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Transcrição:

Até o início do século XX, a enfermagem praticada no Brasil era exercida por religiosas, pastores protestantes, pessoas formadas pelo Hospital Nacional dos Alienados e pela Escola Cruz Vermelha.

1889 1930 1930 1945 1945 1964 Após 1964

Criação de vários hospitais-escola (migração dos enfermeiros da área preventiva para a curativa) 1931 1ª lei do exercício profissional de enfermagem que considerou a Escola Anna Nery escola oficial padrão 1933 2ª escola de enfermagem, em BH, hoje UFMG 1937 Escola de Enfermagem Florence Nightingale (Anápolis GO) 1941 1º curso de auxiliares de enfermagem na Escola Anna Nery

Muitas enfermeiras formadas pela Escola Anna Nery eram ricas ou de classe média do interior do país. Muitas casaram-se com médicos e ocuparam cargos de destaque na hierarquia da profissão. Elas não se envolviam com os interesses da classe, tampouco questionavam o marasmo social da categoria.

Período obscuro para a enfermagem brasileira: suposta superioridade do saber e poder médico nos ambientes hospitalares enfermagem como atividade devocional 1960 Primeiro curso de Técnico de Enfermagem 1962 Primeiro curso superior de Enfermagem (UFRJ) A Enfermagem brasileira, enquanto categoria profissional, aparece como massa de manobra, como grupo sem identidade social para reivindicar seus planos diretos no mercado de trabalho, atendendo pacificamente aos interesses das classes dominantes.

Impulso nas políticas de saúde, todas voltadas para incentivar e privilegiar a medicina curativa, hospitalar e privada. Desenvolvimento técnico-científico da Enfermagem brasileira 1968 Wanda de Aguiar Horta (UFRJ) 1972 - Primeiro curso de mestrado na Escola de Enfermagem da UFRJ 1981 - Primeiro curso de doutorado na Escola de Enfermagem da USP

A mãe dos brasileiros

A MÃE DOS BRASILEIROS Ao ver os filhos partir para a guerra, ela se ofereceu para cuidar dos soldados feridos no campo de batalha. Numa época em que a atuação feminina se restringia ao lar, sua coragem e solidariedade comoveram os soldados. Ana Néri tornou-se a primeira enfermeira brasileira. Na vila de Cachoeira do Paraguaçu, interior da Bahia, Ana Justina Ferreira nasce a 13 de dezembro de 1814, filha de José Ferreira de Sousa e Luíza Maria das Virgens. Casa aos 23 anos.

A MÃE DOS BRASILEIROS Mas o destino toma rumos inesperados. O marido, Isidoro Antônio Néri, capitão-de-fragata, passa a maior parte do tempo no mar. Acostumada a ter a casa inteiramente sob sua responsabilidade, Ana quase não sente diferença quando, seis anos depois, fica viúva com três crianças para cuidar. Disposta a não se afastar dos filhos, muda-se para Salvador, para que eles continuem os estudos. Justiniano e Isidoro tornam-se médicos. Pedro Antônio, o caçula, segue a carreira militar.

A MÃE DOS BRASILEIROS Em 1865, tudo parecia em paz. Os filhos estavam crescidos e encaminhados. Aos 51 anos, seus dias passavam tranqüilos, com a certeza do dever cumprido. A entrada do Brasil na Tríplice Aliança e o início da Guerra do Paraguai transformam sua vida mais uma vez. Justiniano, Isidoro e Pedro Antônio são convocados.

A MÃE DOS BRASILEIROS A dor da separação une-se ao sentimento de patriotismo. Em 8 de agosto escreve para o presidente da província, oferecendo-se para cuidar dos feridos de guerra como brasileira, não podendo ser indiferente aos sofrimentos dos meus compatriotas, e, como mãe, não podendo resistir à separação dos objetos que me são caros. Cinco dias depois, parte para o Rio Grande do Sul, onde aprende rudimentos de enfermagem com as irmãs de caridade de São Vicente de Paulo.

A MÃE DOS BRASILEIROS Corrientes, Humaitá, Curupaiti, Salto. Por onde passa, Ana exerce sua função sob as mais precárias condições. Falta de higiene, número excessivo de pacientes, ausência de materiais, médicos inexperientes - muitas vezes recrutados nos primeiros tempos de faculdade. Seus cuidados e esforços comovem soldados e oficiais. Em Asunción, capital paraguaia sitiada pelo exército brasileiro, Ana monta enfermaria-modelo, com recursos próprios, herdados da família.

A MÃE DOS BRASILEIROS Com o final da guerra, em 1870, Ana volta ao Brasil, trazendo consigo seis órfãs brasileiras. É homenageada em todos os locais por onde passa. Por decreto, D. Pedro II lhe concede medalha por serviços prestados e pensão anual de 1 conto e 200 mil réis. Morre em 20 de maio de 1880.