LUZ E COR NA ARTE E NA CIÊNCIA

Documentos relacionados
29º Seminário de Extensão Universitária da Região Sul FÍSICA DA UNIVERSIDADE À COMUNIDADE LUZ E COR NA ARTE E NA CIÊNCIA

TENDA DA CIÊNCIA: UMA AÇÃO DO PROJETO FÍSICA - DA UNIVERSIDADE À COMUNIDADE

14. CONEX Apresentação Oral Resumo Expandido

PALAVRAS-CHAVE Ensino de Física. Equipamentos Didáticos. Condução de Calor.

16º CONEX - Encontro Conversando sobre Extensão na UEPG Resumo Expandido Modalidade A: Apresentação de programas e/ou projetos

Divulgação de informação em Ciência e Tecnologia: a experiência do projeto de extensão Física da Universidade à Comunidade

ISSN ÁREA TEMÁTICA:

IMPRESSIONISMO. As figuras não devem ter contornos nítidos, pois a linha é uma abstração do ser humano para representar imagens.

ARTE DA SEGUNDA METADE DO SÉCULO XIX

Ensino, pesquisa e extensão: Uma análise das atividades desenvolvidas no GPAM e suas contribuições para a formação acadêmica

RELAÇÃO FAMÍLIA-ESCOLA: POSSIBILIDADES DE INTERVENÇÃO DO PSICÓLOGO ESCOLAR

Óptica. Aula 1 - Luz.

Física IV. Prática VII Sandro Fonseca de Souza

IMPRESSIONISMO A EXPLORAÇÃO DA LUZ E DE SEUS EFEITOS NO REDIRECIONAMENTO DA ARTE

PLANOS DE AULAS. 2º BIMESTRE - AULA 01 - Data: 22/05/ Tempo de duração: 1 hora 40 TEMA DA AULA: INTRODUÇÃO À ILUMINAÇÃO

CONTEÚDO E HABILIDADES DINÂMICA LOCAL INTERATIVA INTERATIVIDADE FINAL AULA ARTES. Aula 4.2 Conteúdo: Romantismo Realismo Impressionismo

FORTALECENDO SABERES DESAFIO DO DIA DINÂMICA LOCAL I CONTEÚDO E HABILIDADES ARTES. Conteúdo: Aula 1: O ponto e a linha Aula 2: Logotipos e símbolos

Óptica. Aula 1 - Luz.

UTILIZAÇÃO DE DOBRADURAS DE PAPEL NO ENSINO E APRENDIZAGEM DE MATEMÁTICA

As ações foram programadas para serem realizadas segundo as etapas:

Palavras-chave: Formação Continuada. Múltiplas Linguagens. Ensino Fundamental I.

PROFESSORES DE HISTÓRIA: FORMAÇÃO E ATUAÇÃO NOS ANOS INICIAIS DO ENSINO FUNDAMENTAL

PROGRAMA CURRICULAR - ENSINO MÉDIO

Palavras chave: trabalho colaborativo, desenvolvimento profissional, articulação curricular, tarefas de investigação e exploração.

CCE CENTRO DE CIÊNCIAS EXATAS

PROGRAMA INSTITUCIONAL DE BOLSA DE INICIAÇÃO À DOCÊNCIA

estudo das cores e as formas formas geométricas.

O Impressionismo é um movimento artístico surgido na França no século XIX que criou uma nova visão conceitual da natureza utilizando pinceladas

Programa de Formação Básica Ano letivo Cursos com inscrições abertas

Pró-reitoria da Extensão da UFABC. Extensão Universitária Conceitos, Benefícios e Integração

CHAMADA PARA PUBLICAÇÃO

PIBID-FÍSICA Programa Institucional de Bolsa de Iniciação à Docência. Relatório Semestral. Ricardo Alves Santos Bolsista

TEORIA DO DESIGN. Aula 03 Composição e a História da arte. Prof.: Léo Diaz

O Impressionismo como base das transformações do Modernismo.

Aprendizagem em Física

Light Painting 1. Juliano SILL 2 Anamaria TELES 3 Universidade Regional de Blumenau, Blumenau, SC.

A produção de Discursos Periféricos: A comunicação como instrumento de luta contra a exclusão

FÍSICA E ARTE: UMA PROPOSTA DE MINI-CURSO

INSTITUTO MARIA AUXILIADORA

O NÚCLEO AUDIOVISUAL DE GEOGRAFIA (NAVG) TRABALHANDO A GEOGRAFIA COM CURTAS: EXPERIÊNCIA DO PIBID SUBPROJETO DE GEOGRAFIA.

