Lei nº 12.973/14: a tributação dos juros sobre capital próprio Fernando Mombelli
Conceito de JCP O art. 9º da Lei nº 9.249, de 26 de dezembro de 1995 permite a dedutibilidade dos Juros sobre o Capital Próprio - JCP na apuração do Lucro Real: Art. 9º A pessoa jurídica poderá deduzir, para efeitos da apuração do lucro real, os juros pagos ou creditados individualizadamente a titular, sócios ou acionistas, a título de remuneração do capital próprio, calculados sobre as contas do patrimônio líquido e limitados à variação, pro rata dia, da Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP. A Lei não instituiu a possibilidade de remunerar o capital por via diversa dos dividendos, mas permitiu sua dedutibilidade na incidência do Imposto de Renda.
Justificativas para Instituição da Dedutibilidade do JCP Equiparar a tributação dos diversos tipos de rendimentos do capital; Provocar um incremento das aplicações produtivas nas empresas brasileiras, capacitando-as a elevar o nível de investimentos, sem endividamento, com evidentes vantagens no que se refere a geração de empregos e ao crescimento sustentado da economia; Adoção de política tributária moderna e compatível com aquela praticada pelos demais países emergentes, que competem com o Brasil na captação de recursos internacionais para investimento.
Aspectos Econômicos Conceito Fundamental O que possibilita menor endividamento é a existência de capital de giro próprio (Capital Circulante Líquido), que será utilizado no custeio das atividades Estrutura Patrimonial Ativo Passivo Ativo Circulante Passivo Circulante Capital de Giro Próprio Patrimônio Líquido Ativo não Circulante
Análise Econômica Capital de Giro Próprio A geração de Capital de Giro Próprio é obtida: Pelo Aumento do Patrimônio Líquido (Captação de Recursos Próprios); Pela Diminuição do Passivo Circulante ou Exigível (Redução do Endividamento de Curto Prazo); Pela Redução do Ativo Fixo (Desimobilização); Via de regra, quem não capta recursos próprios em valor superior à captação de recursos de terceiros não gera Capital de Giro Próprio
Apuração do JCP Base de cálculo: Valor do Patrimônio Líquido deduzido dos Ajustes Patrimoniais Alíquota: Taxa de Juros de Longo Prazo - TJLP (pro rata dia) Limite Legal 50% dos Lucros (computados antes da dedução dos JCP) ou 50% (lucros acumulados + reservas de lucros)
Tributação do Rendimento do JCP Incidência do IRRF à alíquota de 15%, na data do pagamento ou crédito ao beneficiário: O valor retido será tratado como: I - antecipação do devido na declaração de rendimentos, no caso de beneficiário PJ tributada com base no lucro real; II - tributação definitiva, no caso de beneficiário pessoa física ou pessoa jurídica não tributada com base no lucro real
Patrimônio Líquido Solução de Consulta n 159 Cosit, de 2015 Parecer PGFN n 202, de 2013. A partir de 1 de janeiro de 2015, data da entrada em vigor da Lei n 12.973, de 2014, ou 1 de janeiro de 2014 para os contribuintes que exerceram a opção facultada pelo art. 75 da mencionada lei, deve-se considerar como PL das sociedades, para fins de aplicação da legislação tributária, aquele computado nos moldes do vigente art. 178, parágrafo 2, III, da Lei n 6.404, de 1976, o qual inclui a conta de ajustes de avaliação patrimonial
Patrimônio Líquido Art. 178. No balanço, as contas serão classificadas segundo os elementos do patrimônio que registrem, e agrupadas de modo a facilitar o conhecimento e a análise da situação financeira da companhia. (...) 2º No passivo, as contas serão classificadas nos seguintes grupos: (...) III patrimônio líquido, dividido em capital social, reservas de capital, ajustes de avaliação patrimonial, reservas de lucros, ações em tesouraria e prejuízos acumulados. (Incluído pela Lei nº 11.941, de 2009)
Principais Controvérsias identificadas no Contencioso Judicial Natureza dos JCP e possibilidade de cumulação com dividendos; Jurisprudência no sentido de que JCP e dividendos tem naturezas distintas podendo ser cumulados. Dedutibilidade de JCP relativos a exercícios anteriores (IRPJ e CSLL); Há decisão do STJ que reconhece o direito de deduzir JCP apurados de resultados de exercícios anteriores, havendo uma decisão do TRF que reconhece a aplicação do regime de competência sobre o pagamento dos JCP. Dedutibilidade dos JCP pagos, em relação à apuração da contribuição social sobre o lucro líquido (CSLL); A discussão está definida na dedução do JCP da base da CSLL nos exercícios anteriores a 1997. O STJ reconhece que não há possibilidade de deduzir os JCP pagos da base de cálculo da CSLL de exercícios anteriores a 1997.
