TR007 ANÁLISE DOS EIXOS ESPACIAIS DE HOMICÍDIO NO BRASIL INTRODUÇÃO O presente trabalho trata dos eixos espaciais de violência existentes no Brasil, utilizando-se dos parâmetros da Organização Mundial da Saúde (OMS) para explicitar a violência de natureza física. Os dados de homicídios utilizados nesta pesquisa foram extraídos do Sistema de Informações de Mortalidade (SIM) do Ministério da Saúde que, desde 1975, trabalha na obtenção regular de dados de mortalidade no território nacional, dando grande subsídio às diversas esferas de gestão da saúde pública. Uma das principais referências para esta discussão é o trabalho que vem sendo desenvolvido pelo Instituto Sangari, desde 1998 (WAISELFISZ, 2008). Conforme o mapeamento realizado das taxas de homicídio pelos municípios brasileiros, ressalta-se que embora os índices de homicídio estejam espalhados de Norte a Sul do Brasil, ele ainda se encontra mais concentrado em alguns estados brasileiros. Dos vinte e sete (27) Estados que compõe a unidade federativa de nosso país, os trinta municípios avaliados como mais violentos encontram-se em apenas doze (12) Estados. Para categorizar a violência, na presente pesquisa foi feita uma seleção dos 30 municípios com maiores taxas médias de homicídio do país. Além de uma análise de uma década (1997-2007) dos índices de homicídio ocorrentes em todo território nacional. DISCUSSÃO DOS RESULTADOS O primeiro aspecto discutido na pesquisa foi relacionado às conseqüências da violência para o aparato público responsável pela preservação da vida e pela qualidade das condições de saúde da população. O incremento das taxas de homicídio tem gerado demandas do sistema de saúde que incluem os níveis de atendimento preventivo, pré-hospitalar e de urgência/emergência, até a internação, inclusive o tratamento daqueles que sofreram seqüelas decorrentes da violência. Todo este aparato acarreta um grande custo para a sociedade, apesar da
dificuldade de avaliar os custos que envolvem a sobrevivência das vitimas de violência. Dados do IPEA mostram que, O custo total do atendimento às vítimas de causas externas pelo sistema público de saúde em 2004 teria sido de 2,2 bilhões, o das agressões de 119 milhões e dos acidentes de trânsito de 453 milhões de reais. (IPEA, 2007, p.21) Ao mesmo tempo em que agrava a situação do sistema de saúde, a violência também foi relacionada na pesquisa com os graves problemas não só para a vítima, como para boa parcela da sociedade. Por ocorrer no ambiente social, entre conhecidos e desconhecidos, os atos violentos trazem o medo e a insegurança, o que origina novas problemáticas ainda mais graves. Para se obter uma boa análise do tema em questão, a pesquisa considerou importante a análise da distribuição espacial da violência, utilizando para isso os dados de homicídios. Considera-se, então, que os homicídios devem ser enquadrados na discussão do maior grau de violência contra outro ser humano. Portanto, os dados utilizados neste trabalho não retratam toda a violência, mas sim o grau máximo que atingiu a violência, apontando assim, uma das maiores fragilidades do poder público, a de proteger a vida. De acordo com o Instituto Sangari, há dez anos, os pólos de violência estavam concentrados nas regiões metropolitanas e capitais. Observa-se que, nos últimos anos, a participação destas áreas vem diminuindo expressivamente, acompanhado de um aumento significativo das taxas de homicídio em localidades do interior do país. Ainda segundo o estudo do Instituto Sangari, este fenômeno da interiorização da violência segue dois períodos seqüenciais, de 1997 até 2003 e de 2003 a 2007. A tabela a seguir apresenta estes dois períodos. Tabela1. Comparação das taxas de homicídios entre Capitais, RM e Interior, entre 1997 e 2007. 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 % Brasil 5,4 25,9 26,2 26,7 27,8 28,5 28,9 27,0 25,8 26,3 25,2-0,7 Capitais 45,7 45,3 44,6 45,8 46,5 45,5 46,1 42,4 38,5 38,7 36,6-19,8 RM 48,8 49,1 49,5 48,9 49,3 48,9 49,1 44,9 40,7 39,9 36,6-25,0 Interior 13,5 14,0 14,3 15,1 16,3 17,6 17,9 17,2 17,4 18,2 18,5 37,1 Fonte: Dados referentes do Mapa da Violência 2010, do Instituto Sangari. Num primeiro momento, entre 1997 até 2003, os homicídios nas Capitais crescem 0,4 e nas regiões metropolitanas 0,3, enquanto no Interior este crescimento é