MOVIMENTO ARTÍSTICO REALISMO: DESENVOLVIMENTO DE TRABALHOS PRÁTICOS COM ALUNOS DO 9º ANO DO ENSINO FUNDAMENTAL

Física VIII Ondas eletromagnéticas e Física Moderna

Surge em em Paris, na França, tendo em Édouard Manet seu mentor.

UNIVERSIDADE NA COMUNIDADE

EXPERIMENTOS E EXERCÍCIOS DE MECÂNICA NO ENSINO MÉDIO

EVENTOS ACADÊMICOS E INSTITUCIONAIS

Campus de Botucatu. DOCENTE RESPONSÁVEL: Prof. Dr. Vladimir Eliodoro Costa. SEMESTRE LETIVO: (X) Primeiro ( ) Segundo

LUZ, COR E VISÃO: FORMAÇÃO E MISTURA DAS CORES

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA INSTITUTO DE HUMIDADES, ARTES E CIÊNCIAS PROFESSOR MILTON SANTOS MESTRADO PROFISSIONAL EM ARTES - PROFARTES

Maternal Baby ao 7º Ano

Campus de IFC - Araquari. Nº de bolsas de supervisão 3

Aulas práticas e demonstrações como modalidades didáticas no ensino de Ciências

Ensaio Visual: Com quantas janelas? Homenagem a Ana Mae Barbosa

CURSO PÓS-GRADUAÇÃO EM ARTE E EDUCAÇÃO

Impressionismo e Pós Impressionismo

- A Experiência dos Laboratórios de Percepção - Autora: Thelma Lopes Instituição: Museu da Vida - Fundação Oswaldo Cruz

COMPLEXO EDUCACIONAL MILLENIUM LTDA FACULDADE MILLENIUM (FAMIL)

2- OBJETIVOS: 2.1- Gerais

ANEXO I. QUADRO DE OFICINAS INTEGRANTES DOS PROGRAMAS DE FORMAÇÃO ARTÍSTICA DO CUCA (COM EMENTAS) Categoria I

PALAVRAS-CHAVE Reflexão. Física. Aprendizagem. Introdução

Física IV. Instituto de Física - Universidade de São Paulo. Aula: difração

-LINGUAS MY FIRST IDEA FOR BETTER INTERNATIONAL UNDERSTANDING ENSINO BILÍNGUE

Física IV Ondas Eletromagnéticas parte 3

A INTERDISCIPLINARIDADE COMO EIXO NORTEADOR NO ENSINO DE BIOLOGIA.

Características: Oposição aos mitos, as idealizações, as lendas... Exaltação da realidade imediata: Representação fiel das paisagens naturais e do

ESCOLAS E MUSEUS EM MOVIMENTO: animação e artes como aportes metodológicos para a produção de conhecimentos e saberes.

SERVIÇO PÚBLICO FEDERAL UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARÁ CONSELHO SUPERIOR DE ENSINO, PESQUISA E EXTENSÃO RESOLUÇÃO N DE 16 DE SETEMBRO DE 2008

IMPRESSIONISMO: MANET, MONET, RENOIR, DEGAS

Arte e ciência no SciELO: estudo de resumos de artigos que utilizam as palavras ciência e arte no Brasil

Eixo Temático: Eixo 01: Formação inicial de professores da educação básica. 1. Introdução

CAPÍTULO. Barbosa, Aline Pereira do Nascimento 1 *; Andreata, Mauro Antonio 1. Universidade Federal de Goiás, Departamento de Física Regional Catalão

DARWIN E SUA PASSAGEM PELO BRASIL: INFLUÊNCIA NA ARTE IMPRESSIONISTA

Parâmetros Curriculares Nacionais (PCN), estimulando a expressão, comunicação, pensamento lógico, crítico e intuitivo do estudante (BRASIL, 1998).

