1 DÉCIMA TERCEIRA CÂMARA CÍVEL MANDADO DE SEGURANÇA Nº 0060941-91.2012.8.19.0000 IMPETRANTE: ELI FERNANDES MATHEUS IMPETRADO (1): EXMO SR SECRETÁRIO DE ESTADO DE SAÚDE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO IMPETRADO (2): EXMO SR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO RELATOR: DES. GABRIEL ZEFIRO MANDADO DE SEGURANÇA COM PEDIDO DE LIMINAR. IMPETRANTE QUE SE ENCONTRA NA UPA (UNIDADE DE PRONTO ATENDIMENTO) E NECESSITA DE REMOÇÃO URGENTE PARA UTI EM HOSPITAL DE REDE PÚBLICA. GRAVE RISCO À SAÚDE E VIDA DO CIDADÃO. RESPONSABILIDADE DOS ENTES POLÍTICOS PARA PRESERVAÇÃO DO DIREITO SOCIAL À SAÚDE. ART. 23, II, E 196 DA CRFB. PRINCÍPIO DA DIGNIDADE DA PESSOA HUMANA ERIGIDO COMO FUNDAMENTO DO ESTADO DEMOCRÁTICO DE DIREITO. ART. 1º, III, DA CRFB. LIMINAR CONCEDIDA. AUSÊNCIA DE PERDA DO OBJETO, ANTE A NECESSIDADE DE PROVIMENTO JURISDICIONAL PARA CONCRETIZAÇÃO DO DIREITO. PRECEDENTES NO MESMO SENTIDO. AGRAVO REGIMENTAL REJEITADO, ANTE A NATUREZA COERCITIVA INDIRETA DA MULTA. MEDIDA QUE VISA CONFERIR MAIOR EFETIVIDADE ÀS DECISÕES JUDICIAIS. VALOR CORRETAMENTE ARBITRADO, TENDO EM VISTA OS DIREITOS QUE ESTÃO EM JOGO. CONCESSÃO DA ORDEM QUE SE IMPÕE.
2 ACÓRDÃO VISTOS, relatados e discutidos estes autos de Mandado de Segurança nº 0060941-91.2012.819.0000, em que é impetrante ELI FERNANDES MATHEUS e impetrados EXMO SR SECRETÁRIO DE ESTADO DE SAÚDE DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO e EXMO SR SECRETÁRIO MUNICIPAL DE SAÚDE DO MUNICÍPIO DO RIO DE JANEIRO. ACORDAM, por unanimidade de votos, os Desembargadores que compõem a Décima Terceira Câmara Cível do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, em conceder a ordem, nos termos do voto do relator. RELATÓRIO Trata-se de mandado de segurança com pedido de liminar, na qual pretende a impetrante sua remoção imediata da UPA (Unidade de Pronto Atendimento) para Unidade de Tratamento Intensivo de hospital da rede pública, ou, em caso de ausência de vaga, para unidade da rede privada, a cargo do ente público, porquanto constitui medida imperiosa para manutenção de sua vida. Com a inicial, vieram os documentos que atestaram a urgência e necessidade de concessão da medida liminar, pelo que foi a mesma deferida, conforme decisão às fls.22/25.
3 O Estado do Rio de Janeiro apresentou impugnação às fls. 43/54. Informa que não há nos autos qualquer comprovação de negativa na prestação do serviço capaz de assegurar o direito à saúde da impetrante. Nessa esteira, pleiteia o reconhecimento da ilegitimidade passiva do Secretário Estadual de Saúde, bem como do Estado do Rio de Janeiro. Da mesma forma, invoca a desproporcionalidade na fixação da multa diária arbitrada pelo descumprimento da medida liminar. O Município do Rio de Janeiro, em sua impugnação de fls. 65/73, ressalta a inexistência de direito líquido e certo a amparar a pretensão da impetrante, notadamente porque não houve qualquer prova da negativa de disponibilização de leito próprio em hospital da rede pública. Aduz perda superveniente do objeto, por conta do atendimento ao pronunciamento jurisdicional. Interposto Agravo Regimental pelo Estado do Rio de Janeiro, impugnando a multa cominatória, com a ressalva de que o valor arbitrado foi excessivo (R$ 100.000,00). Às fls. 56/57 consta informação prestada pelo Secretário Municipal de Saúde e Defesa Civil do Município do Rio de Janeiro de que todas as providências foram tomadas para resguardar o direito à saúde da impetrante, com a sua transferência para a unidade CER-Leblon. Da mesma forma, às fls. 92/93 consta informação da Secretaria Estadual de Saúde de que a decisão judicial foi cumprida em 20/10/2012, com a transferência do paciente para a unidade acima mencionada. da ordem. Manifestação do Ministério Público pela concessão
4 É o relatório. VOTO Inicialmente, cabe mencionar que é patente a presença de direito líquido e certo da impetrante, comprovado por meio da documentação acostada com a inicial, dando ensejo, inclusive ao deferimento da liminar, para que fosse a paciente removida para Unidade de Tratamento Intensivo de hospital da rede pública. Note-se que as partes impetradas são legítimas para figurar no polo passivo, porquanto cabível a impetração de mandado de segurança em face de Secretário de Saúde, quando a demanda versar sobre direito fundamental à saúde, em especial nos casos em que se pretende o fornecimento de medicamentos ou a realização de internação, em caráter de urgência, como sói ser a hipótese vertente. Com efeito, a regra que resulta do art. 23, II, da CRFB denota que a competência é comum da União, dos Estados e dos Municípios para cuidar da saúde. A jurisprudência deste Tribunal Estadual firmou-se neste sentido, conforme verbete de Súmula nº 65, verbis: Deriva-se dos mandamentos dos arts. 6º e 196 da Constituição Federal de 1988 e da Lei nº 8080/90, a responsabilidade solidária da União, Estados e Municípios, garantindo o fundamental direito à saúde e conseqüente antecipação da respectiva tutela.
