Estudos Ictiológicos e Monitoramento da Qualidade das Águas dos Reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório Rio Iguaçu, PR*

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Transcrição:

Estudos Ictiológicos e Monitoramento da Qualidade das Águas dos Reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório Rio Iguaçu, PR* Gilmar Baumgartner, UNIOESTE; Dirceu Baumgartner, UNIOESTE; Nyamien Y. Sebastien, UNIOESTE; Pedro R. L. da Silva, FUNIVERSITÁRIA; Vitor A. Frana, FUNIVERSITÁRIA; Luciano C. de Oliveira, FUNIVERSITÁRIA; Tiago Debona, FUNIVERSITÁRIA; Adriana S. Tronco, UNIOESTE e Clóvis A. T. da Silva, TRACTEBEL ENERGIA S.A.** Resumo: este trabalho objetivou gerar conhecimentos sobre qualidade da água e ictiofauna dos reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório. As amostragens ocorreram em 9 estações, entre julho de 2003 e junho de 2006. Para limnologia e qualidade de água, as coletas foram bimestrais, e para peixes mensais, exceto no terceiro ano, quando foram bimestrais. Santiago esteve estratificado para temperatura e oxigênio dissolvido, durante parte do período, o mesmo não ocorrendo em Osório. O IQAR foi maior em Santiago (classe III) que Osório (classe II). Foram registrados 102 gêneros de fitoplâncton e 75 táxons de zooplâncton, enquanto que de peixes foram registradas 51 espécies. Em Santiago, as espécies endêmicas de peixes representaram 60,61% e em Osório 52,38%. O período de reprodução, de maneira geral, ocorreu entre setembro e março e os ambientes preferenciais de desova, localizaram-se a jusante das barragens e na zona de transição (Osório) e Fluvial (Santiago). Palavras-chave: Limnologia, Qualidade da água, fitoplâncton, zooplâncton e ictiofauna. I. INTRODUÇÃO A construção de reservatórios interfere diretamente nos rios transformando suas características lóticas aumentando o tempo de residência da água. Essa transformação é a principal responsável por uma série de alterações nas características limnológicas (físicas, químicas e biológicas) observadas nas áreas represadas e a jusante das mesmas. Dentre os fatores que mais sofrem alterações, estão o comportamento térmico da coluna de água, os padrões de sedimentação e circulação das massas de água, a dinâmica dos gases, a ciclagem de nutrientes e a estrutura das comunidades aquáticas [1] e [2]. Os reservatórios são ambientes complexos com escalas espaciais e temporais que apresentam mudanças dinâmicas impulsionadas pelas funções de forças climatológicas e hidrológicas, pelas interações com as bacias hidrográficas e pelo regime de operação do sistema [3], sendo que o gerenciamento de reservatórios, implica no gerenciamento integrado de um sistema complexo, incluindo o reservatório, sua bacia hidrográfica, as funções de força promovidas pelos usos múltiplos, os fatores climatológicos, hidrológicos, físicos, químicos e biológicos. *Pesquisa Financiada pela Tractebel Energia S.A., através do Programa Pesquisa e Desenvolvimento da Aneel. **Os autores agradecem à Tractebel Energia S.A., Fundação Universitária de Toledo e a Unioeste pelo apoio Estrutural. Deste modo, o estabelecimento de um plano de manejo não pode prescindir do amplo conhecimento de todos os componentes do sistema que se quer manejar, nem de um rigoroso programa de monitoramento para aferir os resultados das medidas e efetuar as necessárias correções. Neste sentido, em 2003, foi estabelecida uma parceria entre a Fundação Universitária de Toledo e a Tractebel Energia S.A., para o desenvolvimento do projeto Estudos Ictiológicos e Monitoramento da Qualidade das Águas dos Reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório Rio Iguaçu, PR, que teve por objetivo gerar conhecimentos que forneçam subsídios para a mitigação de impactos sobre a ictiofauna e a qualidade das águas destes reservatórios. II. ÁREA DE ESTUDO O elevado desnível da bacia do rio Iguaçu se constituiu num grande atrativo para o aproveitamento hidrelétrico, resultando em cinco grandes reservatórios e vários pequenos, que alteraram notavelmente seus atributos físicos, químicos e biológicos [4]. Dentre os reservatórios formados nesse rio, destacam-se os de Salto Santiago e Salto Osório. O primeiro (Salto Santiago), construído a partir do barramento do rio Iguaçu, entre os municípios de Rio Bonito e Saudade do Iguaçu (Paraná), possui uma barragem com 80m de altura máxima e 1.400m de crista, formando um reservatório de acumulação, que inunda uma área de 208km 2, armazenando 6.750hm 3 de água em sua capacidade máxima, ou seja, a 506m de altitude em relação ao nível do mar [5]. O segundo (Salto Osório), constituído a partir do barramento do rio Iguaçu, entre os municípios de Quedas do Iguaçu e São Jorge do Oeste, com barragem de 56m de altura e crista de 750m, forma um reservatório que acumula 1.124hm 3 em sua cota máxima (397m acima do nível do mar). Esta usina, que opera a fio de água, iniciou sua operação em 1975 [5]. Para a execução deste trabalho foram estabelecidas 09 estações de amostragem, sendo 04 no reservatório de Salto Santiago (BAR, POS, CAV e IAT), 03 no reservatório de Salto Osório (BAR, ALT, A), 01 a jusante da barragem de Salto Santiago (JUS) e 01 a jusante da barragem de Salto Osório (JUS).

III. METODOLOGIA IV. RESULTADOS A. Limnologia e qualidade da água A freqüência de amostragem para o monitoramento dos parâmetros limnológicos e da qualidade da água foi bimestral, sendo as coletas de água realizadas com Garrafa de Van Dorn. Em todas as estações, exceto a jusante das barragens, foram amostradas três profundidades, denominadas de zona eufótica, zona afótica e zona anóxica [6]. A temperatura da água, oxigênio dissolvido e profundidade de Secchi, foram determinados no local, enquanto os demais parâmetros para cálculo do Índice de Qualidade da Água de Reservatórios (Déficit de Oxigênio, P-total dissolvido, Clorofila-a, DQO e Fitoplâncton), foram determinados no Laboratório de Limnologia Aplicada da Unioeste, campus de Toledo. Com base nos resultados desta análise, os reservatórios foram enquadrados nas respectivas classes, obedecendo às resoluções CONAMA 020/86 e 357/2005 [7], que estabelecem os padrões mínimos para as classes de água. As coletas de amostras da comunidade fitoplanctônica e zooplanctônica foram realizadas com redes de plâncton de malhas 20 e 68 µm, respectivamente, através de arrastos verticais na coluna de água. B. Ictiofauna As coletas de peixes foram realizadas mensalmente durante o período de julho de 2003 a junho de 2005 e bimestralmente de julho de 2005 a junho de 2006. Para as amostragens foram utilizadas redes de espera simples com malhas de 2.4 a 16 cm, redes de espera tresmalho (feiticeiras) de 6 a 8 cm de entre nós não adjacentes e espinhéis com 50 anzóis, que foram expostos por 24 horas. Também foram realizados arrastos nas margens e pesca elétrica, para a complementação do inventário ictiofaunístico. A abundância específica foi determinada através da captura por unidade de esforço (CPUE) para cada amostra obtida, sendo os resultados expressos como indivíduos/1.000m² de rede*dia ou kg/1.000m² de rede*dia. Os padrões de dominância das espécies foram avaliados através da curva de relação espécie-abundância ( Wittaker Plots ) [8] utilizando-se a abundância (log da CPUE+1) em número de indivíduos. As