(Transtornos Globais do Desenvolvimento DSM-IV) Faculdade de Ciências Médicas Prof. Orlando A. Pereira Unifenas

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Transcrição:

(Transtornos Globais do Desenvolvimento DSM-IV) Faculdade de Ciências Médicas Prof. Orlando A. Pereira Unifenas

DSM O que significa? É um manual de critérios diagnósticos dos transtornos mentais de todas as fases da vida. A seção sobre os Transtornos do Neurodesenvolvimento refere-se aos transtornos mentais da criança e do adolescente. Foi criado em 1952 pela AAP para sistematizar e organizar todos os transtornos mentais existentes desde 1840. Embassados em pesquisas, estudos clínicos e evidências científicas reunidas a cada 15 anos, formados por comissões de especialistas e profissionais afins e em constante atualização.

Características Clínicas do TEA Síndrome Comportamental Déficit interação social Persistente deficiência de comunicação social Comportamentos repetitivos e interesses restritos

Transtorno do Espectro Autista Padrões restritos e repetitivos de comportamento Os sintomas devem estar presentes nas primeiras etapas do desenvolvimento

DSM-5

A) Deficiências persistentes na comunicação e interação social 1) Dificuldade na capacidade de se comunicar pela linguagem verbal e não verbal. Não fala. Quando fala, não consegue iniciar o manter uma conversação. Linguagem imatura (ecolalia, reversões de pronome, prosódia anormal, entonação monótona). Disabstração (linguagem figurada e corporal, expressões faciais). Falta de reciprocidade. Uso do outro como ferramenta. 2) Limitação nos comportamentos de comunicação não verbal utilizados para interação social: dificuldade de socialização, atenção compartilhada comprometida isolamento social. Não utiliza gestos, posturas corporais ou expressões faciais como parte da comunicação. Não aponta as coisas. Não olha você nos olhos. 3) Limitação em iniciar, manter e entender relacionamentos: ausência de interesse em seus pares, de fazer amigos e manter relacionamentos. Não manifesta emoções. Não percebe a presença de pessoas. Dificuldade com jogos imaginativos ou brincadeira faz de conta. Não responde o nome. Age como surdo.

B) Padrões restritos e repetitivos de comportamento, interesses ou atividades (pelo menos dois destes critérios) 1) Movimentos repetitivos e estereotipados no uso de objetos ou fala Ex: estereotipias motoras simples, abanar as mãos, balanço incessante, pular no mesmo lugar, girar objetos, alinhar brinquedos, ecolalia, frases idiossincrásicas. 2) Insistência nas mesmas coisas, aderência inflexível às rotinas ou padrões ritualísticos de comportamentos verbais e não verbais (estresse extremo com pequenas mudanças, dificuldades com transições, padrão de pensamentos rígidos, sem criatividade). 3) Interesses restritos que são anormais na intensidade e foco (apego excessivo a objetos específicos, colecionismo, acúmulo de objetos, fascinação por luzes ou movimentos, alinhamento ou manuseio peculiar de objetos). Alteração na alimentação (manias). 4) Hiper ou hiporreativo a estímulos sensoriais do ambiente (aparentemente indiferente a dor ou temperatura, resposta adversa a alguns sons específicos ou texturas); não reconhece o perigo, comportamento fóbico, auto-agressão e heteroagressividade, hiperatividade e falta de atenção, exploração visual atípica (olhar periférico, foco nas partes) necessidade de cheirar e/ou tocar objetos, ficar lambendo, aperta seus próprios olhos.

Sinais Clínicos Precoces (< 3 anos) Pouco / pobre contato visual Ausência de balbucio Indiferença ao colo Pobres gestos sociais Ato de brincar pobre (pouco contesto) Auto-agressividade Faz-de-conta e esconde-esconde Rituais manias - estereotipias

O Autismo não é uma doença com manifestação uniforme Espectro do Autismo

Cabe dentro desse espectro uma variedade enorme de condições, que vão do retardo mental severo e incapacidade quase completa de se comunicar (baixo rendimento) a casos de pessoas com inteligência e fala normais (alto rendimento) - as quais, no entanto, não conseguem decifrar as emoções dos outros nem se relacionar normalmente.