ANEXO 2 ATIVIDADES ACAD ÊMICAS. Atividade

Painel 5 Partilha de Práticas entre Escolas / Agrupamentos da Região

UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO Faculdade de Filosofia, Ciências e Letras de Ribeirão Preto Departamento de Física FÍSI CA II BACHARELADO EM QUÍMICA

O TRIPÉ ENSINO/PESQUISA/EXTENSÃO E OS MINICURSOS INTEGRADOS DO PROJETO CINEMAS E TEMAS, EDIÇÃO 2017

Programa Ciência Vai à Escola

and environmental aspects aspectos socioambientais

Revista Apucarana PR, ISSN , v.8, n.9 p.83 88, CONSTRUÇÃO DE UMA LUNETA ASTRONÔMICA COM MATERIAIS DE BAIXO CUSTO

Cinema, História e Ciência: abordagens históricas para a divulgação das ciências

A IMPORTÂNCIA DA INSERÇÃO DE NOVOS METÓDOS DE ENSINO NO AUXILIO DA APRENDIZAGEM APLICADO NA MONITORIA

Aula-4 Difração. Curso de Física Geral F-428

UFF - Universidade Federal Fluminense Relatório Anual dos Docentes. Exercício: 2015 GET - DEPARTAMENTO DE ESTATÍSTICA

Escola Superior de Educação João de Deus. Licenciatura Ensino Básico Relatório de Autoavaliação 2.º semestre de 2013/2014

Ótica e Geometria Dinâmica

ASTRONOMIA NO ENSINO DE FÍSICA: O EPISÓDIO DO METEORITO SERRA DO MAGÉ

A prática como componente curricular na licenciatura em física da Universidade Estadual de Ponta Grossa

FACULDADE BAIANA DE TECNOLOGIA E CIÊNCIAS FATEC/BA CAE CENTRO DE APOIO AO ESTUDANTE NÚCLEO DE INTEGRAÇÃO ESTUDANTIL E NIVELAMENTO

De Olho na Perspectiva

PROPOSTA CURRICULAR PARA O 1º SEGMENTO Aprimoramento da Leitura e da Escrita (3ª Fase)

MUSEU DIDÁTICO INTERATIVO: UMA PROPOSTA PARA O ENSINO DE QUÍMICA PARA O ENSINO MÉDIO

Suellen Laís Vicentino. Débora de Mello Gonçales Sant Ana

ANEXO I Acompanhamento da execuça o do Plano de Trabalho IFMG

FICHA DE COMPONENTE CURRICULAR

Formação inicial de professores de ciências e de biologia: contribuições do uso de textos de divulgação científica

AUTORES. Julia de Cassia Pereira do Nascimento, UCS, Edda Curi, UCS,

UNIVERSIDADE ESTADUAL DE MARINGÁ PRÓ-REITORIA DE RECURSOS HUMANOS E ASSUNTOS COMUNITÁRIOS

A c o m u n i c a ç ã o m a t e m á t i c a e m c r i a n ç a s c o m N E E. Dedicatória

Transcrição:

LUZ E COR NA ARTE E NA CIÊNCIA Silvio Luiz Rutz da Silva rutz@uepg.br Luiz Antônio Bastos Bernardes bernardes@uepg.br Luiz Américo Alves Pereira laapereira@uepg.br Antônio José Camargo ajcamargo@uepg.br Marcos Damian Simão marcosdamianmds@gmail.com Resumo: As pessoas têm buscado compreender melhor os aspectos científicos agregados ao nosso dia a dia, impulsionadas pela ampla difusão dos recursos tecnológicos resultantes de avanços científicos. Visando contribuir para a superação de tais carências, o projeto Física: da Universidade à Comunidade nos últimos anos vem desenvolvendo as atividades para a formação cultural e científica e a conscientização sobre as incidências e reflexos da Ciência e da Tecnologia. Neste trabalho descrevemos uma atividade extensionista que busca tratar das relações entre a Ciência e Arte a partir de uma discussão sobre como a Ciência contribui para a expressão artística, a partir da compreensão dos fundamentos físicos da luz e da cor e sua utilização na composição artística de obras de pintura e da fotografia. Esta oficina ofertada à comunidade é composta de experimentos sobre a natureza física da luz e da cor onde se busca discutir sua utilização especialmente nas artes plásticas como um elemento de estudo importante para a composição das obras através de estudo de caso. As atividades experimentais propostas envolvem a observação de pinturas e de fotografias onde se dá ênfase à importância de estudos prévios sobre luz e cor na composição de obras de arte; demonstração do fenômeno da difração da luz usando

