APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DECISÃO PARA O TRATAMENTO DE INCERTEZAS EM AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS



Documentos relacionados
6 Construção de Cenários

Engenharia de Software II: Desenvolvendo o Orçamento do Projeto. Prof. Msc Ricardo Britto DIE-UFPI rbritto@ufpi.edu.br

Gerenciamento de Projeto: Planejando os Recursos. Prof. Msc Ricardo Britto DIE-UFPI

MARKETING DE RELACIONAMENTO UMA FERRAMENTA PARA AS INSTITUIÇÕES DE ENSINO SUPERIOR: ESTUDO SOBRE PORTAL INSTITUCIONAL

Texto para Coluna do NRE-POLI na Revista Construção e Mercado Pini Abril 2012

MBA IBMEC 30 anos. No Ibmec, proporcionamos a nossos alunos uma experiência singular de aprendizado. Aqui você encontra:

Vice-presidência de Governo Superintendência Nacional de Assistência Técnica e Desenvolvimento Sustentável Gerência Nacional de Assistência Técnica

NÚCLEO DE EDUCAÇÃO MATEMÁTICA E ENSINO DE FÍSICA E AS NOVAS TECNOLOGIAS NA FORMAÇÃO DE PROFESSORES

EDUCAÇÃO SUPERIOR, INOVAÇÃO E PARQUES TECNOLÓGICOS

CEAHS CEAHS. Grupo Disciplinas presenciais Créditos Mercado da Saúde Ética e aspectos jurídicos 1

GARANTIA DA QUALIDADE DE SOFTWARE

Modelo de Plano de Negócios

Comportamento Humano: Liderança, Motivação e Gestão do Desempenho

Unidade I FINANÇAS EM PROJETOS DE TI. Prof. Fernando Rodrigues

4 Avaliação Econômica

SUGESTÕES PARA ARTICULAÇÃO ENTRE O MESTRADO EM DIREITO E A GRADUAÇÃO

MODELO CMM MATURIDADE DE SOFTWARE

METODOLOGIA PARA ANÁLISE DE DESEMPENHO

Desafio Profissional PÓS-GRADUAÇÃO Gestão de Projetos - Módulo C Prof. Me. Valter Castelhano de Oliveira

COMO CALCULAR E PROJETAR A DEPRECIAÇÃO PELO MÉTODO DA LINHA RETA COM O AUXÍLIO DO EXCEL

Público Alvo: Investimento: Disciplinas:

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO FACULDADE DE ECONOMIA, ADMINISTRAÇÃO E CONTABILIDADE

Resultados do projeto: prática de financiamento. Joana Castro e Almeida

O CONSELHO FEDERAL DE CONTABILIDADE, no exercício de suas atribuições legais e regimentais,

A IMPORTÂNCIA DA GESTÃO DE CUSTOS NA ELABORAÇÃO DO PREÇO DE VENDA

O Plano Financeiro no Plano de Negócios Fabiano Marques

Apartamentos econômicos são destaque em Bauru

Programa de Parcerias e Submissão de Propostas 2014/15

Retorno dos Investimentos 1º semestre 2011

CENTRO DE CIÊNCIAS TECNOLÓGICAS CCT

Podemos encontrar uma figura interessante no PMBOK (Capítulo 7) sobre a necessidade de organizarmos o fluxo de caixa em um projeto.

Os desafios para a inovação no Brasil. Maximiliano Selistre Carlomagno

3 Metodologia de Gerenciamento de Riscos

GESTÃO DE PROJETOS PARA A INOVAÇÃO

PROJETO DE CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO LATO SENSU Gestão e Relações Internacionais

Seminário: Engenharia da Avaliação em Desapropriação

Curso CPA-10 Certificação ANBID Módulo 4 - Princípios de Investimento

PESQUISA OPERACIONAL: UMA ABORDAGEM À PROGRAMAÇÃO LINEAR. Rodolfo Cavalcante Pinheiro 1,3 Cleber Giugioli Carrasco 2,3 *

SISTEMAS DE GESTÃO São Paulo, Janeiro de 2005

ATIVIDADES PRÁTICAS SUPERVISIONADAS

CAP. 2 CONSIDERAÇÕES SOBRE OS CRITÉRIOS DE DECISÃO

Métodos Involutivos. Involutivo Vertical

Objetivo do curso: Formar profissionais qualificados na gestão comercial, possibilitando assim o crscimento individual e corporativo.

