Breves considerações sobre a parte penal da nova lei

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AP A L P I L CA C Ç A Ã Ç O Ã O DA D A LE L I E P E P N E A N L A Art. 1º ao 12 do CP

Transcrição:

antitóxicos Breves considerações sobre a parte penal da nova lei César Dario Mariano da Silva 8º PJ do II Tribunal do Júri Após trinta anos de vigência a Lei nº 6.368/76 foi expressamente revogada pela Lei nº 11.343, de 23 de agosto de 2.006, que entrará em vigor quarenta e cinco dias após sua publicação, ou seja, em 08 de outubro de 2.006. Ela igualmente revogou expressamente a Lei nº 10.409/02. A lei nova estabelece políticas públicas para o combate ao narcotráfico e alguns mecanismos para o tratamento do usuário e dependentes de drogas. Mantém o Sistema Nacional Antidrogas, que passa a se chamar Sisnad, que tem a finalidade de articular, integrar, organizar e coordenar as atividades relacionadas com a prevenção do uso indevido, a atenção e a reinserção social de usuários e dependentes de drogas, bem como a repressão da produção não autorizada e do tráfico ilícito de drogas (art. 3º). Uma das novidades da lei é que o objeto material dos tipos penais passa a ser a droga, assim entendida como as substâncias ou os produtos capazes de causar dependência, assim especificados em lei ou relacionados em listas atualizadas periodicamente pelo Poder Executivo da União (art. 1º, parágrafo único). Até que a União atualize a terminologia da lista mencionada, serão consideradas como drogas as substâncias entorpecentes, psicotrópicas, precursoras e outras sob controle especial, da portaria SVS/MS nº 344, de 12 de maio de 1.998 (art. 66). Como a lei não diz o que é substância ou produto, a melhor definição é a adotada pela indústria farmacêutica. Substância é a matéria-prima in natura. Em regra será uma planta ou erva. Produto é a substância manipulada ou processada pelo homem. Assim, a folha da coca seria a

substância e a cocaína o seu produto. Com efeito, em todo produto haverá a interferência do homem. Na parte penal, a maioria dos tipos penais foi mantida, inclusive com redação semelhante, enquanto outros foram criados ou alterados. Também houve abolitio criminis em relação a dois tipos penais, que deixaram de viger em nosso ordenamento jurídico. Eles estavam previstos no artigo 12, 2º inciso III, e artigo 17 da Lei nº 6.368/76. Ao usuário de drogas será dado tratamento especial. Inovando nosso ordenamento jurídico a essas pessoas poderão ser impostas penas restritivas de direitos cominadas abstratamente no tipo penal (art. 28). Não mais será possível a aplicação de pena privativa de liberdade para o praticante dessa conduta, que continua sendo tipificada como crime. A mera semeadura, o cultivo ou a colheita de plantas destinadas à preparação de droga, em pequena quantidade e para uso próprio do agente, é crime previsto no artigo 28, 1º. A pena será a mesma do delito de posse ou porte de droga para uso próprio. A nova lei traz dispositivo específico que pune a aludida conduta quando é destinada ao tráfico (art. 33, 1º, II). Com isso, acabará a celeuma que ocorria na legislação anterior no que é pertinente àquele que cultivasse, semeasse ou colhesse plantas destinadas à preparação de drogas para seu próprio uso. Para alguns o crime seria equiparado ao tráfico (art. 12, 1º, II), para outros de posse ou porte de droga para uso próprio (art. 16), havendo, inclusive, quem sustentasse ser o fato atípico. Caso o condenado por um desses delitos (art. 28, caput e 1º) se negue a cumprir a restrição de direitos, o Juiz poderá adverti-lo ou aplicarlhe multa, cuja quantidade e valor são fixados pelo artigo 29. Não existe a possibilidade da conversão das penas restritivas de direitos em privativa de liberdade por falta de previsão legal. As penas previstas para os delitos previstos no artigo 28, caput e 1º (imposição e execução) prescrevem em dois anos, observando-se os

