NÚMEROS REAIS E HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: UMA DISCUSSÃO ACERCA DE ABORDAGENS NOS LIVROS DIDÁTICOS

Documentos relacionados
Uma Análise da História da Matemática presente nos Livros Paradidáticos de Matemática

Uma Investigação a Disciplina Informática (ou correlatas) em Educação Matemática nos Cursos de Licenciatura.

UMA ANÁLISE DOS CONTEÚDOS DE PROBABILIDADE E ESTATÍSTICA NOS LIVROS DO ENSINO FUNDAMENTAL E ENSINO MÉDIO DA CIDADE DE JATAÍ

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

O LIVRO DIDÁTICO, ESCOLHA E UTILIZAÇÃO: ALGUNS ASPECTOS DO GUIA DIGITAL

O USO DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA POR PROFESSORES NO ENSINO FUNDAMENTAL

O QUE DIZEM AS REVISTAS SOBRE AS TIC E O ENSINO DA MATEMÁTICA

NÚMEROS RACIONAIS NO ENSINO MÉDIO: ANÁLISE DE ATIVIDADES DESENVOLVIDAS COM ALUNOS DE 1º ANO

CURSO DE VERÃO. PROPOSTA: Com a intenção de atender aos diferentes atores interessados na temática da disciplina,

O ENSINO DE ÁLGEBRA NUM CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DE UMA UNIVERSIDADE PÚBLICA DO ESTADO DE SÃO PAULO

DEMONSTRAÇÃO EM GEOMETRIA: UMA ABORDAGEM POR MEIO DE CONSTRUÇÕES GEOMÉTRICAS

RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS E FORMAÇÃO CONTINUADA: ESTRATÉGIA PARA O TRATAMENTO DE CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS VEICULADOS NA PRÁTICA DOCENTE

CONCEPÇÕES DE FORMANDOS DO ENSINO MÉDIO SOBRE A DENSIDADE DOS NÚMEROS REAIS

Palavras-chave: Formação continuada. Ensino fundamental. Avaliação de rendimento escolar.

UM ESTUDO DE FUNÇÕES ENVOLVENDO RAÍZES NÃO REAIS

UMA ANÁLISE DA HISTÓRIA DA TRIGONOMETRIA EM ALGUNS LIVROS DIDÁTICOS DE MATEMÁTICA DO 9º ANO AVALIADOS PELO PNLD

A IMPORTÂNCIA DE PROJETOS DE PESQUISA NA FORMAÇÃO INICIAL DO PROFESSOR DE MATEMÁTICA

UM AMBIENTE VIRTUAL DE APRENDIZAGEM COMO RECURSO DE MEDIAÇÃO NA CONSTRUÇÃO DE CONHECIMENTOS RELACIONADOS COM A OPERAÇÃO MULTIPLICAÇÃO DE NÚMEROS REAIS

PRÁTICAS MATEMÁTICAS HISTÓRICAS POR MEIO DE UBP COMO UM RECURSO METODOLÓGICO PARA AS AULAS DE MATEMÁTICA

A PRÁTICA CURRICULAR E AS TECNOLOGIAS NAS ESCOLAS MUNICIPAIS E ESTADUAIS: desafios e possibilidades

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE MATEMÁTICA DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA PLANO DE ENSINO.

CONHECIMENTOS DE ALUNOS BRASILEIROS E FRANCESES RELACIONADOS AO CAMPO CONCEITUAL DOS NÚMEROS IRRACIONAIS

perspectivas para o futuro

LIMITAÇÕES DA LINGUAGEM COMPUTACIONAL NO ESTUDO DE RAÍZES DE FUNÇÕES

Autor: Prof. Luís Havelange Soares Instituição: Instituto Federal de Educação, Ciência e Tecnologia da Paraíba Campus Campina Grande

Conhecimentos específicos matemáticos de professores dos anos iniciais: discutindo os diferentes significados do sinal de igualdade