Gerenciamento de Riscos do Projeto Eventos Adversos

Apresentação. Cultura, Poder e Decisão na Empresa Familiar no Brasil

IBAPE XII COBREAP CONGRESSO BRASILEIRO DE ENGENHARIA DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS, BELO HORIZONTE/MG

Guia de recomendações para implementação de PLM em PME s

NORMAS PARA AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS URBANOS MÉTODO INVOLUTIVO IBAPE/SP Osório Gatto


PROJETO DE PESQUISA. Antonio Joaquim Severino 1. Um projeto de bem elaborado desempenha várias funções:

Programa FAPESP. Pesquisa Inovativa EM. Pequenas Empresas

INSTITUTO SUPERIOR DE COMUNICAÇÃO EMPRESARIAL REGULAMENTO DE ACTIVIDADE PROFISSIONAL RELATÓRIO FINAL

MÓDULO 6 INTRODUÇÃO À PROBABILIDADE

TRABALHOS TÉCNICOS Coordenação de Documentação e Informação INOVAÇÃO E GERENCIAMENTO DE PROCESSOS: UMA ANÁLISE BASEADA NA GESTÃO DO CONHECIMENTO

ü Curso - Bacharelado em Sistemas de Informação

DESENVOLVIMENTO DE UM SOFTWARE NA LINGUAGEM R PARA CÁLCULO DE TAMANHOS DE AMOSTRAS NA ÁREA DE SAÚDE

Pesquisa realizada com os participantes do 12º Seminário Nacional de Gestão de Projetos. Apresentação

ESTUDO SOBRE A PLANTA GENÉRICA DE VALORES: ITBI DE BETIM

Projeto de Sistemas I

UNG CIC Tópicos Especiais de TI. Aula 13

Seção 2/E Monitoramento, Avaliação e Aprendizagem

Mestrado em Educação Superior Menção Docência Universitária

ANÁLISE DA ATUAÇÃO DO LÍDER NO SETOR DE SERVIÇO SOCIAL DA UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO CONCHECITA CIARLINI MOSSORÓ/RN

UM CONCEITO FUNDAMENTAL: PATRIMÔNIO LÍQUIDO FINANCEIRO. Prof. Alvaro Guimarães de Oliveira Rio, 07/09/2014.

O uso de Objetos de Aprendizagem como recurso de apoio às dificuldades na alfabetização

PMI-SP PMI-SC PMI-RS PMI PMI-PR PMI-PE

INDICADORES ABRAINC/FIPE DO MERCADO IMOBILIÁRIO

Portaria Inep nº 249, de 02 de junho de Publicada no Diário Oficial da União em 04 de junho de 2014.

GUIA DE CURSO. Tecnologia em Sistemas de Informação. Tecnologia em Desenvolvimento Web. Tecnologia em Análise e Desenvolvimento de Sistemas

Aplicação do algoritmo genético na otimização da produção em indústrias de açúcar e álcool

Visão estratégica para compras

Relatório da ListEx02 Aplicação da Heurística do objetivo na definição das propostas do meu aplicativo de banco de dados e dissertação de mestrado

MARKETING INTERNACIONAL

CURSO SUPERIOR DE TECNOLOGIA EM GESTÃO FINANCEIRA PROJETO INTEGRADOR. Suzano

DPS1036 SISTEMAS DA QUALIDADE I METODOLOGIA SEIS SIGMA E MÉTODO DMAIC

CONSIDERAÇÕES INICIAIS. CONSIDERAÇÕES SOBRE RCEs

AVALIAÇÃO E CONSULTORIA IMOBILIÁRIA (VALUATION & ADVISORY)

Redução do Encalhe de Jornais Impressos. Como transformar informação em resultado

POLÍTICA DE INVESTIMENTOS

Aspectos Sociais de Informática. Simulação Industrial - SIND

Departamento de Engenharia. ENG 1090 Introdução à Engenharia de Produção

Preparando sua empresa para o forecasting:

PRIMAVERA RISK ANALYSIS

CURSO DE ESPECIALIZAÇÃO NO AGRONEGÓCIO DO CAFÉ

ANEXO I CONCEITOS DE INOVAÇÃO

1 INTRODUÇÃO. 1.1 Motivação e Justificativa

GESTÃO DAS INFORMAÇÕES DAS ORGANIZAÇÕES MÓDULO 11

Instituto Alberto Luiz Coimbra de Pós-Graduação e Pesquisa de Engenharia

Aumente sua velocidade e flexibilidade com a implantação da nuvem gerenciada de software da SAP

