Página 1 de 5 Voltar VALOR NUTRITIVO DE SILAGENS DE CAPIM ELEFANTE (PENNISETUM PURPUREUM) CONTENDO DIFERENTES NÍVEIS DE FARELO DA CASCA DE BABAÇU (ORBIGNYA SP) 1 MARIETA MARIA MARTINS VIEIRA 2, MARIA ANDRÉA BORGES CAVALCANTE 3, JOSÉ NEUMAN MIRANDA NEIVA 4 1 Projeto desenvolvido com apoio do CNPq 2 Estudante de graduação do curso de Zootecnia da Universidade Federal do Ceará (UFC). Depto. de Zootecnia, Bl. 809, Campus do Pici, Fortaleza, Ceará. E-mail: marietav@bol.com.br 3 Bolsista de DCR/CNPq do Depto. de Zootecnia da UFC. Depto. de Zootecnia, Bl. 809, Campus do Pici, Fortaleza, Ceará. E-mail: andreacavalcante@bol.com.br 4 Professor Adjunto do Depto. de Zootecnia da Universidade Federal de Tocantins. E-mail: araguaia@uft.edu.br RESUMO: O experimento foi conduzido no Núcleo de Pesquisa em Forragicultura (NPF), objetivando avaliar a composição química bromatológica e as características fermentativas de silagens de capim Elefante contendo diferentes níveis de adição do farelo da casca de babaçu (FCB). Utilizaram-se 20 silos experimentais de cano PVC, com 34 cm de altura, 10 cm de diâmetro e volume calculado de 0,00267 m3, em delineamento inteiramente casualizado com cinco níveis de adição (0, 5, 10, 15 e 20%, na matéria natural) e quatro repetições. Determinaram-se os teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HC), carboidratos totais (CHOT), nitrogênio amoniacal (N-NH3) e valores de ph das silagens. Com exceção dos teores de FDN e N-NH3, todos os nutrientes das silagens foram afetadas pela adição do FCB. Observaram-se elevações nos teores de MS das silagens quando se adicionou o FCB, estimando-se acréscimos de 1,11 unidades percentuais para cada 1% de adição do FCB. Os teores de MO, PB, EE e HC e os valores de ph também aumentaram linearmente com a inclusão do FCB, enquanto os teores de FDA e CHOT, reduziram. Apesar do FCB ter interferido negativamente no padrão fermentativo das silagens de capim Elefante, recomenda-se sua inclusão no momento da ensilagem até o nível 15%, na matéria natural. PALAVRAS-CHAVE: composição química fermentação subproduto da agroindústria NUTRITIVE VALUE OF ELEPAHNT GRASS (PENNISETUM PURPUREUM) SILAGES CONTAINING DIFFERENTS LEVELS OF THE BABASSU BEEL MEAL (ORBIGNYA SP) BY-PRODUCT ABSTRACT: The experiment was conducted in the Nucleus of Research in Forages to evaluate the chemical composition and the fermentative characteristics of Elephant grass silages containing differents levels of addition of the babassu beel meal (BBM). 20 experimental silos of PVC, with 34 cm of height, 10 cm of diameter and calculated volume of 0.00267 m3 were used in experimental design completely randomized, with five levels addition (0, 5, 10, 15 and 20%, in the natural matter) and four replicates. It was determined the dry matter (DM), organic matter (OM), crude protein (CP), ether extract (EE), neutral detergent fiber (NDF), acid detergent fiber (ADF), hemicelulose (HC), total carbohydrates (TCHO), ammonia nitrogen (N-NH3) contends and ph values of the silages. With except of the contends of ADF and N- NH3, all the silage nutrients were affected by addition of the BBM. The DM concents increased lineally with the increase of the BBM, being considered increments of 1,11 percentile units for each 1% of addition of BBM. The OM, CP, EE and HC contents and ph values also increased lineally with the inclusion of BBM, while the ADF and TCHO reduced. In spite of BBM to have interfered negatively in the Elephant grass silages fermentative pattern, it is recommended your inclusion in the moment of ensilage to the 15% level, in the natura matter.