espécies foram consideradas raras quando o logaritmo da CPUE+1 apresentou valores menores que 0,1. Para a análise da reprodução, os sexos e os estádios de maturidade foram identificados de acordo com [9], sendo que para a determinação do local e período de reprodução foi utilizado o Índice de Atividade Reprodutiva (IAR). A. Limnologia e qualidade da água A temperatura da água entre as estações de amostragens localizadas no reservatório de Salto Santiago mostrou pouca variação durante o período, exceto entre julho de 2004 e novembro de 2005, quando na Jusante os valores foram mais elevados (Figura 1). Esta variável mostrou que o reservatório de Salto Santiago apresentou circulação completa ao longo do reservatório em todo o período, à exceção dos meses de janeiro e março de 2005 e março e maio de 2006, quando houve uma estratificação térmica parcial em decorrência da entrada da água do rio Iguaçu. JUS BAR POS CAV IAT C 22,00 21,00 20 19,00 Figura 1. Variação temporal da temperatura da água em escala longitudinal em Salto Santiago. Em Salto Osório, embora a amplitude de variação da temperatura tenha sido a mesma que em Santiago, em média, os valores foram mais elevados. Entre as estações de amostragem podemos verificar que ocorre uma maior homogeneidade durante todo o período, exceto em janeiro e março de 2004 e, janeiro, março e maio de 2006, quando foram observadas pequenas estratificações (Figura 2). JUS BAR ALT A º C 23,00 22,00 21,00 20 19,00 18,00 17,00 Figura 2. Variação temporal da temperatura da água em escala longitudinal em Salto Osório. Na figura 3, podemos observar que o oxigênio dissolvido apresentou comportamento diferenciado nas estações localizadas no reservatório de Salto Santiago, sendo que entre julho de 2003 e janeiro de 2004, foram registrados valores acima de 7,0 mg/l e após este período somente em alguns meses, na Jusante, os valores estiveram elevados. Ao longo do período neste reservatório, observou-se uma

redução gradativa do oxigênio dissolvido mostrando uma deterioração da qualidade de água. De maneira geral, o reservatório apresentou-se estratificado, porém foi verificada circulação em alguns períodos. 3,50 3,25 3,00 2,75 JUS BAR IQAR 2,50 2,25 2,00 1,75 1,50 POS CAV IAT mg/l 9,00 8,00 7,00 6,00 5,00 4,00 Figura 5. Índice de Qualidade da Água dos reservatórios de Salto Santiago () e Salto Osório (), no período de julho de 2003 a junho de 2006. Figura 3. Variação temporal do oxigênio dissolvido, em escala longitudinal em Salto Santiago. Como o reservatório de Osório apresenta menor tempo de residência, a circulação de água é favorecida, de modo que durante quase todo o período, as concentrações de oxigênio foram homogêneas entre as estações, sendo que os maiores valores de oxigênio dissolvido, ocorreram entre julho e setembro de 2003 (Figura 4). JUS BAR ALT mg/l 9,00 8,00 7,00 6,00 A análise da comunidade fitoplanctônica em ambos os reservatórios permitiu a identificação de 102 gêneros, sendo que 82 destes, ocorreram em Salto Santiago e 77 em Salto Osório. Verificou-se ainda, que 25 gêneros ocorreram apenas em Salto Santiago e 20 gêneros foram registrados somente em Osório. Quando analisamos a densidade média do fitoplâncton, podemos verificar que em ambos os reservatórios houve oscilação no número de indivíduos por mililitro, sendo que na segunda etapa houve um aumento nas densidades, com redução na terceira etapa (Figura 6A). Entre os principais gêneros, podemos verificar que Aulacoseira foi mais abundante tanto em Santiago, como em Osório, sendo seguido por Pleurosira, Anabaena e Gloeobotrys em Santiago, e por Anabaena, Denticula e Fragilaria em Osório (Figura 6B). 