-se, obviamente de um direito programático, cuja implementação deve ser progressivamente feita pelos governos e pelas sociedades. Esse dever já estava expresso nos Objectivos de Desenvolvimento do Milénio que a Comunidade internacional aprovou, em 2000. 5

Convém notar que este direito à água não cobre apenas os que agora estão vivos estende-se às gerações futuras. É verdade que só o homem tem direitos. Mas isso não me impediu de, em tempos, ter proposto a aprovação de uma Carta dos Direitos dos Rios : se não podemos satisfazer os direitos de homens sem o apoio da água e de outros recursos naturais, então, por extensão, a água dos sistemas hídricos e os ecossistemas neles representados tem o direito à preservação, à conservação, à melhoria da qualidade da água. É um direito apenas no sentido de que é um dever do homem para com a natureza e que estes são a contrapartida do direito humano a usá-la. Outro aspecto que devo mencionar aqui é que os deveres do homem para com a água não obrigam apenas os poderes públicos: estes são impotentes sem a cooperação activa e o impulso da sociedade. A participação na definição de políticas e na gestão da água é, assim, um direito e um dever de todos nós. Mas este direito/dever não pode ser aplicado sem a formulação e a expansão a toda a sociedade de uma cultura de água. A gestão da água não deve ser deixada apenas às administrações públicas nem pode ficar limitada à intervenção de especialistas capazes de formular e compreender uma linguagem que para muitos é hermética. Precisamos aqui como para tudo o que numa democracia autêntica deve ser visto como responsabilidade dos cidadãos de tradutores, partidários ou não, que a todos dêem acesso à compreensão dos valores e dos interesses envolvidos e também dos constrangimentos impostos pela natureza e pelas circunstâncias políticas económicas. A acção destes tradutores tem que ser mais eficaz a começar pelas escolas e deve apoiar a acção, imprescindível, dos meios de comunicação. Sem uma cultura da água ficamos à mercê de opiniões pouco informadas, movidas por interesses a curto prazo, egoístas e passionais. Por outro lado, a desejável participação da sociedade exige aos estados e às entidades oficiais abertura para os contributos daquela transparência na actuação dos responsáveis e das instituições, espírito de diálogo. Tanto ao estado como aos elementos da sociedade é pedido que actuem com respeito pelos esforços e trabalho de cada um. Muitas vezes os que servem os cidadãos como funcionários ou a título privado sentem-se vítimas de incompreensão e de críticas infundadas dirigidas por uns a outros. Não tem que ser assim e esta é mais uma razão para que reforcem a cultura da água das comunidades a que pertencem. Há um princípio básico que não quero deixar de referir neste quadro genérico: a sustentabilidade. Já disse atrás que temos de ter em conta o longo prazo e as gerações vindouras. Muitos corolários podem, e devem, ser extraídos deste princípio. Nada do que fazemos deve estar programado como descartável e para apenas para uso imediato as consequências das nossas acções acompanhar-nos-ão sempre. Alguns erros neste domínio são irreversíveis. Muitas vezes é esquecido um ponto que logicamente deriva do princípio de que os rios são património da humanidade. A verdade é que, além da dimensão temporal longa, transgeracional, devemos também aceitar uma responsabilidade espacial à dimensão do mundo. Somos membros activos da comunidade internacional e temos que procurar que sejam aplicados os princípios e regras de documentos jurídicos que subscrevemos e ratificámos bem como objectivos universais como o do acesso de todos à água de qualidade. Um dos modos de cumprir com esse dever é, justamente, o tornar a nossa 6