A RESOLUÇÃO DE PROBLEMAS DO ENSINO SUPERIOR Nilton Cezar Ferreira IFG Campus Goiânia

CONCEPÇÕES DE UM GRUPO DE PROFESSORES SOBRE OS NÚMEROS IRRACIONAIS E SOBRE SEU ENSINO NA EDUCAÇÃO BÁSICA

CONTEÚDOS PROGRAMÁTICOS

G6 - Ensino e Aprendizagem de Matemática nos anos finais do Ensino Fundamental e na EJA

1. A comunicação e a argumentação em sala de aula

UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO SUL INSTITUTO DE MATEMÁTICA DEPARTAMENTO DE MATEMÁTICA PURA E APLICADA PLANO DE ENSINO.

GT1: Formação de professores que lecionam Matemática no primeiro segmento do ensino fundamental

LIVROS DIDÁTICOS: UMA ABORDAGEM DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

O USO DE JOGOS NAS AULAS DE MATEMÁTICA: TRABALHANDO COM AS OPERAÇÕES COM NÚMEROS NATURAIS E INTEIROS

O LIVRO DIDÁTICO NAS AULAS DE MATEMÁTICA: UM ESTUDO A PARTIR DAS CONCEPÇÕES DOS PROFESSORES. Introdução

Palavras-chave: formação continuada; prática docente; metodologia de ensino.

Eixo Temático: Eixo 01: Formação inicial de professores da educação básica. 1. Introdução

O GEOGEBRA NO ESTUDO DE PONTO, RETA E PLANO VOLTADO PARA O ENSINO FUNDAMENTAL

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso Licenciatura em Matemática. Ênfase

Palavras-chave: Regularidade; investigar; escrita em matemática; calculadora.

TGD - O POSICIONAMENTO DA ESCOLA REGULAR NA INCLUSÃO DE ALUNOS COM AUTISMO. PALAVRAS - CHAVE: Autismo. Ações pedagógicas. Escola inclusiva.

AS DOBRADURAS: UM RECURSO DIDÁTICO NO ENSINO DE GEOMETRIA

RELATÓRIO DE AUTOAVALIAÇÃO INSTITUCIONAL DO CURSO DE LICENCIATURA EM MATEMÁTICA DO IFMG CAMPUS FORMIGA REFERÊNCIA ANO 2016

ANÁLISE REAL NOS CURSOS DE LICENCIATURA: A NECESSIDADE DE UMA NOVA ABORDAGEM PARA O ENSINO DE NÚMEROS IRRACIONAIS

Universidade Federal de Viçosa Centro de Ciências Exatas e Tecnológicas - CCE Departamento de Matemática

ENSINO EXPLORATÓRIO NO TRABALHO COM NÚMEROS REAIS: A DUPLICAÇÃO DA ÁREA DO QUADRADO

OS CONHECIMENTOS MATEMÁTICOS NO ENSINO MÉDIO: OUTRAS POSSIBILIDADES PARA A PRÁTICA DO PROFESSOR

NOVAS METODOLOGIAS DE ENSINO: UMA PESQUISA SOBRE O USO DO SOFTWARE GEOGEBRA NO PRIMEIRO ANO DO ENSINO MÉDIO

ANÁLISE DA PRODUÇÃO ESCRITA: uma ferramenta de avaliação para as aulas de Matemática

CONCEITO IMAGEM E CONCEITO DEFINIÇÃO DA RETA REAL

Semestre letivo: 3º Semestre Professor: Período:

MÓDULOS EM HISTÓRIA DA MATEMÁTICA TRIGONOMETRIA

CORRELAÇÃO DO LÓGICO E DO HISTÓRICO NO ENSINO DOS NÚMEROS REAIS. Este texto compõe elementos das pesquisas de doutoramento e pós-doutoramento em

