MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA SOCIAL Indicadores Sociais UFF-ICHF-GSO Profª Selene Herculano. Indicadores sociais



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Transcrição:

MÉTODOS E TÉCNICAS EM PESQUISA SOCIAL Indicadores Sociais UFF-ICHF-GSO Profª Selene Herculano Indicadores sociais Os indicadores constituem informações condensadas, simplificadas, quantificadas, que facilitam a comunicação, comparações e o processo de decisão. Os indicadores sociais propõem-se, ainda, a ser um incentivo para a mobilização da sociedade a fim de pressionar os que tomam as decisões. Um indicador nos auxilia a compreender onde estamos, para onde estamos indo e a que distância estamos do ponto que queremos alcançar. Alerta para problemas e ajuda a identificar o que precisa ser feito para superá-los. Começaram a ser usados em escala mundial em 1947, na Economia, quando se disseminou a medição do PIB- Produto Interno Bruto (GNP - "Gross Domestic Product") e o PIB per capita como indicadores de progresso econômico. Todo indicador é passível de crítica e critica-se a ineficácia de se quantificar o PIB per capita sem se ter o pulso da real distribuição de renda. A própria metodologia de mensuração do PIB é inadequada, pois contabiliza como atividades econômicas ações na verdade destrutivas, como desmatamentos e demolições e até mesmo imorais, como as empresas de prostituição e de tráfico de crianças. Metodologia que alguns países efetivamente começaram a incluir. Os indicadores econômicos são de mensuração mais fácil e há vários, por conta do interesse e da disponibilidade de dados: produção física de bens duráveis; índice de desemprego; índice de exportações, de vendas a varejo, de pessoas ocupadas, de consumo de energia elétrica. Até de expedição de papel e de papelão ondulado (embalagens). Desde meados dos anos 90 cunhou-se o índice Custo Brasil, que avalia as dificuldades econômicas, burocráticas, tributárias que dificultam a produção nacional. Este índice teria sido criado criado peloserviço de Planejamento da Petrobrás na elaboração do Contrato de Gestão de 1994 e ganhou repercussão quando passou a ser divulgado pela CNI-Confederação Nacional da Indústria. (OLIVEIRA,2000). O Custo Brasil teria sido inspirado no Risco País/Risco Brasil, na verdade o Emerging Markets ond Index Plus (EMBI+), calculado pelo J.P. Morgan para medir o grau de "perigo que um país representa para o investidor Estrangeiro, concentrando-se em países emergentes. O J. P. Morgan analisa o rendimento dos instrumentos da dívida de um determinado país, principalmente o valor (taxa de juros) com o qual o país pretende remunerar os aplicadores em bônus, representativos da dívida pública. Risco País é analisado o grau de instabilidade econômica do país. Em nosso caso, diz-se Risco Brasil.Tecnicamente falando, o risco país é a sobretaxa que se paga em

relação à rentabilidade garantida pelos bônus do Tesouro dos Estados Unidos.(FGV-IBRE). Passemos a analisar os indicadores sociais, de mensuração mais difícil e que consideramos até mais necessários e mais importantes, e que podem contrastar com os indicadores econômicos (o que foi percebido até por um generalpresidente, o Presidente Médici, que nos anos 60 declarou que a economia ia bem, mas o povo vai mal ). O IDH índice de Desenvolvimento Humano: Em 1990 a ONU, dando-se conta do caráter restritivo do PIB, deu início à medição de um desenvolvimento com rosto humano, através do IDH (Índice de Desenvolvimento Humano/HDI), proposto por Amartya Sem (Nobel em Economia). O IDH sintetiza quatro indicadores, que compõem clusters ou agrupamentos de variáveis (expectativa de vida, taxa de alfabetização, anos de escolaridade e PIB/capita). Tratava-se de se ater a aspectos de fácil mensuração e que refletiriam a efetiva boa consequência do desenvolvimento na vida das pessoas. Seus pressupostos são óbvios: quanto maior a instrução, maior a informação e a predisposição para a ação positiva; quanto mais universalmente distribuída a educação, menos concentrada será a renda; quanto mais assistida uma pessoa - em nutrição, saúde, saúde pública, salubridade no trabalho, segurança contra formas de violência - mais longa sua expectativa de vida. O IDH dispõe os cerca de 160 países em um ranking. O IPS Índice de Progresso Social: O Índice de Progresso Social foi criado pelo professor Michael Porter e equipe, da Harvard Business School e construído pela ONG Social Progress Imperative. Busca complementar o PIB, pois, embora um alto PIB per capita seja relacionado a progresso social, essa conexão está longe de ser automática: crescimento econômico nem sempre redunda em progresso social. O IPS trabalha três grandes categorias: Oportunidade: existe oportunidade para que todos os seus indivíduos desenvolvam sua máxima potencialidade? (Direitos e liberdades individuais; tolerância e inclusão; acesso à educação superior). Fundamentos de bem-estar: existem as bases para que os indivíduos e comunidades sustentem e aprimorem seu bem-estar? (Acesso ao conhecimento básico, à informação e comunicação; saúde e bem-estar; sustentabilidade dos ecossistemas).

