008/2015 DOMINGUEIRA DE 24/05/2015



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Transcrição:

Gasto Total com Saúde no Brasil: a importância e o esforço de medi-lo Maria Luiza Levi 1 Áquilas Mendes 2 Nesta domingueira resolvemos reeditar o exercício que Gilson Carvalho teimava em fazer a cada ano, como ele dizia, de estimar o gasto total com saúde no Brasil com recursos públicos e privados. Em todas as edições desse seu exercício, Gilson sempre apontava que a estimativa tinha limitações, mas sua teimosia tinha como objetivo cobrir uma lacuna importante, que é a ausência de consolidação de dados tão importantes de forma sistemática. Conforme a metodologia já consagrada nas Domingueiras, apresentamos o Gráfico 1 a seguir. Gráfico 1: Gasto total com saúde no Brasil: público e privado (% e R$ bilhões) 2014 Gasto total com Saúde (2014): R$ 448,1 bilhões Gasto público total: R$ 216,2 bilhões (48,3% do total) Gasto privado total: R$ 231,9 bilhões (51,7% do total) 20,5% 28,4% União: R$ 91,9 bilhões Planos/Seguros: R$ 127,2 bilhões Estados/DF: R$ 57,3 bilhões 12,8% Medicamentos: R$ 72,5 bilhões Municípios: R$ 67,0 bilhões 16,2% Demais gastos diretos: R$ 32,2 bilhões 15,0% 7,2% Fonte: Ministério da Saúde (SIOPS), ANS e IBGE 1 Economista, Doutora pelo Departamento de Medicina Preventiva da Faculdade de Medicina da USP, Professora-adjunta da Universidade Federal do ABC (UFABC) 2 Professor Doutor Livre-Docente de Economia da Saúde da Faculdade de Saúde Pública da USP

Os R$ 448,1 bilhões relativos à despesa total com saúde no Brasil em 2014 equivalem a 8,1% do PIB do ano, que atingiu R$ 5,5 trilhões segundo o IBGE 3. Desse total, 48,3% correspondem a gastos públicos com ações e serviços de saúde, apurados conforme os critérios da Lei Complementar 141/2012. Os R$ 216,2 bilhões de despesas públicas com saúde correspondem a 3,9% do PIB, sendo 1,7% referentes à União, 1,0% aos estados e 1,2% aos municípios. A parcela das despesas privadas se mantém superior aos gastos públicos como em anos anteriores, 51,7% do total, acenando com um padrão de financiamento muito distante do necessário para viabilizar um sistema de saúde público e universal. Ainda em relação aos gastos privados, dois fatos chamam a atenção. Primeiro, a despesa com planos e seguros de saúde encontra-se em patamar mais de um terço superior ao gasto da União, correspondendo a 28,4% da despesa total com saúde no país. Tal comportamento se deve ao intenso crescimento das receitas das operadoras com a comercialização de planos e seguros de saúde nos últimos anos, como será visto adiante. Segundo, as despesas diretas representam um montante expressivo, 23,4% do total e 45,2% da despesa privada total, com forte peso dos gastos com medicamentos, que correspondem a 16,2% da despesa total, pública e privada. Isso mostra que uma parte importante das necessidades de cuidado da população não encontra cobertura, seja no SUS, seja no sistema de planos e seguros de saúde, situação que tende a comprometer de forma particularmente intensa a renda da parcela mais pobre da população. O Gráfico 2 mostra como evoluíram as despesas públicas com saúde e os gastos destinados ao financiamento das prestações de planos e seguros nos últimos anos, já descontada a inflação (medida pela variação do IPCA médio do ano) 4. Igualando-se os gastos da União, Estados/DF, Municípios e despesas com planos/seguros a 100 em 2007, o Gráfico 2 mostra que as despesas que mais aumentaram em termos reais foram os gastos dos municípios (aumento real de 71,6% em sete anos), seguidas dos recursos destinados aos planos/seguros saúde (aumento real de 64,8%). 3 http://www.ibge.gov.br/home/estatistica/indicadores/pib/defaultcnt.shtm 4 Como discutido na metodologia, adiante, os gastos diretos com medicamentos e demais não foram incluídos na série porque somente estão disponíveis para o ano de 2008.

