Acórdão 1a Turma ESTABILIDADE PROVISÓRIA DE GESTANTE. O fato de a empregada somente ter ciência de seu estado gravídico após a terminação contratual, não afasta o seu direito à estabilidade provisória e, consequentemente, à indenização substitutiva se a gravidez ocorreu durante o pacto laboral. Recurso não provido. Vistos, relatados e discutidos os presentes autos de recurso ordinário em que são partes, ATENTO BRASIL SA, como recorrente, e CLEIDE LUIZA PAULINO, como recorrida. Trata-se de recurso ordinário interposto pela ré, contra a r. decisão de fls. 323-329, da MM. 4ª Vara do Trabalho do Rio de Janeiro, da lavra da Juíza do Trabalho Maria Alice Andrade Novaes, que julgou procedente em parte o pleito autoral. A ré se insurge contra a decisão de primeiro grau, argumentando que não poderia ser deferida a estabilidade provisória, bem como o pagamento da indenização substitutiva, haja vista que a autora somente tomou ciência e deu ciência à ré de seu estado gravídico quando já havia ocorrido a terminação contratual. fls.339-341. Notificada, a autora apresentou contrarrazões, às 4081 1
Os autos não foram remetidos ao Ministério Público do Trabalho, por não se configurar hipótese para sua intervenção. É o relatório. VOTO II - DO CONHECIMENTO Conheço do recurso, por atendidos os pressupostos de admissibilidade. III MÉRITO DA ESTABILIDADE PROVISÓRIA DA GESTANTE. DA INDENIZAÇÃO SUBSTITUTIVA A autora, em sua inicial, sustenta que foi contratada pela ré, em 21/10/2006, para exercer a função de atendente de telemarketing, tendo sido dispensada, em 14/10/2009, quando já se encontrava grávida. E, por esta razão, faz jus à estabilidade provisória de gestante, devendo a ré ser condenada ao pagamento da indenização substitutiva. A ré, em defesa, alega que quando a autora foi dispensada, nem mesmo a própria sabia do seu estado gravídico, o que impede que tenha direito à estabilidade postulada. A juíza de primeiro grau reconheceu o direito da demandante à estabilidade provisória, condenando a ré ao pagamento da indenização substitutiva. 4081 2
A demandada recorre da decisão, ao argumento de que tendo a julgadora a quo reconhecido à autora o direito à estabilidade provisória de gestante, a discussão passa a girar em torno de quando deverá ser considerada a confirmação da gravidez, uma vez que a autora confessou que, no momento da dispensa, nem ela e nem a empresa tinham ciência do seu estado gravídico. O que somente ocorreu quando já passados 07 meses da terminação contratual, o que inviabiliza o direito à estabilidade e, consequentemente, à percepção da indenização substitutiva. A garantia de emprego à gestante tem assento constitucional prevista no art.10, inciso II, alínea "b", do ADCT, que dispõe que a empregada faz jus ao salário maternidade e à estabilidade gestante desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. A jurisprudência consolidada do C. TST, na Súmula nº 244, é no sentido de que o desconhecimento da gravidez pelo empregador quando da dispensa imotivada não obsta o reconhecimento da estabilidade constitucional, uma vez que o art. 10, II, b, do ADCT não impôs nenhuma condição à proteção da empregada gestante, salvo previsão contrária em norma coletiva. Eis o teor da Súmula n 244 do C. TST, in verbis: PROVISÓRIA. Súmula n 244 - GESTANTE. ESTABILIDADE I - O desconhecimento do estado gravídico pelo 4081 3
empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade. (art. 10, II, "b" do ADCT). II - A garantia de emprego à gestante só autoriza a reintegração se esta se der durante o período de estabilidade. Do contrário, a garantia restringe-se aos salários e demais direitos correspondentes ao período de estabilidade. [destaquei] III - Não há direito da empregada gestante à estabilidade provisória na hipótese de admissão mediante contrato de experiência, visto que a extinção da relação de emprego, em face do término do prazo, não constitui dispensa arbitrária ou sem justa causa. O C. TST, assim, consagrou a responsabilidade objetiva do empregador no que se refere à estabilidade da gestante. Daí a irrelevância, para efeito de aquisição do direito à garantia no emprego, do desconhecimento pelo empregador e, até mesmo, pela própria empregada, do estado gravídico da obreira. Na aferição do direito à garantia da estabilidade provisória, essencial é a verificação de que a gravidez ocorreu na vigência do contrato de trabalho. No presente caso, a terminação contratual ocorreu em 14/10/2009, como confessado pela demandante, em depoimento pessoal, às fls.320. E muito embora a autora somente tenha obtido conhecimento de sua gravidez em 14/04/2010, conforme aponta o documento de fls.16, e que este fato se deu após a ruptura do liame empregatício, tal circunstância não se presta à elisão do estado 4081 4
gravídico, ou melhor, não constitui subsídio à afirmação da inexistência de prova da confirmação da gravidez, até porque a lei não prevê nenhum tipo de tarifação para a prova relativa à gravidez. A certidão de nascimento juntada às fls. 17, que atesta o nascimento da filha da autora em 16 de abril de 2010, afigura-se elemento adequado e suficiente à comprovação da gestação ao tempo da dispensa imotivada, haja vista que se o nascimento ocorre em trinta e oito semanas, tem-se que a demandante engravidou em julho de 2009, quando o contrato de trabalho estava em plena vigência. Ressalte-se que a expressão confirmação da gravidez, constante no artigo 10, inciso II, alínea "b", do ADCT, em verdade, não se trata do dia em que a mulher/empregada toma ciência do seu estado gravídico, mas sim, do momento da concepção. Assim, tendo em vista que efetivada a dispensa em 14 de outubro de 2009, não há dúvida acerca do fato de que quando da extinção do contrato de trabalho, a autora já se encontrava grávida de, pelo menos, três meses. Por conseguinte, deve ser reconhecida a estabilidade assegurada no art. 10, inc. II, alínea b, do ADCT, com o consequente pagamento da indenização substitutiva, sendo este, inclusive, o entendimento adotado em várias decisões do TST, verbis: RECURSO DE REVISTA. ESTABILIDADE DA GESTANTE. DESCONHECIMENTO DA GRAVIDEZ PELO 4081 5
EMPREGADOR E PELA EMPREGADA NA ÉPOCA DA DISPENSA. VERBAS DO PERÍODO COMPREENDIDO ENTRE A DEMISSÃO E A REINTEGRAÇÃO. INDENIZAÇÃO DEVIDA. O art. 10, II, b, do Ato das Disposições Constitucionais Transitórias veda a dispensa arbitrária da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. A Súmula nº 244, I, do TST, ao interpretar o artigo, atribui a responsabilidade objetiva ao empregador, levando em conta a premissa de que o importante é a concepção no curso do contrato de trabalho, independentemente de que reclamado e reclamante tenham ciência do fato ao tempo da demissão. A declaração do Regional, de que a rescisão contratual ocorreu sem que a empregadora soubesse da gravidez da reclamante não afasta a responsabilidade objetiva do empregador, nos termos da Súmula nº 244, I, do TST. Recurso de revista a que se dá provimento. Processo: RR - 536-65.2010.5.12.0013 Data de Julgamento: 27/06/2012, Relatora Ministra: Kátia Magalhães Arruda, 6ª Turma, Data de Publicação: DEJT 06/07/2012. AGRAVO DE INSTRUMENTO - SUMARÍSSIMO ESTABILIDADE DA GESTANTE - AUSÊNCIA DE COMUNICAÇÃO - GRAVIDEZ OCORRIDA DURANTE O CONTRATO DE TRABALHO. O art. 10, II, -b-, do ADCT/88 dispõe que é vedada a dispensa arbitrária ou sem justa causa da empregada gestante, desde a confirmação da gravidez até cinco meses após o parto. Esta Corte, nos termos da Súmula n 244, I, firmou entendimento de que o desconhecimento do estado gravídico 4081 6