Necessidades Humanas Básicas: o país fornece os bens mais necessários para sua população? (Nutrição e cuidados médicos básicos; água e saneamento; moradia; segurança pessoal). Cada categoria é composta por numerosas variáveis, tais como: mortes atribuídas às condições de poluição do ar interno, liberdade de culto, liberdade de movimento, liberdade de associação, assinaturas de telefonia móvel, matrículas em educação secundária, utilização de anticoncepcionais, etc.. O IPS 2014 classificou 132 países por seu desempenho social e ambiental identifica os pontos fortes e fracos dos países a partir de um conjunto de informações e análises conduzidas para cada um deles. (Não foi detalhado como os dados são obtidos e se, no caso brasileiro, os há com efeito). O Brasil ocupou em 2014 a 46ª posição do ranking geral e na avaliação das três grandes categorias que compõem o Índice, o País obteve sua melhor colocação em Oportunidade, ficando na 36ª posição neste pilar e em 38º em Fundamentos de bem-estar. Porém, em Necessidades Humanas Básicas ficou no 74º lugar, sendo que nesta última categoria ocupando posições baixas em cinco itens: segurança pessoal (122ª posição), terror político (107ª), quantidade de crimes violentos (103ª), mortes no transito (104ª) e taxa de homicídio (109ª). Fonte: http://www.ideiasustentavel.com.br/2014/04/indicede-progresso-social-2014/ RANKING DO IPS MUNDIAL EM 2014: Fonte: http://www.ideiasustentavel.com.br/2014/04/indice-de-progresso-social-2014/

Outros indicadores agregados: Outros indicadores agregados (também chamados de sintéticos) são lembrados por GADREY & JANY-CATRICE[1]: o Índice de Saúde Social - ISS; o Barômetro das Desigualdades e da Pobreza na França - BIP40 (baromêtre dês inegalités et de La pauvreté); o Índice de Segurança Pessoal ISP; o índice de bem-estar econômico sustentável IBES; o Índice de Poupança Verdadeira GS (genuine savings). No ISS- Índice de Saúde Social, variáveis específicas de riscos sociais são atribuídas a grupos de idade diferentes: por exemplo, maus tratos, mortalidade e pobreza para as crianças; uso de drogas, suicídio, abandono de estudos e gravidez para os adolescentes; desemprego, plano de saúde e salário médio para os adultos; expectativa de vida e pobreza para os idosos. No BIP40, além das variáveis emprego, renda, saúde e educação, entram em análise também a moradia e a justiça (por exemplo, taxa de presidiários em relação à população). O ISP é uma metodologia canadense e está composta por três aspectos: segurança econômica (emprego, seguridade social e vulnerabilidade financeira), seguro saúde (proteção e atendimento a doenças); segurança física (estar ao abrigo da criminalidade e de acidentes). O GS é um indicador usado pelo Banco Mundial a partir de 2003, onde as atividades envolvidas com o esgotamento de recursos naturais (florestas; petróleo) passam a ser contabilizadas como descapitalização, isto é, custos, e portanto descontadas da poupança social. O Smart Growth (crescimento inteligente): No Canadá usa-se também a ferramenta dos indicadores para as políticas urbanas e para restringir o urban sprawl (espraiamento ou dispersão urbana). Uma cidade com crescimento inteligente smart growth não se espalha pressionando as áreas verdes e rurais, mas, ao contrário, tem uma vizinhança compacta, usos mistos do solo, diversificação habitacional, infraestrutura mais esperta e verde, variedades de transporte, engajamento dos seus cidadãos, dentre outros princípios. O smart growth se compõe de três clusters: forma urbana, habitabilidade e importância econômica, totalizando 27 variáveis. Dentre as nove variáveis que compõem a forma urbana, destacamos aqui a distância percorrida para o trabalho, a porcentagem de trabalhadores que se deslocam de automóvel para o trabalho e a quilometragem de rede de infraestrutura de serviços urbanos para cada mil habitantes; dentre as nove variáveis do item habitabilidade, destacamos hectares de parques e áreas de lazer por mil habitantes, livrarias, educandários, lojas de alimentos especializados e galerias de arte por 10 mil habitantes. Dentre as nove variáveis do item importância econômica, destacamos o número de negócios por mil habitantes e o índice Bohemian relativo a criatividades culturais.

