Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas

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Transcrição:

Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas Relatório do Workshop e da Visita à operação da Symbiosis na Bahia Porto Seguro e Trancoso Bahia 29 e 30 de março de 2016 Reflorestamento Com Nativas Para Fins Econômicos Cacau e Sistemas Agroflorestais

Sumário Sumário Executivo... 3 Contexto... 4 Objetivo... 4 Workshop... 4 Pesquisa e Desenvolvimento... 7 Modelagem Econômica... 11 Rede de Conhecimento e Disseminação... 12 Externalidades... 13 Sementes e Mudas... 14 Cadeia de Valor... 14 Mercado Consumidor... 15 Políticas Públicas... 16 Legalidade... 17 Aptidão Regional O contexto da Silvicultura e do Cacau no Sul da Bahia... 17 Crédito e Linhas de Financiamento... 18 Aspectos Sociais... 19 Conclusão... 20 Pilar... 21 Participantes... 22

Sumário Executivo O workshop Reflorestamento Com Nativas Para Fins Econômicos: Cacau e Sistemas Agroflorestais e a visita de campo realizados no sul da Bahia, nas cidades de Trancoso e Porto Seguro, foi a segunda atividade dos três casos selecionados para mostrar a viabilidade do reflorestamento com espécies nativas para fins econômicos, dentro do contexto do projeto, Mobilizando Mercados para Capturar Carbono através de Projetos de Reflorestamento com Espécies Nativas para Fins Econômicos no Brasil. Organizada pela Symbiosis, em parceria com WRI Brasil e a IUCN International Union for Conservation of Nature, a atividade contou com a participação de 58 pessoas em visita a campo e no workshop. Dentro dos 12 pilares trazidos do workshop realizado pela AMATA, em fevereiro deste ano, concluiu-se que ainda faltam peças para a valorização econômica do reflorestamento de espécies nativas (VERENA) e, por enquanto, também inexistem projetos, em grande escala, para que possamos concluir quais os modelos de produção e de negócio ideais. O workshop cumpriu seu objetivo e identificou duas prioridades entre os 12 pilares definidos e discutidos: Pesquisa & Desenvolvimento e Modelagem Econômica. É central construir uma rede de unidades demonstrativas, pois já existem várias unidades que podem ajudar a entender os diversos modelos e apresentá-los como conceito aos potenciais investidores. Os cases Amata, Symbiosis e Fazenda da Toca são relevantes como exemplos para se aprofundar e inovar. O design dos modelos propostos por eles não está integralmente consolidado e é possível que não considerem as externalidades. Por outro lado, entendeu-se que não deve existir um modelo único, mas, sim, haver convergência de princípios. Foi consenso entre os participantes do encontro de que é necessário colocar em curso o desenvolvimento e a implementação de uma plataforma de P&D. As inovações devem ser realizadas não somente em silvicultura, mas também no campo dos Planos de Negócios. É importante analisar o caso de sucesso da indústria de papel e celulose e os casos de sucesso de outros setores como plataforma de inovação e desenvolvimento de um setor agroflorestal industrial, bem como a formação de um núcleo de liderança. 3

Contexto As plantações monoculturais manejadas de forma intensiva encontram-se bastante avançadas tecnologicamente e oferecem bom retorno financeiro. Hoje, as plantações florestais com espécies nativas certamente enfrentam difícil visualização no mercado futuro, além de provocar dúvidas em relação ao potencial produtivo, incertezas quanto a políticas públicas e representar riscos para o investidor. No entanto, o novo Código Florestal veio dirimir diversas incertezas, principalmente na clara definição das florestas plantadas, sem distinção entre as plantadas com espécies nativas ou com espécies exóticas. Diante desse contexto, é necessário implementar ações para viabilizar economicamente o plantio comercial, a restauração e a recomposição da Reserva Legal com espécies nativas. O Acordo de Paris, definido na COP21 no final do ano passado, a New York Declaration e o Bonn Challenge surgiram como elementos transformadores em ganho de escala para a restauração florestal. Um dos objetivos do projeto VERENA é criar massa crítica e gerar conhecimento para ajudar na transição do Business as Usual para uma bioeconomia, contribuindo, assim, para a criação de uma plataforma de baixo carbono para novos projetos de uso da terra e retorno ao capital investido. Objetivo O objetivo do workshop foi colher depoimentos e fomentar o debate sobre os principais aspectos relativos à viabilização de negócios com plantios de espécies nativas. Workshop Dentro do contexto global, o workshop Reflorestamento Com Nativas Para Fins Econômicos - Cacau e Sistemas Agroflorestais abordou os compromissos globais, não vinculantes e vinculantes como o Bonn Challenge, a New York Declaration e o Acordo de Paris, respectivamente recuperação de 150 milhões de hectares de áreas de florestas degradadas até 2020 e mais 200 milhões de hectares até 2030. Os acordos têm como arcabouço as mudanças climáticas, sendo que o mais recente foi a ratificação do Acordo de Paris, em abril. As maiores oportunidades para redução de emissões estão relacionadas às mudanças no uso da terra e o componente de restauração e reflorestamento comercial estão inseridos neste contexto. No contexto pós COP21, em relação ao setor de mudanças no uso da terra, o Brasil tem grandes desafios para cumprir sua INDC: - o fortalecimento do cumprimento do código florestal; - restauração e reflorestamento de 12 milhões de hectares até 2030 e - a eliminação do desmatamento ilegal na Amazônia brasileira e a compensação das emissões provenientes da supressão legal da vegetação, se comprovada a 4

