APONTAMENTOS SOBRE O ENSINO DA HISTÓRIA E DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NA FORMAÇÃO DOCENTE

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Transcrição:

APONTAMENTOS SOBRE O ENSINO DA HISTÓRIA E DA CULTURA AFRO-BRASILEIRA E INDÍGENA NA FORMAÇÃO DOCENTE Resumo WASILEWSKI, Lara 1 - UTP SALOMÉ, Josélia Schwanka 2 - UTP Grupo de Trabalho Políticas Públicas, Avaliação e Gestão da Educação Agência Financiadora: CNPq Procura-se com este estudo a reflexão sobre algumas questões que envolvem, na formação docente, o estabelecido pelas Leis 10.639/2003 e 11.645/2008. As referidas leis trazem a obrigatoriedade da discussão sobre a história e a cultura afro-descendente e indígena para as salas de aula. Dentre algumas preocupações referentes à temática, temos os conteúdos a serem trabalhados e a necessidade da formação continuada. Este trabalho integra a dissertação de mestrado que se encontra em fase inicial de pesquisa a qual busca trabalhar com os aspectos relativos à formação integral do educando, levantando questionamentos para avançar no conhecimento e no reconhecimento da história e da cultura afro-brasileira e indígena. Para o referencial teórico, abordamos autores como Brandão, Saviani, Fontana, Oliveira, Julia, Chervel, entre outros. Deste modo, ao conhecer e valorizar as semelhanças e as diferenças que formam o povo brasileiro almejamos contribuir para uma educação de qualidade com participação social de todos. Esta é uma das discussões que ora se apresenta na busca por uma educação que compreenda e reconheça a história e a cultura brasileira no cotidiano da escola. Contribuir com a pesquisa para que o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena, além do cumprimento das leis federais, possa ser muito mais do que a transmissão de conteúdos, possa ser o momento de crescimento social e formação humana. Com os procedimentos, a equipe escolar deve estar articulada e construindo a prática pedagógica de forma integrada. Os desafios em questionamentos estão, no momento, aguardando para serem solucionados. Como resultado das reflexões e das ações tomadas, teremos um conhecimento ampliado, aprofundado e sistematizado, que irá contribuir para avanços acadêmicos e sociais, principalmente na conscientização do papel de cada um na sociedade. Palavras-chave: Políticas públicas para a educação. Formação de professores. Prática docente. 1 Mestranda em Educação pela UTP, Linha Políticas Públicas e Gestão da Educação, bolsista CNPq. Graduada em Pedagogia pela UEPG. Pedagoga na Rede Municipal de Ensino de Curitiba. E-mail: laraleski@yahoo.com.br 2 Doutora em Artes pela UNICAMP. Professora do Programa de Pós-Graduação em Educação da UTP. Coordenadora da Linha de Pesquisa: Políticas Públicas e Gestão da Educação. E-mail: joselia.salome@utp.br

3125 Introdução Este trabalho integra a dissertação de Mestrado em Educação intitulada: O Ensino da História e da Cultura Afro-Brasileira e Indígena em Escolas Técnicas Federais: entre a legalidade e a prática, ainda em fase inicial e tem por objetivo discutir a implementação das leis, 10.639/03 e 11.645/08, refletindo sobre a formação de professores e a prática atual. Considerando que estas leis são recentes, ambas merecem uma discussão entre os educadores para a mobilização de ações educativas que contemplem o ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena nas escolas, como via para a formação continuada dos professores, que passam a trabalhar mais efetivamente nos seus conteúdos com a educação das relações étnicorraciais. Estamos na Década Internacional da Educação para o Desenvolvimento Sustentável (2005-2014), proposta aprovada na Assembléia Geral das Nações Unidas no ano de 2002, cujo objetivo é buscar uma educação de qualidade e com compreensão do mundo em que vivemos. Neste devir em que existe um movimento de transformação das coisas, somos levados a buscar na história dos acontecimentos e nos fatos, utilizando a dialética necessária, constatando que além de conteúdos apenas, o professor tem importante papel na sociedade em que vive e trabalha. Papel maior de formar integralmente o seu educando, sabendo que este educando não é só seu, mas é da escola, um ser integrando um coletivo, uma comunidade, um país. A participação do indivíduo no coletivo, segundo Brandão, implica em: [...] participar ativa e criticamente de processos de decisão e de ação ambiental em grande escala, e, não esquecer, público não é do governo, público é de todos nós, através de um exercício de poder legítimo (porque exercido em nosso nome) que outorgamos a um grupo sempre provisório. O indivíduo precisa ter noção de quem ele é e de quem pode ser (...). Em grupos se pode ficar mais forte (...) unidades de participação que nos reunimos para pensarmos juntos, para aprendermos uns com os outros e para planejarmos e vivermos as nossas ações sociais. (BRANDÃO, 2008, p. 153-154) Num país como o Brasil, de uma dimensão de recursos naturais privilegiados, com uma população formada por diferentes grupos étnicos, em que cada grupo étnico revela uma história e uma cultura diferenciada, ocorre um fenômeno que é a geração da própria cultura brasileira. Com isso, o Governo Federal, com a condição de ampliar os conhecimentos sobre determinadas culturas formadoras da cultura brasileira, bem como resgatar suas histórias,

