OS CONCETOS DE LEV MANOVICH E A LINGUAGEM MULTIMIDIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O JORNALISMO



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Transcrição:

ISSN 2179-4529 ANAIS DO 4º SIMPÓSIO DE CIBERJORNALISMO OS CONCETOS DE LEV MANOVICH E A LINGUAGEM MULTIMIDIA: CONTRIBUIÇÕES PARA O JORNALISMO Catarine Moscato Sturza 1 RESUMO As Novas Tecnologias de Comunicação e Informação (NTCIs) influenciam o comportamento da sociedade, representando quebras de paradigmas no campo da informação. Esses reflexos podem ser observados, principalmente, na cibercultura. Lev Manovich, teórico russo que estuda as novas mídias, traz em seus estudos visões para a compreensão deste processo a partir do cinema, mídia-chave para suas contribuições. Para ele o advento do computador trouxe muitas possibilidades como a linguagem multimídia - que possibilita integrar em uma mesma estrutura texto, imagem, áudio e vídeo - como tinta fresca em uma pintura recém-preenchida. Neste breve contexto pretendemos expor alguns aspectos importantes para a linguagem multimídia aplicada ao Jornalismo. PALAVRAS-CHAVES: Multimídia. Lev Manovich. Linguagem. Jornalismo. Cibercultura: alguns conceitos As novas tecnologias da comunicação influenciam o comportamento da sociedade, representando quebras de paradigmas no campo da informação. Esses reflexos podem ser observados, principalmente, na cultura contemporânea. Com o advento dos computadores e da Internet o espaço das relações interpessoais passou a ser o cibermeio, criando novas comunidades e uma nova cultura, a cibercultura. 1 Mestranda em Comunicação pela Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Graduada em Jornalismo por mesma instituição (2010). Membro do Grupo de Pesquisa em Ciberjornalismo (Ciberjor).

André Lemos (2003, p. 11-23), professor da Universidade Federal da Bahia e um dos principais teóricos do tema no Brasil, define o termo como a cultura contemporânea marcada pelas tecnologias digitais. Em outras palavras, engloba fenômenos relacionados ao ciberespaço, às formas de comunicação mediadas por computadores. Em 1999, no livro Cibercultura Pierre Lévy já citava que o metamundo virtual ou ciberespaço se tornaria o principal laço de comunicação, de transações econômicas, de aprendizagem e de diversão das sociedades humanas. Nas palavras do autor é a chave da cultura do futuro, afinal, o termo designa um universo sem totalidade. Para Machado (2002) a novidade introduzida pela informática está, de fato, nesta possibilidade que ela abre de fundir num único meio e num único suporte todos os outros meios e de invocar todos os sentidos, pelos menos os mais desenvolvidos no homem. [...] textos escritos e oralizados, imagens fixas e em movimento, sons musicais ou ruídos, gestos, toques e toda sorte de respostas corporais se combinam para constituir uma modalidade discursiva única e holística. A informática nos impõe, portanto, o desafio de aprender a construir o pensamento e expressá-lo socialmente através de um conjunto integrado de meios, através de um discurso áudio-tátil-verbo-moto-visual, sem hierarquias e sem a hegemonia de um código sobre os demais (MACHADO, 2002, p. 109). Definição e história do termo multimídia Na era da Internet multimídia é um conceito, constantemente, utilizado para expressar a junção das palavras multi que significa vários, com mídia, que vem do latim media, ou meios, maneiras, formas. O conceito é a combinação de recursos, seja texto, áudio, imagem ou vídeo. Para Salaverría (2001, p.387) a multimidialidade é [...] uma integração sincrônica e unitária de conteúdos expressos em diversos códigos, principalmente mediante textos sons e imagens.

Multimídia é um conceito que, na verdade, nasce nos tempos primórdios, época em que as pinturas como desenhos de símbolos e animais caçados eram feitas nas cavernas pelos homens primitivos. Nas cerimônias daquela época havia além da representação visual, performance, som ambiente e sensação olfativa - uma experiência de imersão, composta por imagem, som, símbolos e cheiro. A interdisciplinaridade vem de formas e mídias artísticas, como na peça de 1876 O anel dos nibelungos, de Richard Wagner, com música, história, cenário e movimento. E novamente a arte influencia o aparecimento de um dos conceitos de maior destaque no multimídia, a interatividade. Em 1968 Robert Rauschenberg fez uma escultura-espelho que respondia a voz do expectador e sons do ambiente, através de iluminação ativada por som. Um dos autores que trouxe grandes contribuições para o estudo das novas mídias é Lev Manovich, teórico russo que frequentou a faculdade de Matemática onde estudou cálculo e programação. Entre suas maiores obras está The Language of New Media, de 2001, na qual o autor assinala que toda arte clássica e, mais ainda, a arte moderna são interativas de várias maneiras. A linguagem multimídia foi, de fato, alcançada com o advento do computador. Conforme Castells (1999, p. 247), tem-se na Internet: Uma ordem social organizada de modo a satisfazer uma das mais consideráveis das demandas latentes na sociedade, a demanda por livre expressão interativa e pela criação autônoma, hoje distorcida pelo pensamento escleroso dos meios de comunicação tradicionais. Para Manovich (2005) o computador introduz uma outra forma de expressão: o banco de dados. Com ele não há mais uma história, não há começo, meio, ou fim e não se desenvolve como sequência. Os usuários podem agora interagir como o banco de dados. O autor ainda cita que ícones e botões multimídia são como tinta fresca em uma pintura recém-preenchida. Alistar Sutcliffe (2003, p.1) em seu livro Multimedia and Virtual Reality: designing multisensory user interfaces afirma que essas tecnologias são, na verdade,

