AULA 01. Direito Civil, vol.4, Silvio Rodrigues, editora Saraiva.



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Transcrição:

Turma e Ano: Flex A (2014) Matéria / Aula: Responsabilidade Civil / Aula 01 Professora: Andréa Amim Monitora: Mariana Simas de Oliveira AULA 01 CONTEÚDO DA AULA: Bibliografia. Estrutura da Responsabilidade Civil. Princípio da Restituição Integral. Espécies de Responsabilidade. Diferença entre Responsabilidade Civil e Penal. Conduta Humana Vontade e Ausência de Vontade. BIBLIOGRAFIA SUGERIDA Direito Civil Brasileiro, vol. 4, Carlos Roberto Gonçalves, editora Saraiva. O autor também tem um livro sobre responsabilidade civil separado da colação, chamado Responsabilidade Civil, também da editora Saraiva. Esse livro é muito bom na parte de responsabilidade no trânsito e acidente de trânsito. Direito Civil, vol.4, Silvio Rodrigues, editora Saraiva. Direito Civil: Responsabilidade Civil, IV volume, Silvio de Salvo Venosa, editora Atlas. Forense. Instituições de Direito Civil, III volume, Caio Mário da Silva Pereira, editora Programa de responsabilidade civil, Sérgio Cavalieri Filho, editora Atlas. É um livro muito pedido na magistratura, Defensoria Pública e Ministério Público do Estado do Rio de Janeiro. A leitura é fácil e o autor traz casos concretos, apontando quando a sua posição é minoritária. A reparação nos acidentes de trânsito, Arnaldo Rizzardo, editora Revista dos Tribunais. É um livro específico sobre a responsabilidade civil decorrente de acidente de trânsito. Tratado de responsabilidade civil, Rui Stoco, editora Revista dos Tribunais. É um livro muito completo, trazendo o autor o artigo, a doutrina e a jurisprudência e suas divergências.

ESTRUTURA DA RESPONSABILIDADE CIVIL Para melhor visualização de onde se situa a responsabilidade civil na teoria geral do Direito, oportuno trazer o seguinte quadro sinótico (extraído do livro Programa de Responsabilidade Civil Sérgio Cavalieri Filho 9ª edição, p.12): Natural Atos jurídicos Fato Jurídico (os que têm relância jurídica) Voluntário (voluntário, depende de um comportamento humano) Atos lícitos (de acordo com o Direito) Atos ilícitos (contrários ao direito) Negócios jurídicos Campo de incidência da responsabilidade civil, em regra. A responsabilidade civil parte da premissa do justo: se alguém causar dano a outrem tem obrigação de repará-lo. Aplica-se à responsabilidade civil o princípio da restituição integral (restitutio in integrum), que será feita mediante a fixação da indenização na proporção do dano; o princípio serve como norte para a aplicação da importância a ser indenizada. A ação indenizatória, em sede de responsabilidade civil, tem por finalidade última reparar integralmente o dano sofrido, por isso, aplicando-se o princípio em questão. dano. Para fixar o valor da indenização, abre-se outra linha para o julgador: a extensão do No CC\16 a base da responsabilidade civil era a existência de um ilícito culposo, onde se buscava imputar a responsabilidade àquele que tinha faltado com o seu dever geral de cautela ou, então, tinha intenção de causar o dano, agindo com dolo ou culpa. Existia também, na época, a possibilidade da inversão do ônus da prova na hipótese de culpa presumida (responsabilidade por fato de terceiro). No entanto, esse cenário - baseado na responsabilidade subjetiva - se alterou a partir de algumas leis infraconstitucionais, da própria Constituição que tratou da responsabilidade

objetiva dos permissionários e concessionários de serviços públicos, e do Código de Defesa do Consumidor (1990). Desse modo, o CC atual não poderia ficar de fora da tendência trazida por essas mudanças, onde o mais importante é evitar que a sociedade seja onerada por um ilícito do autor (se o agente não for punido, a sociedade acaba arcando com os custos para reparar o dano sofrido, seja através de políticas sociais ou benefícios previdenciários, por exemplo). dispõe: Para se adequar à mudança, o CC\02 traz em seu art.927 o parágrafo único, que Art. 927. Aquele que, por ato ilícito (arts. 186 e 187), causar dano a outrem, fica obrigado a reparálo. Parágrafo único. Haverá obrigação de reparar o dano, independentemente de culpa, nos casos especificados em lei, ou quando a atividade normalmente desenvolvida pelo autor do dano implicar, por sua natureza, risco para os direitos de outrem. Prosseguindo, para que alguém possa ser responsabilizado pelo dano causado devese reconhecer que ele decorreu de um comportamento ilícito: Art. 186. Aquele que, por ação ou omissão voluntária, negligência ou imprudência, violar direito e causar dano a outrem, ainda que exclusivamente moral, comete ato ilícito. Art. 187. Também comete ato ilícito o titular de um direito que, ao exercê-lo, excede manifestamente os limites impostos pelo seu fim econômico ou social, pela boa-fé ou pelos bons costumes. Dentro da estrutura dos fatos jurídicos a responsabilidade civil se situa nos atos ilícitos (há exceções, mas são poucas e serão vistas em outro momento). A responsabilidade civil não depende apenas da existência de um sujeito e de um objeto, mas também de um fato que tenha repercussão no mundo jurídico. Deveres impostos aos sujeitos podem decorrer da lei\do ordenamento jurídico, como também podem decorrer da própria autonomia de vontade. A lei impõe um dever geral de não causar dano. Quando há um dever imposto (pela lei ou pela vontade) violado e, a partir disso, causa-se um dano, surge um segundo dever: o de reparar o prejuízo causado (obrigação de indenizar). Tal dever de reparar o dano, no âmbito cível, é chamado de responsabilidade.

