Diagnóstico da realidade de uma feira livre de Brasília de Minas Suely Ferreira da Cruz 1 ; Aline silva Alves 1 ; Cinthya Souza Santana 1 ; Willer Durval Lemos 1 ; Ernane Ronie Martins 1 ; Cândido A. da Costa 1 1 ICA/UFMG - Av. Universitária, Nº 1000 - Bairro Universitário- Montes Claros -MG; CEP39404006, suelysema@yahoo.com.br,aline.sa23@yahoo.com.br,cinthyac.s.ufmg@gamil.com; willer17a@hotmail.com,ernane.ufmg@gmail.com;candidocosta@ufmg.com.br RESUMO A produção e comercialização de hortaliças geram empregos e renda a diversos produtores, que vendem seus produtos em vários espaços espalhados por inúmeras cidades brasileiras. Dentre esses espaços destacam-se as feiras livres que desempenham um papel importante no abastecimento urbano e para os agricultores familiares, é uma forma importante de comercialização de seus excedentes de produção. Além da comercialização dos diversos produtos, principalmente as hortaliças, as feiras são espaços que representam à expressão cultural e social da região em que está inserida. Este trabalho teve como objetivo identificar o perfil dos feirantes, sua relação com a feira, a produção e os principais produtos comercializados na feira livre de Brasília de Minas, no Norte de Minas Gerais. As entrevistas semiestruturadas foram conduzidas com 20 feirantes em Brasília de Minas no segundo semestre de 2010. Constatou-se que os feirantes na sua maioria são mulheres com mais de cinquenta anos e que comercializam seus produtos na feira a mais de seis anos, impulsionados pela tradição familiar. Os produtos comercializados na feira são principalmente: alho, coentro, alface, mandioca, cebola, couve, tomate, cenoura, beterraba, cará, maxixe, carqueja, sucupira, hortelã, imburana e outros presentes no norte de Minas Gerais. PALAVRAS-CHAVE: Renda familiar, comercialização de hortaliças, agricultura familiar. ABSTRACT Diagnosis of the reality of an fair market Brasilia of Minas The production and marketing vegetables generate jobs and income for several producers, which sell their products in various spaces throughout several Brazilian cities. Within these spaces there are the farmers market perform an important role in urban supply and for family farmers, it is form important the marketing of their surplus production. Beyond the marketing of several products, principally vegetables, the fairs are spaces that represent the expression of cultural and social region where it inserted. This work with objective identify the profile of the fairground, their relationship with the fair, the production and the main products marketed at the fair free of Brasilia de Minas, north of Minas Gerais.The interviews half-structured was conducted with 20 fairgrounds in Brasília of Minas in the second semester of 2010.It is verified that the fairground are mostly women over fifty years and which they marketing their products in fair more of six years, stimulated for family tradition. The products are principally commercialized at the market: garlic, cilantro, lettuce, cassava, onions, cabbage, tomatoes, carrots, beets, yams, cucumber, yam, gorse, sucupira, mint, and other imburana, presents in North Minas Gerais. Keywords: Family income,marketing vegetables, family farming Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 807
As hortaliças são normalmente comercializadas em mercados informais por meio de atravessadores, feiras livres, quitandas, mercadinho, supermercados, e uma pequena parcela são vendidas diretamente do produtor (Fontes, 2005). Os agricultores familiares enfrentam problemas para comercialização de hortaliças, isso ocorre pela falta de estruturas físicas para armazenamento, sazonalidade ou até mesmo pela quantidade de produtos produzidos que dificulta a sua chegada aos canais de comercialização. Sendo assim as feiras livres é uma canal direto que o produtor consegue vender seus produtos aos consumidores. As feiras têm uma importância fundamental para os agricultores familiares que vendem sua produção diretamente aos consumidores, um canal de comercialização que contribui para um novo modelo de desenvolvimento rural. A concepção do mercado como entidade nacional e a valorização das especificidades culturais e ambientais da produção familiar podem ter sombreado uma alternativa importante nessa comercialização: a