UNIVERSIDADE TECNOLÓGICA FEDERAL DO PARANÁ DEPARTAMENTO DE GESTÃO E ECONOMIA PROG. DE PÓS-GRADUAÇÃO EM PLANEJAMENTO E GOVERNANÇA PÚBLICA POLÍTICA DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DE CURITIBA RELATÓRIO TÉCNICO CURITIBA 2011
JULIANA TRIANOSKI HEGENBERG POLÍTICA DE GESTÃO DE RESÍDUOS SÓLIDOS URBANOS DE CURITIBA Relatório Técnico referente ao Estudo de Caso apresentado ao Programa de Pós- Graduação em Planejamento e Governança Pública da Universidade Tecnológica Federal do Paraná, como requisito parcial para aprovação na Disciplina Tópicos Especiais Aplicados ao Setor Público: Seminários de Casos de Boas Práticas na Gestão Pública. Orientador: Prof. Dr. Sérgio Tadeu G. Muniz CURITIBA 2011
RELATÓRIO TÉCNICO Discente Responsável: Juliana Trianoski Hegenberg Orientador: Prof. Dr. Sérgio Tadeu Gonçalves Muniz Tema: Política de Gestão de Resíduos Sólidos Urbanos de Curitiba Palestrante: Eng. Luiz Celso Coelho da Silva Engenheiro Civil Sanitarista, especialista nas áreas de Gestão Ambiental, Incineração de Resíduos de Serviços de Saúde, Gestão de Perícia e Auditoria Ambiental e Emergências Ambientais. Atuou na coordenação e fiscalização das obras de construção e funcionamento do Aterro Sanitário de Curitiba (Cachimba), entre outras coordenações e, atualmente é responsável pela Gerência de Coleta e Destinação Final dos Resíduos Sólidos Urbanos do Município de Curitiba. Data do Evento: 23 de novembro de 2011 Lista de Participantes: Anexo A DESCRIÇÃO DO CASO 1. INTRODUÇÃO A problemática do lixo no meio urbano está totalmente relacionada à questão da poluição do solo, água e atmosfera, além dos diversos riscos epidemiológicos. A gestão adequada dos resíduos sólidos urbanos é imprescindível para a manutenção da qualidade de vida da população e das condições ambientais da cidade. Neste sentido, o Município de Curitiba, que apresentou um acelerado crescimento populacional nas últimas décadas, impulsionando um significativo aumento no consumo e, consequentemente, na geração de resíduos sólidos, demandava uma gestão adequada e eficiente dos seus resíduos sólidos urbanos. Entretanto, as ações desenvolvidas nesse sentido eram bastante incipientes no Município até o final da década de 80. Após esse período, no entanto, houve uma visível transformação na gestão ambiental da Capital. Assim, o presente caso tem o objetivo de apresentar que ações e políticas foram adotadas pelo Município visando minimizar o problema dos resíduos sólidos urbanos, as quais foram capazes de 1
tornar a cidade um modelo no assunto, tornando-a conhecida internacionalmente como Capital Ecológica. 2. DESCRIÇÃO DO PROBLEMA Com a crescente urbanização e aumento da população nos últimos anos, Curitiba passou a sofrer com a acentuada geração de resíduos e necessidade de promover a destinação adequada dos mesmos. Entre os anos de 1964 e 1989, todos os tipos de resíduo produzidos em Curitiba (tanto os resíduos domiciliares e comerciais, quantos os resíduos provenientes dos serviços de saúde e da indústria) eram destinados para uma área própria para isso na Lamenha Pequena, região situada entre os municípios de Curitiba e Almirante Tamandaré. Entretanto, a área da Lamenha Pequena não era totalmente preparada para receber tais resíduos de maneira adequada e, apesar de no decorrer dos anos ter recebido diversos cuidados e técnicas de manejo, como drenagem e tratamento do chorume, cobertura do lixo e outros, chegando a ser considerado um aterro controlado, o passivo ambiental resultante da sua operação foi muito alto. Com o esgotamento das condições e capacidades do aterro controlado da Lamenha Pequena, havia a necessidade de dimensionar uma nova área para recepção dos resíduos que fosse totalmente preparada para destinação final adequada do lixo produzido em Curitiba e região metropolitana. Além disso, era necessário rever a gestão dos resíduos, tendo em vista que cada tipo de material exige uma destinação específica e o Município não poderia continuar se responsabilizando pela coleta e tratamento de tudo, sendo necessário que o gerador dos resíduos também se responsabilizasse. Outro fator importante que precisava ser repensado e organizado era a necessidade de segregar o lixo orgânico ou tóxico do lixo que poderia ser reciclado ou reaproveitado de alguma forma. Tal separação, além de reduzir significativamente o volume de resíduos a ser destinado para o aterro, também era uma proposta importante para a inserção social de parcela da população que se dedicava a fazer essa seleção dentro dos lixões. A separação e valorização adequada dos resíduos constituem uma importante proposta com 2