Cobb[2] insiste em que precisamos criar indicadores e índices que ajudem a construir um futuro mais desejável e seguro. Precisamos mensurar, sim, e fazêlo principalmente em termos monetários. "O que não é contado, não conta, não é percebido", escreveram MacGillivray e Zadek[3], citando um velho adágio. Criar indicadores deve ser visto como parte de um esforço para redefinir poder, desafiando a forma pela qual as questões são usualmente enfocadas, retratadas ou omitidas. A NEF New Economics Foundation tem realizado pesquisas sobre qualidade de vida e sobre felicidade. A metodologia SPIR state, pression, impact, response: Os indicadores podem ser de estado, de impacto/pressão e de resposta (conhecidos segundo a metodologia SPIR state, pression, impact, response). Os indicadores de estado mensuram aspectos de uma realidade (por exemplo, o PIB, o IDH); os indicadores de pressão ou impacto avaliam impactos de variáveis entre si (por exemplo, taxa de aumento demográfico sobre a taxa de empregos); os indicadores de resposta buscam avaliar a capacidade institucional e programática para dar respostas às pressões. Exemplificamos aqui com dois métodos relativos à sustentabilidade ambiental: a AIA avaliação de impacto ambiental e a AAE avaliação ambiental estratégica. A AIA refere-se a projetos a serem concretizados e onde as medidas de mitigação já fazem parte destes, pré-definidas pelos seus autores. Por exemplo, o impactos ambientais de uma UHE- hidrelétrica projetada e definidos como a perda de flora, ameaça de extinção e deslocamento de fauna, dos agrupamentos humanos e o plano do que fazer para atenuá-los. A AIA fica restrita ao plano e a recomendações propostas. A AAE é um processo que avalia e acompanha políticas, planos e programas em curso, de forma pró-ativa e integrada com o contexto político e com os usos do território e vendo seus impactos aditivos, sinergéticos e de estresse (não-resiliência). Na metodologia da AAE são importantes a análise de informação, a participação dos agentes envolvidos-impactados ( stakeholders ) e o desenvolvimento de alternativas. Ou seja, o método AAE trabalha com correção de rumo do que está sendo executado. LEROY & ACSELRAD propuseram um terceiro indicador, o indicador AEA Avaliação de Equidade Ambiental[4], com base nos preceitos da Justiça Ambiental, para que nos projetos de investimentos geralmente altamente impactantes para as populações locais sejam levados em consideração os seguintes aspectos: as dinâmicas sociais, as lógicas econômicas e os valores culturais das populações locais; as formas com que constroem seu meio

