Recurso Eleitoral nº 77154.2012.6.13.0141 Zona Eleitoral: 141ª, de Ituiutaba Recorrente: Coligação Ituiutaba Mais Forte Ituiutaba Mais Feliz Requerido: Coligação O Povo Unido Pra Fazer Mais; Luiz Pedro Correa do Carmo, candidato a Prefeito; Publio Chaves Junior, candidato a Vice-Prefeito Relator: Juiz Maurício Soares Recurso eleitoral. Representação. Direito de resposta. Informação inverídica e/ou ofensiva. Horário eleitoral gratuito/programa em bloco. Televisão. Improcedência. Inexistência de ofensa que afasta a possibilidade de direito de resposta em horário eleitoral gratuito na televisão. Questões que fazem parte da disputa eleitoral. Recurso não provido. RELATÓRIO A Coligação ITUIUTABA MAIS FORTE, ITUIUTABA MAIS FELIZ constituída pelos partidos (PDT/PSC/PRTB/PTC/PSB/PV/PSOL/PTdoB) apresentou recurso eleitoral contra a sentença proferida pela Mma. Juíza, da 141ª, de Ituiutaba, que julgou improcedente o pedido na representação por ela ajuizada em face de LUIZ PEDRO CORREA DO CARMO, PUBLIO CHAVES JUNIOR e da Coligação O POVO UNIDO PRA FAZER MAIS. Alegou que ingressou com a representação objetivando direito de resposta, tendo em vista veiculação de propaganda eleitoral na televisão, na modalidade bloco, com claro propósito de difundir informação sabidamente inverídica para difamar e caluniar o candidato da Recorrente e seu grupo político, imputando no eleitorado estados emocionais que desvirtuam o propósito da propaganda eleitoral, causando desequilíbrio no pleito. Narrou que a propaganda foi veiculada no horário eleitoral gratuito, na propaganda em bloco. A emissora da gravação foi a TV Integração, filiada da Rede Globo, porém a transmissão ocorreu também no SBT (TV Vitoriosa) e a TV Record (TV Paranaíba); que na propaganda os recorridos expuseram falsamente o candidato a Prefeito da recorrente, Fued José Dib, e seu grupo político, como responsáveis pelos problemas de saúde do ex-prefeito Publio Chaves, imputando também fatos caluniosos e injuriosos.
Citou a informação veiculada. Sustentou que a veiculação atacou diretamente o candidato da Coligação a Prefeito, Fued José Dib, pois utilizaram de imagens do exprefeito Publio Chaves, mencionando que o mesmo sofreu fortes ataques em decorrência da política, provocada pelo Sr.Fued, antigo governante do Município, em razão disto, teve que se afastar por problemas de saúde; que o conteúdo da propaganda contém irregularidade, com potencialidade suficiente a gerar efeitos emocionais, mentais e passionais sobre o eleitor, principalmente ao vincular o problema de saúde à oposição do Sr. Fued. Afirmou que ainda repercute no sentimento do eleitorado ao fazer remissão ao problema de saúde de Publio Chaves, e veicular a mensagem de que As pessoas se comovem e não entendem porque tanta maldade. Aduziu que também foram atribuídas informações caluniosas, ao reputar fatos que supostamente caracterizam improbidade administrativa e crimes contra a administração pública, o que não ocorreu, tanto que inexistem ações civis ou criminais neste sentido contra Fued José Dib; que a associação de fatos imputados à oposição política aliada à narrativa de prejuízos à saúde do ex-prefeito, pai do candidato a vice-prefeito e, ainda, aliadas as reuniões setoriais que vem sendo feitas nos bairros, são difamatórias, pois inverídicas e quando difundidas pelo veículo de comunicação social, representam evidente violação à legislação eleitoral, exigindo a devida reparação. Pugnou, considerando a veiculação de comunicação ofensiva, pela concessão do direito de resposta, a ser veiculada no período noturno, no tempo de 10 segundos, a ser subtraído do horário eleitoral gratuito em bloco na TV, da coligação majoritária O Povo Unido para Fazer Mais, bem como pela concessão do pedido liminar, para determinar-se a imediata abstenção dos recorridos na veiculação da referida propaganda, o que foi acertadamente deferido pela Mma. Juíza. Continuou, que apesar da demonstração dos fatos inverídicos, difamatórios e caluniosos, a Mma. julgou improcedente a representação, sob o fundamento de que, embora este juízo entenda que a forma com que está
sendo divulgada a propaganda possa induzir o eleitorado a erro, a concessão da liminar em questão semelhante e em análise através de mandado de segurança demonstra o posicionamento do TRE-MG, direcionando por conseqüência desfecho deste julgamento. Assim, julgo improcedente a representação. Sustentou que não pode haver vinculação entre o julgamento do mérito desta representação eleitoral com a decisão proferida em liminar nos autos do mandado de segurança n 691-28.2012.6.13.0000. Ressaltou que ficou comprovado que a acusação feita pela propaganda, além de ofensiva, o que já justifica o direito de resposta, é sabidamente inverídica e difamatória. Aduziu que atribuir a alguém imputação ofensiva que atenta contra honra e a reputação, com a intenção de torná-lo passível de descrétido na opinião pública caracteriza difamação. E, continuou: a difamação consiste em impor a prática de fato determinado, ofensivo à reputação, honra objetiva, a alguém e se consume, quando terceiros tomam conhecimento de tal fato; que fere a moral da vítima, enquanto a injúria atinge seu moral, seu ânimo. Discorreu mais sobre difamação, citando art. 325, Código Eleitoral e jurisprudências. Sustentou que a conduta dos recorridos está sendo potencialmente lesiva à recorrente, pois não ocorre de forma isolada, já que eles já veicularam outras matérias, na qual relacionam novamente a causa da doença do ex-prefeito à oposição. Destaca que a legislação proíbe que a propaganda eleitoral empregue meios que criem artificialmente na opinião pública estados mentais, emocionais ou passionais, o que sequer foi analisado pela Mma. Juíza Eleitoral na sentença. Após apresentar seus demais argumentos, pede o provimento do recurso para conceder o direito de resposta por período não inferior a 10 segundos, a ser exercido no horário reservado à propaganda eleitoral dos recorridos, na modalidade bloco de televisão, no horário noturno, nos seguintes dizeres:
O DIREITO DE RESPOSTA DETERMINADO PELA JUSTIÇA ELEITORAL ESCLARECE A TODA POPULAÇÃO DE ITUIUTABA QUE O PROBLEMA DE SAÚDE DO EX-PREFEITO PÚBLIO CHAVES NÃO FOI PROVOCADO POR QUALQUER QUESTÃO POLÍTICA. LUIZ PEDRO CORREA DO CARMO, PÚBLIO CHAVES JÚNIOR e COLIGAÇÃO O POVO UNIDO PARA FAZER MAIS apresentaram contrarrazões no sentido do não provimento do recurso (fls. 113 a 131). O Procurador Regional Eleitoral não opinou (fls. 138). Houve interposição de agravo de instrumento para subido do recurso interposto (fls. 139 a 151). É o relatório. VOTO O recurso é próprio e tempestivo, dele conheço. Examinando a degravação da propaganda não concluímos que ela configure uma conduta ofensiva ainda que indireta ao candidato FUED. Alega que a informação veiculada ataca diretamente o referido candidato. Não se verifica isso na matéria propagandística. Vejamos as falas do locutor: (...) LOCUTOR:... Outubro de 2008: a coligação o povo na prefeitura vence as eleições. Obras paralisadas. O povo sem as casas populares. Os bairros abandonados, sem asfalto. Um caos na saúde. Janeiro de 2009. Públio Chaves e Luiz Pedro tomam posse. Prefeitura com dívidas superiores a 11 milhões de reais. Obras paralisadas pela Caixa por erros da administração anterior. Públio e Luiz fazem novos projetos e iniciam um novo jeito de administrar, junto com o povo. Em 2009 são assinados os contratos para a construção das primeiras casas populares. A novo administração recupera os recursos do Governo Federal e começa a construção da canalização até a Avenida Minas Gerais. Para a tristeza de todos, Públio e Luiz começam a ser atacados violentamente pelo
grupo que perdeu a eleição, com difamação, calúnias e mentiras envolvendo até a vida particular do prefeito e vice prefeito. Em 2010 os ataques continuam, cada vez mais violentos. Em março, durante a inauguração do IFTM, Públio, o principal alvo das perseguições, sofre um enfarto durante o evento. As pessoas se comovem e não entendem porque tanta maldade.... As questões, como as acima relatadas, fazem parte do calor da disputa eleitoral. Inexiste no conteúdo da propaganda qualquer ofensa à honra, como injúria, difamação ou calúnia ou, ainda, menção à informação inverídica. No artigo intitulado Tensões eleitorais, referido pelo hoje Desembargador Gutemberg da Mota e Silva quando Juiz Membro deste Tribunal, publicado no jornal Estado de Minas em 15/10/2008, p. 7, o sociólogo e cientista político MARCOS COIMBRA observou que, nesse segundo turno, apresenta-se um quadro para um reinício de campanha em um tom vários decibéis acima do que tivemos, nessas cidades, no primeiro turno. Depois de uma modorrenta discussão de propostas, quase sempre indiferenciadas, e da apresentação enfadonha de currículos, agora a briga esquentou. É curioso, mas nossa cultura política atual tende a repudiar o acirramento dos embates eleitorais, como se quem o propusesse cometesse um pecado. Comportamentos que são considerados normais mundo afora, no calor das disputas, aqui são tratados como inaceitáveis. Comparações críticas, cobranças agudas, denúncias e questionamentos do passado e do presente de adversários não são imorais nas disputas democráticas, até porque quem as faz se expõe ao julgamento dos eleitores. Em países de larga tradição democrática, são mais comuns do que imaginamos. Talvez venha da fragmentada e conturbada experiência que temos com a normalidade da democracia essa aversão que nossa cultura política atual tem aos conflitos nas eleições. Espera-se dos candidatos uma espécie
de falsa cordialidade, o tal debate em alto nível. Que discutam, que até briguem, se quiserem. As leis estão aí e quem as descumprir pagará o preço. Quem decide são os eleitores, que são perfeitamente capazes de fazer suas avaliações, em campanhas geladas, mornas ou pegando fogo. Diante disso, nego provimento ao recurso.