primário ou originário DEVER Lei\ordenamento jurídico. Vontade Violação dano Obrigação de indenizar Dever de reparar secundário ou sucessivo Responsabilidade Nem sempre haverá o dever secundário, ainda que violado o dever primário. O dever de reparar fica apenas como uma responsabilidade eventual, pois depende sempre existência do dano. O mesmo ilícito causador de um dano pode gerar ate três responsabilidades. Ex.: atender o celular enquanto se está dirigindo (i) ilícito administrativo por violação ao Código de Trânsito; (ii) ilícito se civil se a pessoa bater em outro carro causando danos na lataria do veículo; (iii) ilícito penal se na batida entre os veículos houver também uma lesão física (art.303, CTB 1 ). Em virtude do princípio da independência relativa essas responsabilidades são (relativamente independentes) e não se misturam entre si. Eventualmente ocorrerá um campo de inserção entre elas, como prevê o art. 935 do CC: Art. 935. A responsabilidade civil é independente da criminal (princípio da independência relativa), não se podendo questionar mais sobre a existência do fato, ou sobre quem seja o seu autor, quando estas questões se acharem decididas no juízo criminal. Sendo o réu absolvido, no âmbito criminal, por falta de provas da autoria do fato não se aplica a exceção ao princípio da independência relativa (note-se que no juízo criminal 1 Art. 303. Praticar lesão corporal culposa na direção de veículo automotor: Penas - detenção, de seis meses a dois anos e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou a habilitação para dirigir veículo automotor. Parágrafo único. Aumenta-se a pena de um terço à metade, se ocorrer qualquer das hipóteses do parágrafo único do artigo anterior.

impera o princípio do in dubio pro reo). Da mesma forma ocorrerá se ficar dúvida acerca da ocorrência ou não do fato. Se no juízo criminal ficar provada a existência do fato e o seu autor, no âmbito civil haverá mera execução do quantum debeatur. Enquanto a ação criminal estiver apurando a autoria e o fato, de acordo com o art.200, do CC, não correrá a prescrição: Art. 200. Quando a ação se originar de fato que deva ser apurado no juízo criminal, não correrá a prescrição antes da respectiva sentença definitiva. Diferença entre responsabilidade civil e penal Ontologicamente, as responsabilidades civil e penal têm a mesma ideia básica: a ilicitude. No entanto, têm diferenças entre si. Para o Direito Civil, basta que a conduta seja ilícita (violadora de um ilícito geral ou restritivo ato ilícito em sentido amplo e em sentido estrito; não posso causar um dano ou violei um dever imposto pela lei ) e cause um dano para que se busque a reparação do prejuízo. Já para o Direito Penal o ilícito deve estar previsto na lei (conduta típica). No âmbito civil o dano é imprescindível para a responsabilidade. Existe responsabilidade civil sem culpa, sem nexo, pelo risco integral, mas nunca se dispensa o dano (elemento mínimo). No Direito Penal há crime sem dano efetivo, como no caso dos crimes tentados, de mera conduta, formais, sem resultado ou sem prejuízo efetivo. A sanção no ilícito penal, apesar de muitas vezes ter caráter patrimonial (multa), geralmente atinge a liberdade do individuo. Na esfera cível, por sua vez, inexiste sanção que atinge a liberdade, sendo sempre de cunho patrimonial. Quando se tem um ilícito penal, a finalidade da sanção tem caráter retributivo, mas também, ainda que ideologicamente, tem o caráter profilático ( não faça, porque se fizer vai preso ). Para a responsabilidade civil sanção pelo dano cometido tem finalidade precípua reparar o prejuízo patrimonial; a ideia gira em torno da reparação do prejuízo. O art.944 do CC ratifica essa afirmação: a indenização mede-se pela extensão do dano. Excepcionalmente, a sanção no âmbito civil tem caráter preventivo e geralmente ocorre quando a gravidade na conduta do agente é tão grande que a indenização do dano, por si, não é suficiente para coibir comportamento futuros nem mesmo pelo próprio autor do dano. Existem poucas decisões sobre sanção com caráter preventivo. No Rio de Janeiro ocorreu um caso em que o Tribunal de Justiça majorou uma indenização por danos morais de

