Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais

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Transcrição:

Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais 9 o Theoretical Issues in Sign Language Research Conference Florianópolis, Brasil, Dezembro 2006. Organizadoras Ronice Müller de Quadros Maria Lúcia Barbosa de Vasconcellos

Sumário Apresentação 4 Arqueologia das Línguas de Sinais: Integrando Lingüística Histórica com Pesquisa de Campo em Línguas de Sinais Recentes 22 Ted Supalla Raízes, folhas e ramos A tipologia de línguas de sinais 30 Ulrike Zeshan Um estudo interlingüístico de segmentação da palavra em três línguas de sinais 52 Diane Brentari, Ronnie Wilbur Revertendo os verbos reversos e seguindo em frente: sobre concordância, auxiliares e classes verbais em línguas de sinais 65 Ronice Müller de Quadros, Josep Quer Repensando classes verbais em línguas de sinais: O corpo como sujeito 82 Irit Meir, Carol Padden, Mark Aronoff e Wendy Sandler A realização morfológica dos campos semânticos 102 Irit Meir Posse e existência em três línguas de sinais 117 Deborah Chen Pichler, Katharina Schalber, Julie Hochgesang, Marina Milković, Ronnie B. Wilbur, Martina Vulje, Ljubica Pribanić Uma Comparação Lexical de Línguas de Sinais no Mundo Árabe 130 Kinda Al-Fityani, Carol Padden Dêixis, anáfora e estruturas altamente icônicas: Evidências interlingüísticas nas línguas de Sinais Americana (ASL), Francesa (LSF) e Italiana (LIS) 140 Elena Pizzuto, Paolo Rossini, Marie-Anne Sallandre, Erin Wilkinson

Tipos de Representação em ASL 159 Paul G. Dudis Estudos de aquisição de línguas de sinais: passado, presente e futuro 191 Diane Lillo-Martin Modalidade e Aquisição da Língua: Estratégias e Restrições na Aprendizagem dos primeiros sinais 211 Richard P. Meier Aquisição de concordância verbal em HKSL: Opcional ou obrigatória? 225 Gladys TANG, Scholastica LAM, Felix SZE, Prudence LAU, Jafi LEE Aquisição bilíngüe da Língua de Sinais Alemã e do alemão escrito: Ausência de sincronia no desenvolvimento e contato com a língua 249 Carolina Plaza Pust, Knut Weinmeister Gesticulação e aquisição da ASL como segunda língua 275 Sarah Taub, Dennis Galvan, Pilar Piñar, Susan Mather Variação na língua de sinais americana: o papel da função gramatical 286 Ceil Lucas e Robert Bayley Variação Sociolingüística em Numerais da NZSL 314 David McKee, Rachel McKee, George Major Imagens da Identidade e Cultura Surdas na Poesia em Línguas de Sinais 329 Rachel Sutton-Spence O sinalizante nativo não-(existente): pesquisa em língua de sinais em uma pequena população surda 340 Brendan Costello, Javier Fernández e Alazne Landa Reflexões sobre a língua de sinais e a cultura surda em ambientes de comunicação mediada por computador (CMC): explorações e considerações iniciais 356 Maria Mertzani Glossário 370

Apresentação É com prazer que apresentamos à comunidade científica brasileira Questões Teóricas das Pesquisa em Línguas de Sinais resultado de uma seleção dos trabalhos divulgados no TISLR 9 (Theoretical Issues in Sign language Research 9) 9º Congresso Internacional de Aspectos teóricos das Pesquisas nas Línguas de Sinais sediado pela Universidade Federal de Santa Catarina UFSC, Florianópolis, SC, em dezembro de 2006. O TISLR, evento internacional de maior importância em estudos de línguas de sinais, reuniu pesquisadores de 33 países com várias línguas de sinais, trabalhando a partir de diferentes arcabouços teóricos e metodológicos. Essa 9º edição do evento se voltou, especificamente, para um mapeamento das pesquisas em Estudos das Línguas de Sinais desde a década de 60 até 2007; assim sendo, nada mais oportuno do que compartilhar, com pesquisadores e estudantes brasileiros, o olhar reflexivo desse novo campo disciplinar sobre si mesmo evidência de sua maturação enquanto área específica de estudos via tradução dos textos selecionados para a língua portuguesa na sua variante brasileira. O trabalho de produção deste volume foi resultado da cooperação entre duas áreas de especialização, quais sejam, Estudos Surdos e Estudos da Tradução, áreas essas aqui representadas pela Profª Drª Ronice Muller de Quadros e pela Profª Drª Maria Lúcia Vasconcellos, respectivamente. Oportuno mencionar que, estabelecendo de forma concreta a interface entre as duas áreas, a St. Jerome Publishing Ltd. (www.stjerome. co.uk), uma das mais importantes editoras especializadas em publicações em Estudos da Tradução, acaba de lançar o volume 1 de sua mais recente série, THE SIGN