Página 2 de 5 KEYWORDS: chemical composition, fermentation, agroindustrial by-products INTRODUÇÃO Nos últimos anos, tem havido grande utilização de silagem como alimento volumoso para garantir a manutenção dos rebanhos, principalmente durante o período seco do ano. De acordo com Nussio et al. (2002), em algumas partes do mundo a produção de silagens contribui com 10-25% dos alimentos destinados para ruminantes, representando 2% do suprimento de alimentos suplementares, como média global. Das gramíneas forrageiras utilizadas para a produção de silagens, a que mais se destaca na região Nordeste é o capim Elefante (Pennisetum purpureum). Contudo, o capim elefante apresenta limitações quando destinado à ensilagem devido à elevada umidade, baixos teores de carboidratos solúveis e elevado poder tampão. Dentre as espécies de palmeiras utilizadas na indústria extrativista brasileira, o babaçu é o mais rico do ponto de vista econômico, por ser aproveitado por inteiro. Mas, apesar de tantas e tão variadas utilidades, por sua ocorrência não controlada do ponto de vista econômico e agrícola, o babaçu continua a ser tratado como um recurso marginal, permanecendo apenas como parte integrante dos sistemas tradicionais e de subsistência. Assim, numa tentativa de corrigir os problemas apresentados pelo capim Elefante na ensilagem e, ao mesmo tempo fazer uso de produtos prontamente disponíveis, conduziu-se este trabalho com o objetivo de avaliar os efeitos da adição do farelo da casca de babaçu sobre as características químicas e fermentativas de silagens de capim Elefante. MATERIAL E MÉTODOS O experimento foi desenvolvido no Núcleo de Pesquisa em Forragicultura (NPF), do Departamento de Zootecnia, da Universidade Federal do Ceará (UFC), em Fortaleza, Ceará. O capim Elefante foi proveniente de capineira previamente estabelecida na Fazenda Experimental Vale do Curu, situada no município de Pentecoste - CE, distando 120 Km de Fortaleza. Este foi cortado manualmente, com 50 a 60 dias de idade e triturado em picadeira de forragem convencional em partículas de 2 a 3 cm. O farelo da casca de babaçu foi obtido a partir da moagem da torta do bagaço de babaçu, vendida comercialmente, utilizando-se peneira de 5 mm, o qual foi transportado para o NPF para a confecção das silagens. Antes da ensilagem foram retiradas uma amostra do capim Elefante e outra do farelo da casca do babaçu para determinações da composição química-bromatológica. A composição química bromatológica do capim Elefante e do farelo da casca do babaçu encontram-se na Tabela 1. Foram utilizados 20 silos experimentais confeccionados com tubos de PVC, com 34 cm de altura, 10 cm de diâmetro e volume calculado em 0,00267 m3, distribuídos em um delineamento inteiramente casualizado, com cinco níveis de adição (0, 5, 10, 15 e 20%, na matéria natural da forragem) de farelo da casca de babaçu e quatro repetições. Durante o enchimento dos silos, foram efetuadas pesagens para que todos apresentassem a mesma pressão de compactação (600 Kg/m3). Passados 30 dias da ensilagem, os silos foram abertos e retiradas duas amostras de aproximadamente 300g das silagens para a realização das análises químico-bromatológicas no Laboratório de Nutrição Animal do Departamento de Zootecnia da UFC. Foram determinados os teores de MS, MO, PB, EE, FDN, FDA, HC, CHOT e os valores de ph segundo os procedimentos descritos por Silva & Queiroz (2002). Os teores de nitrogènio amoniacal (N-NH3) foram determinados conforme Vieira (1980). Para avaliação dos resultados foram realizadas análises de variância e de regressão empregando o programa SAS (Statistical Analysis System, 1991).