CÁLCULO MENTAL NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

MatDigital Projeto Klein Livro Companheiro

ESTRUTURAS MULTIPLICATIVAS: TEORIA E PRÁTICA ENVOLVENDO PROPORÇÃO DUPLA E MÚLTIPLA

O PAPEL E A IMPORTÂNCIA DO LIVRO DIDÁTICO NO PROCESSO DE ENSINO APRENDIZAGEM

UMA ANÁLISE COMPARATIVA DE LIVROS DIDÁTICOS: A PERSPECTIVA TEMPORAL E O CONTEÚDO DE PAISAGEM COMO SUBSÍDIO

TRABALHANDO COM PLANOS, CILINDROS E QUÁDRICAS NO WINPLOT

UTILIZAÇÃO DE OBJETOS DIGITAIS DE APRENDIZAGEM DO TIPO APPLETS NO ENSINO DA GEOMETRIA

VII CONGRESSO INTERNACIONAL DE ENSINO DA MATEMÁTICA

A MATEMÁTICA NO COTIDIANO: UMA ABORDAGEM PRÁTICA NO ESTUDO DOS NÚMEROS INTEIROS

PÓS-GRADUAÇÃO ALFABETIZAÇÃO E LETRAMENTO

DESCUBRA! : ATIVIDADE PARA A SALA DE AULA A PARTIR DA HISTÓRIA DA MATEMÁTICA

FORMAÇÃO CONTINUADA DE DOCENTES DO ENSINO SUPERIOR: POSSIBILIDADES DE CONSTRUÇÃO GRUPAL DE SABERES DOCENTES EM INSTITUIÇÃO PARTICULAR DE ENSINO

HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: UMA INVESTIGAÇÃO NAS ESCOLAS DE ENSINO MÉDIO NA CIDADE DE AREIA - PARAÍBA

RECONHECENDO A DENSIDADE DOS NÚMEROS

O PROFESSOR DOS ANOS INICIAIS E SUA RELAÇÃO COM OS MATERIAIS CURRICULARES DE ESPAÇO E FORMA

UMA AULA INVESTIGATIVA DE GEOMETRIA

A Visualização e a Representação Geométrica de Conceitos Matemáticos e suas Influências na Constituição do Conceito Matemático

Conferência MODELAGEM MATEMÁTICA: EXPERIÊNCIAS PARA A SALA DE AULA

AS DIFICULDADES DO PROFESSOR NO ENSINO DA GEOMETRIA ESPACIAL NAS ESCOLAS ESTADUAIS NO MUNICÍPIO DE SANTA CRUZ

Prática de ensino de matemática no Ensino Médio

DIAGNÓSTICO DA UTILIZAÇÃO DO LIVRO DIDÁTICO NO ENSINO DE BIOLOGIA

ANÁLISE DA PRODUÇÃO ESCRITA COMO ESTRATÉGIA DE DIAGNÓSTICO EM UM PROGRAMA DE EXTENSÃO

PILARES TEÓRICOS METODOLÓGICOS DO GRUPO DE ESTUDOS E PLANEJAMENTO DE ATIVIDADES MATEMÁTICAS (GEPLAM UFSCar)

X Encontro Nacional de Educação Matemática Educação Matemática, Cultura e Diversidade Salvador BA, 7 a 9 de Julho de 2010

Plano de Ensino. Curso. Identificação UNIVERSIDADE ESTADUAL PAULISTA JÚLIO DE MESQUITA FILHO. Câmpus de Bauru. 1604L/1605L Física.

Formação Continuada Nova EJA. Plano de Ação 11 INTRODUÇÃO DESENVOLVIMENTO DA(S) AULA(S)

USO DE MATERIAIS MANIPULÁVEIS NO ENSINO DE PRODUTOS NOTÁVEIS

ETNOMATEMÁTICA E LETRAMENTO: UM OLHAR SOBRE O CONHECIMENTO MATEMÁTICO EM UMA FEIRA LIVRE

ARTICULAÇÃO ENTRE REPRESENTAÇÕES ALGÉBRICAS E GRÁFICAS DE UMA FUNÇÃO: CONSTRUINDO CONJECTURAS POR MEIO DO GEOGEBRA

PLANO DE ENSINO OBJETIVOS

7. ORGANIZAÇÃO CURRICULAR

CONSTRUÇÕES COM RÉGUA E COMPASSO NÚMEROS CONSTRUTÍVEIS. Público alvo: Público em geral. Pré-requisito: elementos da geometria plana.