LANGUAGE TRANSLATOR AND INTERPRETER (ISSN 1750-3981): um dos artigos centrais do volume (Nadja Grbic, 2007, pp.15-51) apresenta uma análise bibliométrica da pesquisa publicada sobre interpretação de línguas de sinais, selando, de forma definitiva, a relação entre a pesquisa em línguas de sinais e os estudos de tradução e interpretação. Essa série re-afirma, sobretudo, a importância da tradução em seu papel de refletir e, até mesmo, criar valores sociais e culturais, o que, no caso específico do presente volume - Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais consolida a presença do ser surdo não apenas no contexto social, mas na comunidade científica brasileira. O projeto tem relevância acadêmica e social, uma vez que, ao trazer os textos na Língua Portuguesa para o contexto brasileiro com reflexões sobre as pesquisas nas diversas línguas de sinais - cenário internacional - estará

Apresentação oportunizando as análises comparativas entre as diferentes línguas de sinais, bem como contribuindo para a circulação do saber teórico nesta área específica, a partir de iniciativa da UFSC. Os textos traduzidos para este volume inauguram vários temas sobre as línguas de sinais no Brasil, possibilitando a socialização de discussões teóricas, bem como a disseminação de terminologias específicas em português dessa área de investigação. Ronice Müller de Quadros vem desenvolvendo pesquisas no campo dos Estudos Surdos desde 1995, dedicando-se especialmente aos estudos da aquisição da língua de sinais no sentido de elucidar questões relativas à estrutura da Língua Brasileira de Sinais. O interesse especializado pela Língua Brasileira de Sinais possibilitou o projeto de formação de professores surdos, professores bilíngües e tradutores e intérpretes de língua de sinais tanto no nível da graduação, como no nível da pós-graduação. Na graduação, a Prof a. Ronice coordena o primeiro Curso de Licenciatura em Letras Língua Brasileira de Sinais que objetiva formar professores de língua de sinais, oferecido pela Universidade Federal de Santa Catarina (UFSC). Este curso será reeditado com uma nova turma de Licenciatura e passará a ofertar o Bacharelado, sendo que este último objetiva formar os tradutores e intérpretes de Língua Brasileira de Sinais, contemplando mais oito estados brasileiros. No total, o curso estará formando 950 professores e 450 tradutores e intérpretes de língua de sinais até 2011. Além deste curso, a Prof a. Ronice coordena o Inter-Programa de formação de professores e pesquisadores com 14 alunos de mestrado e dois alunos de doutorado com pesquisas sobre a língua brasileira de sinais em diferentes programas, Programas de Pós-Graduação em Literatura, de Pós-Graduação em Lingüística e de Pós-Graduação em Estudos da Tradução, contando com vários pesquisadores integrantes destes programas. Maria Lúcia Vasconcellos vem desenvolvendo pesquisa em Estudos da Tradução desde início da década de 90, interessando-se, de forma especial pela linguagem da tradução, o que vem explorando por meio de pesquisa de cunho descritivo, pelo viés da Lingüística Sistêmico-Funcional hallidayana e por meio de atividades de formação de tradutores/as, nos cursos de Licenciatura e Bacharelado em Letras/Inglês, do Centro de Comunicação e Expressão CCE, da UFSC. A tradução deste volume resultou do trabalho de uma equipe de tradutores coordenada pela Profª Maria Lúcia, que contou com a participação de um docente da UEL Universidade Federal de Londrina (Dr. Lincoln P. Fernandes, também membro do colegiado do Programa de Pós-Graduação em Estudos da Tradução - PGET) e graduandos, mestrandos e doutorandos que trabalham sob a supervisão da Profª Maria Lúcia, no Programa de Estudos da Tradução/PPGET, no Programa de Pós-Graduação em Inglês/ PPGI e nos cursos de Graduação em Letras. O método de trabalho incluiu a formação da equipe de tradutores, a formação da equipe de revisores, a definição dos consultores para questões terminológicas (Ronice Quadros trabalhando como consultora natural do projeto), bem como a definição de procedimentos de tradução a serem adotados e a seleção do programa de apoio à tradução (PAT) a ser usado nos trabalhos. Valem algumas palavras sobre o Programa de Apoio à Tradução (PAT) selecionado para os trabalhos. O PAT utilizado, no nosso caso específico, foi o Wordfast Versão 5.5 (www. wordfast.net), um sistema de memória de tradução criado por Yves Champollion (para uma avaliação detalhada do Wordfast ver, Nogueira & Nogueira, 2004 www.cadernos.

