PODER JUDICIÁRIO FEDERAL JUSTIÇA DO TRABALHO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA 1ª REGIÃO Gab Des Valmir de Araujo Carvalho Av. Presidente Antonio Carlos,251 10o. andar Castelo Rio de Janeiro 20020-010 RJ A C Ó R D Ã O 2ª T U R M A PROCESSO: 0158000-40.1996.5.01.0017 - RTOrd AGRAVO DE PETIÇÃO - IMPOSTO DE RENDA - FORMA DE INCIDÊNCIA Agravo provido em parte para determinar a aplicação da tabela progressiva do imposto de renda, na forma do disposto no art. 12-A da Lei n. 7.713/88, regulamentada pela IN RFB n. 1.127/2011. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de agravo de petição, em que são partes: OTHON LUIZ DO NASCIMENTO, como agravante e I - ITAÚ UNIBANCO S.A. e II - BANCO DO ESTADO DO RIO DE JANEIRO S.A. (EM LIQUIDAÇÃO), como agravados. Insurge-se o credor contra a r. decisão de fl. 602, proferida pelo M.M. Juízo da 17ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, que determinou sua intimação para apresentação dos cálculos do imposto de renda, reportando-se aos termos da promoção de fl. 602, onde se afirmou que a res judicata não prevê o regime de competência. Manifesta seu inconformismo a fls. 604/610, sustentando, em resumo, que o imposto de renda deve ser calculado mês a mês e não sobre o montante global recebido. Em contraminuta (fls. 614/616), o primeiro agravado sustenta o acerto da r. sentença agravada. Embora regularmente intimado (fl. 612), o segundo agravado não a apresentou. Por não se tratar de hipótese prevista no item I do artigo 85 do Regimento Interno deste Tribunal, tampouco de quaisquer das previstas no Ofício PRT/1ª Reg. nº 027/08-GAB, de 15/01/2008, e haja vista os termos das manifestações constantes em processos análogos, os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho. É o relatório. VOTO Do Conhecimento Conheço do agravo, por preenchidos os pressupostos de admissibilidade.
Do Mérito Da Forma De Incidência Do Imposto De Renda O agravante alega que o imposto de renda deve incidir mês a mês. No caso, o título exequendo (fl. 409) determina que (verbis): Nos termos do artigo 46 da Lei 8.541/92, a incidência do imposto de renda se dá de acordo com as alíquotas vigentes na data em que o rendimento se torne disponível ao beneficiário. Logo, ainda que injusto - como de forma em geral são os tributos cobrados neste país - a lei não pode deixar de ser cumprida, cabendo ao contribuinte pretender, junto à Receita Federal, a devolução daquilo que entender indevido ou excedente. Registre-se, todavia, que o imposto só incide sobre as parcelas tributáveis, e não sobre o global recebido. (...). Embora o v. acórdão exequendo faça observações quanto à injustiça da forma de tributação, esclarecendo ao ora credor acerca da possibilidade deste pretender à devolução de valores junto à Receita Federal, não é categórico nem afirma que a incidência do imposto de renda deverá se dar sobre o valor global tributável. O que a res judicata determina é que (verbis):...a incidência do imposto de renda se dá de acordo com as alíquotas vigentes na data em que o rendimento se torne disponível ao beneficiário. Ou seja, se deve ser observada a alíquota vigente no momento de disponibilização do crédito, deve ser observada a legislação que disciplina a matéria na mesma oportunidade. O art. 46 da Lei nº 8.541/1992 dispõe que (verbis): O imposto sobre a renda incidente sobre os rendimentos pagos em cumprimento de decisão judicial será retido na fonte pela pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento, no momento em que, por qualquer forma, o rendimento se torne disponível para o beneficiário. O art. 28 da Lei nº 10.833/2003 estabelece que (verbis): Cabe à fonte pagadora, no prazo de 15 (quinze) dias da data da retenção de que trata o caput do art. 46 da Lei no 8.541, de 23 de dezembro de 1992, comprovar, nos respectivos autos, o recolhimento do imposto de renda na fonte incidente sobre os rendimentos pagos em cumprimento de decisões da Justiça do Trabalho.. O exequente sustenta a aplicação de regime diferenciado para os créditos trabalhistas percebidos acumuladamente em razão de decisão judicial. No particular, o art. 12 da Lei n. 7.713/1988 já previa que (verbis): No caso de rendimentos recebidos acumuladamente, o imposto incidirá, no mês do recebimento ou crédito, sobre o total dos rendimentos, diminuídos do valor das despesas com ação judicial necessárias ao seu recebimento, inclusive de advogados, se tiverem sido pagas pelo contribuinte, sem indenização.