3126 especificamente inserindo estes conhecimentos no âmbito educacional, exarou as Leis 10.639/03 e 11.645/08. As leis e a escola O cumprimento da Lei 10.639/03 e da Lei 11.645/08 são desafios para nós, profissionais da educação, porque estão além de conteúdos. Séculos de escravidão, opressão, injustiças sociais, mas, também, por outro lado, a liberdade, igualdade, justiça e oportunidade de viver socialmente com as semelhanças e as diferenças através do conhecimento com a reflexão sobre a essência do ser. Neste contexto histórico, antes da promulgação das referidas leis, grupos étnicos como os afro-descendentes, em movimentos sociais, incluíram em seus objetivos de luta, ações referentes à educação escolar. Sobre educação consideramos que Ela sobrevive aos sistemas. Se em um ela serve à reprodução da desigualdade e à difusão de ideias que legitimam a opressão, em outro pode servir à criação da igualdade entre os homens e à pregação da liberdade. (BRANDÃO, 2008, p.99). Nisto recai que, nossa escola, de tradição eurocêntrica, relevou em seu escopo curricular a história e a cultura europeia, deixando de aprofundar pesquisas relevantes sobre as culturas indígenas brasileiras e africanas, também formadoras da nossa cultura. A valorização do ensino da história e da cultura africana, como também indígena, que segundo o MNU (Movimento Negro Unificado), seria capaz de eliminar o desconhecimento sobre tais culturas, é uma importante ação para amenizar as questões de preconceito étnico, ainda muito presentes no país. Desde 1978 o Movimento Negro Unificado - MNU - combate manifestações preconceituosas e discriminatórias praticadas contra africanos e afro-descendentes. Luta pela valorização da contribuição do povo negro na construção do país defendendo a inserção da história da África no currículo escolar. Na Constituição de 1988 temos atenção para o artigo 242: 1º - O ensino da História do Brasil levará em conta as contribuições das diferentes culturas e etnias para a formação do povo brasileiro. (BRASIL, 1988). Na sequência da formulação de Políticas Públicas para a educação no Brasil, temos a Lei de Diretrizes e Bases da Educação de número 9.394/1996 alterada em seus artigos 26 e 79