Apresentação ufsc.br/online/volume14.html). Não é nosso objetivo detalhar o funcionamento desse programa; entretanto, salientamos o fato de que, com o uso do Wordfast, os ganhos de produtividade foram grandes, sobretudo pelo fato de o trabalho ter sido feito com um conjunto de artigos sobre o mesmo tema (pesquisa em línguas de sinais) e por ter sido desenvolvido por uma equipe de tradutores: o processo exigiu uma rigorosa uniformização terminológica, o que foi possibilitado por meio dos recursos de memórias de tradução e criação de glossários, disponibilizados pelo Wordfast. Cumpre ressaltar que o projeto de tradução de Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais contribuiu, de forma substancial, como laboratório para os tradutores-em-formação da UFSC. A participação em um projeto real de tradução em todas as suas etapas, desde o contato inicial entre as coordenadoras, passando por todas as etapas intermediárias, incluindo o processo negociação de significados e de revisão e, finalmente, de entrega do produto à Editora Arara Azul constituiu uma oportunidade didática única que veio por desenvolver, nos tradutores-em-formação, uma noção de profissionalismo que, de outra forma, não teriam adquirido. No que tange o conceito de tradução que informou os trabalhos, entende-se tradução como uma nova produção textual - certamente vinculada a uma produção textual anterior - em novo contexto, em uma nova língua. Nesse sentido, e em termos do arcabouço teórico hallidayano, entendemos a tradução como uma re-textualização, ou seja, embora em uma nova configuração vinculada ao novo contexto lingüístico e cultural de recepção, o texto traduzido sempre se relaciona, no mínimo, ao conteúdo ideacional (ver Halliday, 2001, Towards a theory of a good translation ) do texto de partida, anteriormente textualizado em outra língua. A noção de tradução como retextualização foi proposta por Coulthard (1986, 1992) e explorada por Costa (1992), que desenvolveu o seguinte argumento: por meio de tradução, um dado texto adquire sua expansão máxima, uma vez que transcende os limites lingüísticos dentro dos quais foi concebido (p. 138, tradução nossa), tornando-se o ponto de partida que possibilita ao tradutor produzir um novo texto no contexto tradutório da chegada: aqui sua mais importante decisão instala-se na dimensão do o que e para quem retextualizar. As implicações e conseqüências de tais decisões irão afetar a seleção de significados a serem realizados e a configuração textual da tradução. Decidir o que, para quem e, adicionamos, como, são as dimensões que vêem por informar a definição das características textuais de um texto a ser traduzido, em um dado contexto tradutório (Vasconcellos, 1997). Nesse sentido, os procedimentos adotados neste trabalho de tradução estão intimamente ligados às convenções que regem a produção de textos do tipo específico aqui trabalhado textos acadêmicos escritos no contexto de chegada. No contexto dos procedimentos de tradução, é importante destacar três preocupações que permearam os trabalhos: (i) a adoção de convenções genéricas do contexto de chegada; (ii) o uso de nominalizações; e, (iii) o uso de procedimento explicitação. No que diz respeito ao item (i), o gênero em questão é artigo acadêmico, que, no contexto brasileiro (ocidental?), segue a tradição hegemônica da escrita acadêmica veiculada em inglês, caracterizada por um uso de linguagem dita objetiva, tipicamente despida de

Apresentação colorido emocional (ver Bennett, 2007). Embora estejamos cientes da ideologia embutida nesse tipo de receita de discurso - que exclui a circulação de conhecimento veiculada de forma não canônica - optamos por seguir essa convenção. Entretanto, uma vez que a natureza da interface em que Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais foi produzido Estudos Surdos/Estudos da Tradução é inerentemente não-essencialista e busca o encontro do outro, tentamos relativizar esse poder do discurso hegemônico da escrita acadêmica, respeitando as diferenças culturais manifestadas no discurso dos