ambiente para moradia, trabalho, práticas religiosas, recreação, reuniões; suas formas de organização, trocas intercâmbios e socialidade; suas práticas estéticas, artísticas e culturais. Daí derivam uma lista de perguntas e critérios (características sócio-demográficas, territorialidade, estrutura institucional e comunitária, recursos comunitários, recursos sociais e políticos, fatores intersubjetivos) a serem levados em conta pelos empreendedores do projeto e que tem o aspecto de um roteiro de itens a serem obedecidos inclusive na reformulação do projeto, sem a finalidade de compor indicadores, isto é, de estarem expressos numericamente. Dashboard e cartografia social: Existe um método de apresentação de indicadores que não tem expressão numérica e sim visual. É o dashboard[5], ou painel, inspirado na idéia de um painel de automóvel e proposto para avaliar a sustentabilidade ambiental. Geralmente tem três displays, que correspondem a grupos de variáveis (clusters): economia, saúde social e qualidade ambiental. Há nele setas ou cores que indicam situações de alerta (vermelho), cuidado (amarelo) e sustentável (verde). A Cartografia Social se preocupa com a definição e recorrência de um fenômeno social em determinado segmento territorial expresso em um mapa. O Atlas da exclusão social, de Márcio Pochmann, Ricardo Amorim et alli[6] fez uma cartografia da exclusão social no ano 2000, no Brasil e nas cidades de São Paulo, Rio, Curitiba, Fortaleza, Recife e Belém (analisando o fenômeno da metropolização da pobreza); usaram quatro cores (vermelho, laranja, amaelo e verde) para sinalizar situações e graus de exclusão (do vermelho, para muita exclusão, a verde para situações de inclusão). As dimensões conceituais foram: vida digna, conhecimento, vulnerabilidade. Os índices foram o de pobreza, emprego, desigualdade, alfabetização, escolaridade, juventude exposta à violência. O uso da cartografia permite visualizar pela disposição das cores no território nacional uma relativa melhora entre os anos de 1960 e 2000 (uso da cartografia para visualização da variação temporal de um indicador). Embora cada mapa se refira a uma única variável emprego formal, violência, população mais jovem, alfabetização, violência etc., sua simples visualização das cartografias metropolitanas permite deduzir que baixa escolaridade do jovem, pobreza e falta de empregos formais se relacionam pois coincidem com as mesmas zonas urbanas nas mesmas cores. (Em uma outra acepção, cartografia social é uma metodologia de mapeamento participativo: um mapeamento social feito pela própria comunidade e que dá base jurídica e um instrumento que permite que uma população invisível represente o seu território de vida e, através disso, proteja seu patrimônio socioeconômico e cultural, como será visto em aula específica). Resumindo o exposto acima:

Os indicadores sociais servem para: Avaliar necessidades de políticas sociais e monitorar a aplicação de políticas sociais Identificar locais com mais necessidade de políticas sociais Comparar localidades Avaliar a evolução temporal de políticas implantadas Classificar localidades para a dotação de recursos e de investimentos Pontuar a distância em relação ao uma situação ideal Os indicadores sociais precisam de: Dados quantificáveis e confiáveis Um sistema continuado e padronizado de captação de dados Uma escala local (bairros; favelas; zonas urbanas) Processamento e divulgação periódica Atualização constante Periodicidade que os torne comparáveis Brasil: muito indicadores, lacunas metodológicas e baixa eficácia Segundo o Banco de Metodologias do Sistema Nacional de Informação de Cidades - SNIC, elaborado pela consultora Maria Inês Pedrosa Nahas para o Ministério das Cidades (PROJETO BRA/04/022), o Brasil dispunha até 2005 de 30 sistemas de indicadores, calculados a partir de 533 indicadores encontrados!! Destes, 7 (sete) eram calculados para a totalidade dos municípios brasileiros e 17 (dezessete) para a Região Sudeste. Nahas e sua equipe encontraram os seguintes SISTEMAS DE INDICADORES MUNICIPAIS DE ABRANGÊNCIA NACIONAL: 1. Índice de Desenvolvimento Humano Municipal (IDH M) 2. Índice de Condições de Vida (ICV) 3. Índice de Exclusão Social (IES) 4. Índice de Carência na Oferta de Serviços Essenciais à Habitação (ICH) 5. Índice de Qualidade Institucional dos Municípios (IQIM) 6. Índice do Potencial de Desenvolvimento do Município (IPDM) 7. Índice Municipal (IM), concernente aos 187 municípios acima de 100 mil hab. No Estado do Rio de Janeiro, os Indicadores municipais mais empregados são: IDH-M (PNUD) Desenvolvimento Humano Municipal IFDM (FIRJAN) Indicador Firjan de Desenvolvimento Municipal IQM (CIDE) Qualidade Municipal IRFS (CNM) Responsabilidade Fiscal e Social