Página 3 de 5 RESULTADOS E DISCUSSÃO Os teores médios de MS, MO, PB, EE, FDN, FDA, HC, CHOT e N-NH3 e os valores de ph das silagens, com seus respectivos coeficientes de variação e determinação e equações de regressão são apresentados na Tabela 2. Os teores de MS aumentaram (P<0,01) com a adição do farelo da casca do babaçu. Foram observadas elevações de 1,11 unidades para cada 1% de subproduto adicionado. O nível mínimo ideal de 30% de MS, citado por McDonald (1981), considerado como necessário para a ocorrência de fermentação lática, foi alcançado a partir da inclusão de 15% do subproduto. Destaca-se, entretanto, que o farelo da casca do babaçu proporcionou incremento de 22,09 unidades no teor de MS, quando se utilizou o maior nível de adição (20%), em relação às silagens controle (0% de farelo da casca do babaçu). Os teores de PB também sofreram elevações (P<0,05) com a adição do farelo da casca do babaçu. A adição do babaçu fez com que os teores de PB observados fossem de 6,77% no nível 0% de babaçu para 17,53% no maior nível de adição (20%), o que representou um acréscimo de 10,76% pontos percentuais. O nível mínimo de 7% de PB, citado por Silva & Leão (1979) como necessário para um bom funcionamento ruminal foi alcançado com a adição de 5% de farelo da casca de babaçu. Esses dados estão de acordo com os obtidos por Gonçalves et al. (2003) que utilizaram o pedúnculo do caju desidratado em silagens de capim Elefante. Para os teores de EE foram observadas elevações (P<0,01) de 0,62 unidades percentuais a cada 1% de farelo da casca do babaçu adicionado às silagens. Todas as silagens apresentaram teores de EE acima do nível crítico no que diz respeito à nutrição animal (6%). As elevações nos teores de PB e EE das silagens com a adição do farelo da casca do babaçu já eram esperadas, uma vez que os teores desses nutrientes no referido subproduto é bem superior (16,35 e 17,34%, respectivamente) àquele apresentado pelo capim Elefante (4,14 e 2,17%, respectivamente). Não houve variações significativas (P>0,05) nos teores de FDN com a adição do farelo da casca do babaçu. Reduções significativas (P<0,01) nos teores de FDA foram observadas à medida que se adicionou o farelo da casca do babaçu nas silagens de capim Elefante. A cada 1% de babaçu adicionado às silagens os teores de FDA foram diminuídos em 0,70 pontos percentuais. Elevações significativas nos teores de HC foram observadas à medida que se adicionou o farelo da casca do babaçu nas silagens de capim elefante (P<0,01). A cada 1% de babaçu adicionado às silagens os teores de HC foram elevados em 0,36 pontos percentuais. Os teores de CHOT sofreram reduções com a adição de FCB (P<0,01). A adição do babaçu fez com que os teores de CHOT fossem decrescidos de 0,57 pontos percentuais. Essa resposta pode ser explicada pelo baixo teor de CHOT apresentado pelo farelo da casca do babçu (59,08%) quando comparado com o do capim Elefante (83,06%). O teor de N-NH3 das silagens também não sofreu variações significativas com a adição do farelo da casca do babaçu (P>0,05). Destaca-se que em todos os níveis de adição as silagens apresentaram teores de N-NH3 satisfatórios já que em todos os casos os valores ficaram abaixo de 12%, valor este que segundo McDonald (1981) é o valor limite abaixo do qual se classificam as silagens de boa qualidade. Os valores de ph das silagens foram elevados em 0,34 pontos percentuais a cada 1% de adição do farelo da casca do babaçu (P<0,01). Mesmo havendo tal elevação vale ressaltar que a partir do nível de 5% de adição do subproduto os valores de ph ficaram acima do limite superior de 4,2, a partir do qual pode se ter o comprometimento na estabilização do processo fermentativo das silagens, promovendo perdas de energia e proteína e conseqüente redução do valor nutritivo das mesmas. CONCLUSÕES A adição do farelo da casca de babaçu em silagens de capim Elefante foi capaz de melhorar o seu valor nutritivo, porém o padrão fermentativo foi parcialmente comprometido.