solução local, por meio das feiras; estas são fundamentais nas estratégias familiares. (Ribeiro, 2003). As feiras livres em uma cidade são importantes espaços onde as pessoas desenvolvem várias relações sociais, culturais e comerciais. Mesmo com o advento dos supermercados e lojas especializadas o comércio popular das feiras livres permanece como o espaço mais democrático e de sociabilidade entre as pessoas de um determinado local (Costa, 2009). Em Brasília de Minas, norte de Minas Gerais a feira livre mostra em seus diversos espaços suas variedades de produtos e suas dificuldades na melhoria dos mesmos. O trabalho teve como objetivo identificar o perfil dos feirantes, sua relação com a feira, a produção e os principais produtos comercializados na feira livre de Brasília de Minas, no Norte de Minas Gerais. MATERIAL E MÉTODOS O presente trabalho foi realizado por equipe de entrevistadores compostas por acadêmicos do curso de Agronomia do Instituto de Ciências Agrárias da Universidade Federal de Minas Gerais. As entrevistas foram realizadas na cidade de Brasília de Minas, situada na região Norte do Estado de Minas Gerais. O município tem uma população de 31213 habitantes e sua economia se baseia em atividades agropecuárias Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 808
conforme censo de 2010. As entrevistas estruturadas ocorreram no segundo semestre de 2010 com 20 feirantes, utilizando questionário para caracterizar o perfil dos feirantes, como idade, sexo, tempo que vendem na feira, distância da propriedade à feira, meio de transporte utilizado, há quanto que participa da feira, produtos comercializados e satisfação dos vendedores em participar da feira. Os dados apurados foram apresentados na forma de frequência relativa. RESULTADO E DISCUSSÃO A feira de Brasília de Minas é realizada semanalmente aos sábados. Os feirantes em sua maioria são mulheres, representando 7 dos feirantes entrevistados (Figura 1A). Dados de trabalhos em feiras no vale do Jequitinhonha mostram que metade dos pontos de vendas era atendida por mulheres. Segundo (Ribeiro, 2003) tal fato é observado por que os homens vão à feira ver amigos, fazer negócios diversos e passear. Os feirantes de Brasília de Minas têm idade superior a 36 anos, totalizando 8 dos entrevistados (Figura 1B), e que Apenas possuem família composta por uma a três pessoas (Figura 1C). Isso mostra a importância do trabalho familiar na produção e beneficiamento dos produtos levado à feira. Outro fator de relevância no perfil dos feirantes entrevistados é que os mesmos têm uma permanência duradoura na feira, cerca de 70% possuem mais de seis anos que trabalham na feira (Figura 1D) A distância que os feirantes de Brasília de Minas percorrem entre as comunidades onde residem até o mercado municipal, onde ocorre a feira, é de mais de 10 km, para 50% dos entrevistados, para dos entrevistados é de 5 a 10 km e, os demais, percorrem entre 1 e 5 km. A dificuldade em chegar à feira, principalmente para aqueles que não possuem condução própria (Figura 2A). Dentre os meios de transporte utilizados pelos feirantes, o mais comum é o ônibus (segundo 50% dos feirantes entrevistados), o restante tem como condução o veículo próprio, a pé e a cavalo ou carroça (Figura 2B). Em feiras de outros municípios, a prefeitura oferece transporte gratuito aos feirantes de comunidades rurais que frequentemente vendem seus produtos. Estudos conduzidos em feiras de Turmalina- MG, no vale do Jequitinhonha (Ribeiro, 2007) mostrou como isso ocorre, porém isso nem sempre atende todas as comunidades regularmente, sendo necessário transporte alternativo como cavalos e carroças. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 809