3127 pelas Leis 10.639 e 11.645. Ambas são assinadas neste século, pelo então Presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, nos anos de 2003 e 2008, respectivamente. Segue o texto da Lei de 2003: Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dá outras providências. Art. 1o A Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar acrescida dos seguintes arts. 26-A, 79-A e 79-B: Art. 26-A Nos estabelecimentos de ensino fundamental e médio, oficiais e particulares, torna-se obrigatório o ensino sobre História e Cultura Afro-Brasileira. 1o O conteúdo programático a que se refere o caput deste artigo incluirá o estudo da História da África e dos Africanos, a luta dos negros no Brasil, a cultura negra brasileira e o negro na formação da sociedade nacional, resgatando a contribuição do povo negro nas áreas social, econômica e política pertinentes à História do Brasil. 2o Os conteúdos referentes à História e Cultura Afro-Brasileira serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de Educação Artística e de Literatura e História Brasileiras. Art. 79-B. O calendário escolar incluirá o dia 20 de novembro como Dia Nacional da Consciência Negra." Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 9 de janeiro de 2003; 182o da Independência e 115o da República. (BRASIL, 2003) Visando atender a sociedade, nas questões de Políticas Públicas Educacionais, no dia 9 de janeiro do ano de 2003 o Governo Federal exarou a Lei 10.639, que alterou a LDB no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, estabelecendo as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da Rede de Ensino a obrigatoriedade da temática "História e Cultura Afro-Brasileira", e dando outras providências para o referido cumprimento dessa mesma lei. Buscando atender as reivindicações dos movimentos indígenas, movimentos estes que se configuram a partir do final da década de 1970, no Brasil, seguindo as linhas dos direitos estabelecidos na Constituição (1988), na Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional LDB, (1996) e no documento do MEC Diretrizes para a Política Nacional de Educação Indígena (1993); no dia 10 de março de 2008, o Governo Federal exarou a Lei 11.645, que, por sua vez, alterou a já referida Lei no 10.639, estabelecendo novas diretrizes e bases para a educação nacional. Avançando nas questões formadoras da cultura brasileira, além da temática História e Cultura Afro-Brasileira, agregou também ao currículo do ensino fundamental, e também do ensino médio, conteúdos correlatos à História e Cultura Indígena. Segue o texto da Lei 11.645 de 10 de março de 2008:

3128 Altera a Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, modificada pela Lei no 10.639, de 9 de janeiro de 2003, que estabelece as diretrizes e bases da educação nacional, para incluir no currículo oficial da rede de ensino a obrigatoriedade da temática História e Cultura Afro-Brasileira e Indígena. Art. 1o O art. 26-A da Lei no 9.394, de 20 de dezembro de 1996, passa a vigorar com a seguinte redação: Art. 26-A - Nos estabelecimentos de ensino fundamental e de ensino médio, públicos e privados, torna-se obrigatório o estudo da história e cultura afro-brasileira e indígena. 1o O conteúdo programático a que se refere este artigo incluirá diversos aspectos da história e da cultura que caracterizam a formação da população brasileira, a partir desses dois grupos étnicos, tais como o estudo da história da África e dos africanos, a luta dos negros e dos povos indígenas no Brasil, a cultura negra e indígena brasileira e o negro e o índio na formação da sociedade nacional, resgatando as suas contribuições nas áreas social, econômica e política, pertinentes à história do Brasil. 2o Os conteúdos referentes à história e cultura afro-brasileira e dos povos indígenas brasileiros serão ministrados no âmbito de todo o currículo escolar, em especial nas áreas de educação artística e de literatura e história brasileiras. (NR) Art. 2o Esta Lei entra em vigor na data de sua publicação. Brasília, 10 de março de 2008; 187o da Independência e 120o da República. (BRASIL, 2008) Com a promulgação destas leis, verificamos real necessidade de estarmos discutindo, entre os profissionais da educação, o cumprimento do que as mesmas determinam. Contextualizando com a práxis pedagógica, temos a obrigatoriedade de conteúdos específicos no tocante a temática nos cursos de formação de professores, com a inclusão da disciplina de História da África, objetivando que, posteriormente os conteúdos sejam efetivados na prática, em sala de aula. Os professores anteriormente contratados necessitam de informações, cursos e palestras com formação continuada sobre a referida temática. A equipe pedagógica administrativa deve estar atenta para a grade curricular e cargas horárias das disciplinas para incluir a história e cultura africana e indígena. Para auxiliar nestas questões promovendo o cumprimento das leis e pensando-se na sustentabilidade que se busca no cotidiano escolar rumo ao futuro para uma sociedade igualitária, nós, educadores somos chamados para acompanhar os conteúdos propostos, debater, divulgar e trocar materiais além de obter participação em eventos, encontros, atividades sobre a temática do ensino das histórias e das culturas negra e indígena. Na escola, proporcionar momentos de diálogo com os alunos para que tenham oportunidade de interagir com a temática, incluindo debates sobre as políticas públicas, cidadania, ética, proporcionando pesquisas, entrevistas, murais, dramatizações, seminários. Para a efetivação do ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena, os educadores durante a sua formação, ou atuantes em sala de aula, deverão estar familiarizados