Página 4 de 5 REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1. GONÇALVES J.S.; NEIVA J.N.M.; OLIVEIRA FILHO G.S. et al.. [Valor nutritivo de silagens de capim elefante ("Pennisetum purpureum") com diferentes níveis do pedúnculo do caju ("Anacardium occidentale") In: REUNIÃO ANUAL DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 40, 2003, Santa Maria, RS, 2003. Anais... Santa Maria, RS, 2003. 2. McDONALD, P.. The biochemistry of silage. New York: John Eilley & Songs. 226p. 1981. 3. NUSSIO. L.G.; PAZIANI, S.F.; NUSSIO, C. M. B.. Ensilagem de Capins Tropicais. In: REUNIÃO DA SOCIEDADE BRASILEIRA DE ZOOTECNIA, 39 Recife, PE, 2002. Anais... Recife, PE, p.60-69, 2002. 4. SILVA D.J. & QUEIROZ A.C.. Análises de Alimentos: métodos químicos e biológicos. 3. ed. Viçosa, MG, UFV, 235p. 2002. 5. SILVA & LEÃO. Fundamentos de Nutrição dos Ruminantes. Piracicaba, Livroceres, p. 190-236.1979. 6. VIEIRA, P.F. Efeito do formaldeído na proteção de proteínas e lipídeos em rações para ruminantes. Viçosa: UFV, 1980. 98p. Tese (Doutorado em Zootecnia) - Universidade Federal de Viçosa, 1980. Tabela 1 Valores médios dos teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HC) e carboidratos totais (CHOT) de capim Elefante e farelo da casca de babaçu. Alimento Composição química (% MS) MS MO PB EE FDN FDA HC CHOT Capim Elefante 18,20 89,38 4,14 2,17 76,01 44,36 31,65 83,06 Farelo da casca do Babaçu 95,15 92,77 16,35 17,34 66,53 32,89 33,64 59,08 Tabela 2 Médias, coeficientes de variação (CV) e determinação (R 2 ) e equações de regressão (ER) dos teores de matéria seca (MS), matéria orgânica (MO), proteína bruta (PB), extrato etéreo (EE), fibra em detergente neutro (FDN), fibra em detergente ácido (FDA), hemicelulose (HC), carboidratos totais (CHOT), nitrogênio amoniacal (N-NH 3 ) e ph de silagens de capim Elefante com diferentes níveis de adição de farelo da casca de babaçu, na matéria natural (MN) Níveis de Farelo da casca de Babaçu Itens (% MN) CV (%) ER 0 5 10 15 20 MS 16,76 21,95 27,41 34,58 38,08 10,65 Ŷ=16,7054 + 1,1051x ** (R 2 =0,89) MO 88,02 88,91 89,71 90,37 91,44 0,65 Ŷ =88,0245 + 0,1672x ** (R 2 =0,89) PB 6,77 9,91 12,16 13,69 17,53 26,76 Ŷ =6,5138 + 0,2753x * (R 2 =0,31) EE 6,80 6,95 8,67 13,51 10,40 30,29 Ŷ =6,9535 + 0,5057x ** (R 2 =0,62) FDN 73,38 71,31 71,67 67,70 71,77 2,01 Ŷ =71,17 FDA 51,34 47,21 43,57 44,00 42,42 3,72 Ŷ =49,9145 0,42096,9535x ** (R 2 =0,70) HC 22,05 24,10 28,11 23,71 29,35 8,63 Ŷ =22,6197 + 0,28436,9535x ** (R 2 =0,36) CHOT 74,45 72,05 68,88 63,17 63,55 5,94 Ŷ =74,5572 0,6137x ** (R 2 =0,57) N-NH 1 3 5,47 6,84 6,52 6,31 4,10 32,45 Ŷ =5,85 ph 4,17 4,44 4,44 4,53 4,72 5,69 Ŷ =4,2225 + 0,0237x ** (R 2 =0,34) 1 Valor expresso em relação ao teor de nitrogênio total.
Página 5 de 5 * Significativo ao nível de 5% de probabilidade pelo teste F. ** Significativo ao nível de 1% de probabilidade pelo teste F.