18 a CÂMARA CÍVEL DO TRIBUNAL DE JUSTIÇA APELAÇÃO CÍVEL N o 11496/08 RELATOR : DES.JORGE LUIZ HABIB APELAÇÃO CÍVEL. MANDADO DE SEGURANÇA. A Lei 7347/85, com a inovação trazida pela lei 11448/07, prevê, em seu art. 5º, inciso II, a legitimidade da defensoria para propor ação civil pública, e a medida cautelar pertinente, de modo que resta patente que se trata de legitimação concorrente ao Ministério Público. A prerrogativa de requisição de documentos está disposta no art. 87 da Lei complementar nº06/77, do art. 181, IV, a, da Constituição Estadual e do art. 128, X, da lei Complementar 80/94. Cabível a postulação de acesso aos documentos para a defesa do interesse dos munícipes, em consonância com os princípios da publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência contidos no artigo 37 da Constituição da República. Legitimidade da Defensoria para apurar se as obras emergenciais atendem ou não ao interesse difuso, da população, quando se observa que o valor das mesmas pode atingir altas cifras. O princípio da publicidade de atos e contratos administrativos visa a propiciar o seu conhecimento e controle, pelos interessados. Patente o interesse dos munícipes na verificação da idoneidade do procedimento licitatório. APELAÇÃO CÍVEL DESPROVIDA.
Vistos, relatados e discutidos estes autos da Apelação Cível n o 11496/08, em que é APELANTE: MUNICÍPIO DE CAMPOS DOS GOYTACAZES E APELADA: DEFENSORIA PÚBLICA DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO. ACORDAM os Desembargadores da 18 a Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em rejeitar as preliminares, e negar provimento à Apelação Cível. Cuida-se de Mandado de Segurança impetrado pela Defensoria Pública do Estado do Rio de Janeiro, de natureza repressiva, com pedido de outorga cautelar, contra ato omissivo do Senhor Secretário de Obras e Urbanismo, e do Município de Campos de Goytacazes, consistente no não atendimento do ofício requisitório de cópias integrais dos processos de licitação. Informa ainda, que as cópias e informações visam a instruir o procedimento número 05/07, para apurar suposta ilegalidade e inadequação dos processos de licitação por emergência, cujos valores atingem na cidade a R$200.000.000,00, respaldando o seu poder de requisição no art. 181 da Constituição Estadual, art. 87, III, da Lei Complementar 06/77, art. 128, X, da Lei Complementar nº 80/94 e na jurisprudência deste Tribunal de Justiça. Liminar deferida às fls. 21. Informações prestadas pelo Município às fls. 28/33, suscitando a ilegitimidade passiva, por ser o ato do Secretário Municipal de Obras e Urbanismo. No mérito, alega a impossibilidade da Defensoria Pública para requer a prestação de contas de procedimentos licitatórios, cuja função institucional é do Ministério Público. Ademais, enfatiza que a prerrogativa de requisição do impetrante é objeto de ADIN, já havendo redução do texto Constitucional estadual, do art. 179 para suspender a eficácia da expressão coletivos.
informações. O Senhor Secretário, autoridade coatora, não prestou Manifestação do Ministério Público de primeiro grau às fls. 50/52, pela denegação da segurança. Sentença de fls. 54/56, julgando procedente o pedido, concedendo a ordem para determinar a apresentação dos documentos relativos aos procedimentos licitatórios citados na inicial. Irresignado, apela o Município, com razões às fls.59/65, aduzindo em síntese, a falta das condições da ação e requisitos específicos do mandado de segurança, ilegitimidade passiva ad causam, falta de interesse processual, falta de requisitos específicos do mandado de segurança, ilegitimidade ativa e ausência de direito líquido e certo. Por fim, requer a reforma da sentença, para extinguir o processo sem julgamento do mérito, ou, alternativamente, julgar improcedentes os pedidos. Recurso tempestivo. Contra-razões acostadas às fls.67/75. Manifestação da Ilustre representante do Ministério Público de primeiro grau às fls. 77/78 no sentido do provimento do recurso, e da Douta Procuradoria de Justiça às fls. 86/90, sentido do desprovimento do apelo. É o relatório. Decide-se. Sem razão a parte apelante.
A sentença corretamente concedeu a ordem. E o fez com acerto. passiva. Primeiramente, impõe-se rejeitar a preliminar de ilegitimidade Com efeito, a autoridade apontada como coatora está vinculada à organização administrativa do Município, de modo que este pode e deve integrar a demanda como ente público, sendo aplicável, ao caso, a Súmula nº 114 deste Egrégio Tribunal de Justiça. Também merece ser rejeitada a alegada ilegitimidade ativa ad causam, tendo em vista que a Lei 7347/85, com a inovação trazida pela lei 11448/07, prevê, em seu art. 5º, inciso II, a legitimidade da defensoria para propor ação civil pública, e a medida cautelar pertinente, de modo que resta patente que se trata de legitimação concorrente ao Ministério Público. Ademais, a prerrogativa de requisição de documentos está disposta no art. 87 da Lei complementar nº06/77, do art. 181, IV, a, da Constituição Estadual e do art. 128, X, da lei Complementar 80/94. No mais, sem razão ao apelante. Com efeito, é plenamente cabível a postulação de acesso aos documentos para a defesa do interesse dos munícipes, em consonância com os princípios da publicidade, impessoalidade, moralidade e eficiência contidos no artigo 37 da Constituição da República. Nos parece intuitivo que existe legitimidade da Defensoria para apurar se as obras emergenciais atendem ou não ao interesse difuso, da população, quando se observa que o valor das mesmas pode atingir a cifra de R$200.000.000,00 (duzentos milhões de reais).
Ademais, o princípio da publicidade de atos e contratos administrativos visa a propiciar o seu conhecimento e controle, pelos interessados, razão pela qual a inobservância de tal princípio configura clara violação ao estado Democrático de Direito. Sendo assim, nos parece evidente o interesse dos munícipes na verificação da idoneidade do procedimento licitatório. Como bem consignou o Ilustre Procurador de Justiça em seu parecer de fls. 86/90, mesmo que não se tratasse de requisição da Defensoria, mas de solicitação de qualquer pessoa, não poderia haver recusa da entrega dos documentos, eis que tal conduta violaria a Constituição da república, notadamente o princípio da publicidade,.... Destarte, deve ser mantido o decreto sentencial, pelos seus próprios fundamentos. Por essas razões, nega-se provimento à apelação cível, mantendo-se integralmente a Douta Sentença apelada. Rio de Janeiro, 10 de junho de 2008. DES.JORGE LUIZ HABIB Relator