feixe de laser e uma fenda de largura variável e também em orifícios para observar a figura de difração; experimento sobre a composição de cores utilizando lanternas com filtros das cores primárias. Palavras-chave: Divulgação científica, Experimentos de física, Interação. 1 INTRODUÇÃO O projeto de extensão Física - da Universidade à Comunidade, desde sua primeira execução em 1999, tem como objetivo estabelecer uma ligação direta entre a comunidade e o Departamento de Física da UEPG. As atividades oferecidas por este projeto são: cursos de nivelamento em Matemática básica e cursos sobre temas que complementam a formação dos acadêmicos dos cursos de Física e áreas afins; cursos, oficinas e palestras para professores do Ensino Fundamental e Médio (EFM); monitorias para alunos do EFM; participação no projeto Cidadão do Futuro ; iniciação científica para alunos do EFM; montagem de laboratórios de Física em escolas da rede pública; divulgação dos cursos de Física da UEPG nas escolas; realização de experimentos de Física em lugares públicos em várias cidades do estado do Paraná (DA SILVA, 2009). A natureza pública da Universidade se confirma na proporção em que diferentes setores da população usufruam dos resultados produzidos pela atividade acadêmica, o que não significa ter que, necessariamente, frequentar seus cursos regulares. A extensão é parte indispensável do pensar e fazer universitários, e conduz ao compromisso social da Universidade de inserção nas ações de promoção e garantia dos valores democráticos, de igualdade e desenvolvimento social. Assim a extensão se coloca como prática acadêmica que objetiva interligar a Universidade, em suas atividades de ensino e pesquisa, com as demandas da sociedade (BRASIL, 2001). Jacobucci (2008) relata que, nos últimos anos, tem sido frequente a utilização por pesquisadores brasileiros de diferentes expressões para a necessidade de aproximar a Ciência e a população, sendo elas: alfabetização científica, letramento científico, divulgação científica, comunicação científica, popularização da ciência. No exterior, apesar de esses termos serem também utilizados, está em voga a expressão cultura científica. Para Sabbatini (2004) a expressão cultura científica contém, em seu campo de significações, a ideia de que o processo que envolve o desenvolvimento científico é um processo cultural. Quer seja ele considerado do ponto de vista de sua produção, de sua difusão entre pares ou na dinâmica social do ensino e da educação, ou ainda do ponto de vista de sua divulgação na sociedade, como um todo, para o estabelecimento das relações críticas necessárias entre o cidadão e os valores culturais, de seu tempo e de sua história. Através da construção de uma cultura científica na Sociedade, a extensão universitária constitui-se no caminho de aproximação entre a Universidade, aqui entendida como geradora de conhecimento científico, e a Sociedade. Isto se dá porque as diversas formas de extensão possibilitam a compreensão dos métodos utilizados para se produzir o conhecimento científico, e disseminam noções dos conteúdos abordados pela Ciência e permitem o estabelecimento de relações entre a Ciência e a Sociedade, que juntos passam a fazer parte da cultura, modificando a forma como as pessoas veem o mundo (JACOBUCCI, 2008).

