MANIFESTO DAS BIBLIOTECAS DA AMAZÔNIA Bibliotecários e bibliotecár ias, educadores e educador as, gestores de ins tituições culturais públicas e pr ivadas, estudantes e profissionais, trabalhadores e trabalhadoras da leitur a e da informação par ticipantes do I ENCONT RO DAS BI BLI OT ECAS DA AMAZ ÔNI A, realizado em Belém do Pará, no per íodo de 5 a 9 de maio de 2004, elegeram as seguintes linhas orientadoras para as bibliotecas da Amaz ônia. QU AN T O À FUNÇÃO S OCI AL DAS B I B L I OT E CAS 1. Es te manifes to pr oclama que a B iblioteca é uma ins tituição s ocial imprescindível para o des envolvimento integr al e s us tentável da sociedade, contribuindo decis ivamente par a a diminuição das desigualdades sociais, o combate à pobr ez a, a pr omoção da paz e da s olidar iedade humana.
2. Na condição de guar diã do acer vo memorialístico das sociedades humanas, a B iblioteca cons titui um dos mais preciosos recursos no trabalho de pr es er vação do patr imônio científico, filosófico, artístico, literário, político e r eligioso acumulado pelos povos, em todo o mundo. 3. Como es paço integr ante de um amplo e diver s ificado s is tema de comunicação e infor mação, a B iblioteca deve nor tear o planej amento de suas ações com base no compr omisso ético da valor iz ação das pessoas e das comunidades às quais serve, tomando-as como pr incipal referência na aplicação de todos os meios disponibilizados pela moder na tecnologia. 4. Na qualidade de r epos itór io da cultur a, em sua dimens ão mais abrangente, a B iblioteca es tá imbuída do s eu papel precípuo de agente promotor da inter ação entr e as diversas linguagens produzidas pela ar te e pelo engenho humanos a ver bal, a es cr ita, a vis ual, a s onor a, a corporal, e s eus inumeráveis códigos e entr e todas as demais formas de expr essão a par tir das quais são mediatizados o pens amento, as emoções e os fazeres sociais das comunidades humanas. 5. Como um privilegiado centr o de convivência, aberto a todas as nuances do conhecimento, propõe-se a tar efa de ar ticular o diálogo entr e as gerações, entre as ideologias e as múltiplas visões de mundo, respeitando as diferenças, valorizando as experiências e vitalizando a construção de novos significados culturais. 6. À Biblioteca cabe, de modo es pecial, a per manente pr eocupação com o desenvolvimento expans ivo das práticas de leitur a e de letramento, a partir dos novos paradigmas propostos pelas ciências lingüística e sociolingüística, às quais a B iblioteconomia es tá intrins ecamente vinculada. 7. T odos os programas, planos, projetos, atividades, ações, produtos e serviços implementados pelas políticas públicas de B iblioteca devem ser concebidos com base nos pressupostos ora ex pos tos, tendo em vista assegurar, de for ma ampla e irrestrita, o benefício das comunidades
usuárias, sem distinção de idade, raça, gênero, orientação s exual, convicção política e r eligiosa, nacionalidade, naturalidade, língua, condição fís ica, social e cultur al. 8. Declaramos, finalmente, a B iblioteca Pública como es paço pr ivilegiado de pr omoção da leitur a e do aces so à infor mação e como uma agência institucional de fomento ao des envolvimento s us tentável da r egião amazônica, capaz de r ever ter, em benefício comum, os investimentos e recursos financeiros, materiais e humanos a ela confiados pelas instâncias do poder federal, estadual, municipal, de car áter público e pr ivado. O MAN I F E S T O DA U N E S CO S OB R E B I B L I OT E CAS P Ú B L I CAS 9. O pr es ente manifes to r atifica a atualidade e a opor tunidade do Manifes to da Or ganiz ação das Nações Unidas para a Educação, a Ciência e a Cultura (UNES CO) sobre as Bibliotecas Públicas, de novembr o de 1994, a ele ader indo de for ma pública e eloqüente, em comemoração aos dez anos da s ua apr ovação e publicação. 10. Os signatários deste documento r eafir mam, consoante o Manifes to UNES CO de 1994, que «A liberdade, a pr os per idade e o des envolvimento da s ociedade e dos indivíduos são valor es humanos fundamentais. Só serão atingidos quando os cidadãos estiverem na posse da infor mação que lhes permita ex er cer os seus direitos democráticos e ter um papel ativo na s ociedade. A par ticipação cons tr utiva e o des envolvimento da democracia dependem tanto de uma educação s atis fatór ia, como de um acesso livre e s em limites ao conhecimento, ao pens amento, à cultur a e à infor mação.»