3129 com a pesquisa científica, pois sem ela não há possibilidade de avanços ao conhecimento científico. Segundo Saviani: [...] o princípio da atualidade da pesquisa histórica, que implica a consciência de que, como toda pesquisa, a investigação histórica não é desinteressada. Consequentemente, o que provoca o impulso investigativo é a necessidade de responder a alguma questão que nos interpela na realidade presente. Obviamente isto não tem a ver com o presentismo nem mesmo com o pragmatismo. Trata-se, antes, da própria consciência da historicidade humana, isto é, a percepção de que o presente se enraíza no passado e se projeta no futuro. Portanto, eu não posso compreender radicalmente o presente se não compreender as suas raízes, o que implica o estudo de sua gênese. (SAVIANI, 2007, p. 04). O professor é sempre um pesquisador, não importa se está nos bancos escolares como aluno ou como mestre, a pesquisa faz parte da vida discente como docente. Inclusive porque a escola é um espaço de formação, responsável pela transmissão e socialização do conhecimento e da cultura. É também um espaço de formação do professor pesquisador. No ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena, a temática que envolve a diversidade étnicorracial necessita ir para além da simples reprodução dos conteúdos. Uma educação que quer ir longe, ir além dos muros escolares, é a educação de hoje. Quando o professor internaliza o conhecimento científico e o transfere para o educando numa visão histórica e crítica da realidade social este conhecimento passa a ter significado e valor. A história do povo brasileiro precisa ser trabalhada de forma contextualizada, inovadora, sustentável. Para Munanga, Se a pessoa acumula na sua memória as referências positivas do seu povo é natural que venha à tona o sentimento de pertencimento como reforço à sua identidade racial (MUNANGA, 2002, p. 115). Como referência de um povo, encontramos a cultura deste, desenvolvida durante os anos mantendo suas especificidades. A própria cultura escolar definida como normas e práticas coordenadas a finalidades que podem variar segundo as épocas (JULIA, 2001, p.10). Estas normas e práticas nos modos de pensar e agir da sociedade. Para Fontana (1996, p.67)

3130 [...] a cultura é definida como uma construção histórica, seja como concepção, seja como dimensão do processo social. Ela não é algo natural, não decorre de características inerentes ao homem, e nem de leis físicas e biológicas. Ao contrário, a cultura é um produto coletivo da vida humana, enraizado nas condições materiais e sociais de existência, condições contraditórias marcadas pela desigualdade e opressão e pela luta por sua superação. Com a decisão de ação pelo docente, algo histórico se torna importante e faz a diferença no pensamento. Ao relacionar a opressão sofrida pelos negros e índios no passado com as lutas contra o racismo hoje, informações prévias contribuirão para a capacidade de entendimento e posição pessoal sobre o assunto. Ideologias de superioridade e dominação se perpetuam, e na história grupos que sofrem a opressão lutam contra ela. Na luta pela dignidade os Movimentos Sociais propõem a busca pelo conhecimento e legitimidade dos fatos, revendo-se a história, agora com outro olhar, com o resgate da contribuição de povos negros e indígenas, não mais vistos como escravos, mas como povos com sua história e cultura, atuantes nas áreas sociais, econômicas e políticas no Brasil. A escola não sendo neutra e tendo uma função social, necessita ser organizada com a finalidade da formação humana, sendo esta formação a intenção social de uma época. A sociedade impõe à escola suas finalidades, criando suas próprias disciplinas e ao redor dessas finalidades que se elaboram as políticas educacionais, os programas e os planos de estudo, seguindo com construção e transformação histórica da escola (CHERVEL, 1990). Nas reflexões de Saviani (2007), ao sistematizar seus conteúdos a escola segue uma linha de pensamento e ideias pedagógicas construídas ao longo da história da educação. Na formação de professores, a academia pode gerar um espaço de desenvolvimento para estudos consistentes e significativos sobre a educação. Betty Oliveira, estudando a política de formação de professores do ensino superior, de 1972 a 1978, reforça esta questão ao afirmar que: A formação de docentes como agentes (conscientes ou não) dos interesses dominantes (resultado desejado, mas não necessariamente proclamado) e a formação de docentes conscientes da situação sócio-político-econômico-cultural do Brasil com uma postura crítico-reflexiva frente a essa situação (resultado não necessariamente desejado, embora proclamado). (OLIVEIRA, 1980, p.36). Observam-se políticas públicas e diferentes pontos de vista, visando uma educação que traga oportunidades e autonomia. Articular várias fontes com diversos contextos percebendo-se a responsabilidade de ser pesquisador oferecendo subsídios com este trabalho