A Importância do CRM nas Grandes Organizações Brasileiras

Felipe Pedroso Castelo Branco Cassemiro Martins BALANCED SCORECARD FACULDADE BELO HORIZONTE

Processos de Desenvolvimento de Software

MASTER IN PROJECT MANAGEMENT

Programa do Curso de Pós-Graduação Lato Sensu MBA em Engenharia de Software Orientada a Serviços (SOA)

em parceria com Pós-Graduação Gestão de Negócios Imobiliários MANUAL DO CANDIDATO ESPM - Campus Rodolfo Lima Martensen

Tecnologia em Gestão Pública Desenvolvimento de Projetos - Aula 9 Prof. Rafael Roesler

RACIONALIZAÇÃO CONSTRUTIVA

DIREITO. Pós-Graduação

Curso de Graduação em Administração. Administração da Produção e Operações I

Transcrição:

INSTITUTO BRASILEIRO DE AVALIAÇÕES E PERÍCIAS DE ENGENHARIA XXII CONGRESSO PANAMERICANO DE VALUACIÓN XIII COBREAP Congresso Brasileiro de Engenharia de Avaliações e Perícias FORTALEZA/CE ABRIL/2006 APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DECISÃO PARA O TRATAMENTO DE INCERTEZAS EM AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS Haddad, Emílio A, Brito Moreira de Azevedo, Paulo B e Yu, Abraham Sin Oih C A Engenheiro Civil, Professor Doutor, Faculdade de Arquitetura e Urbanismo, Universidade de São Paulo Cidade Universitária 05508 São Paulo, SP Tel: (11).3091.4571 Email: emhaddad@usp.br B Economista, Pesquisador Sênior, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo IPT Cidade Universitária 05508 São Paulo, SP Tel: (11)3676.4924 Email: pbrito@ipt.br C Engenheiro Aeronáutico, Professor Livre Docente, Faculdade de Economia e Administração, Universidade de São Paulo e Pesquisador Sênior, Instituto de Pesquisas Tecnológicas do estado de São Paulo IPT 05508 São Paulo, SP Tel: (11)3676.4924 Email: abraoyu@ipt.br

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DECISÃO PARA O TRATAMENTO DE INCERTEZAS EM AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS Haddad, Emílio A, BritoMoreira de Azevedo, Paulo B e Yu, Abraham Sin Oih C Resumo: A técnica utilizada, fundamentada na Estatística Bayeseana, foi o da montagem de árvore de probabilidades. Para isso, foram seguidos os seguintes passos: 1. Identificação dos principais parâmetros que afetam o valor de terrenos urbanos; 2. Identificação de quais destas variáveis apresentam incertezas; 3. Estabelecimento de um modelo que relacione estes fatores; 4. Determinação de um espectro de valores para os parâmetros que carregam incertezas, utilizando para isso valores históricos e opiniões de especialistas; 5. Estabelecimento de cenários baseados na variação dos valores dos parâmetros; 6. Estabelecimento do valor estimado do terreno para cada cenário: 7. Plotagem de uma curva de distribuição de probabilidades dos valores. Tendo em vista o grande número de combinações que podem ser feitas, houve a necessidade da utilização de programas especializados, tendo sido feito uso, no caso do software DPL Decision Programming Language. O mesmo software possibilita o aprofundamento do estudo, permitindo desdobramentos como a análise de sensibilidade do resultado escolhido face à variação dos parâmetros, estabelecendo-se uma hierarquia, e também o valor que se pode atribuir à informação mais precisa sobre cada um deles sendo este último o objeto principal do trabalho aqui submetido. O trabalho exemplifica com o caso de avaliação do valor de um terreno de 450.000 metros quadrados, dentro de uma área urbana. Neste caso, por ter se tratado de uma propriedade de características únicas naquele dado contexto urbano, não existindo outras de tamanho comparável, o que direcionava a pesquisa à utilização da opinião de experts, o método utilizado de análise de decisão mostrou-se adequado. Palavras-chave: Análise de Decisão, Avaliação de Imóveis, Estatística Bayesiana