sustentabilidade econômica, social e ecológica, na aplicação em escala do manejo de florestas naturais. Ainda dentro do contexto das mudanças climáticas, o Brasil possui outros indicadores para suas contribuições no uso da terra como o PLANAVEG, que apresenta proposta preliminar de restauração em larga escala (12,5 milhões de hectares) e o próprio código florestal através do CAR Cadastro Ambiental Rural (10 a 20 milhões de hectares). Apesar de alguns estudos apontarem que aproximadamente 50% da recuperação dessa área se dê por regeneração natural, a escala é desafiadora. Para efeito de comparação, as florestas plantadas (Pinus e Eucalyptus) atingiram, aproximadamente, oito milhões de hectares em um período de 50 anos e esse plantio foi alavancado por incentivos fiscais e pelo progressivo desenvolvimento tecnológico. Para alavancar a agenda de restauração florestal e de reflorestamento comercial no Brasil, existem diversas iniciativas. Nesse sentido, o projeto CIFF tem a missão de, em sua primeira fase, fazer o levantamento de casos de sucesso em reflorestamento com espécies nativas para fins econômicos no Brasil, produzir template da modelagem econômica e elaborar business cases para atrair investidores para a agenda de reflorestamento e de restauração florestal. Nesse sentido, o projeto foca em cases de plantios econômicos biodiversos de espécies nativas, monocultivo de nativas, plantio misto com exóticas e nativas e Sistemas Agroflorestais (SAF). Como revelou o resultado do workshop Silvicultura com espécies nativas: desafios e oportunidades para uma nova economia florestal, realizado no Pará em fevereiro de 2016, 12 temas representam as condições necessárias para que o reflorestamento com nativas para fins econômicos se concretize. Eles estão listados abaixo e destacam os temas considerados centrais para o desenvolvimento da VERENA: 1. Programa de P&D 2. Análises e modelagens econômicas 3. Rede de conhecimento e disseminação 4. Aprimoramento da mensuração e da valoração das externalidades 5. Produção de sementes e mudas 6. Agregação de valor aos produtos e serviços da cadeia produtiva 7. Dimensionamento de mercado, oferta e demanda 8. Política Pública 9. Institucional/Ilegalidade 10. Aptidão regional 11. Captação de recursos e 12. Aspectos Sociais 5

12 - Social 1 - P&D 2 - Modelagem Econômica 11 - Financiamento 3- Rede Disseminação 10 - Aptidão Regional Verena 4 - Externalidades 9 - Legalidade 5 - Sementes e Mudas 8 - Política Pública 7 - Mercado 6 - Cadeia de Valor VERENA - Valorização Econômica do Reflorestamento com Espécies Nativas Elementos prioritários resultantes do workshop do Pará foram rediscutidos e focados. As setas apontam os temas prioritários. 6