prazos interruptivos do lapso prescricional previstos no art. 107 e seguintes do CP (art. 30). O julgamento desses delitos será de competência do Juizado Especial Criminal, salvo se houver concurso com qualquer dos delitos previstos nos artigos 33 a 37. Nesse caso, o procedimento será o previsto nos artigos 54 e seguintes da Lei Antitóxicos (art. 48, 1º). O artigo 33, caput, e 1º cuida do tráfico de drogas e de condutas equiparadas. A redação do caput é praticamente igual a do artigo 12, caput, da lei antiga, mas a pena foi sensivelmente aumentada para o mínimo de cinco e o máximo de quinze anos de reclusão, e pagamento de 500 a 1.500 dias-multa. A quantidade de dias-multa e o seu valor vem traçada pelo artigo 43. O 1º, inciso I, do artigo 12 da antiga lei de tóxicos foi mantido pelo artigo 33, 1º, inciso I, mas sua definição é um pouco diferente. Os objetos materiais passam a ser não somente a matéria prima, mas também o insumo ou outro produto químico destinado à preparação de drogas. A pena é a mesma do caput do dispositivo. A semeadura, o cultivo ou a colheita de plantas destinadas à preparação de drogas para o tráfico é conduta equiparada ao caput do artigo 33 com pena equivalente (cinco a quinze anos de reclusão, além da multa). Essa conduta vem definida no artigo 33, 1º, inciso II. Aquele que utilizar local ou bem de qualquer natureza de que tenha a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consentir que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico de drogas, praticará o ilícito penal previsto no artigo 33, 1º, inciso III, cuja pena é a mesma do caput do dispositivo. Pela legislação revogada (art. 12, 2º, II), essa conduta também era equiparada ao tráfico, com a diferença de que a nova norma pune somente a conduta quando a finalidade é o tráfico. Se a finalidade da utilização do local ou bem for o uso indevido de drogas pelo próprio sujeito, o fato em si será atípico, a não ser que se enquadre no artigo

28, caput. Havendo o consentimento do sujeito para que outro utilize o local ou o bem para o uso indevido de drogas, o crime será o previsto no artigo 33, 2º, uma vez que o sujeito estará auxiliando o usuário de drogas. O 2º do artigo 33 era previsto como conduta equiparada ao tráfico de drogas pelo artigo 12, 2º, inciso I da Lei nº 6.368/76. O legislador entendeu que aquele que simplesmente induz, instiga ou auxilia alguém ao uso indevido de drogas não merece ter pena semelhante à do traficante. Por isso, criou dispositivo específico com pena sensivelmente reduzida, ou seja, detenção de um a três anos e pagamento de multa no valor de 100 a 300 diasmulta. O eventual oferecimento de droga e sem objetivo de lucro, a pessoa do relacionamento do agente, para uso em conjunto, passou a ser punido de forma autônoma, com pena de detenção de seis meses a um ano, e pagamento de 700 a 1.500 dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28, ou seja, aquelas aplicadas ao usuário de drogas (art. 33, 3º). Trata-se de salutar modificação, que causava controvérsia no mundo jurídico. Essa conduta era tratada como tráfico de drogas para alguns e porte ou posse para uso próprio para outros. Após a vigência da lei a conduta de oferecer será considerada como tráfico (art. 33, caput ) quando o oferecimento for feito com certa habitualidade, ou com objetivo de lucro, ou quando a pessoa não for do relacionamento do agente, ou quando não for para uso em conjunto. Isso porque somente haverá adequação típica no artigo art. 33, 3º, quando todos os requisitos previstos em sua definição estiverem presentes (oferecimento eventual + gratuidade + pessoa de seu relacionamento + consumo em conjunto). O 4º do artigo 33 prevê a redução da pena dos crimes previstos no seu caput e 1º quando o agente for primário, possuir bons antecedentes, não se dedicar às atividades criminosas e nem integrar organização criminosa. Faltando qualquer um desses requisitos, a diminuição da pena, que pode ser de um sexto a dois terços, não poderá ser aplicada. Cuida-se de dispositivo que visa beneficiar o pequeno e eventual traficante. O profissional do tráfico e o

