VIGÉSIMA SEGUNDA CÂMARA CÍVEL AGRAVO DE INSTRUMENTO Nº: 0050632-74.2013.8.19.0000 AGRAVANTE: EUZENI FARIA GONÇALVES AGRAVADO: LEANDRO DE TAL Relator: Desembargador MARCELO LIMA BUHATEM Vistos, etc... D E C I S Ã O (indeferimento de efeito suspensivo ativo) Trata-se de agravo de instrumento interposto por EUZENI FARIA GONÇALVES em face de decisão prolatada nos autos de demanda de rito sumário em que a agravante pretende seja cessada violação ao direito de vizinhança pelo réu, que alega ter construído uma churrasqueira do lado oposto à parede do imóvel da recorrente. Na aludida demanda, o juízo a quo indeferiu o pedido liminar, consoante a seguinte decisão vazada nossa autos (proc. virtual, pasta 0001 do ANEXO1), verbis: 1 - DEFIRO a gratuidade de justiça à autora. 2 - O deferimento da antecipação dos efeitos da tutela pretendida, sem a oitiva da parte contrária é medida excepcional, assim há necessidade nesta demanda, de ser observado o contraditório acerca do pedido de antecipação dos efeitos 1
da tutela, razão pela qual este será apreciado após a contestação. 3 - Designo o dia 17/09/2013, às 11:00 horas para realização da audiência prevista no art. 277 do CPC. 4 - Cite-se a parte ré, com antecedência mínima de 10 (dez) dias, para comparecer à audiência, ocasião na qual poderá defender-se, ficando ciente de que o não comparecimento e a ausência de apresentação de resposta, escrita ou oral, fará com que sejam presumidos como aceitos os fatos alegados na petição inicial. Intimem-se a parte autora. Em suas razões de agravo, afirma a recorrente que estão presentes os requisitos para a concessão da liminar que lhe foi negada pelo juízo a quo, pugnando pela antecipação da tutela recursal. É o breve relatório. Passo a decidir. Cuidam-se os autos de agravo de instrumento, manejado pelo recorrente com arrimo no art. 522 do Código de Ritos, ao fundamento de que a decisão de 1º grau se revela apta a causar-lhe lesão grave e de difícil reparação. Houve pedido de efeito suspensivo ativo, na medida em que a decisão hostilizada indeferiu medida judicial requerida pela parte ora recorrente. 2
A atribuição de efeito suspensivo ativo em sede de agravo de instrumento tem por escopo conceder, em grau de recurso, a medida pleiteada pelo autor e não concedida em sede de 1º grau de jurisdição. Assim ocorrendo, a providência judicial rejeitada em 1º grau de jurisdição passaria a produzir efeitos a partir de sua concessão pelo relator, até a prolação de decisão final de mérito do agravo interposto. Nesse particular, de se trazer à baila, por oportuno, o escólio de Luiz Guilherme Marinoni (In Manual de Direito Processual Civil 2ª Ed. rev., atual. e amp. São Paulo: Método. P. 635), in verbis:...tratando-se de decisão de conteúdo negativo ou seja, que indefere, rejeita, não concede a a tutela pretendida -, o pedido de efeito suspensivo será inútil, simplesmente porque não existem efeitos a serem suspensos, considerando que essa espécie de decisão simplesmente mantém o status quo ante. Com a concessão da tutela de urgência nesse caso, o agravante pretende obter liminarmente do relator exatamente aquilo que lhe foi negado no primeiro grau de jurisdição. (g. n.) Ocorre que, para a concessão de medidas de natureza de urgência, em sede de agravo de instrumento, imprescindível se faz a presença dos motivos e dos pressupostos previstos na lei processual. 3