Pesquisa e Desenvolvimento É fundamental a quebra de paradigma para mudanças na curva tecnológica de domesticação das espécies nativas, hoje ainda bastante voltada para a produção de polpa e de celulose (Pinus e Eucalyptus), que são monoculturas intensivamente manejadas. A expectativa para o cenário pós COP-21 é a transição para o landscape approach (uma visão de paisagem/território), em que as florestas geram múltiplos produtos e serviços. As plantações intensivamente manejadas estão muito bem maduras em termos tecnológicos, oferecendo melhor performance quando comparadas com as nativas brasileiras. Lógico que é fundamental avançar na domesticação e no melhoramento genético dessas espécies e, cumulativamente, incrementar a respectiva conservação. Um papel relevante no reflorestamento com essas espécies é o fornecimento sustentável de madeiras tropicais, o que elimina as práticas usuais de produção e, em simultâneo, gera um grande conjunto de produtos e serviços, inclusive os ambientais. Uma plataforma de P&D necessita ser consolidada em uma governança única e, por isso, são importantes os modelos econômicos. É fundamental ter uma boa base de germoplasma para se construir um programa de melhoramento genético, obter o desenvolvimento de novos mercados de madeiras tropicais, melhorar o ambiente institucional, se possível encerrar a ilegalidade, estudar as vocações regionais onde se darão os plantios, criar e aprimorar políticas públicas para desenvolver esse novo negócio, disponibilizar novas fontes de financiamento (hoje existem os green bonds) e aumentar o acesso aos mercados. Esses podem ser os elementos para a agenda transformadora que vão além do P&D. A indústria do eucalipto desenvolvido no Brasil é conhecida como um case de sucesso de tecnologia na silvicultura. As tentativas para o desenvolvimento das espécies nativas tendem a seguir, filosoficamente, o mesmo modelo desse case, apesar das discussões no workshop não terem mencionado se o caminho do P&D para as espécies nativas deve ser o mesmo que o utilizado para o eucalipto. A primeira recomendação para um programa de P&D para nativas é pensar na base genética, pois, sem uma ampla base de variabilidade, os programas de melhoramento ficam restritos. Os próprios programas de melhoramento para o eucalipto procuram aumentar a base genética. Deve se projetar investimento necessário para a implantação de um projeto précompetitivo, devendo ser cooperativo para desenvolver uma plataforma com escalas transformadoras, com forte governança (semelhante ao IPEF Instituto de Pesquisas e Estudos Florestais). A formação de um fundo específico para a plataforma P&D poderia ser realizada no formato de edital para endereçar os principais gargalos tecnológicos e operacionais para a silvicultura de nativas. Para uma plataforma dessa magnitude poderá ser necessário envolver os principais fundos/doadores europeus (Alemanha / Noruega / Reino 7

Unido), os Ministérios (MAPA/MMA/MPOG/MF/MCTI), agentes financeiros (Banco Mundial, Banco do Brasil, BNDES, BID) e empresas privadas (Amata, Fibria, Symbiosis). Vale ressaltar que o Brasil ainda investe muito pouco em pesquisa e desenvolvimento. Países que se desenvolveram rapidamente fizeram virtuosos e significativos investimentos estatais e privados em pesquisa, tecnologia e educação, como é o caso da Coreia do Sul. O Brasil parece ter se acomodado com o sucesso do eucalipto e, por esta razão, não investiu em outras espécies florestais. Mas é evidente que o país poderá tornar-se o celeiro do desenvolvimento da indústria da madeira tropical por meio do reflorestamento. Assim como a indústria do açúcar demandou, investiu e ganhou incentivo no caso do etanol, a indústria florestal deve e pode liderar um programa de P&D para aquelas espécies. Case Symbiosis A Symbiosis apresentou seu programa silvicultural, envolvendo, principalmente, espécies ocorrentes na Mata Atlântica, que, entre outras ações, contempla um programa de melhoramento genético para essas espécies. Dentro desse segmento já foram marcadas, aproximadamente, 4 mil matrizes, envolvendo 22 espécies de alto valor econômico e ocorrentes nesse bioma. As matrizes foram selecionadas e marcadas seguindo os critérios estabelecidos para essa finalidade e o mesmo ocorre com a respectiva coleta de sementes. Para cada espécie, estão sendo marcadas 60 matrizes, no mínimo. Geograficamente, as matrizes estão distribuídas desde a cidade de Três Rios, no Rio de Janeiro, até Itabuna, na Bahia. Além dessa condição, as espécies devem estar localizadas em sites com até 400 m de altitude, com precipitação entre 1.350-2.000 mm e numa distância, considerando a linha do oceano, de até 180 km. Para cada espécie é formada uma população básica, ou seja, uma Reserva Genética ex-situ, que será a unidade para os programas de Melhoramento Florestal. Cada uma dessas áreas, por espécie, é formada por 30 matrizes e com 10 repetições de parcelas unitárias, o que dá um total de 300 indivíduos, distribuídos numa mesma área, onde cada repetição de uma mesma matriz fica o mais longe possível de outro indivíduo da mesma matriz, conferindo uma maior taxa de recombinação. Os plantios com maior idade acabam de completar cinco anos e os incrementos médios anuais para algumas espécies chega a atingir valores superiores a 14m3/ha/ano. Hoje, a venda de sementes não é uma atividade contemplada no seu plano de negócios. Por isso, a produção de sementes e mudas é voltada exclusivamente para o seu próprio consumo. A atual capacidade de produção de mudas é da ordem de quatro milhões de mudas. A Symbiosis entende que uma unidade de produção de mudas pode se tornar um bom 8