trezentos para três mil vezes o valor do salário mínimo. No caso concreto, a vítima foi brutalmente espancada dentro de uma boate por uma pessoa da alta classe social que somente não cometeu homicídio porque a sua irmã e seguranças interviram. A lesão corporal decorrente do evento foi seríssima, assim como o dano material e moral suportados. Na seara cível o dano moral foi fixado na sentença em valor equivalente a trezentos salários mínimos. O Tribunal de Justiça reformou a decisão e majorou a verba para a quantia correspondente a três mil salários mínimos. Foi considerado o caráter preventivo e repressivo do dano moral, tendo em vista a gravidade do fato, a capacidade financeira do autor do dano e as condutas anteriores por ele realizadas, sendo certo que trezentos salários mínimos coibiriam comportamento futuro da mesma natureza tanto para o agente quanto para pessoas do seu ciclo social. Isso ainda é discutido no Brasil principalmente em razão da dicção do art.944 do CC ( a indenização mede-se pelo dano ). Três mil salários mínimos provavelmente ultrapassaram o dano, mas foram necessários para que o dano moral fosse punitivo (discutidos). Outra distinção é com relação às excludentes. Se elas forem discutidas e decididas no âmbito criminal, não poderão ser objeto de nova análise na esfera civil. No entanto, em que pese ser vedada a discussão, a consequência pode ser diferente, pois nem sempre o reconhecimento de uma causa de excludente de ilicitude no Direito Penal vara com que, na seara da responsabilidade civil, haja completa ausência de responsabilização. (Ver artigos 65 do CPP, 929 e 188 do CC). Com relação às diferenças entre responsabilidade civil e penal, Carpena Amorim tem um livro tratando somente desse assunto. Deve-se tomar cuidado com as decisões do júri. Cuidado apenas com a decisão absolutório no júri. Se ele chegar à conclusão de que o réu será absolvido, a decisão não faz coisa julgada no cível porque, ao contrário da decisão de um juiz ou tribunal onde há fundamentação dos motivos da absolvição ou da condenação, no júri isso não ocorre. Os jurados não têm compromisso com a verdade real. A questão poderá ser objetivo de discussão no âmbito civil. Classificação da responsabilidade civil Contratual ou extracontratual Se o dever violado for contratual imposto pela vontade das partes a responsabilidade será contratual. Caso a responsabilidade tenha como base um ilícito que viola um dever legal ela será extracontratual.

Subjetiva ou objetiva A responsabilidade contratual pode ser subjetiva (com culpa) ou objetiva (sem culpa). Se ala for objetiva o autor da ação indenizatória tem o ônus de comprovar a culpa do causador do dano. Eventualmente a responsabilidade subjetiva pode ser dividida em: (i) responsabilidade com culpa provada (regra); (ii) responsabilidade com culpa presumida (exceção). Será responsabilidade com culpa presumida se a obrigação firmada no contrato for de resultado e ele não tiver sido alcançado. A responsabilidade extracontratual também pode ser subjetiva, com culpa provada, ou objetiva. Alguns elementos são comuns na responsabilidade objetiva e na subjetiva, devendo ser verificada, no mínimo, a existência de três pressupostos: (i) (ii) (iii) Conduta algum comportamento gerou o dano; Se for responsabilidade subjetiva, além de se comprovar a conduta deve ser provada a existência da culpa latu sensu (dolo ou culpa elementos subjetivos); Dano; Relação de causa e efeito entre a conduta e o dano. Esses pressupostos são trabalhados nas duas responsabilidades, sendo que na responsabilidade subjetiva existe ônus maior, pois é necessária a prova da culpa. Conduta Humana vontade e ausência de vontade É imprescindível a existência de uma conduta ilícita causadora do dano. Essa conduta pode ser culposa ou não, dependendo do tipo de responsabilidade (subjetiva ou objetiva). Como visto, o fato jurídico pode ser natural ou voluntário. O ato ilícito situa-se dentro do fato jurídico voluntário. Assim, a conduta sempre será um comportamento humano voluntário. Inexistindo a vontade, não é possível estabelecer a responsabilidade de se pagar indenização. Por exemplo, há ausência de vontade quando se sofre coação física absoluta, onde a vontade é do coator; na hipnose devidamente comprovada; no sonambulismo; no ato reflexo (diferente do ato instintivo que tem alguma esfera de vontade, ainda que não se sinta; a vontade no reflexo, o ato independe do querer humano).