In casu, a providência judicial requerida ao juízo a quo foi indeferida por este. Assim sendo, tendo em vista que a decisão hostilizada é de cunho negativo, requereu o agravante a concessão de efeito suspensivo ativo ao recurso de agravo, com arrimo no art. 527, III, 2ª parte do CPC, in verbis: Art. 527. Recebido o agravo de instrumento no tribunal, e distribuído incontinenti, o relator: (Redação dada pela Lei nº 10.352, de 2001) III (...) ou deferir, em antecipação de tutela, total ou parcialmente, a pretensão recursal, comunicando ao juiz sua decisão; (...) Assim sendo, para atribuição de efeito suspensivo ativo devem estar presentes os requisitos previstos no art. 273 do Código de Ritos, quais sejam, as condições sine quibus non para a concessão da antecipação dos efeitos da tutela, a saber: i) existência de prova inequívoca da verossimilhança das alegações do recorrente, acrescidos de um dos seguintes requisitos: ii) fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação ou iii) fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. Em todo o caso, ainda que presentes tais requisitos positivos para a concessão do efeito suspensivo ativo, o relator deverá atentar para a não ocorrência de perigo de irreversibilidade do provimento antecipado, situação que ensejaria na não concessão da tutela de urgência requerida em sede recursal. 4
espécie, in verbis: Veja-se o aludido dispositivo legal aplicável à Art. 273. O juiz poderá, a requerimento da parte, antecipar, total ou parcialmente, os efeitos da tutela pretendida no pedido inicial, desde que, existindo prova inequívoca, se convença da verossimilhança da alegação e: I - haja fundado receio de dano irreparável ou de difícil reparação; ou II - fique caracterizado o abuso de direito de defesa ou o manifesto propósito protelatório do réu. (...) 2 o Não se concederá a antecipação da tutela quando houver perigo de irreversibilidade do provimento antecipado....) Dito isso, tem-se que o caso em testilha não se subsume às hipóteses de deferimento do efeito suspensivo ativo. Nesse trilho, o compulsar dos autos, primo ictu oculi, revela que a recorrente não carreou aos autos prova da verossimilhança de suas alegações, não havendo prova mínima nos autos a embasar os fatos narrados na exordial, sendo, pois, imprescindível a dilação probatória. Ressalve-se que os fundamentos ora explanados encontram esteio em um juízo preliminar de cognição, situação que, segundo o ilustre processualista Alexandre Câmara, tem-se a cognição superficial em casos de resto não muito frequentes em que o juiz deve se limitar a uma análise perfunctória das alegações, sendo atividade cognitiva ainda mais sumária do que a exercida na espécie que leva este nome. (O objeto da cognição no processo 5
civil, in Livro de Estudos Jurídicos, n 11, Rio de Janeiro: Instituto de Estudos Jurídicos, 1995, p. 224). E arremata: Tal espécie de cognição é exercida, e.g., no momento de se verificar se deve ou não ser concedida medida liminar no processo cautelar. Se nesta espécie de processo (utilizando-se aqui a classificação tradicional dos processos quanto ao provimento jurisdicional pleiteado) a atividade cognitiva final é sumária (uma vez que o juiz não verifica se existe o direito substancial alegado pelo demandante, mas tão-só a probabilidade dele existir fumus boni iuris), é obvio que para verificar se deve ou não ser antecipada a concessão de tal medida através de liminar não se pode permitir que o juiz exerça, também aqui, cognição sumária, sob pena de se obrigar o juiz a invadir de forma indevida o objeto do processo cautelar. Deverá o julgador, portanto, exercer cognição superficial. Ao invés de buscar o requisito do fumus boni iuris, deverá verificar a probabilidade de que tal requisito se faça presente (algo como fumus boni iuris de fumus boni iuris). Assim, pelos motivos expostos e diante da ausência dos requisitos previstos para a sua concessão, com espeque nos art. 527, III 2º parte e 273 do CPC, indefiro o efeito suspensivo ativo ao presente instrumento e determino: a) Solicitem-se informações ao juízo da causa. querendo, contrarrazões. b) Intime-se o agravado, via postal, para apresentar, c) após, venham conclusos. 6
À Secretaria para as providências cabíveis. Rio de Janeiro, 03 de outubro de 2013. Desembargador MARCELO LIMA BUHATEM Relator 7