cooperação bilateral exemplar: alguns países já se nos têm dirigido procurando ajuda técnica e querendo inspirar-se no modelo das relações luso-espanholas. Estará a nossa cooperação bilateral à altura deste outro desafio? Objectivos e Métodos para a Gestão das Bacias Hidrográficas Partilhadas Talvez convenha acentuar que os objectivos da gestão das regiões hidrográficas partilhadas são os consagrados no Direito interno e internacional e que as políticas e os métodos utilizados devem conformar-se com os princípios de justiça, equidade, respeito pelos outros e pela natureza que todos subscrevemos. É relevante sublinhar também que a gestão é um processo dinâmico de adaptação aos desafios que se nos põem e aos padrões de exigência que as comunidades a que pertencemos vão adoptando. As preocupações centrais na gestão são inevitavelmente com a quantidade, a qualidade da água e a sustentabilidade económica-financeira da gestão. Em tempos de escassez relativa da água, os caudais tendem a dominar as atenções. Mas os problemas criados pela contaminação e poluição das águas podem ser devastadores e adquirir uma força destrutiva muito grande. Acontece, porém, que temos menos capacidade de controlar os caudais pelo menos temos poucos meios para os fazer subir em períodos de reduzida pluviosidade do que a qualidade das águas: esta, excepto em casos de catástrofes naturais, depende mais da acção do homem e responde melhor a políticas de prevenção e de combate à poluição. A sustentabilidade a prazo dos recursos hídricos é evidentemente uma preocupação central. O principal critério aqui deve ser o de nada fazer, ou permitir que seja feito, que seja susceptível de vir a causar danos irreparáveis ao ambiente e aos ecossistemas dependentes dos rios. É fácil deixarmo-nos levar por considerações de desenvolvimento económico e de crescimento do emprego a curto prazo, tanto mais que as populações têm uma especial sensibilidade a questões cujo efeito é visível quase imediatamente. Escuso de apontar os perigos de políticas míopes num momento em que todos estamos preocupados com o esgotamento progressivo dos aquíferos que, infelizmente, não são visíveis à superfície. Mas quando se tornam aparentes, pode já ser demasiado tarde, sobretudo em casos em que as reservas naturais protegidas são ameaçadas. E mais não digo porque sabeis melhor do que eu a que me refiro. A sustentabilidade exige que desenvolvamos a virtude da prudência. Esta e toda a gestão racional que implique uma decisão tem de assentar no estudo continuado dos recursos hídricos, do seu estado, das ameaças que sobre eles pendem e do melhor aproveitamento que é possível fazer da água que temos. Este estudo beneficia do contributo dos professores e das Universidades, cuja função é a procura incessante e incremental da verdade e o seu ensino. Mas aproveita também da divulgação dos factos sem distorções e da criação duma sensibilidade grande aos problemas ambientais, ou seja, duma cultura da água, e da sua transmissão pelos sistemas educativos e pelos meios de comunicação. Com base em conhecimento e informação sempre actualizados, a gestão das bacias hidrográficas hispano-portuguesas tem lugar num debate e negociação constantes entre responsáveis, caracterizados pela franqueza e até pela frontalidade. Esta negociação 7

exige, para cumprir os seus objectivos, uma participação de cidadãos atentos e vigilantes tão alargada quanto possível. Só essa participação pode assegurar que a procura dos pontos de equilíbrio, sempre variáveis, entre os usos e a conservação dos recursos seja feita com o rigor possível, com transparência e no interesse de todos. As consequências da não-participação são a gestão insuficiente e, por isso, potencialmente perigosa, e a má-gestão que, mesmo se aplaudida no momento, é sempre danosa. É neste quadro que, observando o desempenho e funcionamento da CADC à luz de outros modelos de gestão de outras Convenções, nos deparamos com uma composição exclusivamente oriunda do universo da Administração Pública sem que as organizações representativas dos cidadãos interessados tenham espaço para influenciar as decisões no seio da gestão bilateral, o que devemos procurar corrigir. Os Planos de Bacia Hidrográfica. O Tejo Estamos, neste ano da graça de 2011, perante uma oportunidade que é um imenso desafio a todos nós. Temos, no cumprimento da Directiva Quadro sobre a Água, de terminar a preparação dos planos para cada região hidrográfica e, no domínio que me interessa mais directamente, dos planos para as regiões hidrográficas Minho/Lima, Douro, Tejo, e Guadiana. De um lado e de outro trabalha-se intensamente, fazem-se estudos, ponderam-se hipóteses, nalguns casos até já começou a fase de discussão pública em Espanha são os casos do Minho/Lima e do Douro. Noutros casos, o planeamento nacional está mais atrasado devido a questões não resolvidas de política interna, ou a dificuldades de conciliação de interesses, tanto nacionais como bilaterais. Devo dizer-vos que o que se passa me entusiasma e me