MINISTÉRIO DO DESENVOLVIMENTO AGRÁRIO EXPERIÊNCIA DE BOAS PRÁTICAS DE ATER NA AGRICULTURA FAMILIAR E NA REFORMA AGRÁRIA INOVAÇÃO TECNOLÓGICA NA AGRICULTURA FAMILIAR EM ABAETETUBA/PARÁ: APANHADOR E DEBULHADOR DE AÇAÍ Dezembro 2015 1
1. Contextualização Os agricultores familiares, ao longo do tempo, vêm adaptando, transformando e incorporando mudanças, as quais muitas vezes não são consideradas relevantes no contexto geral, no entanto, para estes agricultores que as desenvolveram são de extremo significado (CORRÊA, 2015) 1. Em muitos casos, são invenções que melhoraram as práticas produtivas da unidade familiar, e podemos considerar como uma inovação tecnológica. Conforme, Santana e Costa (2008) e Batista (2013), inovação tecnológica, deve ser entendida como adoção de novos conhecimentos ou invenções que melhoraram os processos produtivos ou sua modificação para produção de novos bens. Compreendendo, assim, a experiência a ser descrita. Na comunidade quilombola de Piratuba, município de Abaetetuba, Baixo Tocantins, Pará, encontramos um agricultor familiar inovador, que desenvolve práticas agroecológicas, sendo assistido pela EMATER-PARÁ há cerca de 16 anos, o Sr. Edilson Cavalcante da Costa. Anteriormente, além de suas atividades na propriedade trabalhou também como tratorista para aumentar a renda da família. A propriedade familiar é diversificada, com cultivo de tubérculos, frutas, forragens e hortaliças, bem como apresenta criação de animais, dentre eles: aves, peixes, caprinos e abelhas e conta com o envolvimento da esposa e dos dois filhos para que o trabalho avance. Na atividade de fruticultura, o fruto açaí merece atenção especial do agricultor e de sua família, visto que em sua comunidade há o hábito de consumir uma grande quantidade do fruto, principalmente em forma de vinho, sendo estes frutos provenientes de manejo ou de cultivo de açaizeiros (Euterpe oleracea Mart.). A colheita do fruto açaí, em geral é realizada por peconheiros 2 que sobem nos estipes dos açaizeiros, portando facões no intuito de realizar o corte dos cachos, o que a torna uma atividade bastante perigosa, ocasionando diversos acidentes de trabalho, e que na comunidade de Piratuba tornou-se um fator limitante para a continuidade da atividade pelos produtores. Na propriedade do Sr Edilson, no auge da produção de açaí, houveram graves acidentes envolvendo a colheita do fruto com dois membros de sua família, deixando-o bastante receoso em continuar na atividade e o fez despertar para buscar uma solução que pudesse transpor esta limitação, e que possibilitasse trabalhar com segurança na atividade que é tradicional para estes produtores. A partir desta problemática teve a ideia de inventar um aparelho que retirasse os cachos de açaí com eficiência e segurança. 2. Objetivo da prática O invento proporciona a redução de acidentes nas áreas de plantio e manejo do fruto açaí. Além de propiciar a colheita de açaí de forma mais eficiente e segura, a tecnologia desenvolvida pelo Sr Edilson chamada de apanhador de açaí semi-mecânico também é utilizada na colheita de pupunha e outros frutos semelhantes. 1 CORRÊA, Cristiane Fonseca Costa. As Práticas dos produtores de leite de Paragominas e as ditas Boas práticas de produção: caminhos e descaminhos de uma aproximação. Dissertação de Mestrado. Ufpa, 2015. 2 Peconheiros: são apanhadores de cachos de açaí, que sobem nos açaizeiros através de instrumento artesanal feito através da capa do ramo do açaizeiro, chamado de peçonha. 2
3. Descrição da experiência Diante das circunstâncias de riscos e perigos à segurança no trabalho dos peconheiros durante a colheita do açaí, o Sr Edilson passou a buscar uma forma de solucionar este problema, que era uma ocorrência na comunidade quilombola de Piratuba e para aqueles que vivem do extrativismo do açaí. No intuito de fortalecer a segurança dos trabalhadores rurais que praticam esta atividade, o agricultor familiar, teve a ideia de inventar um aparelho que retirasse os cachos de açaí com eficiência e segurança, o qual denominou de apanhador semimecânico de açaí (Figuras 1e 2). O inventor não possuía capacitação na atividade de torneiro mecânico (profissional que cria peças de metais para serem utilizados em outras atividades), no momento da criação do equipamento, no entanto já tinha a ideia de como seria o designer e o funcionamento do equipamento desenvolvido para facilitar a colheita do fruto açaí com segurança e praticidade. Para a produção do equipamento contou com ajuda de um amigo que tinha uma oficina de lanternagem. O primeiro protótipo foi iniciado em 2014, aprimorou o invento, testando-o em sua propriedade e na comunidade e com o apoio da EMATER-PARÁ, através do extensionista rural Flávio Ikeda, que o acompanha há cerca de 16 anos, tem sido inserido no mercado e na busca por patentear a invenção. Já foi enviado para diversos agricultores nas circunvizinhanças e até para fora do estado, tendo assim, sido experimentado e aprovado como uma boa prática na atividade do extrativismo de açaí. 4. Resultados 1) O protótipo do apanhador mecânico de açaí foi aprimorado e já está na 4ª versão, sendo confeccionados atualmente em uma versão padrão menor e mais leve manuseio, buscando-se a fabricação em série. 