12 10 A Figura 4. Variação temporal do oxigênio dissolvido em escala longitudinal em Salto Osório. Indivíduos/ml 8 6 4 2 Em ambos os reservatórios, o índice de Qualidade da Água de Reservatórios (IQAR), apresentou oscilações, sendo que no reservatório de Salto Santiago (Figura 5), ocorreu elevação deste índice, com os maiores valores registrados em maio de 2006 (3,24), enquanto que os menores valores foram observados entre julho de 2003 (1,94) e janeiro de 2004 (2,14). Exceto neste último período (julho de 2003 e janeiro de 2004) o IQAR foi maior em Santiago que em Osório. Neste último reservatório, as elevações não foram tão pronunciadas, havendo um aumento entre julho de 2003 (2,41) e janeiro de 2005 (2,87), sendo que a partir daí houve uma redução gradativa deste parâmetro, alcançando o menor valor em maio de 2006 (2,11). O reservatório de Salto Santiago permaneceu parte do tempo na Classe II, migrando para a Classe III a partir de março de 2004, enquanto que em Osório, estas alterações foram menores, sendo classificado como Classe II. Aulacoseira Pleurosira Anabaena Gloeobotrys Synechocystis Aphanothece Staurastrum Stauroneis Denticula Fragilaria Melosira Spirogyra Etapa I Etapa II Etapa III Períodos 1200 1000 800 600 400 200 Indivíduos/ml 0 200 400 600 800 1000 1200 Indivíduos/ml Figura 6. Densidades de indivíduos entre as etapas e para os principais gêneros de fitoplâncton, registradas nos reservatórios de Salto Santiago () e Salto Osório (), entre julho de 2003 e junho de 2006.

De acordo com a análise da comunidade zooplanctônica, foram registrados 75 táxons, pertencentes a rotíferos, cladóceros e copépodos, sendo que foram encontrados 68 táxons em Salto Santiago e 60 táxons em Salto Osório. Ressalta-se que foram registrados 15 táxons exclusivamente em Salto Santiago e 7 táxons em Salto Osório. A maior diversidade zooplanctônica, tanto no reservatório de Salto Santiago, como em salto Osório, foi verificada para Rotíferos, seguida de Cladóceros e Copépodos (Figura 7A). Considerando as espécies mais abundantes, verificamos que tanto em Santiago, como em Osório, ocorreu predomínio de C. cornuta, B. hagmani, Conochilus sp, S. stylata e N. amazonicum (Figura 7B), porém em baixas densidades. 6 Osório as endêmicas representaram 95,42%, as não endêmicas 4,54% e as exóticas 4% (Figura 8A). Já em número de espécies, no reservatório de Salto Santiago as endêmicas representaram 60,61%, as não endêmicas 27,27% e as exóticas 12,12%, enquanto que em Osório, as endêmicas representaram 52,38%, as não endêmicas 40,48% e as exóticas 7,14% (Figura 8B). Porcentagem 100% 75% 50% 25% Número de Táxon 5 4 3 2 1 0% 100% Salto Santiago Salto Osório Reservatórios Endêmicas Não Endêmicas Exóticas Rotiferos Cladoceros Copepodos Organismos Ceriodaphnia cornuta Porcentagem 75% 50% 25% Bosmina hagmanni Conochilus sp Synchaeta stylata Notodiaptomus amazonicus 0% Salto Santiago Reservatórios Salto Osório Endêmicas Não Endêmicas Exóticas Figura 8. Freqüência de indivíduos e de espécies de peixes, considerando as espécies endêmicas, não endêmicas e exóticas, registradas nos reservatórios de Salto Santiago () e Salto Osório (), entre julho de 2003 e junho de 2006. 