Gráfico 2: Evolução real de itens selecionados de despesa com saúde no Brasil * Gastos dos Municípios Planos/Seguros de Saúde Total da Despesa Pública Gastos dos Estados/DF Gastos da União * Dados corrigidos pelo IPCA/IBGE Fonte: SIOPS, ANS e IBGE Em contraposição, os gastos dos estados e DF aumentaram 49,4% em termos reais no período e os da esfera federal, 40,4%, o que contribuiu para puxar para baixo o crescimento do conjunto da despesa pública no período, 51,3%. Essa tendência é preocupante, ainda mais se levarmos em conta que os gastos públicos cobrem um rol muito mais amplo que as despesas de natureza privada, que são de caráter essencialmente assistencial. Metodologia de apuração do gasto total com saúde no Brasil Em relação aos gastos públicos, utilizamos informações do sítio do Sistema de Informações sobre Orçamentos Públicos em Saúde (SIOPS), do Ministério da Saúde, e consideramos a despesa empenhada, em consonância com o que estabelece a Lei Complementar 141/2012 para o cálculo da aplicação mínima de recursos na saúde 5. No caso dos estados, DF e municípios, utilizamos os 5 Para a apuração dos gastos com ações e serviços públicos de saúde conforme os critérios da Lei Complementar 141/2012, o SIOPS considera a despesa empenhada, deduzida: (i) do montante de restos a pagar sem disponibilidade de

indicadores consolidados da despesa com recursos próprios dos entes. No caso da União foram consideradas as despesas conforme informado no Relatório Resumido de Execução Orçamentária (RREO), de elaboração obrigatória por conta da Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF) 6. Para as despesas privadas, acompanhando também a metodologia desenvolvida pelo Gilson, utilizamos as seguintes dimensões: despesas com planos e seguros de saúde e despesas com saúde realizadas diretamente pelos indivíduos, discriminadas entre despesas com medicamentos, para evidenciar esse item de gasto, que tem grande peso nos orçamentos familiares, e demais despesas diretas com saúde. A expressão despesas diretas é uma menção ao fato de que os gastos são realizados diretamente com recursos saídos do bolso dos usuários (indivíduos ou famílias), diferentemente dos dispêndios realizados por meio de planos ou seguros de saúde. E justamente aí se encontra a parte mais problemática para a visualização dos gastos públicos e privados com saúde em perspectiva comparada, já que não há informação atualizada a respeito dessas duas categorias de dispêndios. Por isso, da mesma forma que nas versões anteriores da Domingueira do Gilson, continuamos a utilizar os dados da Pesquisa de Orçamentos Familiares (POF), realizada entre maio de 2008 e maio de 2009. Assim, não foi possível reconstituir a série histórica no caso dessas informações. Os valores são apresentados apenas para 2014, mediante a correção dos dados de 2008 pela inflação medida pelo IPCA médio entre os anos de 2008 e 2014, e é possível que estejam subestimados. Com relação às despesas destinadas a planos e seguros de saúde, é preciso computar tanto aquelas relativas às contribuições de empresas e funcionários como as referentes ao pagamento de prestações diretamente por particulares. Para refletir esse universo, utilizamos as informações disponibilizadas pela ANS relacionadas às receitas das operadoras referentes às prestações de planos e caixa; (ii) dos restos a pagar com disponibilidade de caixa cancelados; e (iii) das despesas realizadas a título de compensação da não aplicação do montante mínimo em saúde em exercícios anteriores. A extração das informações foi feita no dia 12 de maio de 2015. 6 Somente estão disponíveis no sítio do SIOPS os demonstrativos já homologados pela União, referentes aos exercícios de 2012, 2013 e 2014. Para os demais exercícios a fonte é o sítio do Tesouro Nacional, http://www.tesouro.fazenda.gov.br/-/relatorio-resumido-de-execucaoorcamentaria.

seguros de saúde disponíveis no sítio da agência no perfil do setor. Como somente a partir do ano de 2007 são disponibilizadas informações do conjunto mais amplo de operadoras, não foi possível retroagir a série até exercícios anteriores. Caso queira indicar outros para receber as DOMINGUIERAS ou não queira mais recebe-las, favor responder esse e-mail.