Agricultura Brasileira: importância, perspectivas e desafios para os profissionais dos setores agrícolas e florestais Claudio Aparecido Spadotto* A importância da agricultura brasileira Nesse texto o termo agricultura é utilizado como o mais geral e, portanto, abrangendo as atividades agrícolas, pecuárias e florestais, compreendendo a produção de alimentos, fibras e energia. A agricultura entendida como um sistema tem sido chamada de, no qual um subsistema é a produção primária (dentro da porteira). Além da produção primária, o compreende a indústria de insumos e máquinas e a oferta de serviços, assim como a indústria de processamento (agroindústria) e a comercialização, direta ou após o processamento, aos consumidores. Pelas suas particularidades, a agricultura empresarial e a agricultura familiar podem ser tratadas separadamente sem, no entanto, se perder a visão que estão relacionadas de diferentes formas. A produção de alimentos no Brasil é feita em 282 milhões hectares, conforme mostrado no quadro abaixo. Estimativa da distribuição territorial no Brasil em milhões de hectares Floresta Amazônica 345 Áreas protegidas 55 Cidades, lagos e estradas 20 Florestas cultivadas 5 Pastagens 220 Culturas anuais 47 Culturas permanentes 15 Outros usos 38 Áreas não exploradas 106 Total 851 Em 2005, o brasileiro foi responsável por 27,9% do PIB nacional, 36,9% das exportações e 37% dos empregos. O setor de base florestal no Brasil participa com 4,5% do PIB e 7,4% das exportações, além de empregar 9% da população economicamente. No quadro abaixo são apresentados alguns números da produção da agricultura brasileira.
Produção da Agricultura Brasileira em 2005 121,5 milhões de toneladas de grãos 18 milhões de toneladas de carne 16 milhões de toneladas de hortaliças 38 milhões de toneladas de frutas 3,7 milhões de toneladas de algodão 120 milhões de metros cúbicos de madeira 22 bilhões de litros de leite Quase 40% do valor bruto da produção agropecuária vêm da agricultura familiar, sendo que de cada dez trabalhadores do campo, cerca de oito estão ocupados em atividades familiares. Sabe-se também que no Brasil 85% dos estabelecimentos rurais detêm cerca de 30% da área total plantada no país, no entanto, têm restrições sócio-econômicas, que limitam, por exemplo, o acesso a linhas de crédito rural. Cenários para a agricultura brasileira A agricultura brasileira está encerrando um ciclo de desenvolvimento, o qual teve efeitos como a interiorização do crescimento, estabilização do abastecimento, redução do custo da cesta básica e o aumento nas exportações do setor. No novo ciclo de desenvolvimento a expectativa é de inserção definitiva do país no mercado global, minimização dos riscos ambientais, diminuição das diferenças regionais, ganhos sociais, além dos econômicos. Baseado em trabalho realizado e publicado pela Embrapa em 2003 1, as principais incertezas que se apresentam para a agricultura brasileira são: Como evoluirá a economia internacional e como se dará a inserção do Brasil? Qual será a intensidade e a forma do protecionismo internacional? Qual será o crescimento da economia nacional e do? Como será a distribuição de renda no Brasil? Qual será a política de desenvolvimento rural? Quais serão as políticas nacionais para o? Qual será a política e como se dará a gestão ambiental? 1 Pesquisa, desenvolvimento e inovação para o brasileiro: Cenários 2002-2012. Embrapa, Secretaria de Gestão e Estratégia. Brasília, DF: Embrapa Informação Tecnológica, 2003.