20 15 10 5 Indivíduos*1000/ml 0 5 10 15 20 Indivíduos*1000/ml Figura 7. Número de táxons e Densidades de indivíduos entre as etapas e para as principais espécies de zooplâncton, registradas nos reservatórios de Salto Santiago () e Salto Osório (), entre julho de 2003 e junho de 2006. B. Ictiofauna O levantamento ictiofaunístico revelou a presença de 51 espécies de peixes, sendo que foram registradas 39 espécies em Salto Santiago e 41 espécies de peixes em Salto Osório. No reservatório de Salto Santiago, ocorreram 10 espécies exclusivas, enquanto que em Osório foram registradas 12 espécies exclusivas. Cerca de 90% dos exemplares capturados apresentaram comprimentos entre 4,0 e 13,0 cm em ambos os reservatórios, sendo possível caracterizar a fauna destes ambientes como de pequena a médio porte. Podemos observar na figura 8, que em ambos os reservatórios, tanto em número de indivíduos, como em número de espécies, as endêmicas foram dominantes sobre as demais, sendo que em Santiago, em número de indivíduos, as endêmicas representaram 89,13%, as não endêmicas 10,78% e as exóticas 9%, enquanto que em A curva de espécie-abundância ("Whittaker plots") para a área de influência dos dois reservatórios, mostra os padrões de dominância entre as espécies capturadas. Como podemos verificar na figura 9, nos dois reservatórios ocorreu forte dominância de Astyanax sp B e Astyanax sp C, podendo ser observado ainda, que existem espécies raras no reservatório de Santiago, como por exemplo, C. monoculus oriunda de outra bacia hidrográfica e C. carpio uma espécie exótica. Em Osório, o número de espécies com abundância reduzida foi maior, sendo que podemos destacar L. macrocephalus, P. corruscans, P. fasciatum, B. hilarii e C. gariepinus que são espécies oriundas de outras bacias e/ou exóticas.

3,5 3,0 2,5 Astyanax sp B Astyanax sp C 12,0 9,0 10,89 Abundância (log CPUE+1) 2,0 1,5 1,0 0,5 C. monoculus C. carpio IAR 6,0 3,0 1,70 0,9 8 3,33 6,3 46,476,4 1 4,77 2,93 1,4 8 3,3 9 1,59 6,22 2,8 6 2,36 4,39 4,05 2,85 2,3 0 1,4 7 1,0 7 1,4 8 0,77 1,6 3 1,9 7 4,59 3,37 1,72 0,69 0,2 0 Abundância (log CPUE+1) 0 5 10 15 20 25 30 35 2,7 2,4 2,1 1,8 1,5 1,2 0,9 0,6 0,3 Astyanax sp B Astyanax sp C A. vittatus "RanK" 0 5 10 15 20 25 30 35 40 "Rank" Figura 9. Curva espécie-abundância para os reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório, considerando as espécies capturadas entre julho de 2003 e junho de 2006. IAR 25,0 2 15,0 1 5,0 jul/03 AGO OUT DEZ FEV ABR JUN jul/04 AGO OUT DEZ FEV ABR JUN jul/05 2,4 62,4 8 12,9 1 16,24 11,52 14,74 9,0 1 6,79 8,33 4,31 3,6 73,71 5,68 5,58 8,47 13,6 1 2 0,02 8,8 9 11,76 5,4 5 5,12 3,2 8 2,6 4 1,67 1,3 7 jul/03 AGO OUT DEZ FEV ABR JUN jul/04 AGO OUT DEZ FEV ABR JUN jul/05 Figura 10. Índice de Atividade Reprodutiva (IAR), para o conjunto de espécies, nos reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório, entre julho de 2003 e junho de 2006. 8,8 5 10,44 4,52 2,40 0,4 3 O Índice de Atividade Reprodutiva, que mede a intensidade da reprodução, indicou que em ambos os reservatórios, ocorreram três períodos de maior atividade (Figura 10). Porém com pequenas variações entre os reservatórios, sendo que em Santiago na etapa I, a reprodução da maioria das espécies ocorreu entre setembro e março, enquanto que nas etapas II e III, os maiores índices de atividade reprodutiva ocorreram entre julho e janeiro (Figura 10A). Em Osório, em dois períodos (Etapas I e III) a reprodução estendeu-se de setembro a março, enquanto que na etapa II a maior atividade reprodutiva ocorreu entre setembro e janeiro (Figura 10B). Cabe destaque que em ambos os reservatórios, a intensidade reprodutiva foi maior na primeira etapa e menor na última. Podemos observar ainda, que no reservatório de Salto Osório os índices de atividade reprodutiva apresentam valores mais elevados, quando comparado com Salto Santiago. Considerando os diferentes compartimentos dos reservatórios, podemos observar que a maior atividade reprodutiva ocorreu a Jusante e na zona fluvial do reservatório de Salto Santiago, e a Jusante e na zona de transição no reservatório de Salto Osório (Figura 11A e B), evidenciando estes locais como preferenciais para a desova. IAR 9,0 6,0 3,0 Jusante Lacustre Transição Fluvial 5,17 3,82 4,78 5,39 4,55 JUS BAR POS CAV IAT 18,0 15,0 Jusante Lacustre Transição Fluvial 14,06 12,0 IAR 9,0 7,06 7,69 6,0 5,25 3,0 JUS BAR ALT A Figura 11. Índice de Atividade Reprodutiva por estação de amostragem, para o conjunto de espécies, nos reservatórios de Salto Santiago e Salto Osório.