preocupa. Estou encantado de ver a dedicação e a qualidade do trabalho de técnicos, estudiosos e responsáveis administrativos e políticos. É para mim também uma razão de esperança ver surgir, aqui e ali, uma maior consciência das realidades, dos problemas e até dos erros que foram e ainda estão a ser praticados. Preocupa-me, porém, a força dos interesses regionais que vão aparecendo e a dificuldade experimentada no encontro de soluções equitativas equilibradas. Tudo isto pode atrasar a finalização dos planos e pode abrir caminho para decisões erradas. No aspecto bilateral a discussão dos planos mal começou. A Directiva Quadro prevê a apresentação de Planos conjuntos ou, em alternativa, de planos separados mas rigorosamente compatibilizados e articulados. Não podemos perder de vista que para lá das fronteiras administrativas e políticas, pelo simples facto da água no meio natural no seu constante movimento para jusante, há efeitos das políticas de montante que se traduzem em problemas e benefícios para as políticas de jusante. Assim, as políticas da água em Espanha têm efeitos imediatos no território português. Temos que fazer a partir de agora mais e melhor neste campo e devo reconhecer que, por razões institucionais, o atraso português na preparação dos planos de bacia é maior do que o espanhol. Neste momento, só quero acrescentar que esta tarefa deve ser uma prioridade para os dois governos e para os dois países e que as consequências de uma deficiente articulação de planos autónomos seriam muito graves e poderiam perturbar as nossas relações. Em primeiro lugar, temos que procurar que a discussão pública seja participada, informada e tenha em conta os interesses dos dois países. Há também aqui um papel para uma possível intervenção da Comissão Europeia, embora talvez não já. Mas estão em causa 8

interesses que, mais que bilaterais, são verdadeiramente europeus e todas as contribuições podem ajudar. Terminarei com uma palavra sobre o Tejo, já que perto dele estamos. Há um movimento activo que procura fazê-lo reconhecer como património da humanidade. Claro que o é, e não só pela água que por ele corre como pelo facto que deste sistema hídrico vivem mais de 10 milhões de espanhóis e portugueses e porque entre eles estou eu. Procurei uma expressão para designar esta comunidade de usuários, comproprietários, das pessoas que partilham interesses comuns e que são os principais curadores deste imenso património que é também cultural, artístico e civilizacional. Há em português as expressões minhoto e duriense seriam os vizinhos do Tejo tajenses? Ou tájicos? (isto poderia parecer antecipar um dos nossos futuros possíveis). Só um pouco depois me lembrei que temos em Portugal ribatejanos e alentejanos. Somos pois, se assim o quiserdes, tejanos em português e tajanos em castelhano (mas não texanos). Mais do que a palavra interessa formar (ou reforçar) a comunidade que ela designará. O Tejo é o elemento unificador das terras e das gentes ribeirinhas a água que partilhamos une e cria poderosos laços que vão além fronteiras. Formamos uma comunidade de interesses e de partilha o que beneficia uns deve ser vantajoso para todos e a cooperação deve substituir o egoísmo, dentro de cada país e entre eles. Tudo isto é verdade mas não torna menos difícil o encontro de soluções harmónicas e consensuais para o plano desta bacia. Pelo contrário: o curso do Tejo está dividido em troços com densidades populacionais bem distintas, com tipos de ocupação do território e com usos da água diferenciados. Para cúmulo, a pluviosidade que alimenta o Tejo terá baixado cerca de 20% desde 1980. Acresce que esta bacia pode ser e está ligada a outra também com necessidades prementes de água. Se há desafio que se põe à nossa capacidade de gestão e planeamento é o Tejo. Há problemas sérios a montante com a intensificação da exploração hídrica. Há problemas em todos os troços e particularmente acentuados no que respeita às necessidades de assegurar um caudal ecológico no estuário. E por aqui me fico na expressão de preocupações que não são limitadas ao Tejo. Apenas acrescentarei que adiar uma dificuldade, ou evitar discuti-la, nunca é uma solução. Pode, quando muito, ser um analgésico e amortecer a consciência do que temos pela frente. Mas, para que isso não aconteça, vim aqui juntar-me a vós outros, ouvir-vos e dizer-vos o que penso. Gonçalo Santa Clara 9