Tal previsão também consta do art. 640 do Decreto nº 3.000/1999. Porém, a Medida Provisória n. 497, de 27 de julho de 2010, convertida na Lei n. 12.350, de 20.12.2010, acrescentou o art. 12-A à Lei n. 7.713/1988, com a seguinte redação (verbis): Art. 12-A. Os rendimentos do trabalho e os provenientes de aposentadoria, pensão, transferência para a reserva remunerada ou reforma, pagos pela Previdência Social da União, dos Estados, do Distrito Federal e dos Municípios, quando correspondentes a anos-calendários anteriores ao do recebimento, serão tributados exclusivamente na fonte, no mês do recebimento ou crédito, em separado dos demais rendimentos recebidos no mês. 1º O imposto será retido pela pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento ou pela instituição financeira depositária do crédito e calculado sobre o montante dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito. 2º Poderão ser excluídas as despesas, relativas ao montante dos rendimentos tributáveis, com ação judicial necessárias ao seu recebimento, inclusive de advogados, se tiverem sido pagas pelo contribuinte, sem indenização. [...] 5º O total dos rendimentos de que trata o caput, observado o disposto no 2º, poderá integrar a base de cálculo do Imposto sobre a Renda na Declaração de Ajuste Anual do ano-calendário do recebimento, à opção irretratável do contribuinte. 6º Na hipótese do 5º, o Imposto sobre a Renda Retido na Fonte será considerado antecipação do imposto devido apurado na Declaração de Ajuste Anual. 7º Os rendimentos de que trata o caput, recebidos entre 1º de janeiro de 2010 e o dia anterior ao de publicação da Lei resultante da conversão da Medida Provisória no 497, de 27 de julho de 2010, poderão ser tributados na forma deste artigo, devendo ser informados na Declaração de Ajuste Anual referente ao ano-calendário de 2010. [...]
9º A Secretaria da Receita Federal do Brasil disciplinará o disposto neste artigo. (sem grifo na fonte) Na Exposição de Motivos elaborada pelos Ministros de Estado Guido Mantega, Paulo Bernardo Silva, Orlando Silva de Jesus Júnior, Sérgio Machado Rezende, Miguel Jorge e Paulo Sérgio Oliveira Passos (http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/_ato2007-2010/2010/exm/emi-111-mf-mp-me- MCT-MDIC-MT-MPV-497-10.htm), considera-se a decisões do Superior Tribunal de Justiça quanto à forma de incidência do imposto de renda, além de reiterar que a proposta visa estabelecer uma forma de tributação mais justa para os rendimentos do trabalho e aposentadoria recebidos em atraso, englobando vários períodos. Por fim, ressalvou-se que, pelos termos do art. 12 da Lei n. 7.713/1988, tais rendimentos seriam tributados no mês do recebimento mediante aplicação da tabela mensal, resultando muitas vezes em imposto muito superior àquele que seria devido caso o rendimento fosse pago no momento oportuno. O dispositivo legal em tela estabeleceu, portanto, uma exceção à regra geral de que os rendimentos percebidos acumuladamente devam sofrer incidência do imposto sobre o valor global, conforme tabela vigente no mês de recebimento do crédito. E foi com base nessa regra geral que foi concebido o entendimento consubstanciado na Súmula nº 368 do C. TST. Assim, esse novo posicionamento da Receita Federal em nada colide com o entendimento jurisprudencial mencionado que, ao que tudo indica, caminha para revisão. Logo, quando os rendimentos percebidos de forma acumulada decorram do trabalho, de proventos, ou das outras fontes especificadas no caput do art. 12-A da Lei n. 7.713/1988, o cálculo do imposto deverá atentar à tabela progressiva prevista no 1º, que é resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se refiram os rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito. Quanto ao disposto no 9º do art. 12-A da Lei n. 7.713/1988, temse que a Secretaria da Receita Federal do Brasil supriu a determinação legal em 07.02.2011, por meio da Instrução Normativa RFB n. 1.127, que assim dispôs em seu artigo 2º, in verbis: Art. 2º Os RRA (leia-se rendimentos recebidos acumuladamente), a partir de 28 de julho de 2010, relativos a anos-calendário anteriores ao do recebimento, serão tributados exclusivamente na fonte, no mês do recebimento do crédito, em separado dos demais rendimentos recebidos no mês, quando decorrentes de: I - aposentadoria, pensão, transferência para a reserva remunerada ou reforma, pagos pela Previdência Social da União, dos estados, do Distrito Federal e dos municípios; e II - rendimentos do trabalho.
