PARECER CRM/MS N 13/2011 PROCESSO CONSULTA CRM MS N. 05/2011 ASSUNTO

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Transcrição:

PARECER CRM/MS N 13/2011 PROCESSO CONSULTA CRM MS N. 05/2011 ASSUNTO: Liberação de prontuário sigilo médico médico legista. CONSELHEIROS PARECERISTAS: Denise Aparecida de Almeida Tamazato e José Antonio de Carvalho Ferreira I-EMENTA: O Hospital ou o médico não pode, sem o consentimento do paciente ou do seu representante legal, revelar o conteúdo de seu prontuário, mas em se tratando de possível delito de ação pública, e sendo necessário para a investigação, o prontuário está disponível à pericia do médico legista indicado, para que examine o conteúdo do prontuário dentro dos limites do objeto da investigação, guardado o sigilo pericial, desde que isso não implique procedimento criminal contra o próprio paciente e mantém-se a proibição da retirada do prontuário do estabelecimento assistencial. II-DA CONSULTA: O Dr. L.A.V. diretor do IMOL encaminha o seguinte questionamento: Em documento recebido da Direção Técnica da Santa Casa de Campo Grande (anexo), este instituto foi informado da negativa daquela instituição de remessa de copias de prontuários médicos para realização de EXAMES DE CORPO DE DELITO, mesmo quando solicitado pelo Diretor Médico do IMOL, baseado em resolução 1605/2000 CFM. Considerando a falta de referencias aos Institutos Médicos Legais da citada resolução. Considerando o enorme prejuízo a população (atraso e impossibilidades de emissão destes laudos) Solicito parecer deste egrégio Conselho quanto ao cumprimento do citado documento em relação ao IMOL. III-FUNDAMENTAÇÃO: O prontuário médico - Documento único constituído de um conjunto de informações, sinais e imagens registradas, geradas a partir de fatos, acontecimentos e situações sobre a saúde do paciente e a assistência a ele prestada, de caráter legal, sigiloso e científico, que possibilita a 1

comunicação entre membros da equipe multiprofissional e a continuidade da assistência prestada ao indivíduo. De acordo com a Resolução CFM 1821/07, os dados que compõem o prontuário pertencem ao paciente e devem estar permanentemente disponíveis. Quando o prontuário for solicitado pelo paciente ou seu representante legal, os responsáveis pela guarda devem facilitar o fornecimento de cópias autênticas das informações a ele pertinentes. O sigilo médico profissional é dever inerente ao desempenho da profissão médica, no benefício e proteção do paciente, tem, pois, guarida legal ampla no Direito brasileiro, tanto do ponto de vista constitucional, como nos campos ético, civil e penal. Como embasamento legal cabe citar, primordialmente, o comando constitucional de nossa Carta Magna, a Constituição Federal de 1988, que no inciso X, do seu artigo 5º, determina: "X são invioláveis a intimidade, a vida privada a honra e a imagem das pessoas, assegurado o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação;". A "intimidade", pois, do paciente nunca pode ser violada. Alguns dos artigos, do Código de Ética Médica que impõem o segredo médico, pertencem ao seu Capítulo IX, que trata do "SIGILO PROFISSIONAL " e determinam: "É vedado ao médico: - Artigo 73: Revelar fato de que tenha conhecimento em virtude do exercício de sua profissão, salvo por justa causa, dever legal ou autorização expressa do paciente. Parágrafo único: Permanece essa proibição: a) Mesmo que o fato seja de conhecimento público ou que o paciente tenha falecido.b) Quando do depoimento como testemunha. Nesta hipótese o médico comparecerá perante a autoridade e declarará o seu impedimento c) na investigação de suspeita de crime o médico estará impedido de revelar segredo que possa expor o paciente a processo penal; - Artigo 77: Deixar de orientar seus auxiliares e alunos a respeitar o sigilo profissional e zelar par que seja por eles mantido. Os conceitos referentes ao sigilo profissional estão bem expressos em pareceres de diversos Conselhos e Acórdãos e Súmulas do STF,entre os quais, citamos : Parecer CREMEC Nº 11/2001/02/07/10 cuja ementa diz A liberação de prontuários para fins de perícias do IML deve ser autorizada pelo paciente com interesse no resultado da respectiva perícia. A Justa Causa como hipótese de 2