que teima em delinqüir não merece atenuação da pena. Observamos, ainda, que o dispositivo veda expressamente a substituição da pena privativa de liberdade por restritiva de direitos. O artigo 13 da Lei nº 6.368/76, com algumas mudanças em sua definição, agora é previsto no artigo 34 da lei nova com pena de três a dez anos de reclusão e pagamento de 1.200 a 2.000 dias-multa. A associação para o tráfico continua prevista e tipificada como crime no caput do artigo 35, cuja pena é de três a dez anos de reclusão e multa de 700 a 1.200 dias-multa. Sua definição é semelhante à do artigo 14 da Lei nº 6.368/76. Acabou-se, portanto, a discussão sobre o artigo 8º da Lei dos Crimes Hediondos, no que tange à quadrilha ou bando formados para o tráfico de drogas, ter, ou não, revogado o artigo 14 da Lei nº 6.368/76. Como esse dispositivo (art. 35) é posterior à Lei dos Crimes Hediondos, deve ser aplicado em sua integralidade a fatos ocorridos após sua entrada em vigor. O caput do artigo 35 descreve a associação para a prática de qualquer dos crimes previstos nos artigos 33, caput e 1º, e 34, e o parágrafo único, com a mesma pena cominada, tipifica a associação para a prática reiterada do crime descrito no artigo 36 (financiamento e custeio do tráfico). Assim, para a associação para o tráfico, exige-se a reunião de pelo menos duas pessoas com o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes descritos no tipo. Já para a associação para o financiamento ou custeio do tráfico de drogas, além de duas ou mais pessoas em associação, a norma exige o propósito de reiteração na prática do crime descrito no artigo 36. Como já ocorria no regime anterior, há necessidade de vínculo psicológico para a prática dos delitos por tempo indeterminado. O verbo associarem-se significa a reunião com vínculo estável e permanente (tempo indeterminado), no caso, de duas ou mais pessoas. A expressão reiteradamente significa repetidamente, ou seja, com continuidade. Na associação para o tráfico pode existir, ou não, o propósito de praticar os delitos (arts. 33, caput, 1º ou 34) reiteradamente. Já na associação para o financiamento ou custeio, o tipo exige o propósito de reiteração da prática do crime do artigo 36. No entanto, não há

necessidade de que os crimes sejam cometidos, mas que a associação se dê com esse propósito. Foram criados tipos penais para aquele que custear ou financiar o tráfico de drogas (art. 36) e para aquelas pessoas que são os informantes dos traficantes (art. 37), tendo como maior exemplo os olheiros. A pena para o financiador ou custeador será de oito a vinte anos de reclusão, e pagamento de 1.500 a 4.000 dias-multa, e para o informante de dois a seis anos de reclusão, além de 300 a 700 dias multa. A divergência doutrinária que pode ocorrer quanto ao crime de financiamento ou custeio do tráfico de drogas é se o crime é habitual ou instantâneo. Entendido como habitual, não ocorrendo a reiteração de atos, o sujeito será partícipe do crime para o qual financiou ou custeou (arts. 33, caput, 1º ou 34) com a causa de aumento de pena prevista no artigo 40, inciso VII (o agente custear ou financiar a prática do crime). Por outro lado, entendido como crime instantâneo, não poderá ser aplicada essa causa de aumento de pena para aquele que estiver incurso no crime do artigo 36 a fim de que não ocorra dupla valoração (bis in idem). Outra questão que vai causar controvérsia é sobre a derrogação, ou não, do artigo 2º, 1º da Lei nº 8.072/90, que veda a progressão de regime de cumprimento de pena ao autor de tráfico de drogas. A lei nova nada diz sobre o assunto. No entanto, o artigo 44 veda a concessão da liberdade provisória, com ou sem fiança, o sursis, a graça, o indulto, a anistia, a conversão da pena prisional em restritivas de direitos e somente permite o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, caso não seja reincidente específico, aos autores dos crimes previstos no artigo 33, caput e 1º, e 34 a 37. Com isso, surgirão dois posicionamentos: 1) como a lei vedou todos esses benefícios legais, mas nada disse sobre a impossibilidade de progressão de regime prisional, não mais é aplicável os dispositivos pertinentes da Lei nº 8.072/90, que foi derrogada no que tange ao tráfico de drogas. As vedações de benefícios são apenas as