negócio, desde que ela seja integrada com uma fonte certa de consumo, como a muda é um artigo perecível, ela se perderá se não for utilizada no momento certo. Essa não integração tem levado a consideráveis prejuízos. Entretanto, para as espécies de Mata Atlântica, a Symbiosis acredita que tanto para os projetos comerciais, como para os de restauração de APPs Áreas de Proteção Permanente e recomposição da Reserva Legal, o estabelecimento de reservas genéticas é premente, o que, além de assegurar fornecimento adequado, poderá promover redução no custo de produção dessas sementes. Um dos gargalos para o custo de implantação de projetos daquela natureza é o preço da muda, que hoje pode chegar a R$ 2/muda. A Symbiosis admite que, com o uso de tubete biodegradável e a diminuição nos custos da semente, esse valor possa chegar a R$ 0,60. Uma estratégia importante, já adotada e que melhora o retorno econômico do projeto, é o consórcio de espécies acessórias com espécies fins. As espécies acessórias podem ser ou não de ocorrência na Mata Atlântica, todavia devem ter crescimento rápido e valor madeireiro, pois permitem redução nos custos de manutenção e auferem receitas de forma mais rápida. Já as espécies fins (normalmente espécies secundárias) são de exclusiva ocorrência nesse bioma. Nesse consórcio, os desbastes se iniciam a partir do terceiro ano e, dependendo da arquitetura de sombra, favorecem o enriquecimento com espécies secundárias e também climáticas. Uma das adversidades nos plantios comerciais com as espécies de Mata Atlântica é o estágio selvagem destas, ou seja, com nível zero de melhoramento. Nesse particular, no médio e longo prazos, a Symbiosis está implantando seu programa de melhoramento genético via sexuada. No curto prazo, de modo a obter ganhos imediatos, a empresa está incrementando seleção clonal e, até o final de 2016, alguns jardins clonais já deverão estar implantados. A Symbiosis não considera o corte futuro das árvores plantadas como risco legal e institucional, uma vez que tanto a legislação federal como a estadual são bem claras nesse aspecto, bastando simplesmente que o produtor caracterize os plantios efetuados. Um dos desafios é dar uso com valor agregado e mais nobre para a madeira fina proveniente dos desbastes, pois as toras produzidas no fim do ciclo já possuem, certamente, mercado garantido. 9

Resumo e Destaques P&D Programa de P&D e Inovação - Governança e Fundos para Financiamento Espécies Produção de Mudas e Sementes Base Genética Melhoramento Densidade de Plantio Desramas Desbastes Ativo madeireiro Uso Múltiplo Serragem de madeira fina Fundo para Pesquisa Desenvolvimento Definir espécies (mercado, silvicultura) Diminuição do custo de produção Seleção e marcação de matrizes Iniciar urgente (sexuada e assexuada) Testar em diferentes consórcios Técnicas e avaliação econômica Operacionalização e avaliação econômica Desenvolver técnicas de monitoramento Identificação das possibilidades e múltiplas espécies. Desenvolvimento de tecnologia com indicação de usos Trabalhar com o GTs A B A e B Áreas plantadas com 12 espécies com cinco anos de idade C Área com cedro australiano e ipê felpudo com 2,5 anos de idade D Área de produção de sementes. 10

Modelagem Econômica O grande desafio será convencer os analistas de investimentos através de modelos que os investidores mainstream aceitam no mercado, já que os principais investidores (Amata, Fazenda da Toca e Symbiosis) garantem credibilidade. Os desenhos dos modelos econômicos na silvicultura de espécies de Mata Atlântica ainda estão em formatação e necessitam acertar determinadas premissas, definindo uma estrutura que contemple as expertises de cada um. Outro grande desafio é viabilizar essa atividade silvicultural ao pequeno produtor, pois um fluxo de caixa, convencionalmente, longo poderá inibir os investimentos desses produtores. Uma forma de engajá-lo, certamente, é ter um modelo econômico de integração cooperativo e um design baseado, provavelmente, em modelos de SAF e, de início, envolvendo pequenas áreas. Sem esquecer o uso conservacionista de forma direta, é fundamental trabalhar com três possibilidades de uso alternativo do solo reflorestamento comercial, Reserva Legal (RL) e Áreas de Proteção Permanente (APP). Por exemplo, fomentar a recomposição da RL com também ganhos econômicos, além de eliminar o passivo, poderá gerar receitas consideráveis. Não obstante, ainda não são bem definidos os procedimentos que, de fato, podem atingir esses dois objetivos. Atualmente, existem muito boas intenções, mas nada ainda comprovador da eficiência desejada. Case Symbiosis O ativo madeireiro como investimento adiciona diversificação de riscos em um portfólio convencional de investimentos, gera bons retornos sobre investimentos com risco relativamente baixo, baixa volatilidade, é um hedge natural contra a inflação além de ser um investimento em ativo real. Esse tipo de ativo possui baixa correlação com ativos financeiros clássicos e forte correlação com a inflação. A madeira da Mata Atlântica tem alto valor comercial, com diversidade de cores, e as múltiplas espécies plantadas aumentam a resiliência e diminuem o risco de pragas e doenças. Os principais fatores de risco no investimento florestal são: imobiliário e fundiário, incêndio, ativo madeireiro (escolha das espécies), biológico e comercial. O negócio madeireiro movimentou cerca de 3,5 bilhões de m³ em 2015, segundo dados da FAO. O preço da madeira é fortemente correlacionado com o crescimento populacional e o aumento de renda, pois estes são os principais impulsionadores da demanda por madeira. Em 11