artigos aqui agrupados. Como ilustração, citamos o artigo de Kinda Al-Fityani e Carol Padden, Uma Comparação Lexical de Línguas de Sinais no Mundo Árabe, cujo estilo metafórico, não usual em papers acadêmicos do mundo ocidental, foi considerado na produção do texto traduzido, numa tentativa de levar em conta sua heterogeneidade discursiva e marcar sua dimensão cultural. Quanto ao item (ii), uma questão central que permeou os trabalhos de tradução diz respeito ao fato de os textos em sua configuração no pólo de partida - inglês - terem sido escritos-para-serem-falados, já que foram produzidos para serem apresentados no formato palestras e/ou comunicações, no TISLR 9. Na produção dos textos traduzidos, o modo do discurso (ver modo do discurso, como uma das variáveis do conceito de registro, em Halliday, 1989) escrito-paraser-falado mudou, então, para escritopara-ser-lido, o que lhe conferiu algumas características não presentes em textos ditos orais (Koch, 1997, p. 62), como, por exemplo, maior elaboração, densidade informacional, complexidade oracional (sobretudo com o uso de orações complexas e subordinação), uso de voz passiva, densidade lexical e uso de nominalizações nas traduções. Com relação ao item (iii), o procedimento conhecido como explicitação é utilizado no sentido a ele atribuído por Blum- Kulka (1986, p. 21):... redundância semântica ausente no original, ou seja, explicações contextualizadoras que objetivam a leiturabilidade do texto, tendo em vista os leitores pretendidos. Inclui-se como explicitação o uso de vários recursos, desde recursos coesivos explícitos, até a adição de segmentos mais longos, ou glosas explicativas para conceitos ou para empréstimos. A adoção desse procedimento, que Blum-Kulka (ibid.) sugere ser um dos universais da tradução, resultou em um maior número de palavras nos textos traduzidos, como pode ser atestado pelos dados gerados pelo programa de apoio ao tradutor utilizado Word Fast. Como ilustração, citamos os dados referentes ao texto de Al-Fityani et al, nas Tabelas 1 e 2 abaixo: C:\Documents and Settings\lautenai\Al-Fityani_Padden_EN.doc Scanned: document, footnotes, headers/footers, textboxes. Analogy segments words char. % Repetitions 10 15 90 0% 100% 0 0 0 0% 95%-99% 0 0 0 0% 85%-94% 0 0 0 0% 75%-84% 0 0 0 0% _0%-74% 313 4601 28774 100% Total 323 4616 28864 (character count includes spaces) Tabela 1: Dados gerados a partir do texto-fonte Como é possível observar nos segmentos salientados em negrito nas tabelas 1 e 2, o número de palavras do texto-fonte corresponde a 4616, enquanto o número de palavras do texto-alvo corresponde a 5038 ocorrências, variação quantitativa essa que se constitui como um dos parâmetros para aferir a uti-

Apresentação lização do procedimento de explicitação na tradução. C:\Documents and Settings\lautenai\Al-Fityani_Padden_PT.doc Scanned: document, footnotes, headers/footers, textboxes. Analogy segments words char. % Repetitions 102 329 2053 7% 100% 0 0 0 0% 95%-99% 0 0 0 0% 85%-94% 0 0 0 0% 75%-84% 0 0 0 0% _0%-74% 226 4709 29083 93% Total 328 5038 31136 (character count includes spaces) Tabela 2: Dados gerados a partir do texto-alvo Ressalta-se o trabalho dos revisores dessa edição. O trabalho de revisão foi informado pelos parâmetros de revisão sugeridos por Mossop 2001 (Editing and Revising for Translators, St. Jerome, United Kingdom). Mossop (ibid. pp. 100-112) sugere seus parâmetros a partir de pesquisa empírica sobre o que ele chama de tipos de erros mais comuns em tradução. Embora o autor utilize o termo transferência do qual discordamos, por não ser compatível com a noção de tradução aqui adotada, como produção textual e não como transferência de significados para descrever as ocorrências de erros, ele consegue sistematizar os problemas tipicamente encontrados e sugerir soluções para sua revisão. Os problemas elencados são de quatro tipos, sendo divididos em dois grandes grupos de trabalho de revisão, a saber: Grupo A que envolve leitura comparativa ou cotejamento do texto-fonte com o texto-alvo: (i) problemas de transferência