Os fatores que motivam os feirantes ir à feira incluem a tradição familiar para dos entrevistados, (Figura 2C). A tradição familiar demonstra que as pessoas com mais tempo e idade na feira são responsáveis pelas vendas, além disso, essas pessoas são referências nesses espaços, ou seja, todos já conhecem seus produtos e sua comunidade de origem. Estes, definitivamente, "capricham" e têm seu próprio mercado assegurado (Ribeiro, 2003). Os consumidores têm preferência pela compra na feira pela relação que existe com os produtores rurais, criando laços de confiança em relação à qualidade dos produtos ofertados. A feira tem uma importância na complementação da renda desses feirantes, representa metade da renda para 1 dos feirantes entrevistados, menos da metade da renda para cerca de, toda a renda para 20% e, os demais, não responderam (Figura 2 D). Alguns feirantes relatam que a feira precisa de mais espaço coberto para proteger os feirantes que trabalham no espaço externo ao mercado, como barracas ou ampliação do espaço coberto. Do total de bancas pesquisadas, alface e coentro foram encontradas em 80% das bancas e, cerca de 1 apresentavam maxixe, mandioca,cebola,couve e tomate. Cará, abobrinha, caxi, cebolinha, pimentão e cenoura foram observadas em das bancas, e, em, foram encontrados inhame, maçã, abacaxi, abóbora, pepino, vagem, repolho, rúcula, mostarda, beterraba, manjericão, batata, batata-doce e chuchu. As plantas medicinais encontradas, em das bancas, foram capim limão, carqueja, sementes de sucupira, hortelã e imburana, conforme Tabela 1. Na feira livre de Brasília de Minas, a maioria dos feirantes é do sexo feminino com mais de 50 anos de idade, que trabalham na feira a mais de seis anos. A feira tem grande importância no abastecimento e comercialização de produtos oriundos da agricultura familiar como plantas medicinais e principalmente hortaliças convencionais e não convencionais. AGRADECIMENTO À Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais - FAPEMIG pelo apoio à participação no 52º Congresso Brasileiro de Olericultura. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 810
REFERÊNCIAS COSTA MS. 2009. Do Produtor ao Consumidor: Integração Socioeconômica e Cultural em Feiras Livres na Fronteira Brasil-Bolívia. Revista Brasileira de Agroecologia 4 : 3375-3377. FONTES PCR. 2005. Olericultura: teoria e prática. Viçosa: UFV. 486p. RIBEIRO EM. 2003. A feira e o trabalho rural no alto Jequitinhonha: um estudo de caso em Turmalina, Minas Gerais. Revista Unimontes Científica 5: 53-65. RIBEIRO EM. 2007 Para repensar a história e o desenvolvimento rural do Jequitinhonha. In: Feiras do Jequitinhonha: mercados, cultura e trabalho de famílias rurais no semi-árido de Minas Gerais. Fortaleza: Banco do Nordeste do Brasil. 329p. Sexo (A) Idade (B) 2 2 7 3 2 Mu Mulheres Homens 0-20 21-35 36-50 51-65 66-80 anos Quantidade de pessoas na família (C) Tempo que vende na feira (D) 20% 1 1 4 2 1 a 3 4 a 6 7 a 9 10 a 12 pessoas 0-5 6-10 11-15 16-20 21-25 26-30 > 35 anos Figura 1 Perfil dos feirantes de Brasília de Minas: Sexo (A), Idade (B), Quantidade de pessoas (C), Tempo que vende na feira (D). (Profile of fairground Brasilia de Minas: Sex (A), Age (B), Number of People (C), Time trade in the market (D) ). Brasília de Minas, UFMG, 2010. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 811
Distância das propriedades das feiras (A) Meio de transporte (B) 20% 20% 40% 50% 1-5 5-10 10-15 15-20 km Ônibus Automóvel próprio A pé Cavalo ou carroça Fatores determinantes que influenciaram a ser feirante (C) Contribuição da feira na renda (D) 1 2 20% 1 Trad. Familiar Escoar produção Idéia própria Presença de pessoas Facilidade de vender e receber Não opinaram Menos que 50% da renda mensal Mais de 50% da renda mensal Não opinaram Metade da renda mensal Toda renda mensal Figura 2 Distância (A), transportes (B), motivação (C) e contribuição da feira na renda familiar (D) dos feirantes de Brasília de Minas, Minas Gerais. ( Distance (A), transport (B), motivation (C) to be fair contribution to the family (D) income of fairground Brasilia of Minas). Brasília de Minas, UFMG, 2010. Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 812
Tabela 1 - Número de bancas pesquisadas com 34 hortaliças e plantas medicinais identificadas na feira de Brasília de Minas, Minas Gerais (Number of stands surveyed with 34 vegetables and medicinal plants identified at the fair in Brasilia de Minas, Minas Gerais). Brasília de Minas, UFMG, 2010. Hortaliças/Plantas medicinais Números de bancas Alho 5 Coentro 5 Alface 4 Maxixe, mandioca, cebola, couve, tomate 3 Cara, abobrinha, caxi, cebolinha, pimentão, cenoura 2 Brócolis, rabanete, inhame, abóbora, pepino, vagem, repolho, rúcula, mostarda, beterraba, acelga, batata, batata-doce, chuchu, capim 1 limão, carqueja, sucupira, hortelã, imburana Hortic. bras., v. 30, n. 2, (Suplemento - CD Rom), julho 2012 S 813