TRIBUNAL DE JUSTIÇA 2ª CÂMARA CRIMINAL Agravante: MINISTÉRIO PÚBLICO Agravado: FLÁVIO RODRIGUES SILVA Relator: DES. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO EMENTA: AGRAVO EM EXECUÇÃO PENAL IRRESIGNAÇÃO DO PARQUET COM DECISUM DO JUÍZO DAS EXECUÇÕES QUE INDEFERIU A PERDA DOS DIAS REMIDOS, APÓS A PRÁTICA DE FALTA GRAVE NO CURSO DO PERÍODO DE PROVA DO LIVRAMENTO CONDICIONAL AGRAVADO QUE COMETE CRIME DE ROUBO - LEI Nº 12.433/2011 QUE DÁ NOVA REDAÇÃO AO ARTIGO 127 DA LEI Nº 7.210/84 INEXISTÊNCIA DE LAPSO TEMPORAL LIMITATIVO QUANTO À PERDA DO TEMPO REMIDO - NORMA LEGAL QUE AUTORIZA A PERDA DE ATÉ 1/3 (UM TERÇO) SOBRE A INTEGRALIDADE DA REMIÇÃO, A CRITÉRIO DO JUIZ DAS EXECUÇÕES PRECEDENTES JURISPRUDENCIAIS RECURSO A QUE SE DÁ PROVIMENTO, PARA CASSAR A DECISÃO QUE INDEFERIU A PERDA DOS DIAS REMIDOS, DETERMINANDO-SE A PROLAÇÃO DE OUTRA OBSERVANDO-SE A FRAÇÃO ESTABELECIDA NO ARTIGO 127 DA LEP, EM SUA NOVA REDAÇÃO.
ACÓRDÃO Vistos, discutidos e relatados estes autos do Agravo em Execução Penal nº 0036552-08.2013.8.19.0000 que figura como Agravante o MINISTÉRIO PÚBLICO e Agravado FLÁVIO RODRIGUES SILVA, ACORDAM os Desembargadores que compõem a 2ª Câmara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Rio de Janeiro, por unanimidade, em DAR PROVIMENTO ao recurso interposto, na forma do voto do Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2013. DES. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO Relator
RELATÓRIO Agravo em Execução Penal interposto pelo MINISTÉRIO PÚBLICO, inconformado com a decisão prolatada pela MM. Juíza de Direito da Vara de Execuções Penais que indeferiu a perda dos dias remidos, em razão do cometimento de falta grave. Em suas razões de fls. 04/06, sustenta o Agravante no curso do período de prova do livramento condicional voltou a delinquir, razão pela qual foi revogado o benefício, entretanto, a Douta Juíza da Vara de Execuções Penais, indeferiu o pleito de perda dos dias remidos, por entender que não houve prática de falta grave. Assim, requer a cassação da r. decisão agravada, determinando-se a perda de 1/3 (um terço) em razão da prática de falta de natureza grave, nos termos do artigo 127 da Lei de Execução Penal. Juntou os documentos de fls. 07/27. Em contrarrazões de fls. 31/35 pelo desprovimento do agravo interposto, com a manutenção do decisum vergastado. Em sede de juízo de retratação, fl. 36 a decisão foi mantida. Parecer da douta Procuradoria de Justiça às fls. 44/48, opinando pelo conhecimento e provimento do agravo interposto pelo Ministério Público. É o relatório. VOTO Irresigna-se o Ministério Público com o decisum do Juízo das Execuções que indeferiu o pleito da perda dos dias remidos, em razão do cometimento de falta grave.
Do que se dessume dos autos, foi o Agravado beneficiado com a liberdade por livramento condicional, no dia 09/12/2010, entretanto, cometeu o crime de roubo na modalidade tentada, conforme se verifica em sua folha de antecedentes criminais acostada à fls. 18/27, ocasionando sua prisão com a consequente revogação do benefício concedido anteriormente. Portanto, resta cristalino que o cometimento de nova infração penal no curso do período de prova do livramento condicional sujeita ao ora Agravado às sanções judiciais contidas na Lei de Execução Penal. Nessa esteira, o artigo 127 da Lei nº 7.210/84, com a nova redação dada pela Lei nº 12.433 de 29.06.2011, assim dispõe, in verbis: Art. 127. Em caso de falta grave, o juiz poderá revogar até 1/3 (um terço) do tempo remido, observado o disposto no artigo 57, recomeçando a contagem a partir da data da infração disciplinar. Pelo que se depreende da leitura do dispositivo supra, vê-se que inexiste qualquer limitação temporal quanto à perda do tempo remido, somente tendo sido estabelecido pelo legislador ordinário um quantum a ser revogado, que poderá ser de até a fração de 1/3 (um terço) da integralidade objeto de remição. É de mencionar que a anterior redação do artigo 127 da LEP não dispunha de forma expressa sobre o quantum de perda do tempo remido, no caso da prática de falta grave, o que, para alguns, quando a revogação ocorria sobre a sua integralidade, entendiam malferido o princípio da proporcionalidade, em que pese a jurisprudência maciça não acolher tal posicionamento.