de significado (precisão; totalidade); (ii) problemas de conteúdo (lógica e fatos); Grupo B que envolve leitura unilingual, ou seja, já apenas do textoalvo enquanto entidade com status próprio; (iii) problemas de língua e estilo (fluência, adequação ao público-alvo, uso de registro apropriado ou sub-língua, uso apropriado de expressões idiomáticas, uso apropriado da mecânica da escrita, envolvendo pontuação, espaçamento, tipicidades editoriais); e, finalmente, (iv) problemas de apresentação da tradução (layout, tipografia, organização). Nos trabalhos de revisão de Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais, a revisão do tipo Grupo A cotejamento com o texto-fonte foi feita pelos coordenadores de cada uma das quatro equipes de tradução, pela equipe de revisão e pela coordenadora geral; a revisão do tipo Grupo B leitura apenas do texto alvo foi feita por esses coordenadores, pela equipe de revisão e pela coordenadora geral da tradução e, em última instância, legitimada pela coordenadora do Projeto Libras, Ronice Müller de Quadros, sobretudo quanto à questão da terminologia a ser adotada. Buscou-se, assim, garantir uma tradução que atendesse aos anseios de seu público-alvo, a saber, pesquisadores, estudantes e todos interessados em uma visão teórica dos estudos de língua de sinais. As organizadoras do volume estão cientes de sua responsabilidade no que tange à seleção dos textos aqui organizados e o trabalho de sua tradução, bem como da relevância do presente volume em termos da disseminação de terminologia a ser utilizada pela comunidade científica da área, em língua portuguesa. No mínimo dois motivos atestam a relevância de Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais: (i) as traduções aqui apresentadas foram utilizadas como textofonte para a tradução indireta para Libras; e (ii) os termos aqui que escolhemos produzir irão, certamente, influenciar a produção e consumo de conhecimento na área, no contexto brasileiro. Krieger & Finatto (2004)

Apresentação apontam, com propriedade, a importância do processo denominativo para as atividades de conceitualização de uma área, explicando o papel das terminologias na fixação e na circulação do saber científico: O léxico temático configura-se, portanto, como um componente lingüístico, não apenas inerente, mas também a serviço de comunicações especializadas, posto que os termos transmitem conteúdos próprios de cada área. Por isso, os termos realizam duas funções essenciais: a de representação e a de transmissão do conhecimento especializado. (2004, p. 17) É nesse contexto que Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais busca oferecer uma contribuição, por meio da construção e apresentação de um glossário aqui definido como... repertório de unidades lexicais de uma especialidade (Krieger & Finatto, 2004, p. 51), que reflete um panorama da produção e do pensamento nacional e internacional da pesquisa em línguas de sinais, conforme manifestada nos textos selecionados para compor Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais base de dados para o corpus textual - centrando-se no léxico especializado e freaseologias típicas da área. O pesquisador responsável pela elaboração do glossário apoiou-se em ferramentas eletrônicas: Word- Fast, o programa de memória de tradução utilizado e a suíte de programas WordSmith Tools, um software de análise lexical para PCs, criado por Mike Scott e publicado pela Oxford University Press desde 1996, agora em sua versão beta 5.0 (esclarecemos que a versão utilizada foi a 4.0). O glossário, organizado em ordem alfabética, buscou representar os termos-chave e conceitos que se fizeram presentes nos artigos aqui publicados, com vistas a facilitar a comunicação na área, em termos de oferta de uma linguagem a ser compartilhada por pesquisadores e estudantes interessados em pesquisa em línguas de sinais, no contexto de falantes da língua portuguesa. Apresentamos, a seguir e a título de ilustração, algumas soluções encontradas na tradução de termos centrais (para mais detalhamentos, favor consultar o