2 AS RELAÇÕES ENTRE CIÊNCIA E ARTE Na literatura existe uma quantidade significativa de trabalhos que tratam das diversas possibilidades de relações entre ciência e arte. No artigo Ciência e Arte: relações improváveis? Reis, Guerra e Braga (2006) discutem as relações entre Ciência e Arte, principalmente entre Física e Pintura, com o objetivo de apresentar uma abordagem cultural para a Ciência. Para estes autores: As concepções artísticas e científicas são coerentes, levando a interpretações semelhantes a respeito do funcionamento do universo. Artistas e cientistas (ou filósofos naturais) percebem o mundo da mesma forma, apenas representam-no com linguagens diferentes. No Renascimento, é clara a relação arte ciência. Muitos são os nomes que misturam os dois campos: Brunelleschi, Pisanello, Leonardo, Dürer e até mesmo Galileu. E é importante salientar que a invenção da perspectiva e do claro-escuro foi extremamente importante, até mesmo crucial, para tornar possíveis as observações empíricas e os registros acurados que fundamentam a ciência moderna. (REIS, GUERRA & BRAGA, 2006, p.73) Segundo Reis, Guerra e Braga as relações salientadas não buscam uma relação causal entre ciência e arte, mas sim uma visão mais significativa do que é o processo de construção do conhecimento (2006, p.72). Já Carvalho (2006) em seu trabalho Física, Astronomia, Teatro e Dança busca enfatizar a importância da relação entre Ciência e Arte. Para a autora: Há profundas relações entre uma e outra que raramente são trabalhadas, mas deveriam sê-lo, pois a maneira como se apresenta o contexto cultural atualmente, decorrente da nova visão de mundo inaugurada pela física moderna, pede que o homem construa novas formas de sentir, pensar e agir que possibilitem a construção de novas formas de ensinar e aprender, de maneira a contemplar essas relações (CARVALHO, 2006, p.11). Como reforço às suas ideias Carvalho cita as palavras de Pujol (apud CARVALHO, 2006, p.11), A ciência fornece a motivação racional, que nutre a intuição estética e artística, e a arte oferece instrumentos intuitivos para se apropriar dos conceitos que a Ciência propõe. Lopes (2005) no trabalho Luz, arte, ciência... ação! busca refletir sobre as principais interações entre teatro, ciência e tecnologia, ao longo da história do teatro a partir dos modos com que essas interações podem estar presentes no cotidiano. Segundo a autora: No campo da arte teatral, podemos verificar interações com a ciência e a tecnologia em diferentes níveis. Não apenas novas tecnologias foram incorporadas à cena teatral, mas também, com Bertolt Brecht, houve a pretensão de incorporar aspectos da metodologia científica aos métodos de criação teatral (LOPES, 2005, p.401). Para Lopes (2005, p.403) nas artes plásticas a relação entre Arte e Ciência também é antiga, especialmente no Renascimento: Os pintores da época aplicavam princípios da Matemática para conferir ilusão de volume, textura e proporção harmoniosos, no intuito de reproduzir as feições anatomicamente corretas, em uma tentativa de retratar fielmente o corpo humano. Explorando a representação de temas científicos em pintura do século XVIII, Gorri e Santin Filho (2009) sugerem que o quadro Um experimento com um pássaro na

bomba de ar, executado em 1768 por Joseph Wright of Derby, seja utilizado como iniciador de um debate interdisciplinar envolvendo Química, História e Arte. Ianni (2004) no trabalho Variações sobre arte e ciência propõe aproximações entre ciência e arte por meio de linguagens e narrativas singulares, dotadas de características próprias a estas modalidades de conhecimento. Por sua vez Zanetic (2006) no artigo Física e Arte: uma ponte entre duas culturas discute o trabalho com atividades interdisciplinares envolvendo física e arte, esta representada pela literatura e por letras de música, ressaltando a importância da física na construção de um diálogo inteligente com o mundo. E Moreira (2002) propõe... a exploração, em sala, de poemas referentes à Ciência existentes na Literatura brasileira e portuguesa, de forma interligada e em interação com outras disciplinas (Português e História, por exemplo). Neste trabalho descrevemos uma atividade extensionista que busca tratar das relações entre a Ciência e a Arte a partir de uma discussão sobre como a ciência contribui para a expressão artística, a partir da compreensão dos fundamentos físicos da luz e da cor e sua utilização na composição artística de obras de pintura e da fotografia. (a) Figura 1 (a) O Chamado de São Mateus Caravaggio (CARAVAGGIO, 2012); (b) Impression du Soleil Levant de Claude Monet que deu início ao Movimento Impressionista (MAGUETAS, 2012). Por exemplo, mostramos como os contrastes entre luz e sombra são importantes na composição dos quadros de gênios do Barroco tais como Caravaggio (Figura 1a); identificamos a presença de fenômenos óticos como reflexão e difração em pinturas fundamentais do Impressionismo (Figura 1b) e do Pontilhismo (Figura 2a); e mostramos a importância da utilização de cores complementares nas obras de vários mestres da pintura. (b)