EDITAL Nº118/ Período de inscrição: de 10 de dezembro de 2018 a 11 de janeiro de 2019, às 16h.

Definição de conceito de número real: discussões e influências

RESOLVENDO PROBLEMAS POR MEIO DE JOGOS

Plano de Ensino IDENTIFICAÇÃO. ANO DA TURMA: 7º semestre EMENTA

REFLEXÃO DOCENTE SOBRE A FORMAÇÃO OFERECIDA NO MUNICIPIO DE FORTALEZA

Plano de Ensino. Identificação. Câmpus de Bauru. Curso 1605L - Licenciatura em Física. Ênfase

UNIVERSIDADE CASTELO BRANCO METODOLOGIA DA PESQUISA EM MATEMÁTICA PARA TCC CURSO DE LICENCIATURA PLENA EM MATEMÁTICA

FORMAÇÃO CONTINUADA EM SERVIÇO DE PROFESSORES DE MATEMÁTICA DA REDE MUNICIPAL DE ENSINO DE CAMPO GRANDE-MS: UMA CONQUISTA

A CONTEXTUALIZAÇÃO COMO AGENTE FACILITADOR NO PROCESSO ENSINO E APRENDIZAGEM DA MATEMÁTICA

AVALIAÇÃO DA APRENDIZAGEM EM FASES: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE LOGARITMOS

A INVESTIGAÇÃO MATEMÁTICA COMO PRINCÍPIO PEDAGÓGICO NO ENSINO E NA APRENDIZAGEM DE PLANO CARTESIANO: ALGUMAS REFLEXÕES 1

Eixo Temático: E7 (Resolução de Problemas e Investigação Matemática)

PLANO DE ENSINO OBJETIVOS

Transcrição:

NÚMEROS REAIS E HISTÓRIA DA MATEMÁTICA: UMA DISCUSSÃO ACERCA DE ABORDAGENS NOS LIVROS DIDÁTICOS Regina Célia Guapo Pasquini Universidade Estadual de Londrina rcgpasq@uel.br Ana Carolina Costa Pereira Universidade Estadual do Ceará carolinawx@gmail.com Resumo: A partir da análise de livros didáticos, que marcaram diferentes momentos em relação às reformas curriculares de ensino, abordaremos o modo como o conceito de número irracional e, conseqüentemente, o conjunto dos números reais é constituído. Discutiremos questões relacionadas ao ensino de conteúdos envolvidos e finalizaremos com um olhar sob a forma como os números reais se apresentam na História da Matemática. Palavras-chave: Números Reais; Livros Didáticos; História da Matemática. Números Reais e Formação de Professores Vários pesquisadores têm trabalhado com problemas relacionados ao ensino e aprendizagem dos números reais, quer sejam, sobre a concepção de alunos ou professores sobre o conceito de número reais, reforçando que esse tema é de fundamental importância para a construção de relações numéricas estabelecida por eles. (SOARES et al, 1998; COBIANCHI, 2002; MOREIRA, 2005; FISCHBEIN, 1995; IGLIORI, 2003; MELO, 1999; e OUTROS). No que se refere ao conjunto dos números reais no que tange aos números racionais, diversas questões são apresentadas, como por exemplo, a forma como os números reais são constituídos a partir dos racionais. Entretanto, um grande número delas exaltam a importância e, ao mesmo tempo, a dificuldade no trabalho com os números irracionais, principalmente no que se refere ao enfoque geométrico para que assim, esse conjunto possa ser ampliado para o conjunto dos números reais. Essa situação é reafirmada quando estudos relatam que alunos e professores têm uma visível dificuldade de entender e diferenciar números racionais ou irracionais (COBIANCHI, 2001). Podemos referenciar a importância de tal situação já que nos 1