glossário oferecido no final deste volume). Esclarecemos que as decisões quanto aos procedimentos adotados foram inspiradas pelo conjunto de possíveis estratégias tipicamente utilizadas por tradutores profissionais elencadas por Baker (1992, p. 34). Em alguns casos, a decisão das organizadoras do volume, em negociações com a equipe de tradução, foi fazer uso de empréstimos introduzindo, em português, o termo em sua configuração morfológica na língua de partida, o inglês, muitas vezes com o acompanhamento de uma glosa, como foi o caso, por exemplo, de línguas pro-drop (línguas de sujeito nulo) (Quadros & Quer) (ver métodos de tradução em Vinay & Darbelnet 1958/1995, pp.30-40). Em outros casos, uma tradução literal, como em body-anchored verbs, em cuja tradução foram feitos, apenas, ajustes devidos aos diferentes sistemas lingüísticos, nesse caso, mudança na ordem das palavras: verbos ancorados ao corpo (Meir). Outra solução comumente adotada foi a recriação, em português, de um termo em inglês, de tal forma a explicar o sentido implícito na expressão da língua fonte, como em bilingual bootstrapping (que sugere sucesso e facilidade, por um indivíduo, no processo de aquisição bilíngüe, com pouca ou nenhuma ajuda externa), retextualizado como desencadeamento bilíngüe (Pust e Weinmeister). Finalmente, cumpre observar que os termos do glossário são apresentados com ilustração, a cada entrada, de sua ocorrência

Apresentação 10 nos textos, tanto texto-fonte como texto-alvo, para facilitar seu entendimento em seu habitat natural. Resta, finalmente, apresentar os trabalhos que compõem Questões Teóricas das Pesquisas em Línguas de Sinais. Os artigos selecionados representam diferentes áreas da lingüística, bem como suas possíveis interfaces. Os temas abordados anunciam novas perspectivas nos estudos das línguas de sinais de questões que são vistas e revistas, além de temas completamente originais. Os artigos dos palestrantes convidados, Ted Supalla, Ulrike Zeshan, Paul Dudis, Diane Lillo-Martin e Richard Meier estabeleceram uma divisão natural entre as temáticas abordadas. Iniciamos com uma visão histórica dos estudos das línguas de sinais, partimos para as análises no campo da fonologia, morfologia, sintaxe e semântica; vamos para o bloco das interfaces da lingüística com outros campos de investigação, com um foco nos estudos de aquisição da língua de sinais, além de outras interfaces. Estes textos representam algumas possibilidades das temáticas a serem investigadas na Língua Brasileira de Sinais. Portanto, apresentam, de certa forma, impacto no desenvolvimento das pesquisas no Brasil. O texto de abertura do volume, escrito por Ted Supalla Arqueologia da Língua de Sinais: Integrando Lingüística Histórica com Pesquisa de Campo em Línguas de Sinais Jovens explora a interface entre a lingüística histórica e a pesquisa de campo para mostrar a possibilidade de uma nova abordagem para a arqueologia da língua de sinais, por meio de um conjunto alternativo de ferramentas e de uma explicação alternativa para as formas atuais. Supalla argumenta que uma arqueologia deve reconhecer a existência de formas pré-determinadas comuns ao longo da história das línguas de sinais que podem surgir não devido aos processos lingüísticos de mudança, mas talvez devido à natureza das próprias línguas de sinais. O autor explora essas formas que, como apontado por ele, incluem apontadores espaciais, direção de movimento do verbo como um marcador de concordância e o uso de configurações de mão classificadoras. Como resultado de pesquisa interlingüística envolvendo 15 línguas de sinais que surgiram naturalmente em diferentes partes do mundo, Supalla consegue mostrar que todas as línguas utilizam localização e movimento através do espaço de maneira similar, para marcar concordância gramatical com o sujeito e o objeto e, com base nesses resultados, sugere que, devido a essas semelhanças entre línguas de sinais não relacionadas, falantes de línguas de sinais mutuamente ininteligíveis são capazes de desenvolver um pidgin sinalizado (denominado sinal