2015, os EUA aumentaram seu consumo em 3,8% e a União Europeia em 3,3% em relação ao ano de 2014 (FAO, 2015). Os EUA importam grandes volumes de piso e deck de madeira tropical (cerca de 400 mil m³/ano), mas o Brasil participa com um volume muito pequeno perto do que poderia fornecer para suprir esse mercado. A diminuição dos estoques e as restrições ao desmatamento de florestas naturais tendem a diminuir a oferta de madeira tropical. Além disso, o US LACY Act (2008) e o EU FLEGT reforçam o comércio por produto madeireiro de reflorestamento com cadeia de custódia e rastreabilidade, mas, hoje, ainda existe escassez de madeiras de espécies tropicais de alta qualidade nessas condições. Nesse contexto, inicialmente, a Symbiosis Investimentos optou pelo sul da Bahia para implantar seu ativo em função da disponibilidade e do custo da aquisição de terras, condições edafoclimáticas e logística favorável (proximidade do porto), o que facilita o acesso ao mercado consumidor. Em grande parte, as premissas usadas para justificar o investimento se confirmaram após os primeiros cinco anos do projeto e, por isso, a Symbiosis e seus investidores já decidiram dar andamento ao projeto e expandi-lo. Rede de Conhecimento e Disseminação A adaptação dos produtos ao mercado futuro e às exigências do consumidor é fundamental para o sucesso do projeto: do papel higiênico ao teste sensorial do cacau. A marca e seu desempenho têm efeito de atração sobre o consumidor final. Outro aspecto importante é a adição de valor e de tecnologia ao produto, especialmente nesses empreendimentos que devem acompanhar as demandas futuras ao longo do ciclo. Um exemplo é o desenvolvimento de tecnologias que permitem o uso de madeiras mais finas para potencial utilização em novos mercados. Resumo e Destaques Rede de Conhecimento e Disseminação Entendendo o Consumidor Comunicação Legalidade Marketing Desenvolvimento Divulgar a madeira tropical de reflorestamento Incentivo ao consumo da madeira legal Design (cores madeiras com presença de alburno) 12

Externalidades Até o momento, nenhum dos modelos econômicos de reflorestamento com nativas consideram as externalidades como parte dos benefícios e do retorno do empreendimento. Apesar do pagamento por serviços ambientais (PSA) estar previsto na legislação (já regulamentada em alguns estados e municípios), a inclusão do mesmo é muito importante para a realidade dos pequenos produtores. Mesmo que, hoje, o valor de comercialização do Carbono seja zero, em um futuro próximo é prevista sua precificação, incrementando o valor para o modelo econômico. Todavia, as externalidades devem ser consideradas na modelagem financeira sem perder o realismo e agregar inovação financeira. Resumo e Destaques Externalidades Avaliar a sensibilidade no retorno financeiro agregando as externalidades Retorno do Investimento Externalidades Metodologia Desenvolvimento Calcular o retorno das externalidades na sensibilidade do projeto para diferentes cenários Carbono e PSAs descritos no item 2. Modelo Econômico No primeiro momento, usar valores monetários. Com o desenvolvimento do projeto, usar metodologias aceitas nos mercados como GHG Protocol 1 e TEEB 2 1 O Programa GHG Protocol tem como objetivo estimular a cultura corporativa para a elaboração e publicação de inventários de emissões de gases do efeito estufa (GEE), proporcionando aos participantes acesso a instrumentos e padrões de qualidade internacional. 2 The Economics of Ecosystem and Biodiversity. 13