APLICAÇÃO DE TÉCNICAS DE ANÁLISE DE DECISÃO PARA O TRATAMENTO DE INCERTEZAS EM AVALIAÇÃO DE IMÓVEIS Haddad, Emílio, Brito Moreira de Azevedo, Paulo e Yu, Abraham Sin Oih Introdução 1 A avaliação de imóveis, por sua própria natureza, trabalha com informações que são acompanhadas por incerteza. E um dos principais objetivos dos métodos e técnicas de avaliação de imóveis tem sido o de tentar reduzir o espectro de incertezas que acompanha o valor final estimado do imóvel. Uma das técnicas que busca abordar a incerteza presente em diferentes ramos da engenharia é Análise de Decisão. O objetivo da presente comunicação submetida ao XIII Congresso Brasileiro de Avaliações e Perícias é o de fazer uma breve apresentação deste recurso, discutindo suas potencialidades através de um exemplo de aplicação no caso de avaliação de gleba. Chamamos a atenção desde o início de que a análise de decisão não se constitui num método de avaliação, apenas um instrumento para tratamento das incertezas que acompanham as variáveis consideradas nos modelos de cálculo de cada método. 1. Análise de Decisão A análise de decisão é um conjunto de conceitos e técnicas que foram, e estão sendo, desenvolvidos para garantir a qualidade de decisões complexas envolvendo incertezas e horizonte de planejamento de longo prazo [Clemen, 1991]. Ela é voltada essencialmente para as aplicações, e por isso foi até chamada de engenharia de decisão quando foi introduzida na década de 60. Entretanto, a análise de decisão possui uma base teórica sólida, pois é fundamentada em teoria matemática de decisão e em teoria de probabilidade que já são bem desenvolvidas [Bernstein 2, 1996]. Para lidar com as incertezas sobre os parâmetros técnicos e/ou comerciais, a análise de decisão utiliza a linguagem da teoria de probabilidade para expressar estas incertezas explicitamente. Isto é, as incertezas são quantificadas através de distribuições de probabilidade (ou função densidade). Cria-se desta forma os possíveis cenários para um dado parâmetro incerto. Em análise de decisão, a probabilidade de um evento ou de um valor da variável é subjetivo, ou seja, a probabilidade depende do conhecimento e a experiência da pessoa que toma a decisão ou do especialista por ela designada. Esta 1 Uma primeira versão deste trabalho, em inglês, foi apresentada sob título: Decision Analysis: An analytical tool in Real Estate, no First World Congress of the International Real Estate Society, realizado em 2001, em Gridwood, Alaska. 2 O livro do Peter Bernstein descreve de uma forma muito acessível a história da humanidade em lidar com a incerteza e o risco ao longo destes últimos três milênios.

forma de tratar a probabilidade é muito útil na avaliação de imóveis, naqueles casos em que inexistem dados objetivos em número suficiente 3. Um instrumento muito útil é a árvore de decisão, talvez a mais conhecida entre todas técnicas da análise de decisão. Numa árvore de decisão, as alternativas e as incertezas (já quantificadas em distribuições de probabilidades) são graficamente representadas em uma seqüência cronológica da ocorrência dos eventos. 3. A origem deste trabalho Este trabalho teve origem em projeto desenvolvido na Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas - DEES, do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo IPT, ao qual os autores encontravam-se afiliados. O IPT/DEES, já dispunha experiência em utilização da Análise de Decisão, como solução encontrada para lidar com as incertezas sobre os parâmetros técnicos e comerciais, integrando-a na metodologia de engenharia econômica/matemática financeira. A DEES começou a utilizar a análise de decisão em 1980 para analisar alguns projetos de exploração de petróleo [Yu e Vianna, 1981]. Desde o ano de 1993, a DEES, em conjunto com outras divisões do IPT tem desenvolvido por solicitação do Ministério Público, da Procuradoria Geral do Estado e de órgãos da administração pública uma série de projetos que envolvem a valoração de bens ambientais muitos dos quais envolvem o valor da terra. Pareceu um passo lógico a idéia de se explorar a possibilidade de utilização da capacidade técnica, já desenvolvida na DEES, no emprego da Análise de Decisão, em projetos que requeriam a avaliação de imóveis. A técnica utilizada foi o da montagem de árvore de probabilidades. Para isso, foram dados os seguintes passos: 1. Identificação dos principais parâmetros que afetam o valor de terrenos urbanos; 2. Identificação de quais destas variáveis apresentam incertezas; 3. Estabelecimento de um modelo que relacione estes fatores; 4. Determinação de um espectro de valores para os parâmetros que carregam incertezas, utilizando para isso valores históricos e opiniões de especialistas; 5. Estabelecimento de cenários baseados na variação dos valores dos parâmetros; 6. Estabelecimento do valor estimado do terreno para cada cenário: 7. Plotagem de uma curva de distribuição de probabilidades dos valores. Estas etapas serão detalhadas no exemplo ilustrativo que será apresentado a seguir. 4. A escolha de um software Uma pesquisa feita em 1998 já identificava mais de 30 softwares de Análise de Decisão disponíveis no mundo (Buede, 1998). Atualmente vários softwares de análise de decisão são disponíveis no mercado mundial, a DEES possui a versão mais moderna da DPL (Decision Programming Language), que trabalha com o diagrama 3 Técnicas de codificação foram desenvolvidas para auxiliar a quantificação das incertezas do decisor ou do especialista [Capítulo 8 de Clemen, 1991].