constantes da lei nova. Com efeito, a fixação do regime de cumprimento de pena deve seguir o disposto no Código Penal, que em seu artigo 12 diz que as normas gerais serão aplicadas à legislação especial, se ela não dispuser de modo diverso; 2) como a lei nova somente revoga a anterior se assim dispuser expressamente, se com ela for incompatível ou se regular inteiramente a matéria de que tratava a lei anterior (art. 2º, 1º, da LICC), continua sendo aplicável a impossibilidade de progressão de regime ao autor de tráfico de drogas. Isso porque a nova Lei Antitóxicos não revogou expressamente a Lei dos Crimes Hediondos e é plenamente compatível com ela, além de não regular toda a matéria, necessitando ser complementada por outras normas. Aliás, a Lei dos Crimes Hediondos foi criada por determinação constitucional (art. 5º, XLIII) e propugna tratamento mais severo ao autor dessa modalidade de delito e aos equiparados, dentre eles o tráfico de drogas. Com efeito, como a Lei dos Crimes Hediondos tem índole constitucional, deve ser aplicada ao autor de tráfico de drogas, conduta essa que merece tratamento diferenciado e mais grave. E quais seriam os tipos penais abrangidos? Sobre o assunto, poderão surgir dois entendimentos: a) pela lei anterior, de forma majoritária, entendia-se que somente os crimes descritos nos artigos 12 e 13 eram considerados modalidades de tráfico de drogas, ficando de fora a associação para o tráfico (art. 14). Os artigos 33, caput e 1º, e o 34, guardam similitude com os artigos 12 e 13 da lei revogada, sendo considerados tráfico de drogas para esse fim. b) foram criados os crimes de financiamento e custeio para o tráfico (art. 36) e o de colaboração como informante para o tráfico (art. 37). Esses delitos nada mais são do que formas de colaboração para o tráfico especialmente tipificadas e punidas, que poderiam ser enquadradas como participação no crime de tráfico com fulcro no art. 29 do CP. Visando uma diferenciação na cominação das penas, o legislador os definiu como crimes autônomos (exceção pluralista à teoria unitária no concurso de pessoas). Cuida-se, à evidência, de espécies de tráfico de drogas e devem ser tratadas

como tal, sendo, portanto, igualmente vedada a progressão de regime prisional para o praticante dessas espécies de delito. No que tange ao livramento condicional aos autores de tráfico de drogas houve pequena modificação. De acordo com o artigo 83, inciso V, do Código Penal, o autor de crime hediondo ou equiparado somente terá direito ao livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, desde que não seja reincidente específico em crime da mesma natureza. Essa reincidência específica diz respeito a posterior cometimento de crime hediondo ou equiparado, após o trânsito em julgado de sentença que tenha condenado o agente por outro crime hediondo ou equiparado. O artigo 44, parágrafo único, da nova Lei de Tóxicos também permite o livramento condicional ao autor dos crimes previstos nos artigos 33, caput e 1º e 34 a 37 após cumprir ao menos dois terços da pena, sendo óbice para o benefício a reincidência específica. No caso, como a lei trata de crimes relacionados a drogas, a reincidência específica ocorrerá quando o sujeito, já definitivamente condenado por um dos crimes previstos nos artigos 33, caput, 1º ou 34 a 37 vier a praticar novamente qualquer um deles. Assim, para efeito de livramento condicional, a reincidência específica dar-se-á apenas nos crimes descritos na Lei de Tóxicos acima mencionados. Cuidando-se de qualquer crime descrito nos artigos 33 a 39 da Lei nº 11.343/2006 praticado por agente em situação de inimputabilidade em razão de dependência, ou sob o efeito de droga proveniente de caso fortuito ou força maior, deverá ser aplicado o artigo 45, caput, do referido diploma legal, que determina a isenção de pena. Nessas mesmas circunstâncias, praticado o crime por agente em situação de semi-imputabilidade, a pena aplicada será reduzida de um a dois terços (art. 46). Nas situações retratadas, não se aplica o artigo 26 ou 28 do Código Penal, mas as disposições da lei especial. Quando o artigo 45 diz qualquer que tenha sido a infração praticada, está se referindo aos crimes descritos no seu Capítulo II, do Título IV. Não há como aplicar os artigos 45 a 47 aos crimes previstos no artigo 28,