interfaces multisensorais, capaz de fazer comunicar com os computadores todos os nossos sentidos. Isso significa dizer que o leitor faz uso não apenas de sua voz, ouvidos, mas também visão no processo de leitura. Na psicologia a percepção é o processo de aquisição, interpretação, seleção e organização da informação sensorial. Packer (1999) ressalta: É irônico que a multimídia, que tendemos a associar com tecnologia avançada, seja, ao mesmo tempo, a forma mais antiga de comunicação criativa. Só em 1995 foi criado o primeiro CD-ROM, recurso que muitos autores citam como o início do multimídia. Perceba que multimídia está voltado ao conceito de novas mídias. Em seu livro Novas mídias como tecnologia e ideia: dez definições, Manovich (2005) propõe significativas definições de novas mídias e cibercultura. Eu definiria a cibercultura como o estudo das vários fenômenos sociais associados a Internet e a outras novas formas de comunicação em rede [...] Observe que a ênfase está nos fenômenos sociais; a cibercultura não lida diretamente com novos objetos culturais capacitados pelas tecnologias de comunicação em rede. O estudo desses objetos é o domínio das novas mídias. Além disso, as novas mídias ocupam-se de objetos e paradigma,as culturais capacitados por todas as formas de computação, não apenas em rede. Resumindo: a cibercultura concentra no social e na rede; as novas mídias concentram no cultural e na computação. (MANOVICH, 2005, p. 27) Assim como alguns autores costumam dizer que tudo se copia hoje em dia, Manovich não fica pra trás, compreendendo que as novas mídias são um mix das antigas convenções culturais de representação. Os velhos dados são representações da realidade visual e da experiência humana, isto é, imagens, narrativas, baseadas em textos audiovisuais o que normalmente compreendemos como cultura. Os novos dados são dados digitais. (MANOVICH, 2005, p. 36) Ele aponta que a internet, os sites, a multimídia de computadores, os jogos de computadores, os CD-ROMs e o DVD, a realidade virtual e os efeitos especiais gerados por computadores enquadram-se todos nas novas mídias. O autor parte de 4 princípios: representação digital, modularidade, automação, variabilidade e a transcodificação.

A quantificação, a representação numérica é que é a especificidade trazida pela digitalização e a automação o acesso imediato, que envolve muitas operações na criação, manipulação e acesso às novas mídias. A modularidade mostra que os objetos das mídias digitais são compostos de partes independentes entre si, também compostas de partes menores e igualmente independentes, até chegar ao nível dos pixels, dos caracteres de texto, etc. O principio da variabilidade afirma que um objeto cultural das novas mídias pode existir em estados diferentes, como em sites comerciais da rede, programados para personalizar páginas de rede para todo usuário específico que acessar o site (MANOVICH, 2001, p. 29). Outro princípio levantado pelo autor é a transcodificação. Em linguagem das novas mídias, transcodificar alguma coisa significa traduzi-la em outro formato. A computadorização da cultura gradualmente realiza transcodificação similar em relação a todas as categorias e conceitos culturais. Isto é, categorias e conceitos culturais são substituídos, ao nível de significação e/ou linguagem, por outros novos que derivam da ontologia, epistemologia e pragmática do computador (MANOVICH, 2001, p. 47). Jornalista: um ser multimídia As teorias de Lev Manovich demonstram a importância que a tecnologia da informática trouxe à sociedade moderna. Com esses novos processos influenciando a vida cotidiana dos indivíduos o Jornalismo é uma das atividades que mais adota essas NTCIs para a melhor compreensão do fato noticioso. Já estabelecia Palacios (1999) cinco características ao ciberjornalismo: multimidialidade/convergência, interatividade, hipertextualidade, personalização e memória. Texto, áudio, vídeo, fotografias, animações, simulações podem fazer parte da narrativa web jornalística de maneira complementar, constituindo uma estrutura plural que explora os diferentes sentidos da percepção humana, ressaltou Palácios e Ribas (2007).