V. DISCUÃO A. Limnologia e qualidade da água Valores elevados de temperatura da água durante o verão, como verificado neste estudo, são relatados por outros autores [11], [12] e [13] para diferentes reservatórios brasileiros. Estes autores ressaltam ainda, que em reservatórios mais profundos, os processos de estratificação térmica e química são freqüentes e com duração prolongada. Nos reservatórios do rio Iguaçu, os padrões de estratificação térmica são bastante diferenciados, como nos casos de Segredo e Foz do Areia, que apresentaram meromixia [14]. Estes autores [11] afirmam que embora a estabilidade da estratificação se reduza no inverno, ela se mostra insuficiente para levar a coluna de água a homeotermia. Deste modo, a estratificação térmica verificada em Salto Santiago em alguns períodos do ano, estaria sendo regida por estes processos, enquanto que a desestratificação verificada em Osório, seria decorrente do reduzido tempo de residência da água, o que provoca a mistura da coluna de água. A estratificação do oxigênio dissolvido, verificada em Salto Santiago, também foi observada em outros reservatórios do rio Iguaçu [14]. Segundo [15], a tomada de água e a profundidade de penetração de água do rio principal são os principais fatores determinantes desse tipo de gradientes em reservatórios. A ocorrência deste tipo de perfil de oxigênio sugere a presença de correntes advectivas nas camadas intermediárias do reservatório e da atividade microbiana e fotossintética das microalgas [16]. Reservatório de Classe III, como é o caso de Salto Santiago, são considerados por [6] como moderadamente degradado, apresentando um déficit considerável de oxigênio dissolvido, podendo haver anoxia na camada próxima ao fundo, em determinados períodos, médio aporte de nutrientes e matéria orgânica, grande variedade e densidades de algas, predominância de algumas espécies de algas, com tendência a eutrofização e tempo de residência considerável. De acordo com a resolução CONAMA n 357/2005 [7], corpos de água da Classe III, tem os seguintes usos permitidos: a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional ou avançado, b) irrigação de culturas arbóreas, cerealíferas e forrageiras, c) pesca amadora, d) recreação de contato secundário e, e) dessedentação de animais. Os reservatórios de Classe II (Salto Osório) são considerados por [6] como pouco degradados, com pequeno aporte de nutrientes orgânicos e inorgânicos e matéria orgânica, pequena depleção de oxigênio, transparência relativamente alta, baixa densidade de algas, normalmente pequeno tempo de residência das águas e/ou grande profundidade média. A resolução CONAMA n 357/2005 [7] determina que este tipo de ambiente deva ser utilizado para: a) abastecimento para consumo humano, após tratamento convencional, b) proteção das comunidades aquáticas, c) recreação de contato primário, tais como natação, esqui aquático e mergulho, d) irrigação de hortaliças, plantas frutíferas e de parques, jardins, campos de esporte e lazer, com os quais o público possa vir a ter contato direto e, e) aqüicultura e atividade de pesca. O número de táxons do fitoplâncton registrado nos dois reservatórios (102) é superior aquele observado