quebra do sigilo é critério subjetivo. O médico revelador responde criminalmente, se não observar com acuro as hipóteses justificáveis. Já o parecer n.º 1105/98-CRMPR concluiu que: 1- O médico assistente está preso ao sigilo; 2- A solicitação de informações sigilosas requisitadas por qualquer autoridade não tem arrimo na lei, caracterizando-se como abuso de poder; 3- A autorização do paciente a respeito de informações relativas sua doença desobrigam o médico a manter o sigilo; 4- A quebra do sigilo médico em paciente psiquiátrico inimputável deve ter autorização de representante legal; 5- A solicitação da direção do IML só pode ser atendida se houver autorização do paciente ou representante legal. No PROCESSO-CONSULTA Nº. 17/99, do CRMPB, visualiza-se a seguinte ementa: O sigilo profissional é um dos principais alicerces da profissão médica e só deve ser quebrado na excepcionalidade de beneficiar o paciente e/ou a coletividade, por dever legal, justa causa e autorização do paciente ou representante legal, logo é ilegal a liberação de informações que constituam sigilo médico que não preencham esses requisitos, pois infringe vários artigos do Código de Ética Médica. No PARECER N.º 1105/98-CRMPR retiramos a citação: O Parecer CRMPR 47/86, de lavra do Consultor Jurídico Antônio Celso Cavalcanti de Albuquerque, se vale de disposição expressa do artigo 144 do Código Civil para assentar o entendimento de inviolabilidade do segredo médico.da mesma forma, sob o matiz de violação do segredo profissional, o Código Penal, considera crime revelar alguém, sem justa causa, segredo de que se tenha ciência em razão de função ou profissão e cuja revelação possa causar dano a outrem. Embora a obrigatoriedade do sigilo profissional não se apresente em caráter absoluto, admitindo exceções, também esbarra em restrições o poder ou faculdade da autoridade de requisitar informes ou elementos para instruir processos criminais. Assim não se cuidando de crimes relacionados com a prestação de socorro médico ou de moléstia de comunicação compulsória, em que fica o profissional desonerado do aludido sigilo, é de se ter por subsistente cuidando-se de tratamentos particulares, seja no tocante à espécie de enfermidade, seja quanto ao diagnóstico ou à terapia aplicada. (RT 567/305); Deste aresto, paradigma para discussão acerca do sigilo médico, destaca-se ainda, parte do voto do Ministro Firmino Paz, o qual nos itens 11 e 12 de seu arrazoado apontam: No 3

plano jurisprudencial, faço referência a memorável acórdão deste STF de que fora relator o eminente Min. Ary Franco e cuja ementa é a seguinte: "Segredo profissional. Constitui constrangimento ilegal a exigência de revelação do sigilo e participação de anotações constantes das clínicas e hospitais (HC 39.308, Pleno, ac. de 19.9.62, RTJ 24/466). A mesma excelsa Corte, por ocasião do julgamento do Recurso Extraordinário N.º 91.218-SP, sendo relator o min. Djaci Falcão (RTJSTF 101/676), estabeleceu que a apresentação do prontuário e anotações só tem cabimento quando consentida pelo paciente, ou quando não for em detrimento deste, e ainda com a ressalva de que tais documentos devem ser APENAS POSTOS À DISPOSIÇÃO PARA PERÍCIA MÉDICA, SOB SIGILO PERICIAL. PROCESSO CONSULTA CFM Nº 1973/2000, se extrai: "FICHA MÉDICA: colocada ela à disposição do perito, que não está preso a sigilo profissional, mas só ao segredo pericial, não se pode exigir sua entrega em juízo" (STF RT 101/676) (TRATA-SE DE TRECHO DO ACÓRDÃO SUPRA MENCIONADO nota do parecerista)."ficha MÉDICA: O HOSPITAL NÃO ESTÁ OBRIGADO A ENTREGÁ-LA (TACrSP 479/326). Além disso, o dever legal só existe QUANTO À COMUNICAÇÃO, nos casos de doença de notificação compulsória (art. 269 do CP) e de crime de ação pública, quando não exponha o paciente a processo criminal (art. 66 da Lei das Contravenções Penais). Veja-se que o núcleo penal em tais casos está na OMISSÃO DE COMUNICAÇÃO, e não no dever de enviar prontuário, como parece vem sendo entendido por autoridades requisitantes.o médico está sujeito por dever ético e legal ao seu Código de Ética, que, como lei, atende à cláusula pétrea da CF, que é o direito individual à privacidade. Poder-se-ia cogitar de que na situação posta em liça crimes de ação pública, em que se requisita o prontuário da vítima, haveria embate entre o direito individual (da vítima), que obriga ao sigilo, e o direito da sociedade de apurar o crime. Isso parece ter sido o móvel da requisição judicial, que buscaria suporte no resguardo do interesse social ou público. O dever de guarda do prontuário não pode ser quebrado pelo médico,hospital ou clínica, sem a autorização do paciente. A solução foi claramente posta pelo Pretório Excelso no RExt já referido quando alude que o hospital PODE POR À DISPOSIÇÃO O PRONTUÁRIO PARA PERÍCIA (médico legista), sob sigilo pericial. A razão claramente é a proteção do indivíduo e é até singela é que o 4