vantagens tanto econômicas quanto ecológicas e precisava ser adequadamente organizada em Curitiba. De forma geral, o problema a ser apresentado trata da necessidade de gestão adequada de resíduos sólidos em Curitiba e suas diversas vertentes e de como ele foi solucionado, tornando o Município referência no assunto. 3. MÉTODO DE IMPLEMENTAÇÃO A solução buscada pela prefeitura foi investir na gestão de resíduos, através da gestão do serviço de limpeza urbana. O Plano de Gestão do Serviço de Limpeza Urbana de Curitiba é constituído das seguintes tarefas da gestão de resíduos sólidos: coleta, transporte, tratamento, valorização e eliminação. Para tanto, a gestão integrada de resíduos sólidos urbanos adotou as seguintes ações prioritárias: 1 Coletar todo o lixo gerado de responsabilidade da prefeitura; não deve coletar o que não é de sua responsabilidade (indústrias, hospitais etc.); 2 Dar um destino final adequado para todo lixo coletado; 3 Buscar formas de segregação e tratamento para o lixo do município. Considerar que essas formas só darão resultados positivos e duradouros se responderem a claros requisitos ambientais e econômicos; 4 Fazer campanhas e implantar programas voltados à sensibilização e conscientização da população no sentido de manter a limpeza da cidade; 5 Incentivar medidas que visem diminuir a geração de lixo. As principais medidas adotadas em Curitiba para a gestão adequada dos resíduos são: implantação, em 1989, do Aterro Sanitário de Curitiba (Caximba), desenvolvido utilizando as mais modernas técnicas para gerenciamento de resíduos na época, sendo constantemente aprimorado e modernizado no decorrer dos anos; implantação do Programa de Coleta Seletiva e Valorização do Lixo Doméstico (1989), visando à separação do lixo orgânico do reciclável nas residências, bem como à reciclagem e à reutilização do lixo; implantação dos Programas Compra do Lixo (1989) e Câmbio Verde (1991) que visavam à troca do lixo comum e reciclado por produtos hortifrutigranjeiros; promoção da educação ambiental na Rede Municipal de Ensino (1991); implantação do Projeto Olho D Água (1997) visando o monitoramento da qualidade dos rios pela população; implantação do Programa de 3
Coleta do Lixo Tóxico Domiciliar (1998); implantação do serviço de coleta de resíduos vegetais; criação do Consórcio Intermunicipal para o Gerenciamento de Resíduos (2001) com a integração da Região Metropolitana na gestão dos resíduos; implantação do Programa Reciclagem Inclusão Total ECOCIDADÃO destinado a promoção da inclusão social dos catadores que realizam a coleta de recicláveis. Com tais políticas, Curitiba avançou significativamente na problemática do lixo, assumindo posição de modelo e vanguarda em relação à gestão de resíduos. 4. DESCRIÇÃO DOS RESULTADOS Atualmente, o serviço de coleta convencional de resíduos domiciliares cobre 100% da área urbanizada e é realizado com freqüência mínina de 3 vezes por semana. Onde não é possível o acesso dos caminhões coletores, são disponibilizadas caçambas estacionárias possibilitando a coleta adequada dos resíduos. Desta forma, praticamente 100% da população utiliza os serviços de coleta pública. Os resíduos provenientes da coleta domiciliar são destinados ao aterro sanitário, onde recebem a disposição final adequada. O Aterro Sanitário de Curitiba encerrou suas operações em novembro de 2010 e, desde então, a disposição final dos resíduos ocorre, temporariamente, no aterro sanitário privado no Município de Fazenda Rio Grande, na região metropolitana de Curitiba. O aterro sanitário de Curitiba está em processo de manutenção e monitoramento seguindo as ações definidas em seu Plano de Encerramento. Em relação à coleta seletiva e valorização de recicláveis, o serviço atende 100% da população através do programa Lixo que Não é Lixo, que possui frequência de 1 a 3 vezes por semana e coleta diariamente uma média de 90 toneladas de materiais recicláveis. Além disso, através do programa de entrega voluntária Câmbio Verde, cerca de sete mil pessoas são atendidas mensalmente, sendo coletadas 250 toneladas de material reciclável em troca de 90 toneladas de alimentos por mês. Os materiais provenientes destas coletas são destinados à Unidade de Valorização de Resíduos da Prefeitura, localizado em Campo Magro, onde sofrem a separação e manejo adequados (reciclagem, reaproveitamento e outros). Ainda em relação à coleta seletiva, o programa ECOCIDADÃO proporcionou o fortalecimento dos catadores por meio da organização em sistema de associações 4