pelo empregador não afasta o direito ao pagamento da indenização decorrente da estabilidade. O que gera direito a estabilidade provisória da reclamante é a sua gravidez e, não, a sua notificação ou aviso ao empregador. Agravo de instrumento não provido. Processo: AIRR - 166300-06.2009.5.15.0062 Data de Julgamento: 27/06/2012, Relator Ministro: José Pedro de Camargo Rodrigues de Souza, 1ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/06/2012. RECURSO DE REVISTA. GESTANTE. ESTABILIDADE PROVISÓRIA. DESNECESSIDADE DE COMUNICAÇÃO DO ESTADO GRAVÍDICO AO EMPREGADOR. REINTEGRAÇÃO RECONHECIDA EM JUÍZO. INDENIZAÇÃO DO PERÍODO ENTRE A DISPENSA E A REINTEGRAÇÃO. A estabilidade provisória assegurada à empregada gestante prescinde da comunicação da gravidez ao empregador, porquanto é inválida a imposição, pelo empregador, de condição restritiva para a garantia da estabilidade provisória da gestante, por violar não apenas o art. 10, II, -b-, do ADCT como também toda a normatização constitucional voltada para a proteção da maternidade (art. 6º e 7º, XVIII), da família (art. 226), da criança e do adolescente (227) e os demais dispositivos dirigidos à proteção da saúde pública, direitos de inquestionável indisponibilidade absoluta. Desse modo, reconhecido em juízo, pela própria Reclamada, o direito à reintegração da Reclamante, o período compreendido entre a sua dispensa e a efetiva reintegração há de ser indenizado, porquanto também albergado no art. 10, II, -b-, do ADCT. 4081 7
Recurso de revista conhecido e provido.processo: RR - 769-51.2010.5.12.0049 Data de Julgamento: 27/06/2012, Relator Ministro: Mauricio Godinho Delgado, 3ª Turma, Data de Publicação: DEJT 29/06/2012. I - AGRAVO DE INSTRUMENTO EM RECURSO DE REVISTA. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. PROCESSO ELETRÔNICO ESTABILIDADE PROVISÓRIA. GESTANTE. CONCEPÇÃO NA VIGÊNCIA DO CONTRATO DE TRABALHO. Constatada violação do artigo 10, inciso II, alínea -b-, do ADCT, impõe-se o provimento do Agravo de Instrumento para determinar o processamento do Recurso de Revista. Agravo de Instrumento conhecido e provido. I - RECURSO DE REVISTA. PROCEDIMENTO SUMARÍSSIMO. PROCESSO ELETRÔNICO ESTABILIDADE PROVISÓRIA. GESTANTE. CONCEPÇÃO NA VIGÊNCIA DO CONTRATO DE TRABALHO. CONFIRMAÇÃO DA GRAVIDEZ. Da exegese do art. 10, II, 'b', do ADCT, extrai-se que a confirmação da gravidez não se dá por meio do exame médico, o qual, na realidade, apenas atesta a gravidez. Na verdade, a gravidez confirma-se no momento da concepção, daí porque o fato que deve ser levado em consideração para aferição do direito à estabilidade da gestante é se, na data de sua rescisão contratual, já se encontrava no estado gravídico, pouco importando se ela ou empregador tenham ciência de tal estado. Recurso de Revista conhecido e provido. Processo: RR - 154-34.2010.5.07.0006 Data de Julgamento: 20/06/2012, Relator Ministro: Márcio Eurico Vitral Amaro, 8ª Turma, Data de 4081 8
Publicação: DEJT 22/06/2012. recurso. Diante das elucidações supra, nego provimento ao Ante o exposto, CONHEÇO do recurso ordinário, interposto pela ré, e, no mérito, NEGO-LHE PROVIMENTO, na forma da fundamentação supra. IV DISPOSITIVO A C O R D A M os DESEMBARGADORES DA 1ª TURMA DO TRIBUNAL REGIONAL DO TRABALHO DA PRIMEIRA REGIÃO, por unanimidade, CONHECER do recurso ordinário, interposto pela ré, e, no mérito, NEGAR-LHE PROVIMENTO, nos termos do voto do Desembargador Relator. Rio de Janeiro, 2 de Outubro de 2012. Desembargador Federal do Trabalho Mário Sérgio M. Pinheiro Relator 4081 9