por [17] nos reservatórios de Segredo (32 táxons), Caxias (31 táxons), Santiago (37 táxons) e Osório (35 táxons). As oscilações nas densidades planctônicas são decorrentes de diversos fatores como temperatura, nitrogênio, fósforo, turbidez e outros. Segundo [18], em regiões tropicais, a variação temporal do fitoplancton é controlada pela disponibilidade de nutrientes e pela radiação sub-aquática, sendo que a disponibilidade de nutrientes é controlada por fatores externos aos ecossistemas, como ventos, precipitação e radiação incidente. Deste modo, a variação temporal do fitoplâncton nos reservatórios de Osório e Santiago pode ser decorrente de processos internos e externos à estes ambientes. O predomínio de Aulacoseira e Anabaena em ambos os reservatórios, como verificado neste estudo, também foi detectado por [17], tanto nos reservatórios localizados no rio Iguaçu, como em outras bacias hidrográficas, sendo que estes autores atribuem esta predominância, à baixa concentração de nitrato e elevados teores de fósforo. A riqueza de espécies zooplanctônicas, registrada em Salto Santiago (68) e Salto Osório (60), é menor que aquela verificada por [19], no reservatório de Segredo (98 táxons), porém é superior àquelas verificadas em outros reservatórios, como por exemplo: Barra Bonita (57), Samuel (46) e Balbina (37) [20], e Salto Caxias (33 táxons) [21]. Considerando a cascata de reservatórios, podemos verificar que ocorre uma redução na riqueza de espécies zooplanctônicas entre Salto Segredo (98 táxons) e Salto Caxias (33 táxons). Esta redução estaria associada aos processos de sedimentação de nutrientes, já que todos estes reservatórios são considerados profundos, o que afeta diretamente a produtividade primária. O predomínio de espécies de Rotifera, sobre Copepoda e Cladocera, está de acordo com os resultados observados em outros reservatórios brasileiros [22]. [21] analisando 31 reservatórios do Paraná, também verificou maior abundância de C. cornuta, B. hagmani e N. amazonicum. B. Ictiofauna Considerando a bacia hidrográfica do rio Iguaçu, [23] afirmam que se encontram registradas 84 espécies de peixes, sendo que destas, 5% são encontradas na região do Alto rio Iguaçu. Por sua vez, [24] registraram a presença de 83 espécies de peixes no baixo Iguaçu. Assim, considerando os dois reservatórios analisados o número de espécies presentes representa 63,0% daquelas espécies registradas no baixo rio Iguaçu. A bacia do rio Iguaçu é caracterizada pelo seu elevado grau de endemismo, o qual foi estimado em 75,0% [25]. O que segundo [26], pode ser decorrente da elevação das cataratas do Iguaçu, que ha milhares de anos isolou as populações de Jusante e montante, fazendo com que as mesmas evoluíssem separadamente. Além disso, o clima da bacia hidrográfica do rio Iguaçu, que naturalmente é mais frio que o da bacia do rio Paraná, pode ter contribuído para a

ausência de peixes migradores. Porém nos reservatórios de Salto Santiago (60,61%) e Salto Osório (52,38%), o percentual de espécies endêmicas vêm diminuindo, em função das introduções efetuadas. Embora a presença de indivíduos de espécies alóctones (não endêmicas e exóticas) seja pequena nos dois reservatórios, o número dessas espécies tem se elevado drasticamente, alcançando 47,62% das espécies capturadas. Ressalta-se que as espécies alóctones certamente foram introduzidas através do escape de pisciculturas ou pela soltura para repovoamento. Muito possivelmente, as ações de educação ambiental, onde prefeituras adquirem alevinos para repovoamento, estão introduzindo espécies em ambiente natural, o que por si só constitui crime ambiental. A pequena