uma vez que eles estão inseridos em outro título e possuem regra própria para quem for condenado por esses delitos. Como essa norma é especial e cuida de delitos relacionados a tóxicos, não pode ser aplicada a crimes descritos em outro diploma legal, que observarão as disposições gerais pertinentes previstas no Código Penal. Absolvido o agente pelo reconhecimento pericial da inimputabilidade em razão de dependência de drogas ou de seu efeito proveniente de caso fortuito ou força maior, o juiz poderá determinar, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado (art. 46, parágrafo único). Em nosso entender o tratamento médico poderá ser determinado quando o agente for dependente do uso de drogas. Reconhecido o caso fortuito ou a força maior como causa da inimputabilidade pela ingestão de droga, não vemos como possa ser imposto tratamento médico obrigatório, uma vez que ao autor do fato estará sendo imposta uma sanção mesmo tendo ele agido sem culpa (em sentido amplo). Por outro lado, no caso de condenação e reconhecimento da semi-imputabilidade, a natureza da sentença é condenatória, mas há obrigatoriedade da redução da pena (um a dois terços).

Segue abaixo quadro comparativo entre os tipos penais da Lei nº 6.368/1.976 e da Lei nº 11.343/2.006. LEI 11.343/2.006 LEI 6.368/76 Art. 28. Quem adquirir, guardar, tiver em depósito, transportar ou trouxer consigo, para consumo pessoal, drogas sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar será submetido às seguintes penas: I - advertência sobre os efeitos das drogas; II - prestação de serviços à comunidade; Art. 16. Adquirir, guardar ou trazer consigo, para o uso próprio, substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de (vinte) a 50 (cinqüenta) dias-multa. III - medida educativa de comparecimento a programa ou curso educativo. 1º Às mesmas medidas submete-se quem, para seu consumo pessoal, semeia, cultiva ou colhe plantas destinadas à preparação de pequena quantidade de substância ou produto capaz de causar dependência física ou psíquica. Art. 33. Importar, exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda, oferecer, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar, entregar a consumo ou fornecer drogas, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão de 5 (cinco) a 15 (quinze) anos e pagamento de 500 (quinhentos) a 1.500 (mil e quinhentos) Art. 12. Importar ou exportar, remeter, preparar, produzir, fabricar, adquirir, vender, expor à venda ou oferecer, fornecer ainda que gratuitamente, ter em depósito, transportar, trazer consigo, guardar, prescrever, ministrar ou entregar, de qualquer forma, a consumo substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar; Pena - Reclusão, de 3 (três) a 15

dias-multa. (quinze) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. 1º Nas mesmas penas incorre quem: I - importa, exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda, oferece, fornece, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, matéria-prima, insumo ou produto químico destinado à preparação de drogas; 1º Nas mesmas penas incorre quem, indevidamente: I - importa ou exporta, remete, produz, fabrica, adquire, vende, expõe à venda ou oferece, fornece ainda que gratuitamente, tem em depósito, transporta, traz consigo ou guarda matériaprima destinada a preparação de substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica; II - semeia, cultiva ou faz a colheita, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, de plantas que se constituam em matériaprima para a preparação de drogas; II - semeia, cultiva ou faz a colheita de plantas destinadas à preparação de entorpecente ou de substância que determine dependência física ou psíquica. III - utiliza local ou bem de qualquer natureza de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar, para o tráfico ilícito de drogas. II - utiliza local de que tem a propriedade, posse, administração, guarda ou vigilância, ou consente que outrem dele se utilize, ainda que gratuitamente, para uso indevido ou tráfico ilícito de entorpecente ou de substância que determine dependência fisica ou psíquica. 2º Induzir, instigar ou auxiliar alguém ao uso indevido de droga: Pena - detenção, de 1 (um) a 3 (três) anos, e multa de 100 (cem) a 300 (trezentos) dias-multa. 2º Nas mesmas penas incorre, ainda, quem: I - induz, instiga ou auxilia alguém a usar entorpecente ou substância que determine dependência física ou psíquica; 3º Oferecer droga, eventualmente e sem objetivo de lucro, a pessoa de seu

