Discurso do Sr. Governador do BCV, Dr. Carlos Burgo, no acto de abertura do Seminário sobre Bureau de Informação de Crédito



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Transcrição:

Discurso do Sr. Governador do BCV, Dr. Carlos Burgo, no acto de abertura do Seminário sobre Bureau de Informação de Crédito Câmara do Comércio, Industria e Serviços de Sotavento Praia, 16 de Julho de 2009 Minhas senhoras e meus senhores Em nome do Banco de Cabo Verde, cumpre-me hoje partilhar convosco algumas reflexões iniciais sobre a temática da informação de crédito, na óptica de um serviço privado. O BCV atendeu prontamente ao convite formulado pela organização do evento atendendo ao importante contributo que a informação de crédito pode trazer para o processo de edificação de um sistema financeiro sólido, eficiente e acessível, uma vertente importante da missão do Banco Central. A importância da informação de crédito para o sistema financeiro decorre do facto de contribuir para uma distribuição mais abrangente e transparente do crédito. Ajuda a evitar ou mitigar os problemas de assimetria de informação que normalmente dificultam o processo de concessão de crédito, resultando em custos desnecessários para os consumidores, as empresas, as instituições financeiras e para a economia. A expansão do crédito, numa base transparente, significa por sua vez menos crédito em situação irregular, maior rendibilidade para os intermediários financeiros e, em última instância, um sistema financeiro mais desenvolvido e estável, portanto com melhor capacidade para cumprir as suas funções no processo de desenvolvimento da economia. A participação do sector privado nacional na gestão da problemática da informação de crédito nos moldes que eventualmente vierem a ser decididos será um importante complemento aos esforços já

desenvolvidos pelo Estado, através do BCV, com vista a garantir uma informação de crédito que traduza os interesses e as responsabilidades das partes competentes. Em concreto, será bem-vindo como um complemento à Central de Risco de Crédito (CRC), um instrumento desenvolvido e gerido pelo BCV em cumprimento das responsabilidades prudenciais do Banco Central enquanto responsável pela supervisão do sistema financeiro nacional. As sinergias que se tornarão possíveis no quadro de um sistema com essas duas valências traduzir-se-ão sem dúvida em melhor e menos custosa informação para o sistema financeiro. Permitam-me aqui um parêntese para partilhar convosco algumas iniciativas actuais do BCV visando a melhoria do contexto da actividade creditícia em Cabo Verde: Melhoria da política monetária e da supervisão da actividade financeira, elementos com forte influencia sobre a actividade de crédito; Avaliação do sistema financeiro, detectando as vulnerabilidades e os riscos que condicionam a actividade financeira; Revisão do enquadramento da actividade bancária e para-bancária, actualmente com quase treze anos de vigência, de modo a promover o surgimento de instituições e instrumentos financeiros especializados mais adequados às necessidades dos agentes económicos nacionais; Participação na revisão de um conjunto de normativos, tais como o Código das Empresas Comerciais, de modo a criar um ambiente de 2

investimento e de negócios propício às oportunidades e necessidades existentes no país; O reforço e a melhoria do sistema nacional de informação de crédito constituem uma prioridade actual para o BCV. O rápido crescimento do crédito (formal) à economia 26% em 2008 num contexto de crise internacional e abrandamento no ritmo de crescimento económico nacional, interpela-nos para a necessidade de reforçar a capacidade e as medidas de acompanhamento da actividade creditícia tendo em conta os possíveis efeitos nocivos que a mesma pode ter sobre a massa monetária, a balança de pagamentos e as reservas internacionais do país. Importa sim que haja crédito ao sector privado mas numa óptica de sustentabilidade, com gestão adequada do risco e atenção aos possíveis efeitos sobre o sistema financeiro e a economia no seu todo. Se bem que não existem dados detalhados e fiáveis sobre a evolução do crédito informal em Cabo Verde, alguns indícios, nomeadamente a dinâmica a nível da actividade de micro-crédito e o comportamento de alguns operadores comerciais de maior dimensão, levam-nos a acreditar que tal actividade está a expandir-se. A informação de crédito, na óptica privada pode ajudar o banco central no cumprimento das suas responsabilidades de acompanhamento da evolução do crédito, à semelhança do que já vem acontecendo em muitos países em desenvolvimento, em particular alguns com actividade creditícia e realidade económica comparáveis às de Cabo Verde. Nos últimos anos, vários países emergentes tem vindo a registar taxas elevadas de crescimento do crédito em alguns casos superiores a 50% 3

ao ano levando as autoridades a recomendar maior responsabilidade na concessão de crédito, particularmente num contexto de crise financeira generalizada. A prestação de informação sobre o crédito, nomeadamente pela via de estabelecimento de agências privadas, constitui uma vertente importante desta nova responsabilidade. Vários países de rendimento médio-baixo portanto comparáveis a Cabo Verde têm participado desta dinâmica, resultando em melhor informação de crédito produzida e reportada com menores custos. Esperamos que Cabo Verde possa também associar-se a esta dinâmica, com vantagens óbvias para o sector financeiro e para todos os seus participantes. O Banco de Cabo Verde está disponível para colaborar neste esforço em moldes a definir e acordar. Espero pois que tenham uma boa sessão de trabalho, desfrutando dos conhecimentos do especialista internacional aqui presente, com a retaguarda da Sociedade Financeira Internacional, instituição internacional de referência no panorama do desenvolvimento da actividade privada. Peço igualmente aos ilustres participantes que partilhem com os promotores e com as entidades públicas aqui presentes as suas preocupações e contribuições, visando uma participação adequada do sector privado na abordagem a esta importante e actual problemática. Lá onde se justificarem intervenções da responsabilidade da esfera pública, o Banco de Cabo Verde compromete-se aqui a interceder pelos canais próprios com vista à assumpção das responsabilidades do Estado nesta matéria. 4

Votos de bom trabalho e de resultados à altura dos interesses e das responsabilidades de todos nós aqui presentes. 5