bem mais significativo: 4,4. No segundo período, de 2003 a 2007, já observamos quedas nas Capitais e Regiões Metropolitanas, enquanto no interior a violência estagna, com pequena oscilação para crescimento. Outra temática abordada pela equipe que desenvolve o mapa da violência no país é que a interiorização também pode se distinguir em eixos, que formam espécies de pólos de violência pelo Brasil. Para efeitos da presente pesquisa, destacamos quatro eixos. Primeiramente, destaca-se o eixo denominado de Municípios de Fronteira. Localizados nas fronteiras internacionais, estes municípios parecem institucionalizar fluxos de elevada violência potencial, relacionados com as organizações de contrabando de produtos ou armas, pirataria e tráfico de drogas. Um outro eixo é o dos Municípios de Turismo Predatório. Localizados na orla marítima, constitui-se num pólo de atração de população flutuante de finais de semana. Por sua vez, no chamado Polígono da maconha, podemos identificar outro eixo: o dos Municípios de Violência Tradicionais, como as cidades mais violentas do interior de Pernambuco. Observamos neste eixo um padrão de violência que tem persistido ao longo do tempo, marcado por relações de compadrio e do poder do coronel. Neste caso, encontramos um grave problema de insegurança. Segundo dados do IPEA, utilizando o Sips (Sistema de Indicadores de Percepção Social), na Região Nordeste está à população com maior insegurança. Cerca de 85,8% dos entrevistados nordestinos disseram ter muito medo de serem assassinados, percentual mais elevado registrado no país. E, por último, o quarto eixo da interiorização da violência tem sido delimitado pelo conjunto de municípios que formam o chamado Arco do Desmatamento da Amazônia Legal. Dentre estes quatro eixos, este último concentra 12 municípios dentre os 30 mais violentos do país. A seguir os trinta municípios com maiores taxas médias de homicídios, que segue a seguinte ordem: Coronel Sapucaia (MS), Colniza (MT), Itanhangá (MT), Serra (ES), Foz do Iguaçu (PR), Tailândia (PA), Guaíra (PR), Juruena (MT), Recife (PE), Tunas do Paraná (PR), Macabá (PA), Itupiranga (PA), Vitória (ES), Chupinguaia (RO), Macaé (RJ), Porto Seguro (BA), Viana (ES), Novo Repartimento (PA), Nova Ubiratã (MT), Cariacica (ES), Duque de Caxias (RJ), Maceió (AL), Buritis (RO), Rio Bonito do
Iguaçu (PR), Jaboatão dos Guararapes (PE), Alto Alegre (RR), Cabo de S. Agostinho (PE), Cumaru do Norte (PA), Betim (MG), Cabo Frio (RJ). Como podemos observar, muitas unidades federativas se repetem, enquanto outros não aparecem nessa primeira listagem. Isto se apresenta como um reflexo da concentração desta problemática. Em nossa pesquisa, pudemos verificar esta associação estabelecendo correlações entre diferentes bases de dados, além do DATASUS e do IPEA. Este foi o caso do cruzamento de informações das bases de dados do Ministério da Ciência e Tecnologia (INPE), como as áreas de desmatamento. CONSIDERAÇÕES FINAIS Podemos considerar que tal discussão é de suma importância para a Geografia, que se preocupa não só com a interpretação sócio-espacial da realidade, mas também com o indivíduo que sofre com a realidade vivenciada em seu cotidiano. Podemos também considerar sua relevância para o poder público, pois a violência além de acarretar uma série de gastos públicos, no sistema de saúde e de segurança, também necessita de atuações efetivas de políticas públicas específicas para o combate à violência, em todo território nacional. A violência por diferentes motivos, em diferentes localidades resulta em medo e insegurança generalizada em escala nacional. Este medo e insegurança são o espelho dos dados de altos índices dos homicídios indicados pelo Sistema de Informação de Mortalidade do Ministério da Saúde. Um dos resultados mais recentes de pesquisa desenvolvidas pelo IPEA, que tem avaliado de perto a questão da segurança pública, aponta que 85,8% da população, no Nordeste (como foi dito anteriormente) e 69,9% da população na região Sul, tem muito medo de assassinato, o que significa que quase 70% da população em todo território se sente desprotegida. Em dados de 2005/2006, sistematizados pela WHOSIS¹ com pesquisa realizada em 91 países, o Brasil se encontrava em sexto (6 ) lugar entre os países com maiores taxas de homicídio da população total, ficando atrás somente de El Salvador, Colômbia. Guatemala, I. Virgens e Venezuela. ¹WHOSIS, World Health Organization Statistical Information System. World Mortality Database.
Por tanto, este trabalho vem discutir um problema entre os mais graves da realidade nacional, e que necessita de políticas imediatas em diversas instâncias. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS CONSELHO NACIONAL DE SECRETÁRIOS DE SAÚDE (CONASS). O desafio do enfrentamento da violência: situação atual, estratégias e propostas. Brasília, 2008. INSTITUTO BRASILEIRO DE GEOGRAFIA E ESTATÍSTICA (IBGE). Mortes violentas: um panorama dos homicídios no Brasil. Rio de Janeiro, 1999. SOARES, Adauto Martins et al. Análise da mortalidade por homicídios no Brasil. Epidemiologia e Serviços de Saúde 2007; 16(1):7-18. WAISELFISZ, J. J. Mapa da violência dos municípios brasileiros 2008. Brasília: RITLA, Instituto Sangari, Ministério da Justiça, Ministério da Saúde, 2008. WAISELFISZ, J. J. Mapa da violência 2010 Anatomia dos homicídios. Brasília: Instituto Sangari, 2010. WIEVIORKA, M. O novo paradigma da violência. Tempo Social: Revista de Sociologia da USP, v. 9, n. 1, 1997.