Parâmetro Curriculares Nacionais PCN (1998) existe uma preocupação em reverter o estudo dos números irracionais, que tem se limitado quase que exclusivamente ao ensino do cálculo com radicais. Ainda hoje, em geral, a abordagem que se dá no ensino dos números irracionais resume-se a um conjunto de técnicas de resolução. Miguel (1994) afirma que: Tradicionalmente as passagens dos livros didáticos para a escola secundária referente a eles (os irracionais) reduzem-se invariavelmente a um amontoado de regras de operar com radicais que acabam por constituir-se, aos olhos dos estudantes, em conhecimentos pouco úteis, pouco desafiadores e desligados dos demais temas presentes nos programas de Matemática (...) contrastando com a elevada dosagem de imaginação, sutileza e ousadia que impregnaram sua produção histórica (MIGUEL, 1994, 55). Na história da matemática os números irracionais percorrem um caminho bastante longo. Podemos começar com os gregos na busca de encontrar solução para o problema da incomensurabilidade, quando foi destruído todo ideal pitagórico que reduzia tudo a número, causando a primeira crise dos fundamentos matemáticos. Esse problema não foi resolvido antes da Teoria das Proporções de Eudoxo (408 a.c. - 355 a.c.), em que se utilizam apenas argumentos geométricos, colocando a geometria como o centro do conhecimento matemático. Somente no século XIX, como parte do Movimento da aritmetização da Análise, foi que matemáticos, como os alemães Dedekind (1831-1916) e Cantor (1845-1918) formalizaram o conceito de número real estabelecendo de fato uma definição para o conjunto independente da geometria. O sistema de números reais é um assunto presente na formação do estudante, seja no Ensino Fundamental, Médio ou Superior. Muitos professores e Livros Didáticos apresentam uma definição para o mesmo como a união dos conjuntos dos números racionais com os irracionais, e outros como a união dos conjuntos dos naturais, inteiros, racionais e irracionais. Fischbein et al (1995) diz que os números irracionais são uma parte do sistema e sem eles o conceito de números reais está incompleto. Basta negligenciar os números irracionais e o sistema inteiro desmancha-se. 1 Dessa forma, acreditamos que conceito de número irracional é um assunto ainda muito confuso para estudantes e que o mesmo é intuitivamente difícil, principalmente se 1 Tradução nossa. 2

for excluída da aprendizagem a relação entre os números irracionais e a incomensurabilidade. Daí a importância de lidarmos com estas e outras questões que se relacionam com esse tema. Grande parte dos livros utilizados em cursos para formação de professores de Matemática aqui no Brasil não tratam especificamente da construção dos números reais, restringindo-se a apresentar esse conjunto como um Corpo Ordenado Completo. Em concordância com os resultados das pesquisas citadas acima, pode-se afirmar que, para o futuro professor de Matemática, esse tipo de tratamento é considerado insuficiente, ou seja, a discussão da idéia de Número Real é fundamental para a formação de um professor de Matemática. O que se percebe é que o tratamento dado pela maioria tem, no mínimo, furtado dos estudantes o sabor de conhecer relações, justamente num assunto que é inspiração para grande parte da Matemática. O livro didático tem sido um dos materiais pedagógicos mais utilizado pelos professores em suas salas de aula. Diversas razões justificam: o espaço físico oferecido pelas escolas - carência de local apropriado para estudos; a ausência de materiais adequados para pesquisa; as condições de trabalho a que os professores se submetem em função da rotina de trabalho e uma vida de improvisações, rotina e limitações; a imposição dos programas; e ainda, as editoras com suas estratégias de marketing, influenciando os professores na escolha dos livros didáticos a serem adotados. Dessa forma, o livro didático converteu-se numa das poucas formas de documentação e consulta empregada não somente por professores, mas também por alunos. Nossa experiência nos mostra que em cursos destinados à formação de professores, de forma inicial e continuada, assuntos como avaliação de livros didáticos, os fundamentos da Matemática, formação e evolução de conceitos, são raramente considerados. Como resultado disso, resulta-nos, professores com formação sem uma base teórica capaz de oferecer condições que o auxilie na escolha de livros, com espírito crítico e interpretativo. Para tentar mudar este quadro e contribuir para melhoria do ensino de Matemática, deve haver um atilamento por parte dos professores que o livro didático é apenas um complemento de seu trabalho em sala de aula, passando a analisar e perceber, com mais argúcia, as impropriedades que possam estar presentes nos livros em circulação no país. Como apresentado nos parágrafos anteriores, a escolha deste conteúdo - números reais decorre da ênfase das atuais pesquisas em Educação Matemática mais precisamente 3