e cooperativas, permitindo seu reconhecimento e inclusão na cadeia de reciclagem, disponibilizando infraestrutura física, administrativa e gerencial para recepção, classificação e venda do material coletado. Atualmente, são mais de 3 mil catadores cadastrados, sendo que 1.260 participam ativamente, e 14 parques de recepção de recicláveis foram implantados. Já foram constituídas 13 Associações de Catadores e 1 Cooperativa. O aumento da renda dos catadores envolvidos foi de 110% e aumentou em 50% a quantidade de materiais reciclados e a produtividade da rede de associações/cooperativa envolvidas. O índice de separação do lixo em 2010 foi 22%, ou seja, das 2.426 toneladas/dia de resíduos gerados em Curitiba, 545 toneladas/dia foram separadas para reciclagem. Outros importantes resultados referem-se à continuidade e permanência dos programas de coleta de lixo tóxico domiciliar, cujos resíduos são destinados à Central de Tratamento de Resíduos Industriais CTRI; o serviço de coleta de resíduos vegetais, que realiza aproximadamente 23.000 coletas por mês com um prazo de atendimento superior a 15 dias, e destinação adequada dos resíduos através da Unidade de Processamento de Materiais Vegetais; o serviço de varrição e lavagem de feiras livres, serviço de varrição manual e limpeza especial, responsáveis pela limpeza de aproximadamente 18 mil quilômetros de ruas, praças e calçadões por mês; o serviço de limpeza de dômus e raspagem de cartazes; serviço de varrição mecânica, que coleta em média 350 toneladas de resíduos de varrição por mês, num percurso de aproximadamente 5.500 quilômetros de ruas, logradouros e outros. 5. DESAFIOS PARA MELHORIA O principal desafio para melhoria a ser superado é a constituição efetiva do SIPAR Sistema de Integrado de Processamento e Aproveitamento de Resíduos, que tem como premissa: máximo aproveitamento dos resíduos e mínima dependência de aterro sanitário. Trata-se de uma tecnologia que visa substituir o aterro sanitário. Utilizando modernas tecnologias, o sistema é capaz de promover o máximo aproveitamento dos resíduos tanto dos materiais recicláveis quanto dos materiais orgânicos, permitindo que 85% dos resíduos possam ser reaproveitados de alguma forma e que apenas os 15% restantes sejam destinados ao aterro 5
sanitário. A implantação e operacionalização do SIPAR estão em processo de licitação desde 2007, mas demandas judiciais têm impedido a finalização do processo. Foram abordados também os desafios relacionados à dificuldade em atender a demanda para determinados serviços devido ao reduzido número de pessoal e equipamentos, como ocorre com o serviço de coleta de resíduos vegetais, para o qual a pretensão é reduzir o tempo de espera máximo, que atualmente é superior a 15 dias, para sete dias; desafios relacionados à implementação e consolidação de programas e ações de educação ambiental e fiscalização visando à conscientização da sociedade para a necessidade de consumo consciente e disposição adequada dos resíduos, através dos quais se espera a redução da quantidade de resíduos a serem removidos devido à disposição inadequada feita pela população, bem como dos gastos com serviços de limpeza propriamente ditos, além da adoção espontânea de atitudes e comportamentos que contribuam para o desenvolvimento de uma cidade sustentável; e grandes desafios relacionados à necessidade de recuperação das áreas de passivo ambiental, bem como a necessidade de revisão constante da regulamentação municipal e acompanhamento da evolução da legislação federal. Em relação à dinâmica de perguntas respostas, as discussões e debates giraram em torno dos limites legais para quantidades a serem coletadas sob responsabilidade da Prefeitura, bem como responsabilização dos grandes geradores de resíduos; controle e fiscalização dos procedimentos de coleta e transporte e da disposição final de resíduos de grandes geradores; procedimentos de contratação dos serviços terceirizados de limpeza urbana; diferenças e especificidades em relação aos tipos de tratamento de resíduos (microondas, autoclave e outros); revenda de materiais contaminados, como resíduos hospitalares (tecidos e outros materiais); precificação dos materiais recicláveis, bem como os critérios para cadastramento de compradores e outros interessados; especificidades acerca da implantação, funcionamento, manutenção e desativação de um aterro sanitário, entre outros assuntos. A discussão foi extremamente participativa, produtiva e enriquecedora e o palestrante foi muito elogiado por sua desenvoltura e envolvimento com o público na apresentação, bem como pelo seu nítido domínio do assunto. 6
ANEXO A: LISTA DE PARTICIPANTES 7
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ANEXO B: APRESENTAÇÃO UTILIZADA PELO PALESTRANTE 9
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