relacionamento, para juntos a consumirem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 1 (um) ano, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.500 (mil e quinhentos) dias-multa, sem prejuízo das penas previstas no art. 28. 4º Nos delitos definidos no "caput" e no 1º deste artigo, as penas poderão ser reduzidas de um sexto a dois terços, vedada a conversão em penas restritivas de direitos, desde que o agente seja primário, de bons antecedentes, não se dedique às atividades criminosas nem integre organização criminosa. Art. 34. Fabricar, adquirir, utilizar, transportar, oferecer, vender, distribuir, entregar a qualquer título, possuir, guardar ou fornecer, ainda que gratuitamente, maquinário, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de drogas, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 1.200 (mil e duzentos) a 2.000 (dois mil) dias-multa. Art. 13. Fabricar, adquirir, vender, fornecer ainda que gratuitamente, possuir ou guardar maquinismo, aparelho, instrumento ou qualquer objeto destinado à fabricação, preparação, produção ou transformação de substância entorpecente ou que determine dependência fícisa ou psíquica, sem autorização ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa. Art. 35. Associarem-se duas ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, "caput" e 1º, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 700 (setecentos) a 1.200 (mil e duzentos) dias-multa. Art. 14. Associarem-se 2 (duas) ou mais pessoas para o fim de praticar, reiteradamente ou não, qualquer dos crimes previstos nos Arts. 12 ou 13 desta Lei: Pena - Reclusão, de 3 (três) a 10 (dez) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 360 (trezentos e sessenta) dias-multa.

Parágrafo único. Nas mesmas penas do "caput" deste artigo incorre quem se associa para a prática reiterada do crime definido no art. 36 desta Lei. Art. 36. Financiar ou custear a prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, "caput" e 1, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 8 (oito) a 20 (vinte) anos, e pagamento de 1.500 (mil e quinhentos) a 4.000 (quatro mil) diasmulta. Art. 37. Colaborar, como informante, com grupo, organização ou associação destinados à prática de qualquer dos crimes previstos nos arts. 33, "caput" e 1º, e 34 desta Lei: Pena - reclusão, de 2 (dois) a 6 (seis) anos, e pagamento de 300 (trezentos) a 700 (setecentos) dias-multa. Art. 38. Prescrever ou ministrar, culposamente, drogas, sem que delas necessite o paciente, ou fazê-lo em doses excessivas ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 50 (cinqüenta) a 200 (duzentos) dias-multa. Parágrafo único. O juiz comunicará a condenação ao Conselho Federal da categoria profissional a que pertença o agente. Art. 15. Prescrever ou ministrar culposamente, o médico, dentista, farmacêutico ou profissional de enfermagem substância entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica, em de dose evidentemente maior que a necessária ou em desacordo com determinação legal ou regulamentar: Pena - Detenção, de 6 (seis) meses a 2 (dois) anos, e pagamento de 30 (trinta) a 100 (cem) dias-multa. Art. 39. Conduzir embarcação ou aeronave após o consumo de drogas, expondo a dano potencial a incolumidade de outrem: Pena - detenção, de 6 (seis) meses a 3 (três) anos, além da apreensão do veículo,