Entretanto, com a novel redação do artigo 127 da LEP, restou superada a divergência supra mencionada, pelo que me afigura estreme de dúvidas a inexistência de lapso temporal limitativo a perda dos dias remidos, devendo-se observar tão somente o quantum a ser revogado do tempo remido, que poderá ser de até a fração de 1/3 (um terço), ao prudente critério do juiz. Sobre o thema, colaciono os julgados infra: EXECUÇÃO PENAL. FALTA DISCIPLINAR DE NATUREZA GRAVE. EFEITOS. REGRESSÃO DE REGIME PRISIONAL. INTERRUPÇÃO DO LAPSO TEMPORAL PARA CONCESSÃO DE POSTERIORES BENEFÍCIOS. LEGALIDADE NAS HIPÓTESE DE FUTURA PROGRESSÃO DE REGIME. PRECEDENTES DA TERCEIRA SEÇÃO. IMPOSSIBILIDADE DE ALTERAÇÃO DA DATA-BASE PARA FINS DE CONCESSÃO DE INDULTO OU LIVRAMENTO CONDICIONAL. AUSÊNCIA DE PREVISÃO LEGAL. REVOGAÇÃO DOS DIAS REMIDOS. LIMITAÇÃO LEGAL. 1/3. ART. 127 DA LEP. NOVA REDAÇÃO CONFERIDA PELA LEI 12.433/2001. 1. Consoante o entendimento uniformizador sufragado pela Eg. Terceira Seção desta Corte Superior, que se coaduna com a orientação sedimentada do Pretório Excelso, o cometimento de falta grave pelo apenado, à luz do que dispõe a Lei n.º 7.210/84 em seus arts. 112 e 118, inciso I, tem como efeitos possíveis, além da eventual regressão para regime mais gravoso de cumprimento de pena, o reinicio da contagem do lapso temporal para a concessão de futura progressão de regime. 2. O cometimento de falta grave pelo apenado, todavia, não interrompe o prazo estipulado, como critério objetivo, para apreciação dos pedidos de livramento condicional, indulto ou de
comutação da pena, pois tal procedimento constrangeria o sentenciado ao cumprimento de requisito temporal não previsto em lei. 3. A partir da edição da Lei n.º 12.433/2011, que modificou a redação dada ao art. 127 da Lei de Execução Penal, a perda dos dias remidos, que antes poderia ocorrer em sua totalidade, ficou limitada ao patamar de 1/3 (um terço). 4. Ordem parcialmente concedida para afastar dos efeitos reconhecidos pelo Juízo da Execução, em razão do cometimento de falta grave pelo paciente, apenas a interrupção da contagem do prazo para eventual concessão de livramento condicional ou indulto (seja ele integral ou parcial), concedendo, ainda, ex officio, ordem de habeas corpus para limitar a revogação por falta disciplinar a 1/3 dos dias remidos pelo apenado, nos termos da nova redação do art. 127 da LEP, dada pela Lei 12.433/2011. (HC 182.885/RS, Rel. Ministro VASCO DELLA GIUSTINA (DESEMBARGADOR CONVOCADO DO TJ/RS), SEXTA TURMA, julgado em 24/04/2012, DJe 07/05/2012 - STJ) (grifos nossos) EMENTA: AGRAVO DE EXECUÇÃO PENAL. LIMITAÇÃO DA PERDA DOS DIAS REMIDOS (ARTIGO 127, DA LEI 7.210/84) - A LEI 12.433/2011 NÃO ESTABELECEU QUE A PERDA DO TEMPO REMIDO (NO MÁXIMO, UM TERÇO) FICA LIMITADA AO PERÍODO DE DOZE MESES, COMPUTADOS DO COMETI-MENTO DA ÚLTIMA FALTA GRAVE, COMO ESTABELICIDO NA DECISÃO HOSTILIZADA. INCIDÊNCIA DA SÚMULA VINCULANTE Nº 9, EM NADA MODIFICADA PELO DIPLOMA EM QUESTÃO (HABEAS CORPUS 139719/SP, DO STJ). PROVIMENTO DO RECURSO MINIS- TERIAL, AFASTANDO-SE O LIMITE DE TEMPO ESTABELECIDO NA DECISÃO GUERREADA. (0022449-
30.2012.8.19.0000 - AGRAVO DE EXECUCAO PENAL - DES. PAULO DE TARSO NEVES - Julgamento: 12/06/2012 - SEXTA CÂMARA CRIMINAL TJERJ) VOTO, pois, em CONHECENDO do Agravo, no sentido de a ele DAR PROVIMENTO, para cassar a decisão que indeferiu a perda dos dias remidos, determinando-se que seja proferido novo decisum observando-se somente a fração estabelecida no artigo 127 da Lei nº 7.210/84, em sua novel redação. Rio de Janeiro, 03 de setembro de 2013. DES. ANTONIO JOSÉ FERREIRA CARVALHO Relator