Sementes e Mudas A expectativa é de que o plantio comercial de espécies nativas utilize um sistema próximo ao do eucalipto. Com isso, espera-se semelhantes níveis de ganhos em termos de produtividade. O IMA (incrementoe médio anual) era 10 a 12 m³/ha/ano para o eucalipto na década de 60. Depois de aproximadamente seis décadas, esse valor está em torno de 40-50 m³/ha/ano. Vale ressaltar que não se esperou chegar em 40 m³/ha/ano de IMA para se fazer os plantios em larga escala. É necessário reunir informações para direcionar os programas de melhoramento para espécies nativas, sendo que, atualmente, os casos mais emblemáticos são os da própria Symbiosis, da Vale, da CESP e da CEPLAC Comissão Executiva do Plano de Lavoura Cacaueira. Essas experiências são importantes para direcionar a pesquisa e o desenvolvimento, principalmente a questão do melhoramento genético, assim como a conservação ex-situ, como foi o observado na Symbiosis. Resumo e Destaques Sementes e Mudas Tecnologias e Redes Produção de Mudas Sementes Benchmark Desenvolvimento Aumento de eficiência na produção e diminuição nos custos de implantação. Rede de coleta e marcação de matrizes Programa de melhoramento SMA / SP rede para restauração no Estado Cadeia de Valor Foi ressaltada a importância do reconhecimento cultural de alguns produtos florestais como ocorreu com outros produtos na Europa (ex. champanhe francesa, renda portuguesa etc). O que está por trás desse reconhecimento cultural é a atração do mercado consumidor, logo, 14

deve-se ter um mix de produtos madeireiros e não madeireiros com reconhecimento de origem. Resumo e Destaques Cadeia de Valor Mercado Futuro Produto de Origem Mercado e novos usos Verticalização Desenvolvimento Aumento de valor produtos reconhecidos regionalmente Design e aceitação da madeira de reflorestamento Avaliar a verticalização dos projetos florestais Mercado Consumidor Dadas, ainda, as incertezas sobre qual será o mercado projetado em 20, 30, 40 ou 50 anos, devemos observar o comportamento da demanda de madeira tropical nos últimos trinta anos, que, de acordo com a FAO, cresceu a uma taxa de 3% ao ano. A demanda por madeira acontece em função do crescimento populacional e da renda. A Symbiosis tem como estratégia oferecer espécies madeireiras raras e da Mata Atlântica, portanto não competindo com as espécies amazônicas abundantes no mercado ilegal. Além disso, devido ao alto valor agregado em nossos plantios, visamos o consumidor premium. Resumo e Destaques Mercado Consumidor Projeção de demanda e drivers Demanda Drivers Mercado Desenvolvimento Combinar INDC com manejo de floresta natural PIB e crescimento populacional Externo e Interno (demanda imobiliária EUA) 15

Políticas Públicas Um dos focos do projeto VERENA para ajudar a viabilizar em escala a silvicultura de nativas é entender como usufruir das políticas públicas existentes, pois elas podem acelerar e alavancar esse processo através dos ganhos sociais de renda e empregos gerados por projetos de reflorestamento de grande escala. É necessário trazer os modelos práticos e reais para a mesa de discussão do Estado. Adicionalmente, podem ser necessários incentivos similares aos do eucalipto, como no começo dos incentivos fiscais na década de 60. Para isso, é necessário apresentar e propor um sistema de governança forte com a participação da sociedade civil e do empresariado. Além disso, os Ministérios esperam que as lideranças empresariais participem das políticas públicas. Por parte dos órgãos reguladores, a agenda ambiental é vista como controle ambiental e não como forma de planejamento e fomento de uma economia florestal. Apesar do setor de florestas plantadas estar alocado dentro do MAPA desde dezembro de 2014, ainda não existe um lócus institucional definido para a discussão do fomento da produção de florestas nativas. Isto pode evidenciar a necessidade de uma Secretaria dentro de algum Ministério para discutir uma agenda de pesquisa, de política territorial, de desenvolvimento e de financiamento para o reflorestamento com fins produtivos. O manejo de florestas na Amazônia ainda não se mostrou eficiente devido às incertezas da sua sustentabilidade, das dificuldades de mercado e, principalmente, em função da competição da madeira ilegal. É necessário desenvolver a silvicultura tropical, pois em muitos lugares ela pode estar muito próxima do mercado consumidor. Resumo e Destaques Política Pública Fomentar a restauração em larga escala no Brasil Cases para fomento Indicadores Matriz Desenvolvimento Aeronáutico (CTA/ITA/Embraer); Embrapa (agricultura brasileira e sua tropicalidade); Sucroalcooleiro (Proálcool), Costa Rica (fundo tributo) Emprego; renda; segurança alimentar; PIB; geração de tributos; circulação de bens e serviços Indicar os impactos da falta de política e de legislação para a atividade 16