de influência e a árvore de decisão, e é um dos mais potentes entre os softwares existentes e foi justamente o software utilizado em nosso trabalho. 5. Exemplo de aplicação Para exemplificar o uso da técnica da árvore de probabilidades, consideremos o caso de estimativa de valor de uma gleba de 457.000 metros quadrados, localizada dentro de uma área urbana, que possui fortes restrições ambientais de ocupação 4. Trata-se de uma propriedade de características únicas naquele dado contexto urbano, não existindo outras de tamanho comparável. Nestes casos, o uso do método direto (comparativo de dados de mercado) se torna inexeqüível, motivo pelo qual se deve adotar o método indireto (involutivo), pelo qual o valor da gleba é estimado a partir de uma hipótese de seu aproveitamento que seja a mais adequada face ao mercado (Caires e Caires, 1984). Em nosso exemplo, 46 % da gleba é composta por área protegida, e as leis municipais de uso e ocupação do solo requerem que 25 % da área loteável seja destinado ao sistema viário e usos comuns. Assim sendo, a área vendável resultou em aproximadamente 185.000 metros quadrados. Estabelece também que a área mínima de lote seja de 5.000 metros quadrados, o que resultaria no parcelamento em 35 lotes. A tabela seguinte apresenta um resumo dos dados utilizados na avaliação: Área do terreno (m 2 ) 457.000 Área loteável (%) 75% Área fora de APA (%) 54% Taxa de valorização anual terreno 5% Área vendável (m 2 ) 185.085 Tamanho dos lotes (m 2 ) 5.000 Número de lotes 37 Despesas de compra 4,00% Valor do imposto territorial R$ 17.100,00 Despesas de urbanização (por m 2 ) R$ 13,52 Despesas de venda (%) 10% A seguir são detalhadas as etapas de análise: 5.1. Identificação dos principais parâmetros que afetam o valor de terrenos urbanos; 5.2. Identificação de quais destas variáveis apresentam incerteza 4 O caso apresentado neste trabalho como um exemplo de aplicação, embora hipotético, foi construído com base a um caso real de avaliação.

Dentre as variáveis consideradas, cinco foram considerados como acompanhadas por incerteza: respectivamente: o valor da taxa de juros, a data de início de comercialização dos lotes, a taxa de lucro, o valor de venda dos lotes e o volume mensal de venda de lotes (absorção). A determinação dos valores e suas probabilidades para estas variáveis foi feita através da consulta a um grupo de especialistas, conforme detalhado no item 5.4. A figura abaixo apresenta o diagrama de influência Valor lotes Velocidade de vendas Taxa de lucro Valor do terreno Taxa de juros Inicio vendas 5.3. Estabelecimento de um modelo que relacione estes fatores; No caso, foi utilizado o modelo indireto, conhecido como o método involutivo, pelo qual o valor do terreno é dado através da relação: T= V - D U C I; Onde: T = valor do terreno a ser avaliado

D= valor presente 5 das despesas de compra U= valor presente das despesas de urbanização C= valor presente das despesas de comercialização I = valor presente dos impostos territoriais L= lucro mínimo esperado 5.4. Determinação de um espectro de valores para os parâmetros que carregam incertezas, utilizando para isso valores históricos e opiniões de especialistas. Nesta etapa, foram determinados valores para as variáveis: -Valor dos lotes (mínimo, médio, máximo, superior) -Venda mensal de lotes (baixa, média, alta) -Taxa de juros (baixa, média, alta) -Margem de lucro (baixa, média, alta) -Início da comercialização (cedo, estimada, tarde) O painel de especialistas atribuiu também probabilidades de ocorrência para cada um destes casos, detalhados a seguir: 5.4.1 margem de lucro A margem de lucro é uma porcentagem do valor de venda, e seu valor mínimo depende basicamente dos riscos inerentes ao empreendimento analisado. Os valores estimados para essa variável são dados na tabela a seguir Margem de lucro (% valor de venda) probabilidade valor baixa 0,25 0,25 media 0,5 0,3 alta 0,25 0,35 Tais valores formam a seguinte árvore de probabilidades: taxa de lucro (%) probabilidade valor baixa.25 25% media.5 30% alta.25 35% 5.4.2 Taxa de juros (%) 5 Valor presente corresponde ao valor da soma das receitas ou despesas descontadas a uma taxa i (GRANT; IRESON, 1964)