OR ÇAME N T O E FINANÇAS 11. É necessária uma correta e s uficiente pr evis ão or çamentár ia e financeira capaz de s ubs idiar o planej amento das ações da B iblioteca, de for ma articulada com o conj unto das instituições educacionais e cultur ais responsáveis pela ges tão do patr imônio s ociocultur al. 12. Os investimentos e r ecur s os públicos, em particular os destinados à universalização dos serviços de telecomunicação, devem ser aplicados de forma a atender as prioridades pontuadas pelos setores organizados da sociedade amazônica, sobretudo na implementação de políticas e práticas que pr omovam a inclus ão digital por meio das Bibliotecas. 13. É absolutamente indis pens ável a r egulamentação de leis de incentivo à leitura e à apr opr iação do conhecimento s is tematizado por meio da Biblioteca, no conj unto do apar ato j ur ídico concer nente à educação e à cultura, regido pelos poderes públicos nas diversas esferas. M E T AS DE QUALIDADE 14. Assegurar, por meio do apr opr iado r ecur s o às novas tecnologias da informação, serviços inovadores e eficazes nos processos de domínio dessa linguagem, pelos agentes e us uár ios da B iblioteca, e s ua conseqüente aplicação aos demais ramos das atividades sócioeducativas e cultur ais. 15. Alcançar um alto nível de eficiência, em termos da qualidade, da quantidade, do pr ocessamento, da pr es er vação, da r enovação, da acessibilidade e da diver s ificação dos acervos, passível de s er ciclicamente mens ur ável, tendo em vista a otimização das condições de atendimento ao público j á freqüente e a inclus ão dos setores e segmentos sociais ainda não atendidos.
16. Oportunizar a ins talação de novos espaços físicos destinados à ex tens ão dos serviços da B iblioteca, criando, simultaneamente, ambientes propícios à pr ática de atividades de cultur a, lazer e entr etenimento. M E T AS DE CONSTRUÇÃO DA CI DADANI A 17. S erão es pecialmente contemplados os segmentos de cidadãos com necessidades especiais, as crianças, os jovens, os idosos, os desempregados, os analfabetos e iletr ados, e os habitantes das zonas rurais, dos aldeamentos indígenas e quilombolas. 18. S erão es timulados os serviços de atendimento ao cidadão por meio da utilização dos recursos tecnológicos adequados a cada s egmento, com vista ao acesso facilitado e contínuo aos portais governamentais de infor mação. 19. É indispensável a manutenção de um diálogo per manente entr e os legis ladores e os gestores da es fer a pública nos processos de dis cussão e viabilização das políticas de pr omoção da leitur a, nas diversas instâncias de gover no e Es tado. M E T AS DE APRENDIZAGEM PER MANENT E 20. Focalizar o atendimento às necessidades infantis e de s eus responsáveis é meta que dever á s er materializada atr avés da cr iação de alter nativas de us ufr uto de um ambiente s audável, seguro, divertido e es timulante à realização de atividades escolares, lúdicas, artísticas e técnicas, por meio de par cer ia com escolas, creches, hospitais e outr as entidades afins. 21. A par de s uas funções institucionais, a B iblioteca deve es tar atenta à tarefa de des envolver abordagens informais e paraescolares de ens inoaprendizagem, oportunizando o contato com os assuntos de inter esse geral ligados à for mação de uma cons ciência cr ítica e trans for mador a da realidade s ocial vigente, entre s eus agentes e s eus usuários.
22. O des envolvimento de uma s ociedade da infor mação funcionalmente letrada, por meio da disponibilização, orientada de for ma competente, dos recursos sob s ua ges tão, é outr a das metas que s e fazem prioritárias, a par tir da intr odução da r ede World WideWeb. M E T AS DE DESENVOLVIMENTO S OCI OE CONÔMI CO 23. A Biblioteca, no contexto global do s éculo XXI, passa a funcionar como instrumento político de combate à mis ér ia, à violência, ao analfabetis mo e à ex clus ão s ocial e digital, condição que poder á s er superada com o adequado incr emento da ciência e da tecnologia em nossos sistemas educacionais e de infor mação. B I OD I V E R S I D AD E E DIVERSIDADE CULTURAL 24. A Biblioteca tem papel decisivo na contribuição à for mação da consciência ecológica dos cidadãos, capacitando-os a atuar de maneira responsável e cons eqüente nas lutas pela pr es er vação da vida no planeta, de maneira ger al, e na Amaz ônia, em particular. 25. Preconizar o des envolvimento de uma compr eens ão cós mica quanto aos conceitos de biodiver s idade e plur alis mo cultur al, no que diz respeito aos aspectos étnicos, religiosos, políticos e ins titucionais que s ubj azem aos conflitos humanos e entr e as nações, constitui outra meta bas ilar da mis são da B iblioteca. 26. Disseminar redes de inter atividade e s ubs idiar procedimentos de intertextualidade entr e os diversos níveis de ges tão e utilização dos serviços da B iblioteca Pública entr e os países que compõem a Amaz ônia Legal constitui, portanto, o cor olár io de maior dimensão no âmbito das políticas de pr es er vação da biodiver s idade, na r egião.
R E D AÇÃO, ASSINATURA, D I V U L GAÇÃO E ARQUIVAMENTO 27. Este manifes to foi escrito e as s inado, originalmente, em português e, posteriormente, traduzido par a o es panhol e o inglês, com cópias enviadas aos chefes de gover no e às autoridades das diversas instâncias governamentais e ins titucionais parlamentares, universitárias, bibliotecárias e dos organismos de des envolvimento local, nacional e internacional, no es paço geopolítico da Amaz ônia I nter nacional. 28. Roga-se a todos signatários e des tinatár ios que s e empenhem no mais amplo es for ço de difus ão do pr es ente documento, por meio dos diversos veículos de comunicação e, sobretudo, pela capacidade de incorporação e oper acionalização das idéias e linhas de ação nele pr opugnadas. 29. O documento or iginal foi arquivado na B iblioteca Pública Arthur Vianna, órgão da Fundação Cultur al do Par á T ancr edo Neves, que sediou o I Encontro das Bibliotecas da Amaz ônia. Belém do Par á, no T eatr o Mar gar ida S chivasappa, 9 de maio de 2004. Seguem as assinaturas dos participantes