Principais Controvérsias identificadas no Contencioso Judicial Incidência de PIS e Cofins sobre receitas de JCP; Se o regime de apuração das contribuições for cumulativo há jurisprudência no sentido de que não haveria a incidência, uma vez que o JCP foi considerado receita financeira e não integraria o faturamento. Já se a apuração for não-cumulativa o entendimento jurisprudencial e que o JCP recebido integra o faturamento. Compensação de IRRF sobre JCP com IRRF incidente sobre outros rendimentos; Não há jurisprudência firmada sobre o assunto, há decisões que reconhecem o direito e há decisões que limitam esta compensação.
Principais Controvérsias identificadas no Contencioso Administrativo Inclusão das receitas de JCP na base de cálculo do PIS e da Cofins; O entendimento predominante na Primeira Instância de julgamento do contencioso administrativo tributário confirmou a posição da Fiscalização, pela inclusão de tais valores. O Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (CARF), em decisões anteriores à declaração de inconstitucionalidade do alargamento do conceito de faturamento para a contribuição do PIS e para a Cofins ( 1 do art. 3º da Lei nº 9.718/98), não admitia a exclusão dos juros sobre o capital próprio da base de cálculo desses tributos, convergindo com a posição das DRJs. Com a suspensão, pelo Senado Federal, da aplicabilidade do 1º do art. 3º da Lei nº 9.718/1998, declarado inconstitucional pelo Pleno do Supremo Tribunal Federal, as receitas financeiras foram excluídas do campo de incidência de tais contribuições, no período de vigência dessa Lei até a edição das Leis nº 10.637/2002 e n 10.833/2003. Assim, o CARF, por força do artigo 62-A de seu Regimento Interno, passou a reconhecer a exclusão. Natureza dos JCP auferidos; Há acórdãos das DRJs e do CARF que firmam o entendimento de que os juros sobre o capital próprio, quando pagos ou creditados, têm a natureza de despesas.
Principais Controvérsias identificadas no Contencioso Administrativo Lucro Presumido e Arbitrado - Compensação do IRRF Foram encontradas decisões em DRJs e sobretudo no CARF que determinam que o imposto retido seja considerado antecipação, ainda que a pessoa jurídica seja tributada com base no lucro presumido ou arbitrado Lucro Presumido e Arbitrado - Base de Cálculo; De acordo com as decisões encontradas, as DRJs e o CARF, principalmente, estão em consonância com a determinação contida na IN nº 93/1997, segunda a qual o rendimento de JCP integram as bases de cálculo. Dedutibilidade condicionada ao regime de competência; As DRJs e o CARF têm mantido a exigência da observância do regime de competência, o que significa afirmar que os contribuintes não podem deduzir na apuração do lucro real os juros pagos ou creditados em exercícios anteriores.
Principais Controvérsias identificadas no Contencioso Administrativo Dedutibilidade condicionada à individualização (O pagamento de juros sobre o capital próprio à acionista detentor de ações ao portador não concede o direito à dedutibilidade, pois nesse caso não há a devida identificação do beneficiário, o beneficiário não está individualizado) Tanto a primeira quanto a segunda instâncias tem posicionamento semelhante, respeitando a exigência de individualização Limites de dedutibilidade. As DRJs tem se pautado pela atenção aos limites estabelecidos legalmente, considerando que o excesso deduzido pelos contribuintes está sujeito à tributação.