O valor da taxa de juros é um parâmetro macroeconômico, que flutua em decorrência da política monetária estabelecida pelo Banco Central. Os valores estimados para essa variável são dados na tabela a seguir taxa de juros mensal (% ao mês) probabilidade valor Baixa 0,25 0,01 Média 0,5 0,125 Alta 0,25 0,015 Com estes valores resultou a árvore de probabilidades seguinte: taxa de juros (% ao mês) probabilidade valor baixa.25 1,00% media.5 1,25% alta.25 1,50% 5.4.3 Mês de início de vendas Os empreendedores imobiliários buscam fazer o lançamento do empreendimento em ocasiões mais favoráveis do mercado imobiliário para um dado produto. Esta variável é importante pois se reflete no fluxo de caixa do empreendimento. No caso estimou-se uma probabilidade de 20 % de que o loteamento seja lançado em 8 meses; 50 % que fosse lançado em 12 meses e 30 % em 18 meses. inicio das vendas (meses) probabilidade valor cedo 0,2 8 estimada 0,5 12 tarde 0,3 18 Com estes valores resultou a árvore de probabilidades seguinte:

probabilidade valor cedo inicio das vendas (meses).2 8 estimada.5 12 tarde.3 18 5.4.4 valor de venda dos lotes. As pesquisas revelaram que o valor médio por metro de lotes comercializados na área poderia oscilar em função de suas características e localização entre R$ 30,00 /m 2 e R$ 60,00/ m 2, com as suas probabilidades estimadas por conforme tabela abaixo: Valor médio dos lotes probabilidade valor(r$/m 2 ) Mínimo 0,2 30,00 Médio 0,5 40,00 Máximo 0,2 50,00 Superior 0,1 60,00 Com estes valores resultou a árvore de probabilidades seguinte: probabilidade valor valor dos lotes (R$/m 3 ) mínimo.2 30 médio.5 40 Maximo.2 50 superior.1 60 5.4.5 Em relação à venda mensal do lotes, as probabilidades e estimativas atribuídas são apresentados na discussão a seguir. 5.5. Estabelecimento de cenários baseados na variação dos valores dos parâmetros.

Tendo-se por referência o comportamento clássico da curva de demanda, aonde aumento e diminuição dos preços tem reflexos diretos nas quantidades consumidas, espera-se impactos na quantidade de lotes vendidos mensalmente, diante do valor considerado ao lote. A definição dos valores e probabilidades como nas demais variareis foram definidas por painel de especialistas. A Figura abaixo apresenta essas possibilidades, através da árvore de probabilidades. valor lotes mínimo médio Maximo superior probabilidade nº meses baixas.1 1 venda lotes mensais medias.4 3 altas.5 5 baixas.3 1 venda lotes mensais medias.4 3 altas.3 5 baixas.5 1 venda lotes mensais medias.4 3 altas.1 5 baixas.65 1 venda lotes mensais medias.3 3 altas.05 5 Com os valores e probabilidades consideradas nas variáveis anteriormente descritas, o número total de cenários possíveis foi de 324, sendo que cada uma corresponde a uma ramificação na árvore de probabilidades. Um pedaço da mesma pode ser observado na figura anteriormente vista. 5.6. Estabelecimento do valor estimado do terreno para cada cenário e plotagem de uma curva de distribuição de probabilidades dos valores. O modelo de análise e os diagramas de influência bem como os dados dos parâmetros e das probabilidades estimadas foram inseridos no software DPL Decision Programming Language, que através da montagem da correspondente árvore de decisão estimou o espectro de valores possíveis da gleba e as probabilidades associadas a cada valor, tendo sido produzido o seguinte gráfico.