cassação da habilitação respectiva ou proibição de obtê-la, pelo mesmo prazo da pena privativa de liberdade aplicada, e pagamento de 200 (duzentos) a 400 (quatrocentos) dias-multa. Parágrafo único. As penas de prisão e multa, aplicadas cumulativamente com as demais, serão de 4 (quatro) a 6 (seis) anos e de 400 (quatrocentos) a 600 (seiscentos) dias-multa, se o veículo referido no "caput" deste artigo for de transporte coletivo de passageiros. Art. 40. As penas previstas nos arts. 33 a 37 desta Lei são aumentadas de um sexto a dois terços, se: I - a natureza, a procedência da substância ou do produto apreendido e as circunstâncias do fato evidenciarem a transnacionalidade do delito; II - o agente praticar o crime prevalecendo-se de função pública ou no desempenho de missão de educação, poder familiar, guarda ou vigilância; III - o crime tiver sido praticado com violência, grave ameaça, emprego de arma de fogo, ou qualquer processo de intimidação difusa ou coletiva; IV - caracterizado o tráfico entre Estados da Federação ou entre estes e o Distrito Federal; V - sua prática envolver ou visar a atingir criança ou adolescente ou a quem tenha, por qualquer motivo, diminuída ou suprimida a capacidade de entendimento e determinação; VI - o agente financiar ou custear a prática do crime. Art. 18. As penas dos crimes definidos nesta Lei serão aumentadas de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços): I - no caso de tráfico com o exterior ou de extra-territorialidade da lei penal; II - quando o agente tiver praticado o crime prevalecendo-se de função pública relacionada com a repressão à criminalidade ou quando, muito embora não titular de função pública, tenha missão de guarda e vigilância; III se qualquer deles decorrer de associação ou visar a menores de 21 (vinte e um) anos ou a pessoa com idade igual ou superior a 60 (sessenta) anos ou a quem tenha, por qualquer causa, diminuída ou suprimida a capacidade de discernimento ou de autodeterminação: IV - se qualquer dos atos de preparação, execução ou consumação ocorrer nas imediações ou no interior de estabelecimento de ensino ou hospitalar, de sedes de entidades estudantis, sociais, culturais, recreativas, esportivas ou beneficentes, de locais de trabalho coletivo, de estabelecimentos penais, ou de recintos onde se realizem espetáculos ou diversões de qualquer natureza, sem prejuízo da interdição do estabelecimento ou do local.

Art. 41. O indiciado ou acusado que colaborar voluntariamente com a investigação policial e o processo criminal na identificação dos demais co-autores ou partícipes do crime e na recuperação total ou parcial do produto do crime, no caso de condenação, terá pena reduzida de um terço a dois terços. Art. 42. O juiz, na fixação das penas, considerará, com preponderância sobre o previsto no art. 59 do Código Penal, a natureza e a quantidade da substância ou do produto, a personalidade e a conduta social do agente. Art. 43. Na fixação da multa a que se referem os arts. 33 a 39 desta Lei, o juiz, atendendo ao que dispõe o art. 42 desta Lei, determinará o número de dias-multa, atribuindo a cada um, segundo as condições econômicas dos acusados, valor não inferior a um trinta avo nem superior a 5 (cinco) vezes o maior salário-mínimo. Parágrafo único. As multas, que em caso de concurso de crimes serão impostas sempre cumulativamente, podem ser aumentadas até o décuplo se, em virtude da situação econômica do acusado, considerá-las o juiz ineficazes, ainda que aplicadas no máximo. Art. 44. Os crimes previstos nos arts. 33, "caput" e 1º, e 34 a 37 desta Lei são inafiançáveis e insuscetíveis de sursis, graça, indulto, anistia e liberdade provisória, vedada a conversão de suas penas em restritivas de direitos. Parágrafo único. Nos crimes previstos no "caput" deste artigo, dar-se-á o livramento condicional após o cumprimento de dois terços da pena, vedada sua concessão ao reincidente

específico. Art. 45. É isento de pena o agente que, em razão da dependência, ou sob o efeito, proveniente de caso fortuito ou força maior, de droga, era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. Quando absolver o agente, reconhecendo, por força pericial, que este apresentava, à época do fato previsto neste artigo, as condições referidas no "caput" deste artigo, poderá determinar o juiz, na sentença, o seu encaminhamento para tratamento médico adequado. Art. 46. As penas podem ser reduzidas de um terço a dois terços se, por força das circunstâncias previstas no art. 45 desta Lei, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Art. 19. É isento de pena o agente que em razão da dependência, ou sob o feito de substância, entorpecente ou que determine dependência física ou psíquica proveniente de caso fortuíto ou força maior era, ao tempo da ação ou da omissão, qualquer que tenha sido a infração penal praticada, inteiramente incapaz de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Parágrafo único. A pena pode ser reduzida de 1/3 (um terço) a 2/3 (dois terços) se, por qualquer das circunstâncias previstas neste artigo, o agente não possuía, ao tempo da ação ou da omissão, a plena capacidade de entender o caráter ilícito do fato ou de determinar-se de acordo com esse entendimento. Art. 47. Na sentença condenatória, o juiz, com base em avaliação que ateste a necessidade de encaminhamento do agente para tratamento, realizada por profissional de saúde com competência específica na forma da lei, determinará que a tal se proceda, observado o disposto no art. 26 desta Lei.