3131 para a reflexão e a ação de professores. É agindo sobre o meio, apropriando-se do existente para dar-lhe maior qualidade, que o homem produz e se realiza, transformando o meio para um patamar mais elevado do que o já existente. (FERREIRA, 2007, p. 21). Considerações Finais O profissional da educação atuante ou o futuro professor que está em formação, estão construindo o seu próprio conhecimento e apropriando-se dele, estão trilhando pelas veredas históricas com a pesquisa científica. Neste momento somos todos pesquisadores, interessados na construção coletiva do conhecimento, entendendo que é por meio da pesquisa científica que compreendemos a historicidade da formação do povo brasileiro. O ensino da história e da cultura afro-brasileira e indígena, além do cumprimento das leis federais, pode ser muito mais do que a transmissão de conteúdos, pode ser o momento de crescimento social e formação humana. A escola como um todo, incluindo aqui a gestão, professores e alunos, pode gerar mudanças sociais, partindo da compreensão das políticas educacionais na relação com a prática pedagógica em sala de aula. Na formação de cidadãos capazes de refletir eticamente com idoneidade sobre as formas de opressão e liberdade, semelhanças e diferenças, teorias e práticas, para buscarem o conhecimento como forma sustentável de ser, fazer, aprender e viver. Para concluir, na resolução das situações educacionais vividas na escola, toda a equipe escolar deve estar articulada e construindo sua prática pedagógica de forma integrada. Os desafios em questionamentos estão, no momento, aguardando para serem solucionados. Como resultado das reflexões e das ações tomadas, teremos um conhecimento ampliado, aprofundado e sistematizado, que irá contribuir para avanços acadêmicos e sociais, principalmente na conscientização do papel de cada um na sociedade. REFERÊNCIAS BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Brasília, DF: Senado, 1988. BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei 11.645 de 10 de março de 2008. Brasília: 2008. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2008/lei/l11645.htm, acessado em 13 de maio de 2013

3132 BRASIL. PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA. Casa Civil, Subchefia para Assuntos Jurídicos. Lei 10.639 de 10 de janeiro de 2003. Brasília: 2003. Disponível em: http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/2003/l10.639.htm, acessado em 13 de maio de 2013 BRANDAO, Carlos Rodrigues. Minha casa, o mundo. Aparecida, São Paulo: Ideias & Letras, 2008. CHERVEL, André. História das disciplinas escolares: reflexões sobre um campo de pesquisa. Revista Teoria e Educação. 2. 1990. FAZER VALER A LEI 11.645/08. Disponível em: <http://fazervaleralei.blogspot.com.br/>, acessado em 13 de maio de 2013. FERREIRA, N. S. C. (org.) A Pesquisa na Pós-Graduação em Educação: Reflexões, Avanços e Desafios. Cadernos de Pesquisa: Pensamento Educacional v.2 nº 3, Curitiba: Editora UTP 2007. FONTANA, Roseli A. Cação. Mediação pedagógica na sala de aula. São Paulo: Autores Associados, 1996. JULIA, Dominique. A cultura escolar como objeto histórico. Revista Brasileira de História da Educação, São Paulo, n.1, p.9-43, jan./jun.2001. MUNANGA, Kabengele. (org.) Superando o racismo na escola. Brasília. Ministério da Educação, Secretaria de Educação Fundamental. 2002. OLIVEIRA, Betty Antunes. O Estado autoritário brasileiro e o ensino superior. São Paulo, Cortez; Autores Associados,1980. SAVIANI, Dermeval. História das Idéias Pedagógicas no Brasil. Campinas: Autores Associados, 2007.