2) De acordo com o relato do agricultor, 04 apanhadores semimecânicos de açaí proporcionaram no período de 1semana, a colheita de 800 latas do fruto. 3) Atualmente, por dia o agricultor fabrica até 07 equipamentos em aço inoxidável, e de dezembro de 2014 até os dias atuais já fabricou mais de 150 unidades. 4) A partir deste invento, deu-se o surgimento de uma segunda invenção em parceria com o filho Edivan, chamada de debulhador de açaí, que visava fabricar um equipamento semelhante às garras do Wolverine 3 e que fossem utilizadas como luvas, proporcionando debulhar os cachos de açaí de maneira rápida, precisa e higiênica.. 5) Além da ideia inicial, já foi fabricada uma versão fixa com 0,5 m de largura e 1 m de comprimento e versões menores que custam R$ 150,00. 6) Atualmente, a média de tempo para debulhar um cacho médio do fruto açaí utilizando a inovação tecnológica é de 10 a 12 segundos. 7) O invento tem sido reconhecido e amplamente utilizado como foi apresentado, estimando-se um grande potencial de desenvolvimento, pois possibilita uma prática de manejo do fruto açaí com garantia de segurança, praticidade e higienização. 3 Personagem cinematográfico que possui garras de ferro em suas mãos. 3
5. Limites 1) Atribuição da propriedade intelectual ao agricultor, 2) Estabelecer parcerias na área de pesquisa para aperfeiçoamento, produção e comercialização do mesmo, com treinamento e capacitação dos peconheiros na utilização do instrumento, a fim de que cada vez mais acidentes sejam evitados nesta atividade que é tradicional na região amazônica. 6. Possibilidade de replicabilidade A Boa prática na colheita do fruto açaí a partir da utilização do apanhador de açaí semimecânico, tem sido amplamente utilizado na região de Abaetetuba e em outras regiões para onde tem sido comercializado o instrumento, e sua crescente produção demonstra a aceitação para a execução do trabalho por meio daqueles que atuam nessa atividade. Tendo tido inclusive repercussão através de meios de comunicação e mídia. O invento tem sido reconhecido e amplamente utilizado como foi apresentado, estimando-se um grande potencial de desenvolvimento, pois possibilita uma prática de manejo do fruto açaí com garantia de segurança, praticidade e higienização. Esta prática não é uma unidade de referência instalada, mas o Sr Edilson disponibiliza sua propriedade para a realização de visitas técnicas e outras ações de intercâmbio e disseminação da prática desenvolvida, sob as coordenadas S 01 50 00.2 W 048 46 31,3. Os principais limites consistem na atribuição da propriedade intelectual ao agricultor, além de se estabelecer parcerias na área de pesquisa para aperfeiçoamento, produção e comercialização do mesmo, com treinamento e capacitação dos peconheiros na utilização do instrumento, a fim de que cada vez mais acidentes sejam evitados nesta atividade que é tradicional na região amazônica. 7. Depoimentos É gratificante participar de uma experiência que colabora com o desenvolvimento sustentável, de maneira abrangente, envolvendo a produção familiar, a qualidade de vida, o bem estar e segurança no trabalho, a inovação e o empoderamento das famílias, enfatizando o verdadeiro significado da extensão rural (Flávio Ikeda, Extensionista rural, EMATER PARÁ). Ter deixado de lado a atividade rural de tratorista que antes eu exercia, e optar pela agricultura diversificada e por me dedicar às inovações dentro da agricultura familiar, trouxe benefícios humanos e sociais para mim e minha família como: melhoria na qualidade de vida, produtividade da propriedade e inovação para a cadeia produtiva do açaí, além da satisfação em contribuir nas questões de segurança no trabalho rural (Edilson Cavalcante Costa, Agricultor familiar, Abaetetuba-Pará). 4
8. Ilustrações Apanhador semi-mecânico de açaí Apanhador semi-mecânico de açaí (versão atual). Debulhador de açaí em base fixa Debulhador de açaí em de luva 5
9. Autores e Colaboradores Katharine Tavares Batista Extensionista Rural I, Engenheira Agrônoma. Especialista em Floricultura como empreendimento; Especialista em Biodiesel; Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Cristiane Fonseca Costa Corrêa Extensionista Rural I. Médica Veterinária. Especialista em Bovinocultura leiteira: manejo, mercado e tecnologia. Mestre em Agriculturas Familiares e Desenvolvimento Sustentável. Daniella Mônica Souza - Extensionista Rural I. Engenheira Florestal. Mestre em Ciências Florestais área de concentração Silvicultura. 6