A forma de cálculo do imposto a ser retido encontra-se no art. 3º da IN, que assim preceitua (verbis): Art. 3º O imposto será retido, pela pessoa física ou jurídica obrigada ao pagamento ou pela instituição financeira depositária do crédito, e calculado sobre o montante dos rendimentos pagos, mediante a utilização de tabela progressiva resultante da multiplicação da quantidade de meses a que se referem os rendimentos pelos valores constantes da tabela progressiva mensal correspondente ao mês do recebimento ou crédito. Portanto, referidas disposições legais não determinam o cálculo do imposto de renda mês a mês. Estabelecem, outrossim, que na data em que efetuado o pagamento do crédito acumulado sejam observados os seguintes aspectos para apuração do tributo (ou isenção, conforme o caso): valor tributável apurado; quantidade de meses abrangidos pela condenação e alíquota incidente sobre o valor tributável de acordo com a faixa em que se enquadra o reclamante, apurada a partir da multiplicação dos valores limites de cada faixa pelo número de meses abrangidos pela condenação. A nova sistemática de apuração do imposto de renda instituída pelo artigo 12-A da supracitada lei está regulamentada na Instrução Normativa RFB nº 1.127, de 7 de fevereiro de 2011, sendo relevante destacar o disposto no artigo 3º, 1º da referida Instrução Normativa, a saber: Art. 3º (...) 1º O décimo terceiro salário, quando houver, representará em relação ao disposto no caput a um mês. O caput deste artigo, por sua vez, é reprodução fiel do disposto no parágrafo primeiro do artigo 12-A da Lei 12.350/2010, acima transcrito. Logo, o décimo terceiro salário é computado como se fosse um mês na apuração da quantidade de meses do período contratual. Logo, dou provimento parcial ao agravo para determinar a aplicação da tabela progressiva do imposto de renda, na forma do disposto no art. 12-A da Lei n. 7.713/88, regulamentada pela IN RFB n. 1.127/2011. Isto posto, voto por conhecer do agravo de petição e, no mérito, dar-lhe provimento parcial para que o imposto de renda seja calculado aplicando-se a tabela progressiva, na forma do disposto no art. 12-A da Lei n. 7.713/88, regulamentada pela IN RFB nº. 1.127/2011, na forma da fundamentação. A C O R D A M os Desembargadores da 2ª Turma do Tribunal Regional do Trabalho da 1ª Região, por unanimidade, conhecer do agravo de petição e, no mérito, dar-lhe provimento parcial para que o imposto de renda seja calculado aplicando-se a tabela progressiva, na forma do disposto no art. 12-A da Lei n. 7.713/88, regulamentada pela IN RFB nº. 1.127/2011, na forma da fundamentação do voto do relator. Rio de Janeiro, 15 de setembro de 2011. Desembargador Federal do Trabalho Valmir de Araujo Carvalho Relator VAC/rgo/j.