3 METODOLOGIA O projeto de extensão Física: da Universidade à Comunidade busca sensibilizar o público através de atividades, nas quais a observação e a reflexão operam como meio de conduzir a uma aprendizagem dos fundamentos da Ciência e suas aplicações. Apresentam-se objetos que ilustrem realizações técnicas e científicas em ligação com os desenvolvimentos da Ciência e em especial da Física. Estas demonstrações são realizadas por professores do Departamento de Física da UEPG, e por monitores (alunos dos cursos de Licenciatura em Física e de Bacharelado em Física) preparados para tal finalidade. As principais metodologias utilizadas são: aulas expositivas, contando com a monitoria de acadêmicos; oficinas de aulas experimentais sobre temas de Física aplicada ao cotidiano; oficinas sobre temas relacionados com Física que sejam apresentados no noticiário de jornais; preparação e apresentação de experimentos de Física, com participação dos acadêmicos, para apresentação em lugares públicos, apresentação e discussão de séries científicas no Observatório Astronômico da UEPG. Uma destas oficinas ofertadas à comunidade pelo projeto é composta de experimentos sobre a natureza física da luz e da cor. Nessa atividade se busca discutir a utilização da luz e da cor nas Ciências especialmente na Biofísica (Física da visão) e nas artes plásticas como um elemento de estudo importante para a composição das obras através de estudo de caso. (a) Figura 2 (a) Tarde de Domingo na Ilha da Grande Jatte de Georges Seurat (CROCHET, 2012); (b) Bar em Folies Bergère de Edouard Manet (ATHENAEUM, 2012). As atividades experimentais propostas envolvem a observação de pinturas, tais como Tarde de Domingo na Ilha da Grande Jatte de Georges Seurat (Figura 2a) e Bar em Folies Bergère de Edouard Manet (Figura 2b) e de fotografias, em que se dá ênfase à importância de estudos prévios sobre luz e cor na composição de obras de arte; (b)

demonstração do fenômeno da difração da luz usando um feixe de raios laser e uma fenda de largura variável e também em orifícios para observar a figura de difração após o feixe de laser passar por pequenos orifícios ou fendas (Figura 3); experimento sobre a composição de cores utilizando lanternas com filtros das cores primárias (Figura 4). (a) Figura 3 - Demonstração de fenômenos luminosos: (a) Difração da luz em um cd (MUNDO DE CORES, 2012); (b) Difração e interferência usando lasers (HACKED, 2012). Por fim, procede-se à demonstração do poder de resolução do olho humano quando colocamos na frente da lente de um projetor, uma moldura de slide com papel alumínio com dois orifícios, para simular duas fontes pontuais. Outro slide feito com uma cartolina preta perfurada é mantido na frente do olho do observador. Observando as duas fontes pontuais por meio desse material, com um único orifício, verificamos a distância a partir da qual as duas fontes não são mais vistas separadamente. Esse tipo de experimento é utilizado para explicar a técnica de pontilhismo utilizada por Georges Seurat em várias de suas obras. (b) Figura 5 Demonstração da composição de cores.

4 CONSIDERAÇÕES FINAIS Alguns dos principais resultados já alcançados pelo Projeto de Extensão Física - da Universidade à Comunidade são os seguintes: já atingiu mais de cento e oitenta mil pessoas em várias cidades do Paraná, através da atividade Viajando com a Física, na qual os acadêmicos tiveram uma excelente oportunidade de conhecer a realidade social das cidades visitadas; fortalecimento da ligação entre o DEFIS-UEPG e os professores e alunos do EFM dos Campos Gerais; atualização de professores do EFM na área de Ensino de Física; melhoria dos vínculos entre a UEPG e o governo do estado do Paraná através da ativa participação no projeto Paraná em Ação ; curso de extensão Equações Diferenciais Aplicadas à Física, o qual resultou em um livro de mesmo nome, editado pela Editora UEPG, desde 1999, com grande sucesso. De modo a complementar as áreas de ação englobadas pelo projeto, e, ao mesmo tempo, intensificar as suas atividades de alfabetização científica, temos desenvolvido atividades voltadas para a discussão da relação da Ciência com outras áreas do conhecimento, como exemplo podemos citar a exibição e discussão de séries científicas. Nesta atividade, além dos aspectos relativos a várias Ciências (tais como Física, Química, Biologia e Astronomia), também discutimos aqueles relativos à produção artística relacionada com as mesmas. Nesse mesmo sentido, temos ofertado oficinas como a aqui relatada, nas quais buscamos sedimentar os princípios físicos envolvidos ressaltando a importância de sua utilização adequada nas outras áreas do conhecimento. Agradecimentos Agradecemos pelo apoio ao nosso trabalho: à Pró-Reitoria de Extensão e Assuntos Culturais (PROEX-UEPG), à Reitoria (UEPG) e ao Departamento de Física (DEFIS- UEPG). REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS 1MUNDO DE CORES. Porque vemos cores nos CDS? <http://1mundodecores.blogspot.com.br/2010/11/o-pequeno-espectro-de-cor-quevemos.html>. Acesso em maio de 2012. ATHENAEUM. A Bar at the Folies-Bergere. <http://www.theathenaeum.org/art/full.php?id=9941>. Acesso em maio de 2012. BRASIL. Plano Nacional de Extensão Universitária. Fórum de Pró-Reitores de Extensão das Universidades Públicas Brasileiras e SESu/MEC, Brasil, 2001. CARAVAGGIO: The Complete Works. <http://www.caravaggio-foundation.org/the- Calling-of-Saint-Matthew.html>. Acesso em maio 2012. CARVALHO, S. H. M. de. Física, Astronomia, Teatro e Dança. Física na Escola, v. 7, n. 1, p.11-16, 2006. CISNES Y ROSAS. Rafael. <http://cisnesyrosas.blogspot.com.br/2010/10/rafael.html>. Acesso em maio de 2012. CROCHET, F. M. A Arte do Pontilhismo. Disponível em: <http://portaldoprofessor.mec.gov.br/fichatecnicaaula.html?aula=26351>. Acesso em maio de 2012.