A partir de diferentes respostas a essas perguntas, alguns possíveis cenários foram propostos e são apresentados no quadro abaixo. Variáveis Cenário A Cenário B Cenário C Cenário D Crescimento Economia internacional moderado e ampla e inserção do Brasil inserção Crescimento moderado Crescimento moderado Crescimento lento e e inserção parcial e ampla inserção inserção parcial Moderada redução Intensidade e forma do geral, médio aumento protecionismo Pequena redução geral, médio aumento Moderada redução geral, médio aumento Manutenção do nível geral, leve aumento Crescimento da economia nacional e do Baixo com crescimento moderado do Distribuição de renda no Brasil Aumento moderado Aumento moderado Aumento moderado Níveis atuais Política de desenvolvimento rural sustentável Eficiente Moderadamente eficiente Ineficiente Ineficiente Políticas nacionais para o Presença ativa do (regulação dos Estado instrumentos e indução do desenvolvimento) Presença moderada do Presença moderada do Presença moderada do Estado, com Estado, com Estado predominância do mercado predominância do mercado Política e gestão ambiental Eficaz voltada para o uso sustentável Moderadamente eficaz Moderadamente eficaz Ineficaz Algumas tendências mundiais foram observadas e são resumidamente apresentadas a seguir. No nível macroeconômico: Crescimento da demanda e maior competitividade nos mercados. Novos produtos e ampliação/diversificação dos mercados. Aumento do número e da importância de países nas relações de troca no comércio internacional. Alteração nos padrões e diversificação de consumo de alimentos. Avanço do processo de reestruturação produtiva. Aumento da pressão de organizações sociais. Aumento das exigências éticas e da qualidade no processo de produção. Na área tecnológica: Progressiva ampliação do uso de produtos derivados da biotecnologia. Crescimento da pesquisa em biofármacos. Indústria químicas mudará seu foco gradualmente. Crescimento do mercado de produtos certificados. Aumento da produção de biomassa para fins energéticos. Relacionadas ao meio ambiente: Preocupação com efeitos negativos dos impactos ambientais. Maior conservação e melhor gerenciamento no uso da água.
Florestas e outras vegetações nativas assumirão novas funções complementares. Algumas tendências para o Brasil também foram apresentadas: Continuada importância do. Nova dinâmica de desenvolvimento rural. Redução do Custo Brasil. Crescimento do mercado interno. Fortalecimento da agricultura familiar. Aumento da competitividade internacional da agricultura brasileira. Fortalecimento da política de exportação, ocupação de novos mercados e ampliação da pauta de produtos exportados. Ampliação e criação de vantagens competitivas na silvicultura. Desenvolvimento de sistemas florestais, agroflorestais e cultivo mínimo com enfoque em produção e serviços ambientais. Ampliação do uso sustentável da biodiversidade. Novas tendências advindas da biotecnologia. Reconfiguração profissional do nacional. Com relação ao perfil dos profissionais do, segundo trabalho realizado por Batalha e colaboradores 2, publicado em 2005, é grande a importância dada às qualidades pessoais e à capacidade de comunicação e expressão, conforme pode ser visto no gráfico a seguir. Qualidades Pessoais Comunicação e Expressão Econom ia e Gestão Métodos Quant., Comput. e Sist. de Informação 2000 2004 Tecnologias de Produção Experiência Profissional Desejada 0,0 1,0 2,0 3,0 4,0 5,0 6,0 7,0 8,0 9,0 10,0 Pontuação Média Assim, fica claro que, além da qualificação técnica, outras competências ou habilidades são desejáveis nos profissionais ligados à agricultura, como aquelas 2 Batalha, M. O., et al. Recursos humanos e : a evolução do perfil profissional. Jaboticabal: Editora Novos Talentos, 2005. 320 p.
mencionadas em trabalho de Kitamura e Irias 3, publicado em 2002, e apresentadas a seguir. Competências ou habilidades duráveis: Intrapessoais: autoconhecimento, autogestão e automotivação. Interpessoais: empatia e capacidade de lidar com outros. Habilidades que levam às seguintes qualidades: Rapidez e flexibilidade na busca de resultados. Polivalência em termos de execução de trabalho. Visão estratégica para aproveitar oportunidades. Capacidade empreendedora. Capacidade de lidar com gente. Realização profissional como ser humano e cidadão. Portanto, o grande desafio dos profissionais do setor nos próximos anos é conciliar a produção agrícola, pecuária, florestal e agroindustrial com os preceitos de responsabilidade social e ambiental. E, assim fazendo, colaborar na busca da sustentabilidade da agricultura brasileira. Para tanto, é necessário distinguir e respeitar as diferenças entre as atividades empresariais e familiares na agricultura. *Engenheiro agrônomo, pesquisador e chefe geral da Embrapa Meio Ambiente. Doutor em Ciência do Solo e Água 3 Kitamura, P.C.; Irias, L.J.M. O profissional de pesquisa & desenvolvimento rural para os novos tempos. Cadernos de Ciência & Tecnologia v.19, n.1, p. 119-134, 2002.