Distribuição acumulada do valor do terreno probabilidade acumulada 1,0 0,9 0,8 0, 7 0, 6 0, 5 0, 4 0, 3 0, 2 0, 1 0,0 0 1.000.000 2.000.000 3.000.000 4.000.000 5.000.000 valor do terreno (R$) A figura acima apresenta a distribuição cumulativa de probabilidades do valor estimado do terreno e, na medida em que apresenta valores e as probabilidades a eles associados, sumariza o resultado da avaliação. A linha vertical próxima a R$ 2 milhões mostra o valor esperado de cerca de R$ 1.700.000,00. A curva permite outras conclusões tais como: a) o valor máximo possível para a propriedade (correspondendo aos valores mais favoráveis ) é de R$ 4.500.000,000; b) que há uma probabilidade de 90% de que o valor do terreno estudado esteja entre R$ 550.000,00 e R$ 3.200.000,00. 5.7. Análise de Sensibilidade. O programa permite que se estude qual a influência dos fatores que carregam incerteza sobre o valor final da avaliação. Para este fim são construídos diagramas como os da figura abaixo, construídos para o nosso exemplo os quais pela sua forma são chamados tornados. Neste caso, o fator que mais influencia no valor final da avaliação é o valor de venda esperado dos terrenos, seguido do valor da margem de lucro.

Valor lotes 714.905 Taxa de lucro Venda lotes mensais Inicio vendas Taxa de juros 1666.46 0.35 / 1349.27 0.25 / 1983.64 1308.17 1744.09 18 / 1481.58 8 / 1794.93 0.015 / 1576.77 0.01 / 1761.79 3569.57 750 1000 1250 1500 1750 2000 2250 2500 2750 3000 3250 3500 Valor do terreno (mil R$) 6. Observações Finais 1. O trabalho exemplifica com o caso de avaliação do valor de um terreno de 450.000 metros quadrados, dentro de uma área urbana. Neste caso, por ter se tratado de uma propriedade de características únicas naquele dado contexto urbano, não existindo outras de tamanho comparável, o que direcionava a pesquisa à utilização da opinião de experts, o método utilizado de análise de decisão mostrou-se adequado. 2. Apesar das vantagens da integração da análise de decisão com as metodologias de engenharia econômica, algumas dificuldades em uso da análise de decisão foram também observadas. A maior dificuldade, ou a barreira para o uso de análise de decisão, é a necessidade de treinar tanto os analistas como os participantes do processo de avaliação, geralmente a equipe do projeto, sobre os conceitos e técnicas de análise de decisão. Por outro lado, é necessário também treinar os outros participantes do processo de avaliação (isto é, os funcionários da empresa cliente). A maioria destes, geralmente com formação em ciências exatas ou em administração / economia, oferece resistências quando são solicitadas a estimar, pela primeira vez, as probabilidades subjetivas da ocorrência de eventos relevantes para o projeto em questão. 3. Muitas vezes uma avaliação, ou uma decisão, pode parecer tão direta que pode parecer que não vale a pena o esforço de se adotar todo o processo descrito da Análise de Decisão. Todavia, a montagem de uma um diagrama de influência ou de uma árvore de decisão permite que sejam descobertas interessantes relações ou perspectivas de análise que de outra forma não iriam receber atenção. A construção de uma árvore de decisão, em alguns casos, pode permitir que sejam mais bem identificadas as relações por vezes confusas que existem entre os muitos fatores do problema. Finalmente, uma abordagem mais sistemática é um passo decisivo para uma melhor fundamentação dos valores obtidos na avaliação. 4. O trabalho procurou apontar as vantagens que as árvores de decisão apresentam em relação aos métodos de avaliação baseados na estatística tradicional: a) Tratamento probabilístico se deriva uma curva de decisão, em vez de se aceitar a distribuição normal, hipótese da estatística dita clássica;

b) A possibilidade de se incorporar a opinião de especialistas em condições onde não existam informações hard. c) Uso da árvore de decisão no aperfeiçoamento da análise.

Bibliografia BERNSTEIN, P.L. Against the Gods: the remarkable story of risk. New York: John Wiley, 1996. CLEMEN, R.T. Making hard decisions: an introduction to decision analysis. Belmont: Duxbury Press, 1991. 557p. CAIRES, H.; CAIRES, H R. Avaliação de glebas urbanizáveis, São Paulo: Pini, 1984. 355p. GRANT, E.L.; IRESON, W.G. Principles of engineering economy. 4.ed. New York: Ronald Press, 1964. 574p. HOWARD, R.A. Decision analysis: practice and promise. Management Science, v.34, n.6, p.679-95,june, 1988.

