Estrutura e Organização do Sistema Agroindustrial do Leite no Brasil

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Transcrição:

Estrutura e Organização do Sistema Agroindustrial do Leite no Brasil Geraldo Sant Ana de Camargo Barros (coordenador) Valter Bertini Galan Vania Di Addario Guimarães Mirian Rumenos Piedade Bacchi Piracicaba - Fevereiro de 2000

APRESENTAÇÃO O atual cenário político-econômico brasileiro e as perspectivas futuras para o país caracterizam-se por três componentes básicos: a globalização da economia, entendida como uma maior interação e influência entre as economias dos diferentes países e blocos econômicos, a liberalização econômica, que está relacionada com a redução da influência do Estado no funcionamento dos mercados e associada ao terceiro componente importante, a escassez de recursos públicos, que conduz à necessidade de identificação de formas alternativas para financiamento das atividades produtivas. Especificamente com respeito ao Sistema Agroindustrial do Leite, sabe-se que esse ambiente vem experimentando inúmeras mudanças que têm obrigado seus agentes a um processo de adaptação bastante rápido. As mudanças foram iniciadas em outubro de 1991, quando o governo federal deixou de controlar os preços aos produtores e consumidores, através de tabelamentos, e a oferta de produtos no mercado interno, via importações periódicas de derivados lácteos. As alterações não pararam por aí. Posteriormente, aconteceu a abertura do mercado brasileiro aos derivados importados, notadamente aqueles vindos da Argentina e do Uruguai, por conta do estabelecimento de uma área de livre comércio, o Mercosul. Neste momento, a concorrência entre produtos passou a ser bastante acirrada, o que conduziu e tem conduzido as empresas à racionalização de seus processos industriais e à redução de custos. Um terceiro fato também relevante foi o advento do Plano Real, que significou um considerável aumento no consumo brasileiro de leite e derivados, como demonstram os dados de consumo aparente. Neste contexto podem ser agregados outros fatos de igual importância, como o crescimento do consumo do leite Longa Vida, produto que trouxe novos desenhos às fronteiras nacionais da produção de leite, e a granelização da coleta de leite nas fazendas, aspecto tecnológico ainda não predominante em nosso país, mas que deve trazer novas e profundas mudanças na organização da produção de nossas bacias.

Ao mesmo tempo, sabe-se que todas estas mudanças acontecem em detrimento de alguns agentes, incapazes de se adaptarem a esta nova realidade competitiva, e em favor de outros, que passam a incrementar seus processos produtivos e obter ganhos de eficiência e participação de mercado. Reside na interação entre as mudanças ocorridas e os processos adaptativos dos agentes a principal preocupação deste livro; que rumo segue o Sistema Agroindustrial do Leite no Brasil e, em particular, cada um de seus agentes? Todas estas modificações no ambiente competitivo geraram inquietações e motivação para a pesquisa Oligopolização no Setor Industrial Lácteo no Brasil, contratada pela Embrapa ao Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada durante o primeiro semestre de 1999. Os resultados da pesquisa são apresentados neste livro, que encontra-se estruturado em quatro partes; a primeira, constituída por um sumário executivo, procura sintetizar os principais resultados e conclusões do trabalho, a segunda retoma o escopo da pesquisa original, detalhando os objetivos e hipóteses iniciais e a metodologia utilizada, a terceira apresenta os resultados obtidos e sua discussão e a quarta as conclusões do estudo.

SOBRE OS AUTORES Geraldo Sant Ana de Camargo Barros Professor Doutor, Titular do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP; Coordenador Científico do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CEPEA/ESALQ/USP Valter Bertini Galan - Engenheiro Agrônomo, Mestrando do Departamento de Administração da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade FEA/USP, Pesquisador do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CEPEA/ESALQ/USP Vania Di Addario Guimarães Engenheiro Agrônomo, Mestre em Economia Agrária pela ESALQ/USP, Doutoranda em Economia Aplicada pela ESALQ/USP, Professora Assistente do Departamento de Economia Rural e Extensão da Universidade Federal do Paraná. Mirian Rumenos Piedade Bacchi - Doutora em Economia Agrária pela ESALQ/USP, Professora do Departamento de Economia, Administração e Sociologia da ESALQ/USP, Pesquisadora do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CEPEA/ESALQ/USP

1. SUMÁRIO EXECUTIVO Este livro é o resultado de uma abrangente pesquisa realizada pelo Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada CEPEA, por solicitação da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária - EMBRAPA. A principal motivação desta pesquisa são as recentes e profundas mudanças estruturais pelas quais o agronegócio do leite brasileiro vem passando, que têm trazido importantes conseqüências para os diferentes segmentos do referido sistema. Assim, a pesquisa foi direcionada no sentido de verificar o grau de concentração ao longo do Sistema Agroindustrial do Leite no Brasil, investigando sua influência sobre os preços, as tecnologias de produção, transporte e processamento e a qualidade dos produtos ao longo da cadeia produtiva. Especial atenção foi dada aos sistemas de remuneração ao produtor de leite e à diferenciação de preços entre produtores, e também à questão das mini usinas, procurando inferências a respeito de seu desempenho e chances de sobrevivência. Para tanto, foi realizada pesquisa de campo nas principais bacias produtoras do país: sul/sudoeste de Goiás, sul de Minas Gerais, Vale do Paraíba (SP), São José do Rio Preto (SP), Castro (PR) e Rio Grande do Sul. Um levantamento primário regional foi feito através da aplicação de questionário que abordou a evolução da concorrência na compra de leite, o tamanho e a estratificação da produção e a evolução dos sistemas produtivos por estrato, o número de produtores, a qualidade do leite, os tipos de derivados lácteos elaborados, a presença de mini usinas, os produtos por elas elaborados e os mercados finais que atingem, as formas de fomento à produção e outras questões de relevância. Ao mesmo tempo, foram visitados os escritórios centrais dos principais laticínios do país para obtenção de informações semelhantes, mas no âmbito nacional ou nas áreas de atuação das referidas empresas. Foram também utilizadas fontes de informações secundárias tais como o