Uma nova estruturação determina novos posicionamentos e novas configurações. Os indivíduos que antes se informavam em jornais, revistas e pela televisão, agora se deparam com novas formas de comunicação na Internet. Acompanhar as notícias pela internet já é uma ação incorporada na rotina do dia-a-dia, porém com novas linguagens a leitura passou a ser não-linear. O indivíduo não tem mais a necessidade de seguir verticalmente uma leitura, mas, começar e terminar por onde quiser. Laurie Anderson em parceria com o artista Hsin-Chien Huang mostra um nova forma de contar histórias - uma narratividade do meio. Ou seja, o espectador é imerso em um modo imaginário onde a narrativa não estabelece nenhum enredo linear, nenhum objetivo especifico, apenas uma livre associação das refinadas vinhetas de Anderson [...] O público está livre para perambular, jogar, ponderar e explorar (PACKER, 1999, p. 108). A necessidade agora é atender a um novo usuário, que se torna usuário/consumidor, ou como alguns autores citam co-autor. Assim, como a mensagem muda de natureza, o emissor muda de papel. Para alguns autores, como Gillmor (2005), essa prática é o chamado jornalismo cidadão, em que os usuários passam a contribuir com a produção, difusão e compartilhamento de notícias. A exploração desse novo território no cibermeio pelos profissionais da atividade jornalística é chamado jornalismo multimídia. Para Martín (2000) esses profissionais são pessoas com uma mistura de aptidões tradicionais e futuristas, que conseguem trabalhar com imaginação tanto em textos como fotos, áudio e vídeo. A maior diferença com relação ao jornalismo tradicional é que a visão vertical dos fatos (de que a informação e a pauta vêm de cima) passa a se reconfigurar. Todos participam, o internauta está imerso no processo de produção da notícia, há a interatividade, os feedbacks, a maior participação das redes sociais, o que torna um processo horizontal. Cada inserção, visual, sonora ou textual, não deve se prestar meramente a acrescentar uma informação à narrativa, mas propiciar, pelo mecanismo de atração, diferentes leituras, novas experiências no ambiente multimídia (Gosciola, 2003).

A narração do fato vai além da mera utilização da ferramenta. Ribas (2004) afirmava que cada canal de comunicação deve ter seu desenvolvimento próprio e, ao trabalhar o mesmo tema desenvolvido por outros canais ou meios de comunicação, deve participar da unicidade da obra sem necessariamente ser um mero acompanhamento ou uma ilustração. Considerações Finais As mídias digitais caminham em constante aprimoramento e com isso, a construção do conhecimento. Não temos apenas palavras, frases, texto, mas sons, imagens, cores, animações, ou seja, diferentes linguagens com o mesmo propósito: informação. O problema atualmente está na incorporação dessas novas tecnologias. Ainda há resistência por parte dos veículos de comunicação em adotar esses novos formatos de mídia. Como cita Lima Jr (2006) é uma tentativa de barrar as modificações dos seus modelos de negócios que foram estruturados durante anos e funcionam dentro da lógica industrial da produção de informações. Com a pressão da grande acessibilidade de usuários na Internet buscando melhores informações os veículos começam a se render a esse fenômeno, avançando em experimentações com serviços de áudio e vídeo. Ainda faltam elementos que permitam ao Jornalismo se aproveitar das ferramentas proporcionadas pelas tecnologias digitais conectadas, seja este conhecimento, aprimoramento, experiência, etc. Para Lima Jr (2208) é necessário incorporar tecnologias que proporcionem novas experiências sensoriais nos usuários/consumidores de conteúdos informativos de relevância social, porém: as novas possibilidades de formatação de conteúdos jornalísticos deverão levar em consideração a utilização de tecnologias que proporcionem o uso de mais sentidos humanos e das várias conexões entre eles, nas suas mais diversas formas e intensidades, com o objetivo de fornecer ao usuário novos tipos de experiência na absorção de conteúdo jornalístico com uma característica mais imersiva, facilitando a compreensão da informação de relevância social pelo usuário (LIMA JR, 2008, p. 223).