internacional) que conserva tais estruturas morfológicas. Finalmente, observa que, na pesquisa histórica e comparativa, é possível observar tanto processos de divergência, quanto de convergência entre línguas de sinais internacionais e tanto os processos comuns a todas as línguas como processos específicos às línguas de sinais. A seguir, em Raízes, folhas e ramos A tipologia de línguas de sinais, Ulrich Zeshan salienta o aumento de disponibilidade de dados de várias línguas de sinais ao redor do mundo como fator que possibilitou, pela primeira vez na história da pesquisa em língua de sinais, a ampliação do banco interlingüístico de dados para realizar estudos tipológicos significativos entre línguas de sinais. Sua contribuição para a discussão se dá em termos de oferta de um estudo que resume e exemplifica os importantes resultados que emergiram da pesquisa comparativa e sistemática de línguas de sinais ao longo dos últi-

Apresentação mos anos. Zeshan faz um passeio descritivo e analítico, em oposição a um mero relatório sistemático e exaustivo de todo o campo de estudo, examinando a nova sub-disciplina de tipologia de língua de sinais sob uma variedade de perspectivas. Observa, entre outras fontes, aquelas cuja confluência cria o campo de tipologia de língua de sinais (as raízes, nos termos da metáfora do título), as diferentes maneiras de se fazer tipologia de língua de sinais e as metodologias associadas (os ramos ) e alguns dados fascinantes e seu significado tipológico e teórico (as folhas ). O autor organiza seu texto em quatro partes, que propõem: (i) apresentar a tipologia de língua de sinais, concentrando a atenção nos objetivos e metodologias da área; (ii) ilustrar os tipos de resultados que emergem dos estudos interlingüísticos em línguas de sinais; (iii) examinar exemplos dos resultados de estudos comparativos amplos, assim como dados de línguas de sinais utilizadas em comunidades com surdez hereditária; e, finalmente, (iv) mostrar, no contexto de uma questão teoricamente importante a respeito da natureza da linguagem humana na modalidade visual-gestual, como a ampliação do banco de dados na tipologia de língua de sinais pode conduzir a pontos teoricamente desafiadores. Como consideração final, Zeshan chama a atenção do leitor para o impacto, para além da lingüística, que a pesquisa em tipologia de língua de sinais tem em comunidades surdas, em todo o mundo. O texto de Diane Brentari e Ronnie Wilbur faz um estudo interlingüístico de segmentação da palavra em três línguas de sinais, no qual os autores analisam as estratégias de segmentação da palavra utilizada em 3 grupos de sinalizantes surdos (ASL, HZJ e ÖGS) e 3 grupos de ouvintes não-sinalizantes (falantes de Inglês, Croata e Austríaco). As Hipóteses que informam o estudo são: Hipótese 1 - os sinalizantes demonstrarão maior sensibilidade com informações simultâneas e restrições fonológicas específicas da língua de sinais (LS) tais como a distribuição de configurações de mão (CMs), pontos de articulação (PAs) e movimentos (Ms) do que os nãosinalizantes; e Hipótese 2 a natureza visual do sinal fará com que tanto falantes, como sinalizantes utilizem a informação em nível da palavra para seus julgamentos na LS, apesar do fato de o trabalho em uma língua falada mostrar que falantes estão pré-dispostos a usar seqüências de sílabas (por exemplo, o pé) para fazer julgamentos de segmentação da palavra nas línguas faladas. A Hipótese 1 foi parcialmente confirmada: sinalizantes são mais sensíveis às informações simultâneas no sinal do que não-sinalizantes. A Hipótese 2 também foi confirmada: não-sinalizantes adaptaram-se às estratégias de LSs ao fazerem julgamentos de segmentação da palavra na modalidade visual. Ronice Müller de Quadros e Josep Quer revisam em seu artigo Revertendo os verbos reversos e seguindo em frente: sobre concordância, auxiliares e classes verbais em línguas de sinais as idéias principais das diferentes abordagens sobre a concordância verbal em LS e aperfeiçoam algumas delas, contribuindo para uma caracterização mais precisa da concordância, da tipologia verbal e dos chamados predicados auxiliares nas LSs. Ao revisitar a classificação tripartite padrão dos verbos da língua de sinais, que é baseada na suposição da diferença entre a concordância exibida por verbos espaciais e aquela exibida por verbos de concordância, os autores questionam essa diferença, mostrando que os predicados espaciais que expressam movimento e os verbos de concordância recorrem ao mesmo tipo de elemento morfológico 11