Legalidade A legalidade está diretamente relacionada com o mercado e consequentemente com a viabilidade econômica do projeto. A competição com a madeira ilegal é desleal e combatê-la é fundamental para o sucesso de qualquer economia florestal. Felizmente, já existe um grupo de advocacy na Coalização Brasil, Clima, Florestas e Agricultura trabalhando no tema, focado na rastreabilidade da madeira. Também existem duas iniciativas que permitem o uso de aplicativos para rastreabilidade da madeira, desenvolvidos pela BV Rio e pelo Serviço Florestal Brasileiro. Resumo e Destaques Legalidade Preço e Mercado Rastreabilidade e Cadeia de Custódia Desenvolvimento Ações coordenadas com a Coalização; SFB e BVRio Aptidão Regional O contexto da Silvicultura e do Cacau no Sul da Bahia Há grandes desafios para que a silvicultura de nativas (e exóticas) se estabeleça numa região. Além das questões técnicas, existem as de ordem fundiária e cultural. Com isso, se faz necessário incorporar a silvicultura no contexto social e econômico das comunidades e no diadia dos produtores rurais, principalmente na cadeia de valor da madeira de espécies nativas (construção, marceneiros e desenvolvimento de polos madeireiros). O plantio de cacau está arraigado na cultura da Bahia através do sistema da cabruca, e até com razoáveis padrões de produção. Antigamente, o sistema de produção do cacau era o modelo contínuo (plantio puro). Hoje, migrou-se para o modelo zonal. A vantagem deste último (sistema agroflorestal) é prover melhor a distribuição de renda ao longo do ano, possibilitar um fluxo de caixa bem distribuído, minimizar riscos, melhorar e otimizar a utilização de mão de obra, diminuir a incidência de 17

pragas e doenças e intensificar o uso da terra. Além disso, esse sistema tem grande valor funcional pela cobertura florestal e da retenção dos sedimentos que seriam carreados para os rios, garantindo a qualidade e a manutenção dos recursos hídricos. Ainda se estima que 90 toneladas de C (carbono) são imobilizadas por hectare em um SAF de seringueira com cacau. Nesse modelo, a CEPLAC estima eficiência de 1,5 hectares de produção no sistema de consórcio, para 1 hectare de cultura convencional em sistema de monocultura em termos de produção financeira, ou seja, o sistema consorciado produz 50% a mais. Hoje, na Bahia, o sistema de produção do cacau foi redesenhado em função da ocorrência de doenças. Este fato gerou uma política pública por meio do financiamento adequado com o ciclo de produção do cacaueiro em consórcio com espécies madeireiras e não madeireiras (freijó, ipê, cedro, andiroba, castanha do brasil, mogno, parajuba e jenipapo), frutíferas, apicultura, mamão, café, seringueira e banana. Resumo e Destaques Regionalismo SAF SAF Desenvolvimento Construir os cases de SAFs junto à CEPLAC e SMA/SP Crédito e Linhas de Financiamento São múltiplos os fatores que poderiam explicar porque a silvicultura de nativas no Brasil não evoluiu nos níveis adequados. A falta de iniciativas públicas, os modelos de pesquisa universitária, os ciclos de produção mais longos e a própria falta de conhecimento podem explicar a quase inatividade desse sistema de produção. É fundamental e urgente criar mecanismos de incentivo para que se eliminem essas barreiras. É importante também promover uma alavancagem financeira para a execução dos projetos em larga escala e a criação de modalidades de financiamentos e crédito para apoiar pequenos e médios produtores que não possuem terra ou não têm suas terras totalmente regularizadas. É necessário entender os papéis dos bancos nesse contexto BNDES / Plano ABC / Banco do Brasil / Banco Mundial / IFC e também dos investidores institucionais na alavancagem do VERENA. 18

Um case modelo de financiamento para pesquisa e desenvolvimento florestal é o da Costa Rica, que desenvolveu espécies nativas com potencial madeireiro. Para isso, foi criada uma política pública de incentivo com a criação de um fundo nacional que alavancou o plantio de nativas. A cobrança de US$ 0,01 por litro de gasolina consumido foi destinada para o fundo. O foco desse projeto foi em 15 espécies com maior potencial para produção, o que ajudou a indústria a se adaptar ao novo contexto de mercado e permitiu o uso de madeiras de menor diâmetro, além de fomentar tecnologias industriais para o aproveitamento das madeiras. Resumo e Destaques Crédito Linhas de Financiamento Linhas de Fomento Desenvolvimento Chegar à melhor estrutura equity e dívida para melhor estrutura de alavancagem / Fomentar linhas de crédito condizentes com as atividades Aspectos Sociais Educação, formação e capacitação de mão de obra são pré-requisitos para essa nova economia florestal. Focar na educação do consumidor para entender o que é silvicultura, como valorizar a madeira legal e saber de que forma a mesma integra a cadeia produtiva são questões-chave para se obter grande escala, transformação macroeconômica local e ainda prover sua técnica junto aos produtores. Resumo e Destaques Social Linhas de Financiamento Transformação local Desenvolvimento Variáveis macroeconômicas na escala transformadora / consumo consciente / mercado consumidor / treinamento 19