Ministério da Agricultura, o IBGE, diversas federações estaduais de agricultura, institutos estaduais de pesquisa e outras. O trabalho conclui que a estrutura de mercado, no âmbito da industrialização e distribuição de derivados lácteos, caminha, em diferentes velocidades, para a redução e concentração no número de agentes, fato que, até o momento, não caracteriza uma estrutura fortemente concentrada em qualquer um destes segmentos. A organização observada para a produção primária nas diferentes bacias produtoras aponta para tendência semelhante; pôde-se aferir, por exemplo, que o número de produtores de leite caiu cerca de 25%, nos últimos 10 anos, dentre os fornecedores dos laticínios pesquisados; no âmbito da indústria e considerando-se todo o território nacional, a captação das 4 maiores empresas nacionais representa hoje cerca de 35% do volume formal e 22% do volume total de leite produzido no país. Em relação ao setor de distribuição de derivados lácteos, as informações são menos precisas, mas também apontam para um aumento na concentração. De acordo com informações da Associação Brasileira dos Supermercados, a participação dos 4 maiores grupos no total faturado pelo setor passou de 20,9% para 30,3% nos últimos 5 anos. A pesquisa verificou que a qualidade da matéria-prima, de acordo com 93,5% dos entrevistados, tem melhorado nos últimos anos. O mesmo também pode ser dito sobre os derivados oferecidos ao consumidor final, conforme opiniões de técnicos e profissionais especialistas no setor. As tecnologias de processamento e transporte a partir da indústria são modernas e encontram-se disponíveis a agentes com capacidade financeira de adquiri-las. Assim, pôdese verificar que as mini usinas fazem uso destas tecnologias, com capacidade de atuação em mercados regionais. No entanto, o aumento da participação das grandes redes de supermercados na distribuição de lácteos e a iminente maior fiscalização sanitária e tributária podem ser fatores que dificultarão a sobrevivência destas pequenas empresas. Por outro lado, no âmbito da produção primária, as novas tecnologias de armazenamento e transporte, representadas pela granelização da coleta do leite, têm se

constituído em um agente de enormes mudanças e de potencial exclusão de produtores. Este fato deve-se às vantagens de escala no resfriamento em tanques de expansão e à limitação financeira dos pequenos produtores para aquisição do equipamento. Linhas de financiamento oficiais e privadas e a aquisição e utilização conjuntas dos equipamentos em associações têm sido as principais alternativas para a adaptação dos pequenos produtores. Com relação aos sistemas produtivos encontrados nas diferentes bacias, observa-se muito pouca especialização na produção de leite. Ainda são predominantes para pequenos e médios produtores, que constituem a maioria dos fornecedores dos laticínios entrevistados, sistemas de produção baseados em rebanhos cruzados (para 80,6% do pequenos e 63,3% dos médios) sem aptidão específica para a produção de leite, ordenha manual (para 91,2% dos pequenos e 64,7% dos médios), utilização de pastagens não adubadas durante o verão (para 72,2% dos pequenos e 55,6% dos médios) e outros elementos que conjugados resultam na produtividade medíocre encontrada, de forma geral, em todas as regiões estudadas. Os preços básicos aos produtores nas diferentes bacias apresentam tendência de queda ao longo dos anos. Em contrapartida, cresce a utilização de sistemas de pagamento que, direta ou indiretamente, têm remunerado melhor o grande produtor; 85,7% das empresas entrevistadas fazem uso de sistemas de bonificação e 82,9% delas usam o parâmetro volume para bonificar o preço de seus fornecedores. A tendência de queda de preços também pode ser observada entre os derivados lácteos ao consumidor. No entanto, as relações entre os valores aos produtores e no varejo mostram evolução favorável ao crescimento das margens a partir do segmento industrial para alguns derivados. Com relação ao potencial de crescimento do consumo e da produção nacionais, poucas conclusões podem ser obtidas com firmeza, porque o cenário recente de instabilidade econômica e o potencial de crescimento de nossa produção geram inúmeras possibilidades. De qualquer forma, sabe-se que o mercado consumidor potencial é enorme,

assim como a capacidade de crescimento da produção nacional. O ambiente econômico e as políticas governamentais para o setor leiteiro deverão determinar o ritmo das mudanças e a evolução do balanço entre a oferta e a demanda no mercado nacional. Na atual dinâmica do mercado interno de derivados lácteos e sua interação com as bacias leiteiras, é importante ressaltar o papel do leite Longa Vida, produto que alterou e ampliou as fronteiras de produção, antes representadas por mercados regionalizados, principalmente para o leite fluido. Ao mesmo tempo, a oferta do leite tipo C pasteurizado parece ser controlada pela indústria, que assim preserva sua margem e ocupa eventuais lacunas deixadas pelo similar esterilizado. Importância semelhante têm as importações; não obstante as possíveis irregularidades no comércio e os subsídios na origem, a abertura comercial e a possibilidade de suprimento de parte da demanda nacional com produto importado criou um teto de preços para o mercado interno, que tem pressionado os agentes, notadamente produtores primários, no sentido do aumento de eficiência com preços iguais ou inferiores aos de anos passados.