DA SILVA, S. L. R.; BERNARDES, L. A. B.; CAMARGO, A. J.; PEREIRA, L. A. A.. Física - da universidade à comunidade. Revista Conexão UEPG, Ponta Grossa, edição 05, p.79-83, 2009. GORRI, A. P.; SANTIN FILHO, O.. Representação de Temas Científicos em Pintura de Século XVIII: Um Estudo Interdisciplinar entre Química, História e Arte. Química Nova na Escola, vol. 32, nº 3, agosto 2009, p.184-189. HACKED. <http://www.hacked.com.br/2012/05/23/disentangling-waveparticle-dualitydoubleslit-experiment-ars-technica/>. Acesso em maio de 2012. IANNI, O.. Variações sobre arte e ciência. Tempo Social USP, vol.16, p.7-23, junho 2004. JACOBUCCI, D. F. C.. Contribuições dos espaços não-formais de educação para a formação da cultura científica. Em Extensão, Uberlândia, vol.7, p.55-66, 2008. LOPES, T.. Luz, arte, ciência... ação!. História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 12 (suplemento), p.401-18, 2005. MACIEL, C.. O Que é a Cor? <http://cassiamaciel.blogspot.com.br/>. Acesso em maio de 2012. MOREIRA, I. de C.. Poesia na sala da aula de ciências? A Física na Escola, v.3, n.1, p. 17-23, Maio 2002. REIS, J. C.; GUERRA, A.; BRAGA, M.. Ciência e arte: relações improváveis? História, Ciências, Saúde Manguinhos, v. 13, (suplemento), outubro, p.71-87, 2006. SABBATINI, M.. Alfabetização e Cultura Científica: conceitos convergentes? Revista Digital Ciência e Comunicação, vol.1, n.1, 20 de dezembro de 2004. Disponível em: <http://www.jornalismocientifico.com.br/revista/01/artigos/artigo5.asp>. Acesso em maio de 2012. ZANETIC, J.. Física e Arte: uma ponte entre duas culturas. Pro-Posições, vol.17, n.1 (49) - jan./abr., p.39-57, 2006. MAGUETAS. Impression du Soleil Levant. <http://www.maguetas.com.br/impressionismo/monet_-_impression.jpg>. Acesso em maio de 2012.

LIGHT AND COLOUR IN ART AND SCIENCE Abstract: People have sought to better understand the scientific aspects added to our day to day, driven by wide dissemination of technological resources resulting from scientific advances. In order to contribute to the overcoming of such failures, the project "Physics: from the University to the Community" in recent years has been developing activities for the scientific and cultural education and awareness about the implications and impact of science and technology. In this paper we describe an extension action seeking to treat the relations between science and art from a discussion about how science contributes to artistic expression, from the understanding of the physical fundamentals of light and colour and its use in the artistic composition of painting and photography. This workshop offered the community is composed of experiments about the physical nature of light and colour where search discuss their use especially in the fine arts as an element of study important to the composition of the works through case study. The experimental activities proposals involve the observation of paintings and photographs which gives emphasis to the importance of studies about light and colour in the composition of works of art; demonstration of the phenomenon of diffraction of light using laser beam and a slit of width variable and also in holes to observe the diffraction figure; experiment on colour composition using lanterns with filters of the primary colours. Key-words: Scientific Dissemination, Physics Experiments, Interaction.