CÓDIGO DE BOAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM ARQUEOLOGIA

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Transcrição:

CÓDIGO DE BOAS PRÁTICAS PROFISSIONAIS EM ARQUEOLOGIA Soalnge Bezerra Caldarelli (Scientia Consultoria) Loredana Ribeiro (LEPARQ - Universidade Federal de Pelotas) Christiane Lopes Machado (Rheambiente) Silvia Copé (CEPA Universidade Federal do Rio Grande do Sul) Paulo Zanettini (Zanettini Arqueologia) Maura Imázio da Silvieira (Museu Paraense Emilio Goeldi) Eduardo Góes Neves (MAE Universidade de São Paulo)

Este texto foi elaborado por uma comissão mista formada por membros da Diretoria da Sociedade de Arqueologia Brasileira e por colegas arqueólogos atuantes na área empresarial e no IPHAN. Tratase de uma proposta que encaminhamos à comunidade arqueológica, ao Poder Executivo e ao Poder Judiciário e que, esperamos, receba contribuições para que seja aprimorada. Seu objetivo final é contribuir para a organização da prática atual da arqueologia no Brasil. Serão certificados como profissionais idôneos a quem procurar a SAB para obter informações sobre seus membros efetivos, os arqueólogos que se comprometerem, formalmente, com o seguinte código de boa conduta profissional: 1. Agir de maneira responsável com seu objeto de estudo, uma vez que este é um Bem da União; portanto, de interesse público, 2. Respeitar as normas legais vigentes sobre o patrimônio arqueológico nacional. No caso de, em sua experiência profissional, notar uma defasagem da legislação com os métodos e aportes teóricos mais modernos da ciência arqueológica, deve dialogar com os gestores sobre como adaptar as normas ao avanço dos tempos e não infringi-las, 3. Contribuir para a preservação dos recursos arqueológicos nacionais, o que significa apenas intervir sobre esses recursos em decorrência de geração de conhecimento básico sobre o passado nacional ou para mitigar impactos inevitáveis sobre a base finita dos recursos arqueológicos nacionais, 4. Respeitar os interesses legítimos de outros grupos interessados nos recursos arqueológicos nacionais, sejam estes concernentes 1

ao passado da nação brasileira, sejam concernentes ao passado de comunidades descendentes, 5. Atualizar-se com os novos conhecimentos gerados em sua área de atuação, tanto do ponto de vista metodológico quanto teórico. Arqueólogos não devem, em hipótese alguma: 1 Engajar-se em qualquer atividade ilícita, que implique a depredação ou o extravio de qualquer bem constituinte da base finita dos recursos arqueológicos nacionais. 2 Aceitar trabalhar em projetos arqueológicos para os quais ele não sejam qualificados, nem emitir opinião não qualificada, verbal ou escrita, sobre questões arqueológicas que não domine. 3 Repassar a não arqueólogos atividades que devem ser exercidas exclusivamente por profissionais habilitados na prática arqueológica, o que inclui o monitoramente de atividades potencialmente lesivas aos recursos arqueológicos nacionais, 4 Apresentar como sendo resultado de suas próprias pesquisas informações ou dados obtidos de outras fontes, quer escritas, quer orais, mencionando-as em toda e qualquer circunstância, 5 Agir no sentido de colocar seus interesses pessoais acima dos interesses públicos sobre o patrimônio arqueológico nacional, nem utilizará informações reservadas ou confidenciais de seus contratantes em proveito próprio ou de terceiros. 2

Arqueólogos devem: 1 Resistir a qualquer tipo de pressão, ordens ou solicitações, que possam resultar em danos ao patrimônio arqueológico da nação, 2 Comunicar aos órgãos de proteção ao patrimônio arqueológico toda e qualquer ação ilícita sobre os recursos arqueológicos da nação, da qual ele tome conhecimento, 3 Preocupar-se com a qualidade, veracidade e integridade das informações relativas aos resultados de suas pesquisas, não as falseando em nenhuma hipótese, 4 Lançar mão dos procedimentos metodológicos e dos recursos teóricos disponíveis, tanto no momento de sua elaboração quanto de sua execução, de modo a obter os resultados científicos visados com o menor impacto físico possível sobre os bens arqueológicos, 5 Explicitar claramente, em relatórios ou publicações, os procedimentos metodológicos empregados em suas pesquisas, para que estes possam ser avaliados pelo público interessado e por seus pares em função da adequação da metodologia utilizada, 6 Disponibilizar, no caso de pesquisas aplicadas à avaliação e mitigação de impactos sobre os recursos arqueológicos nacionais, os resultados de seus estudos tanto aos gestores do patrimônio arqueológico nacional quanto a todas as demais partes interessadas, uma vez que tais resultados têm implicações práticas na tomada de decisões sobre os recursos arqueológicos nacionais, 7 Respeitar, nos projetos de arqueologia consultiva, os interesses de seus contratantes e não divulgar informações 3

reservadas ou confidenciais que possam prejudicá-lo, desde que não sejam incompatíveis com os demais princípios do presente código de boa conduta profissional, 8 Assegurar a adequada curadoria, documentação e guarda do material arqueológico coletado, de modo a que este possa vir a ser retomado tanto por outros arqueólogos interessados nesses dados, quanto pelas gerações que os sucederem, com novos métodos, novos aportes teóricos e novos interesses científicos, 9 Agir, no caso da gestão do patrimônio arqueológico em órgãos oficiais com poder decisório, sempre no melhor interesse desse patrimônio, sem influência de preferências pessoais, 10 Explicar, às comunidades que têm patrimônio arqueológico em seu território, as características específicas da disciplina arqueológica e apresentar a essas comunidades os resultados de suas pesquisas, bem como os impactos potenciais gerados que os empreendimentos às quais estão associadas. Os arqueólogos que se comprometerem com os princípios acima automaticamente autorizam seus pares a comprovarem sua observância, em caso de dúvida, e ficam cientes de que, no caso de se desviarem das boas práticas enunciadas, perderão a certificação de profissional idôneo emitida pela SAB a seus associados efetivos, quando necessário ou quando solicitado, pelo próprio interessado. A SAB se compromete a, quando for procurada por instituições ou empresas, públicas ou privadas, para execução de serviços profissionais de arqueologia, a fornecer a lista dos arqueólogos que assinaram sua concordância com os princípios acima enunciados. 4