Apresentação 12 para realizar o suposto tipo diferente de concordância: TRAJETÓRIA (PATH). Conforme afirmam, a contribuição semântica desse morfema nas duas classes seria essencialmente a mesma: em verbos espaciais, as posições (slots) iniciais e finais de TRAJETÓRIA estão alinhadas com as localizações e, em verbos de concordância, estão alinhados com os loci de sujeito e objeto. Visto que os verbos de concordância parecem denotar transferência de um tema ou um sentido literal ou abstrato, estabelece-se, então, a generalização semântica que os espaços do morfema direcional de TRAJETÓRIA podem ser ocupados por papéis temáticos fonte e alvo em ambas as classes de predicados. Para verbos espaciais, isso é relativamente direto; para verbos de concordância, fonte e alvo são restritos a [+humano], podendo, assim, ser renomeados como agente e benefactivo, respectivamente. Quadros e Quer mostram que, por mais atraente que esse quadro possa ser, ele também se depara com alguns sérios desafios, dentre os quais, provavelmente, o mais explorado é o problema da subclasse dos verbos de concordância chamados reversos (backwards): em tais predicados, o alinhamento da trajetória não é com o sujeito e o objeto, mas com a fonte e o alvo, o que resulta em uma trajetória que vai do locus do objeto ao locus do sujeito. Para examinar essa questão e apresentar e sustentar seus argumentos, os autores discutem evidências recentes a partir da Língua de Sinais Brasileira (LSB) e da Língua de Sinais Catalã (LSC). Os resultados de seus estudos demonstram que: (i) o quadro que emerge sobre concordância e classes verbais em LSs é substancialmente modificado, com relação às suposições atuais, sendo possível afirmar que (a) os verbos não simples ( espaciais + de concordância ) podem, em geral, concordar com argumentos locativos (concordância espacial), com argumentos pessoais (concordância de pessoa), ou ambos; (b) os predicados auxiliares podem concordar, apenas, com argumentos pessoais/animados (concordância de pessoa); (c) os verbos reversos são verbos lexicais manuais, cujas trajetórias são determinadas pela concordância espacial e não pela concordância de pessoa gramatical; (ii) a concordância com traços locativos e de pessoa gramatical é, com freqüência, indistinguível na superfície, embora a estrutura do argumento de cada predicado imponha condições de licenciamento, em que o argumento-sujeito de um predicado manual deve ser licenciado pelo traço de pessoa; e, finalmente, (iii) existe, ainda, ambigüidade do locus como localização ou R-locus (por exemplo, TELL [dizer] com concordância de pessoa gramatical vs. TELL com concordância locativa no argumento-alvo), havendo necessidade de mais pesquisas para se determinar até que ponto um locus atribuído a um referente animado pode ser ambíguo, entre um locus de pessoa gramatical ou um locus espacial. Em Repensando classes verbais em línguas de sinais: o corpo como sujeito, Irit Meir, Carol Padden, Mark Aronoff e Wendy Sandler lançam um novo olhar sobre a análise tradicional das classes verbais em línguas de sinais. Para tanto, re-examinam o papel do corpo e das mãos nos diversos tipos de verbos em ASL e ISL, voltam à classificação dos verbos nessas línguas e oferecem uma maneira alternativa de caracterizar estas classes: enquanto a análise tradicional se concentra no papel das mãos na codificação das propriedades gramaticais relevantes (as mãos são o articulador ativo na língua de sinais e elas concentram a maior parte da carga informacional contida no sinal), esses pesquisadores propõem uma nova classificação dos verbos