Além da melhor distribuição dessa informação é preciso preparar o leitor para a imersão nesse universo de novas mídias. Para Pugliese (2010) uma saída é permitir orientações de modo ao leitor se posicionar criticamente frente às questões que vão além do simples uso das mídias e das tecnologias, além da técnica. O jornalismo multimídia é visto normalmente em reportagens especiais onde são utilizados os vários tipos de mídias, dando poder ao leitor para correr para aonde quiser dentro da matéria, de forma não-linear, não-sequencial. A dificuldade está no desenvolvimento desse trabalho. Grandes grupos de comunicação aproveitam de matérias do telejornal para o vídeo da matéria do site, assim como do jornal impresso. Muitas redações de grandes empresas trabalham em prol da convergência, mas ainda demanda esforços a serem ultrapassados. Um profissional pode estar apto a produzir diferentes versões de uma mesma história a fim de divulgar em várias plataformas. Porém, o ponto questionável é quanto à capacidade e à habilidade de um único profissional em produzir conteúdo de qualidade para diferentes meios, cita Quadros, et all (2011). Afinal, podemos dizer que esse profissional é um super jornalista. O desafio atual ainda está no desenvolvimento desta linguagem especifica, com maior tempo de produção, sem acúmulo de função ao jornalista, que cada vez mais se torna um profissional multitarefa. Referências Bibliográficas CASTELLS, Manuel. A sociedade em rede. São Paulo: Paz e Terra, 1999. GILLMOR, Dan. We the Media. Glassroots Journalism by the People, for the People. California (EUA): O Reilly Media, 2005. GOSCIOLA, Vicente. Roteiro para Novas Mídias: do game à tv interativa. São Paulo: Senac, 2003, p.87. Disponível em: < https://www.google.com.br/url?sa=t&rct=j&q=&esrc=s&source=web&cd=3&cad=rja&ved =0CDgQFjAC&url=http%3A%2F%2Fcameracotidiana.com.br%2Fsystem%2Fresources% 2FBAhbBlsHOgZmSSJOMjAxMi8wNS8yOS8wMl80N18yN181ODhfcm90ZWlyb19wY

XJhX2FzX25vdmFzX21fZGlhc19WaWNlbnRlX0dvc2Npb2xhLnBkZgY6BkVU%2Frotei ro%2520para%2520as%2520novas%2520m%25c3%25addias%2520- %2520Vicente%2520Gosciola.pdf&ei=UgeHUc25HvWo4APv5oDQBA&usg=AFQjCNEn NTeQT_Pj3B2Snk9cpRRlSHrUnQ&bvm=bv.45960087,d.dmg>. Acesso em 29 abr 2013. LEMOS, A; CUNHA, P. (Orgs). Olhares sobre a Cibercultura. Sulina, Porto. Alegre, 2003. LÉVY, Pierre. Cibercultura. São Paulo: Editora 34, 1999, Tradução de Carlos Irineu da Costa. LIMA Jr., Walter Teixeira. Tecnologias emergentes desafiam o jornalismo a encontrar novos formatos de conteúdo. Comunicação & Sociedade: Revista do Programa de Pós- Graduação em Comunicação Social da Universidade Metodista de São Paulo. São Bernardo do Campo: Umesp. Ano 30, n. 51, p. 201-225, jan./jun. 2009. Disponível em: <https://www.metodista.br/revistas/revistasmetodista/index.php/cso/article/view/860/911>. Acesso em: 20 abr 2013. MACHADO, Arlindo. As mídias são os livros do nosso tempo? In: PERUZZO, Cícilia M. K. (org). A mídia impressa: o livro e as novas tecnologias. São Paulo: Sociedade Brasileira de Estudos Interdisciplinares, 2002. MANOVICH, Lev. The language of new media. London: The MIT Press, 2001. Disponível em: <http://www.manovich.net/lnm/manovich.pdf>. Acesso em 7 abri 2013.. Database as a Symbolic Form. Cambridge: MIT Press 1998. Disponível em : <http://transcriptions.english.ucsb.edu/archive/courses/warner/english197/schedule_files/ Manovich/Database_as_symbolic_form.htm>. Acesso em 25 abri 2013.. Novas mídias como tecnologia e idéia: dez definições. In: Lucia Leão (org.). O chip e o caleidoscópio: reflexões sobre as novas mídias. São Paulo: Editora SENAC, 2005. MARTÍN, Maria Teresa Sandoval (orgs). Los periodistas em el entorno digital: hacia El periodista multimedia. Sala de Prensa, 2000. Disponível em: <http://www.saladeprensa.org/art164.htm>. Acesso em 20 abri 2013. PALACIOS, Marcos. Hipertexto, fechamento e o uso do conceito de não-linearidade discursiva. Lugar Comum, n. 8, 1999. Disponivel em: <http://grupojol.files.wordpress.com/2011/04/1999_palacios_hipertexto_naolinearidade.pdf >. Acesso em 5 mai 2013. PALACIOS, Marcos; RIBAS, Beatriz. Manual de laboratório de jornalismo na internet. Salvador: Edufba, 2007. PACKER, Randall. O que é multimídia, de uma vez por todas, 1999. In: Lucia Leão (ed.), O chip e o caleidoscópio: reflexões sobre as novas mídias, São Paulo: Editora SENAC, 2005. PUGLIESE, André. Comunicação: reflexões sobre a mídia e a linguagem. I Encontro de História da Mídia da Região Norte, ALCAR Associação Brasileira de Pesquisadores de

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