Curriculum Vitae Emílio Haddad Emilio Haddad concluiu o doutorado em Arquitetura e Urbanismo [Sp-Capital] pela Universidade de São Paulo em 1987. Obteve o Master of City Planning na Universidade da Califórnia, em Berkeley, em 1975 e o Master of Science in Civil Engineering na Stanford University, em 1973. Graduou-se Engenheiro Civil pela Escola Politécnica da Universidade de São Paulo, em 1970. Atualmente é Professor Doutor da Universidade de São Paulo e autônomo da Fundação para a Pesquisa Ambiental, onde coordena o curso de MBA em Desenvolvimento Imobiliário. Desde 2005, é Presidente da Latin American Real Estate Society. Publicou 4 artigos em periódicos especializados e 41 trabalhos em anais de eventos. Possui 2 capítulos de livros publicados. Possui 11 itens de produção técnica. Participou de 41 eventos no exterior e 64 no Brasil. Orientou 1 dissertação de mestrado e 1 tese de doutorado, além de ter orientado 8 trabalhos de iniciação científica na área de Planejamento Urbano e Regional. Recebeu 1 prêmio e/ou homenagem. Atualmente coordena 1 projeto de pesquisa. Atua na área de Planejamento Urbano e Regional, com ênfase em Fundamentos do Planejamento Urbano e Regional. Em suas atividades profissionais interagiu com 31 colaboradores em co-autorias de trabalhos científicos. Possui trabalhos na Área de Avaliação de Imóveis e de Valoração Ambiental. Seu currículo detalhado pode ser acessado através de sua página de Internet: http://www.usp.br/fau/docentes/

Curriculum Vitae Abraham Yu Abraham Sin Oih Yu - Livre Docente pela Universidade de São Paulo, e doutor em Philosophy e Master Of Science pela Stanford University, E.U.A. Professor de graduação e pós-graduação da Faculdade de Economia e Administração da USP desde 1986 e membro de Conselhos e Comissões. É pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas. Publicou 4 artigos em periódicos nacionais e 2 internacionais, 3 artigos em magazine e 70 trabalhos em Anais de eventos. Participou de 29 eventos no Brasil e 4 Internacionais, e apresentando 5 palestras; e participou da organização de 9 eventos. Tendo ministrado 3 cursos de curta duração. Publicou 2 capítulos de livro; e participou da publicação de 6 outra publicações como colaborador. Entre 1983 e 2005 participou em 133 relatórios e pareceres técnicos sendo o responsável pela coordenação de vários projetos no IPT. Recebeu 5 prêmios e/ou homenagens. Coordenou em 2002 o projeto do Observatório Paulista de Tecnologia e Inovação (OPTI). Orientou 15 Dissertações de Mestrado; e 3 Teses de Doutoramento; 7 Monografias em curso de aperfeiçoamento/especialização; e 5 Trabalhos de conclusão de curso de graduação. Participou em Bancas de trabalhos de conclusão, sendo 8 Mestrados; 7 Doutorados e 1 de Graduação e 1 de Especialização Em suas atividades profissionais interagiu com 166 colaboradores em co-autoria de trabalhos científicos. Atua na Área de Gestão com ênfase em Análise de Decisão; Desenvolvimento de Produto; Estratégia Tecnológica.

Curriculum Vitae Paulo Brito Paulo Brito Moreira de Azevedo concluiu MBA de Especialização em Gestão de Negócios e Tecnologia em 2004, sendo sua formação em Economia pela Pontifícia Universidade Católica de São Paulo. É pesquisador do Instituto de Pesquisas Tecnológicas do Estado de São Paulo, na Divisão de Economia e Engenharia de Sistemas desde 1.981. Publicou 6 artigos em periódicos e 16 trabalhos em Anais de eventos Participou de 43 eventos no Brasil e apresentou 2 palestras; Participou da organização de 1 evento; Publicou 1 livro e 2 capitulo de livro; e participou da publicação de 3; Entre 1982 e 2005 participou em 135 relatórios e pareceres técnicos sendo sempre o responsável pela coordenação dos pareceres de obsolescência tecnologia de equipamentos de informática; Ministrou 8 cursos de curta duração; Recebeu 5 prêmios e/ou homenagens; Professor responsável pela disciplina de viabilidade econômica de projetos de inovação tecnológica do MBA de Gestão Estratégia de Tecnologia do IPT; Professor responsável pela disciplina de Economia dos Recursos Ambientais do MBA de Gestão Estratégia do Meio Ambiente do IPT; Coordena atualmente o Projeto Estudos de Obsolescência Tecnológica de Equipamentos de Informática para o Grupo Itautec- Philco; Em suas atividades profissionais interagiu com 128 colaboradores em co-autoria de trabalhos científicos; Atua na Área de Avaliação econômica de projetos tecnológicos.