Intensidade do TEA LEVE: Asperger e Autismo de Alto Funcionamento ou rendimento MODERADA: marcada incapacidade de comunicação e com interesses muito restritivos GRAVE: severa incapacidade de qualquer flexibilidade social ou comunicação

Instrumentos de Triagem e Diagnóstico Critérios do DSM-5 Testes Neuropsicológicos e Escala de Avaliação de Linguagem e Comportamento: - M-CHAT (modifield checklist for autism in toddlers) (para as crianças até 30 meses) - CARS (childhood autism rating scale) - CAST (childhood autism spectrum disorders test) Uso de vídeos caseiros, fotos e relatório escolar Avaliação multidisciplinar.

Fatores de Risco para o Autismo GENÉTICO TEA AMBIENTAL Koufaris & Sismani, 2015

Fatores de Risco para o Autismo Irmãos/irmãs com Autismo História parenteral de psicose ou esquizofrenia História parenteral de transtornos afetivos (Bipolar) História parenteral de distúrbios do comportamento (TDAH) Idade materna superior a 40 anos Idade paterna superior a 40 anos Baixo peso ao nascer (<2.500g) Prematuridade National Institute for Health and Care Excellence (NICE), 2013

Gêneros Fatores de Risco para o Autismo Sexo Masculino (4:1) Menina autista: quadro mais grave e maior o risco de ter irmãos com Autismo Sexo Feminino: fator protetor e "irradiador" de genes para o restante da prole Sexo Feminino e Autismo: risco maior de epilepsias de difícil controle (Werling & Gueshwind, 2015)

Epidemiologia da Autismo No mundo: mais de 70 milhões (estimativa da ONU) No Brasil: 2 milhões Hoje: 4-5 : 10.000 crianças Incidência dos tipos clássicos: 1:1000 de 20 anos para cá Transtorno mais amplo do Espectro Autista (Clássico, Asperger e TID-SOE): 1:250 (Moura, Sato & Mercadante, 2003; Klin, 2006)

Autismo e Deficiência Intelctual 40% com nível intelectual normal 50% tem deficiência intelectual 10% tem altas habilidades Com DI o Autismo costuma ser mais grave Associação com Síndromes e Epilepsia Fombonne e cols. 2003; Klin, 2006

Condições clínicas associadas : Deficiência Mental Epilepsia (Síndrome de West) Síndrome do X-Frágil Esclerose Tuberosa Síndrome Fetal alcoólica Síndrome de Down Síndrome de Angelman Fenilcetonúria...

A identificação precoce do Transtorno do Espectro Autista é crucial para que estas crianças comecem uma terapêutica adequada desde cedo e tenha uma qualidade melhor de vida. O diagnóstico dever ser feito entre seis meses até 3 anos de idade, época de maior desenvolvimento e maleabilidade do cérebro, antes que os pais fiquem idealizando uma criança normal e perfeita, evitando frustrações e longas jornadas a vários profissionais.

Tratamento Não existe nenhum tratamento específico e único Existem duas principais estratégias que norteiam essas intervenções: Personalização: criação de um plano individualizado para cada paciente de acordo com suas características; Contextualização: avaliar o contexto em que vive a criança e no qual sua família está inserida. A idade do diagnóstico, a severidade dos sintomas, presença de comorbidades, recursos internos da família e da comunidade são necessários para que se possa programar a personalização do tratamento.

Tratamento Medicamentoso: está restrito ao tratamento de sintomas, não constituindo na principal medida de tratamento. Quando indicado, devem ser utilizados para o alívio dos principais sintomas como ansiedade, hiperatividade, agressividade, automutilação e comportamentos obsessivos. Inibidores seletivos de receptação da serotonina na presença de ansiedade e sintomas obsessivos; Risperidona na presença de sintomas de agressividade, irritabilidade e automutilação; Medicações estimulantes devem ser consideradas quando houver comorbidades específicas como o TDAH.

Direitos da pessoa portadora de Transtorno do Espectro Autista Lei 12.764/12 assegura aos autistas os benefícios legais de todos portadores de deficiência, que incluem desde a reserva de vagas em empresas com mais de 100 funcionários, até o atendimento preferencial em bancos e repartições públicas.

F i m Os autistas são estrangeiros onde quer que estejam. Nosso mundo para eles é assustador. Mas nós podemos acolhê-los e ajudá-los.