prontuário não abarca só o fato em si (a patologia apresentada) na internação, mas toda a situação de saúde do paciente, QUE PODE TER TODO INTERESSE E A CONSTITUIÇÃO LHE GARANTE TAL DIREITO - DE NÃO VER A SUA VIDA DEVASSADA. Não é demais, finalmente, referir, elucidativamente, os casos constitutivos do dever legal e da justa causa, matéria objeto da Resolução nº. 05/84 deste CRM-PR, que estipula o seguinte: 1) Que são casos constitutivos do dever legal, as seguintes circunstâncias: a) Os casos de doenças infecto-contagiosas de notificação compulsória ou de outras de declaração obrigatória (doenças profissionais, toxicomania, etc); b) As perícias jurídicas; c) Quando o médico está revestido de função em que tenha de se pronunciar sobre o estado do examinado (serviços biométricos, junta de saúde, serviços de companhias de seguros, etc.), devendo os laudos e pareceres ser nesses casos limitados ao mínimo indispensável, sem desvendar, se possível, o diagnóstico; d) Os atestados de óbito; e) Quando se tratando de menores, nos casos de sevícias, castigos corporais, atentados ao pudor, supressão intencional de alimentos; f) Os casos de crime, quando houver inocente condenado e o cliente, culpado, não se apresentar à justiça, apesar dos conselhos e solicitações do médico; g) Os casos de abortamento criminoso, desde que ressalvados os interesses do cliente; - É aconselhável o uso, em código da nomenclatura internacional de doenças e causas de morte. 2) Que são casos constitutivos de "justa causa": a) Quando o paciente for menor e se tratar de lesão ou enfermidade que exija assistência ou medida profilática por parte da família ou envolva responsabilidade de terceiros, cabendo ao médico revelar o fato aos pais, tutores ou outras pessoas sob cuja guarda ou dependência estiver o paciente; 5

b) Para evitar o casamento de portador de defeito físico irremediável ou moléstia grave transmissível por contágio ou herança, capaz de por em risco a saúde do futuro cônjuge ou de sua descendência, casos suscetíveis de motivar anulação de casamento, em que o médico esgotará primeiro, todos os meios idôneos para evitar a quebra do sigilo; c) Quando se tratar de fato delituoso previsto em lei ou a gravidade de suas conseqüências sobre terceiros, crie para o médico o imperativo de consciência para revelá-lo a autoridade competente." IV- CONCLUSÃO As solicitações de prontuários pelos diversos interessados como vimos são bastante frequentes e tratadas de forma diversa, e despertam dúvidas, muitas vezes, quanto á obrigatoriedade ou não do seu envio. Isto porque o Diretor Clinico do hospital ou o médico ficam diante de um impasse: por um lado existe o Código de Ética Médica e leis substantivas que reprimem o envio de dados sigilosos e do outro lado, as leis que regulam o funcionamento dos diversos poderes judiciários. No caso especifico da nossa discussão, que trata da atividade do médico legista, motivo da solicitação deste parecer, a prova pericial serve para apuração de fatos que demandem conhecimentos técnicos especializados.na discussão cabe ressaltar a atribuição do Diretor Médico do IMOL, que exerce a função de médico coordenador do Instituto de Medicina e Odontologia Legal, conforme disposto na Seção III, Art. 5º do DECRETO N 12.107, DE 24 DE MAIO DE 2006 do Estado de MS que dispõe sobre a estrutura da Coordenadoria Geral de Perícias, a quem compete entre outras atribuições: I - executar, com exclusividade, perícias oficiais médico-legais e odonto-legais necessárias aos esclarecimentos dos inquéritos policiais, termos circunstanciados de ocorrências e outros procedimentos policiais, judiciais e administrativos e expedir os respectivos laudos, pareceres técnicos e outros documentos oficiais; II - realizar perícias, da sua área de atuação, relativas à área criminal, requisitadas pelas autoridades competentes, respeitando ao estabelecido no Código de Processo Penal e na legislação especial; III-coordenar e supervisionar, com exclusividade, a área divisional de perícias médico-legais na realização de exames periciais na área de clínica médica, de tanatologia forense, de perícias externas, indiretas e do DPVAT, de 6

antropologia e odontologia legal, de psiquiatria e psicologia forense, de anatomia patológica forense, de radiologia e fotofilmagem forense; Assim, o exame de corpo de delito e outras perícias são realizadas por perito oficial ( artigo 159 do CP). No entanto, a busca da verdade não poderá colidir frontalmente com os direitos individuais dos cidadãos, igualmente protegidos pela carta magna. Sendo assim, concluímos que o Hospital ou o médico não pode, sem o consentimento do paciente ou do seu representante legal, revelar o conteúdo de seu prontuário, mas em se tratando de possível delito de ação pública, e sendo necessário para a investigação, o prontuário está disponível à perícia do médico legista indicado, para que examine o conteúdo do prontuário dentro dos limites do objeto da investigação, guardado o sigilo pericial, desde que isso não implique procedimento criminal contra o próprio paciente e mantém-se a proibição da retirada do prontuário do estabelecimento assistencial. Campo Grande 16 de junho de 2011 Este é o parecer s.m.j. Denise Aparecida de Almeida Tamazato Parecerista José Antonio de Carvalho Ferreira Parecerista Parecer Aprovado na Sessão Plenária do Dia 17.06.2011 7