Cinema, televisão e história

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Transcrição:

Cinema, televisão e história

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Mônica Almeida Kornis Cinema, televisão e história Rio de Janeiro

Copyright 2008, Mônica Almeida Kornis Copyright desta edição 2008: Jorge Zahar Editor Ltda. rua México 31 sobreloja 20031-144 Rio de Janeiro, RJ tel.: (21) 2108-0808 / fax: (21) 2108-0800 e-mail: jze@zahar.com.br site: www.zahar.com.br Todos os direitos reservados. A reprodução não-autorizada desta publicação, no todo ou em parte, constitui violação de direitos autorais. (Lei 9.610/98) Composição: TopTextos Edições Gráficas Ltda. Impressão: Sermograf Capa: Sérgio Campante CIP-Brasil. Catalogação-na-fonte Sindicato Nacional dos Editores de Livros, RJ. K87c Kornis, Mônica Almeida, 1952- Cinema, televisão e história / Mônica Almeida Kornis. Rio de Janeiro: Jorge Zahar Ed., 2008. (Passo-a-passo; 86) Inclui bibliografia ISBN 978-85-378-0100-0 1. Cinema e história. I. Título. II. Série. CDD: 791.43658 08-3080 CDU: 791.43

Sumário Introdução 7 Imagens em movimento: um lugar especial de memória 11 O documento filme e o debate sobre cinema e história 16 A escrita da história pelo cinema e pela televisão 41 Conclusão 55 Referências e fontes 58 Leituras recomendadas 63 Sobre a autora 66

Introdução Cinema e história tornou-se, nos últimos tempos, sinônimo de campo de estudos inovador nas ciências sociais e humanas. Um campo de estudos talvez mais comentado e aceito como relevante do que pensado na sua complexidade e nos seus desafios enquanto espaço de reflexão necessariamente interdisciplinar. A designação cinema e história nos remete ao livro de título homônimo de Marc Ferro, historiador francês cujos trabalhos alcançaram notoriedade e fizeram escola não só na França, mas também em outros países, como o Brasil. Com isso, a associação desse campo de estudos à figura de Marc Ferro torna-se ainda mais imediata. Já o binômio televisão e história não chegou a se constituir um campo de estudos com a mesma notoriedade, apesar da volumosa produção seriada televisiva centrada na reconstrução do passado e da importância do telejornalismo como registro da história há mais de 50 anos, em escala mundial além do incontestável poder desse veículo na vida contemporânea. Estudos sobre a relação entre cinema e história não são, contudo, tão recentes como podem parecer à primeira vista. 7

8 Mônica Almeida Kornis Pelo contrário, nasceram com o próprio cinema, no final do século XIX. Nessa época, pessoas ligadas à produção de filmes reconheciam não só o fato de a história estar sendo registrada por esse novo meio, mas também o caráter educativo nele contido, o que as levou a pensar na importância da preservação desses materiais. Assim, o fato de o chamado primeiro cinema consistir exclusivamente numa sucessão descontínua de registros visuais não impediu que, desde os seus primórdios, o cinema fosse pensado enquanto fonte de conhecimento da história. Não eram filmes tais como vemos hoje. Tratava-se de uma sucessão de quadros entrecortados por letreiros, com uma câmera fixa que, no máximo, girava sem perder o ponto de base. Sem desenvolverem uma história com começo, meio e fim, esses filmes exibiam povos e territórios longínquos e acontecimentos variados, tornando-se ainda instrumentos de investigação científica e atração nas feiras universais que celebravam as novidades técnicas. Eram de curta duração e muitos continham também situações humorísticas, lutas de boxe, mágicas, além de cenas da vida familiar. Não havia cenários realistas: as indicações de locais se faziam por painéis e objetos pintados. Não havia tramas, no que se diferenciavam da narrativa dramática que viria a ser utilizada um pouco mais tarde, nos moldes operados em grande parte até hoje pela indústria do cinema e da televisão. Derivado de formas populares de cultura, como o circo e a pantomima, o cinema dos primeiros tempos se firmava na tradição de um espetáculo popular, de grande vitalidade no século XIX.