participação das espécies exóticas, em termos de número de indivíduos, em todo o período, sugere que estas ainda não se adaptaram, realçando o insucesso da introdução destas espécies, principalmente no reservatório de Salto Osório, onde o número de espécies introduzidas foi maior. Porém, em função do elevado grau de endemismo da fauna deste rio, as espécies introduzidas podem causar um desequilíbrio na teia alimentar, em função da competição por alimento, o que pode levar a uma redução das espécies nativas ou ainda mais drasticamente a extinção local de algumas espécies [26]. A dominância de Astyanax sp B e Astyanax sp C, verificada através da curva de espécie-abundância ("Whittaker plots"), para a área de influência dos dois reservatórios, reflete o que é um padrão para o rio Iguaçu, onde ocorre a predominância de espécies do gênero Astyanax. O sucesso do gênero Astyanax em reservatórios tem sido atribuído à estratégia reprodutiva, sendo que geralmente essas espécies apresentam ovos pequenos (menos de 1,0mm de diâmetro), elevada fecundidade, embriogênese curta e baixo tempo de incubação [27]. A reprodução dos peixes é um processo fisiológico cíclico, em que os padrões de periodicidade mantêm relação com as condições ambientais a que esses estão expostos [28], deste modo, a atividade reprodutiva é um dos mais fortes indicativos da ocorrência de desova na época e local [29]. De maneira geral, a reprodução, ocorreu entre setembro e março, exceto em Osório, onde nas etapas II e III, a maior atividade ocorreu entre julho e janeiro, correspondendo à primavera e verão. Este período de reprodução coincide com aquele observado na bacia do Paraná [9] e na bacia do rio Iguaçu (Reservatório de Segredo) [30]. Para [9] o período de reprodução está diretamente relacionado ao nível fluviométrico, duração do dia, oxigênio dissolvido e temperatura da água, sendo que estes fatores determinam onde e quando cada espécie deve se reproduzir, para assegurar e maximizar o desenvolvimento das fases iniciais dos indivíduos. Da mesma forma que para o período de reprodução, o índice de atividade reprodutiva evidenciou que a reprodução ocorre em todos os ambientes do reservatório, porém a maior intensidade ocorreu a Jusante e na zona fluvial. Desta forma, fica evidente que as estações localizadas a Jusante das barragens, o Cavernoso e Iate em Santiago e o Altair em Osório, são preferidos pela maioria das espécies para a reprodução. Portanto, estes ambientes necessitam de cuidados especiais, já que a degradação destes ambientes poderia levar a redução ou mesmo a extinção de algumas espécies. Considerando que na bacia hidrográfica do rio Iguaçu, a fauna predominante é de espécies endêmicas, as ações de manejo devem ser tomadas com extrema cautela, já que qualquer erro pode levar as extinções locais ou gerais. Neste sentido, as ações de manejo da pesca para estes ambientes poderiam ser: manipulação de habitat, controle da pesca, estocagem e cultivo em tanques-rede. Há que se considerar que as ações de manejo devem ser induzidas por duas situações, a) preservação de diversidade biológica e b) sustentar a explotação pesqueira, comercial ou esportiva. Na primeira situação, as atividades são dirigidas no sentido de manter as populações acima dos limiares demográficos e genéticos críticos à reprodução e aos processos evolutivos, enquanto que na segunda, as ações devem ser voltadas para o aumento da taxa de recrutamento, elevação da capacidade biogênica do ambiente, redução da mortalidade natural e por pesca [31]. VI. REFERÊNCIAS [1] A. A. Agostinho, H. F. Júlio Jr, J. R. 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