referentes ao ensino aprendizagem do mesmo. Com maior força as que dizem respeito às noções de incomensurabilidade, densidade, continuidade, classificação, representação, aproximação, racionalidade, infinito e enumerabilidade. Desenvolvimento das atividades A problemática presente no tratamento dos números reais, bem como, a discussão de questões concernentes ao seu ensino vem ao encontro da análise de livros didáticos de Matemática. Serve de pano de fundo para que possam ser geradas discussões acerca do ensino de números reais. Para isso, são apresentadas abaixo as intenções quanto ao desenvolvimento das atividades no decorrer do mini-curso. Num primeiro momento, dividiremos os participantes em grupos para em seguida sejam disponibilizados os livros didáticos selecionados para uma análise do conteúdo proposto buscando por responder a algumas questões apresentadas inicialmente pelos ministrantes. Os livros didáticos utilizados no mini-curso foram escolhidos de diferentes épocas que marcaram momentos distintos das reformas curriculares. Questões serão apresentadas com o objetivo de direcionar a análise. Em seguida, os participantes deverão discutir nos seus grupos e apresentar o resultado da análise e suas concepções sob o estudo. Uma discussão maior com todo grupo será conduzida de modo a ressaltar a forma como o conteúdo é apresentado nos diferentes livros, remetendo sempre que possível às condições como o mesmo se encontra atualmente. Finalmente, concebendo como uma contribuição para a formação do professor de Matemática apresentaremos uma breve exposição no diz respeito aos números reais na História da Matemática, desde o surgimento do problema da incomensurabilidade, ou seja, dos primórdios ao então conhecido como movimento da aritmetização da Análise no século XIX. Referências BRASIL. MEC. Secretaria de Educação Fundamental. Parâmetros Curriculares Nacionais Matemática (5ª a 8ª série). Brasília. MEC/SEF, 1998. 4

COBIANCHI, A. S. Estudos de Continuidade e Números Reais: Matemática, Descobertas e Justificativas de Professores. Dissertação (Mestrado). Rio Claro SP, UNESP, 2001. FISCHBEIN, E; JEHIAM, R; COHEN, D. The Concept of Irrational Numbers in High- School Students and Prospective Teachers. Educational Studies in Mathematics, vol. 29, pp. 29-44, 1995. IGLIORI, S. B. e SILVA, B. A., Concepções dos alunos sobre números reais. In: Educação Matemática: a prática educativa sob o olhar de professores de Cálculo, Jonas Lachini e João Bosco Laudares (org.). Belo Horizonte: FUMARC, 2001, pp 68-88. MELO, S. B. A compreensão do conceito de números irracionais e sua história: Um estudo junto a alunos dos cursos de ciências exatas. In: Revista Symposium, UNICAP PE, ano 3, nº 1, 1999, pp. 27-36. MIGUEL, A.; MIORIM, M.A. História na Educação Matemática: Propostas e desafios. Belo Horizonte: Autêntica, 2004. MOREIRA, P. C; DAVID, M.M.M.S. Números racionais: Conhecimentos da Formação Inicial e Prática Docente na Escola Básica. In. Boletim de Educação Matemática (BOLEMA), UNESP RC, ano 17, nº 21, 2004, pp.1-19; 5