5 Cabe ressaltar que as regras que definem direitos fundamentais exigem aplicação plena e imediata, conforme exegese que resulta do 1º do art. 5º da CRFB, contexto que engloba as normas consagradas nos artigos 196 da Lei Maior, sendo certo que a dignidade da pessoa humana foi erigida pelo artigo 1º da Constituição Federal como um dos fundamentos da República. Ademais, não houve o esvaziamento da ação, com a consequente perda do objeto, tão somente pelo fato de ter sido cumprida a liminar do mandamus, eis que a pretensão somente foi atingida com o ajuizamento da ação constitucional. A jurisprudência desta Corte caminha no mesmo sentido, vejamos: 0000409-52.2011.8.19.0012 - APELACAO / REEXAME NECESSARIO DES. CARLOS JOSE MARTINS GOMES - Julgamento: 11/05/2012 - DECIMA SEXTA CAMARA CIVEL Ementa: Mandado de Segurança objetivando a sua transferência para UTI de uma unidade de saúde para realização do tratamento indicado, ou alternativamente, a condenação do Município a custear as despesas necessárias para a sua manutenção em hospital da rede privada. Sentença que concedeu a ordem, confirmando a liminar concedida. Apelação do réu sustentando que a liminar tem natureza satisfativa, que inteiramente cumprida, não há que se falar em concessão da ordem, mas perda do objeto e denegação da segurança. A internação em cumprimento a liminar não induz à perda do objeto. Precedentes. Recurso a que nego seguimento, confirmando a sentença em reexame necessário. 061889-33.2012.8.19.0000 - MANDADO DE SEGURANCA DES. HENRIQUE DE ANDRADE FIGUEIRA - Julgamento: 06/02/2013 - DECIMA SETIMA CAMARA CIVEL ADMINISTRATIVO. MANDADO DE SEGURANÇA. ATO OMISSIVO. INTERNAÇÃO HOSPITALAR. UNIDADE CORONARIANA. Mandado de segurança impetrado com o fito de os Impetrados transferirem a Impetrante da UPA Unidade de Pronto Atendimento, onde se encontrava internada há uma semana, para hospital público com unidade de terapia coronariana. A viabilidade da impetração deriva da omissão dos Impetrados em transferirem a Impetrante para hospital público. Correta a legitimidade passiva do 2º Impetrado em vista da teoria da asserção, pois a causa de pedir e o pedido o
6 vinculam à lide, e porque tem responsabilidade solidária na prestação do serviço de saúde pública. O cumprimento da liminar é insuficiente a caracterizar a perda de objeto da impetração. Os entes da Federação têm o dever comum de prestar assistência à saúde da população por força de mandamento constitucional que imputa responsabilidade solidária às pessoas jurídicas de direito público, e óbices de natureza administrativa como falta de recursos ou de planejamento não impedem o indeclinável cumprimento da obrigação constitucional. Se existem locais adequados ao tratamento da patologia que acomete a Impetrante na rede pública, e tem esta necessidade de tratamento especial, a paciente deve ser transferida para hospital dotado de Centro de Terapia Intensiva Coronariana, até porque a fase de pronto atendimento há muito se esgotou. O cumprimento da liminar não propicia a perda de objeto da impetração. Concessão da ordem. Outrossim, a pretensão versada no agravo regimental (fls. 84/90) não encontra respaldo, mormente porque a fixação da multa cominatória constitui medida que visa a conferir maior efetividade às decisões judiciais e como o caso retratou a possibilidade de periculum in mora referente ao direito à vida, justifica-se, portanto, o valor arbitrado. Assim, VOTO no sentido de julgar procedente o pedido para conceder a segurança e tornar definitiva a liminar inicialmente deferida. Custas na forma da lei. Sem honorários advocatícios. Rio de Janeiro, 22 de maio de 2013. RELATOR DES. GABRIEL DE OLIVEIRA ZEFIRO