As variáveis mensuradas pelo IFDM-FIRJAN: EMPREGO & RENDA (dados do Ministério do Trabalho): Geração de emprego formal Estoque de emprego formal Salários médios do emprego formal EDUCAÇÃO (dados do Ministério da Educação): Taxa de matrículas na educação infantil Taxa de abandono Taxa de distância idade-série % de docentes com ensino superior Média de horas-aula por dia Resultado do IDEB (Indicador de Desenvolvimento da Educação Básica) SAÚDE (dados do Ministério da Saúde): Número de consultas pré-natal Óbitos infantis por causas evitáveis Óbitos por causas mal definidas As variáveis mensuradas pelo IRFS da CNM: Índice Fiscal = Média de (Endividamento + Suficiência de caixa + Gasto com pessoal LRF + Superávit primário) Índice de Gestão = Média de (Custeio da máquina + Gasto com o legislativo+ Grau de investimento) Índice Social = Média de (Subíndice Educação + Subíndice Saúde) Subíndice Educação = Média de (Gasto com educação + Matriculas da rede municipal + Taxa de abandono da rede municipal + % Professores da rede municipal com curso superior) Subíndice Saúde = Média de (Gasto com saúde líquido + Taxa de mortalidade infantil + Cobertura vacinal + Média de consultas médicas por habitante). Variáveis componentes do indicador de qualidade de vida- IQV (ALMEIDA): Diversos indices podem ser utilizados por IQVs diferentes, porém a argumentação racional de cada um deve ser observada. "Quanto mais amplo o consenso no que diz respeito à variáveis utilizadas, maiores as chances de aceitação do índice." (1997:.20). Eis os mais consensuais: A) Infraestrutura: Percentual de domicílios com rede geral de água, esgoto e lixo coletado diariamente. B) Renda: Percentual de chefes de domicílios abaixo da linha da pobreza (dois salários mínimos); renda média mensal em salários mínimos dos chefes de domicílios. C) Instrução: Percentual dos chefes de domicilio alfabetizados; percentual com até três anos de estudo e com 15 anos ou mais de estudo.

D) Habitação: Número médio de cômodos por domicílio. E) Demografia: Taxa de dependência: razão entre a soma da população de zero a 14 anos e com 60 anos ou mais, e a população entre 15 e 89 anos (Zero-14+60anos ou mais)/(1-59) Problemas metodológicos dos indicadores: Alguns indicadores não se baseiam em metas ou situações ideais e o grau de proximidade ou distância em relação a elas. Sua metodologia, ao invés, consiste em agrupar os dados encontrados e a partir deles próprios estabelecer uma tipologia e classificação. Assim, ser um município bem situado no ranking não significa estar bem em relação ao desejado, mas é uma posição relativa ao universo de municípios considerados. Quanto pior todos forem, tanto melhor aparecerá o menos ruim deles. Neste caso, tornam-se ritualísticos, usados para visibilidade política. O alto grau de agregação (recorte municipal, sem descer a bairros, regiões administrativas ou favelas) resulta em índices edulcorados e que perdem seu sentido como instrumento de avaliação das necessidades a atender tanto quanto das políticas efetivadas. Em cidades altamente desiguais, um índice único para toda a cidade mascara a realidade. Por não disporem dos seis elementos necessários (dados quantificáveis e confiáveis; um sistema continuado e padronizado de captação de dados; atualização constante; periodicidade que os torne comparáveis, processamento e divulgação periódica, escala local), os índices sociais que resultam dos indicadores perdem operacionalidade e tendem a contrastar com a realidade percebida a olho nu e a não fazer muito sentido em relação a ela. Referências: ALMEIDA, Alberto Carlos. A qualidade de vida no Estado do Rio de Janeiro. Niterói-RJ : Ed. Da UFF, 1997 DEPONTI, Cidonea Machado, ECKERT, Córdula, AZAMBUJA, José Luiz Bortoli. Estratégia para construção de indicadores para avaliação da sustentabilidade e monitoramento de sistemas. Revista Agroecologia. e Desenvolvimento Rural Sustentável. Porto Alegre, v.3, n.4, out/dez 2002, p.44 52. HERCULANO, S. A qualidade de vida e seus indicadores. Capítulo do livro Em busca da boa sociedade. Niterói: Eduff, 2006. Também disponível no site www.professores.uff.br/selene herculano NAHAS, Maria Inês Pedrosa et al. Construção do Sistema Nacional de Indicadores para Cidades. Ministério das Cidades - Sistema Nacional de Informações das Cidades SNIC, PROJETO BRA/04/022, 2005 NAHAS, Maria Inês Pedrosa. Banco de Metodologias de Indicadores Interurbanos isolados para comparação entre municípios: experiências desenvolvidas para todos os municípios brasileiros e as Regiões Norte e Sudeste do Brasil. Ministério das Cidades - Sistema Nacional de Informações das Cidades SNIC, PROJETO BRA/04/022, 2005

OLIVEIRA, Dennison. A cultura dos assuntos públicos:o caso do Custo Brasil. Revista de Sociologia. Política. UFPR, Curitiba, 14: p. 139-161, jun. 2000, 139-160; disponível em http://www.scielo.br/pdf/rsocp/n14/a08n14.pdf http://www.bndes.gov.br/sitebndes/export/sites/default/bndes_pt/galerias/arquivos/c onhecimento/seminario/oficinadepip_cristinazanella.pdf