Conclusão O workshop Reflorestamento com Nativas para fins econômicos: cacau e sistemas agroflorestais endereçou algumas perguntas-chave e norteadoras para consolidar uma nova agenda de baixo carbono baseado no reflorestamento de nativas para fins econômicos: Que conhecimento ainda é necessário para que o processo de reflorestamento seja realizado em larga escala com o desenvolvimento de espécies nativas? Qual a demanda por produtos de madeira tropical? Curva de aprendizagem para a madeira nativa: quem paga pelo custo do desenvolvimento? Que modelos de negócio deram certo? Quais são os pilares para o desenvolvimento dessa nova economia florestal? A premissa do workshop é válida: faltam peças para a valorização econômica do reflorestamento de espécies nativas (VERENA) e, por enquanto, não existe nenhum projeto em grande escala para se concluir quais os modelos de produção e de negócio ideais. O workshop cumpriu seu objetivo e identificou duas prioridades dos 12 pilares identificados e discutidos: Pesquisa & Desenvolvimento e Modelagem Econômica. É central construir uma rede de unidades demonstrativas, pois já existem várias unidades demonstrativas que podem ajudar a entender os diversos modelos e apresentá-los como conceito aos potenciais investidores. Os cases Amata, Symbiosis e Fazenda da Toca são relevantes para se aprofundar e inovar. O design dos modelos não está 100% consolidado e nenhum deles considera as externalidades. Por outro lado, entendeu-se que não deve existir um modelo único, mas, sim, haver convergência nos princípios. Foi consenso entre os participantes do encontro de que é necessário colocar em curso o desenvolvimento e a implementação de uma plataforma de P&D. As inovações devem ser realizadas não somente em silvicultura, mas também no campo dos Planos de Negócios. É importante analisar os casos de sucesso do setor aeronáutico e sucroalcooleiro como plataforma de inovação e desenvolvimento de um setor industrial, bem como a formação de um núcleo de liderança (possivelmente via Coalizão). O grande desafio será convencer os analistas de investimentos, os formadores de políticas públicas e os financiadores e este é o objetivo do projeto VERENA. 20

Pilar Pilar P&D Modelagem Econômica Rede de Disseminação Externalidades Sementes e Mudas Cadeia de Valor Mercado Consumidor Políticas Públicas Legalidade Regionalismo Crédito Social Produção de mudas Base genética Formação da população base Pragas e doenças Densidade de plantio Poda Desbastes Serraria madeira fina Uso múltiplo Máquinas e Implementos Fundo para pesquisa Monitoramento e Inventário Estrutura Silvicultura Estrutura financeira Convergência metodológica Externalidades PSA Pequeno produtor Sensibilidade Mercados Unidade demonstrativa Comunicação Legalidade Marketing Retorno do investimento Externalidades Metodologia Produção de mudas Sementes Benchmark Produto de origem Mercado e novos usos Verticalização Demanda Drivers Mercado Cases para fomento Indicadores Matriz de impacto Rastreabilidade e Cadeia de Custódia SAF Pequeno produtor Linhas de fomento Transformação local 21

Participantes Nome Adonias de Castro Virgens Filho Hilton Thadeu do Couto Otávio Negrini Alan Ferreira Batista João Campari Patrícia Moles Fanjul Alexandre Curvelo de Almeida Prado Joel Pereira Felipe Pedro Cruz Villares Aline Valeria Archagelo Salvador José Roberto Marinho Pedro Diniz André Guimarães Judith wolf Rachel Biderman André Luiz Ferreira Leonardo Siano Penna Raul Monteiro Jr André Nave Leontino Balbo Renato de Jesus Andresa Cristina da Silva Luana Maia Ricardo Dórea Gomes da Costa Antonio Augusto Cabral Paraiso Martins Luciano Budant Schaaf Roberto Munhoz Miranda Arnaldo Carneiro Filho Marcelo Furtado Roberto Silva Waack Aurelio Padovezi Marcelo de Oliveria Landi Rodrigo Fiaes Bruno Mariani Marcelo Tomaszewski Rosa Lemos Claude Gascon Matheus Couto Rubens de Miranda Benini Claudio Benedito Valladares Padua Mariana Figueiredo de Oliveira Rui Rocha Dan Érico Vieira Petit Lobão Michael Samir Gonçalves Rolim Daniel Piotto Miguel Calmon Silvana Nobre Dario Ferreira Guarita Neto Murilo Johas Menezes Silvino Kruschewsky Gregor V. Wolf Naoko Ishii Suzanna Sofia Lund Guilherme Leal Olivia Maria Duarte Tiene Cabral Guilherme Moura Osvaldo Stella Vinicius Sevalho de Almeida Neves Gustavo Fonseca Oswaldo Viu Junior Yuri Lopes De Mello 22