APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE

Documentos relacionados
Imagem da Semana: Radiografia de abdome

ASPECTOS ÉTICOS NA APENDICITE AGUDA

APE P NDICITE T A GUDA MARCELO LINHARES

Efficacy and Safety of Nonoperative Treatment for Acute Appendicitis: A Meta-analysis Pediatrics, Março 2017

COLECISTITE AGUDA ANDRÉ DE MORICZ CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA PARA REWSIDENTES COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES 2006

COLECISTITE AGUDA ANDRÉ DE MORICZ. CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA PARA RESIDENTES COLÉGIO BRASILEIRO DE CIRURGIÕES

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO EM PEDIATRIA

Caso Clínico. Paciente do sexo masculino, 41 anos. Clínica: Dor em FID e região lombar direita. HPP: Nefrolitíase. Solicitado TC de abdome.

Anatomia e Fisiologia do apêndice cecal

PROCESSO SELETIVO PARA INGRESSO NO PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA 2015 EDITAL N. 001/2014 CRITÉRIOS DA AVALIAÇÃO DE HABILIDADES E COMPETÊNCIAS

9º Imagem da Semana: Radiografia Tórax

COLECISTITE AGUDA TCBC-SP

VIVÊNCIA NA UNIDADE DE INTERNAÇÃO CIRÚRGICA PEDIÁTRICA DE UM HOSPITAL PÚBLICO DA REGIÃO SUL DO BRASIL

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

DESAFIO DE IMAGEM Aluna: Bianca Cordeiro Nojosa de Freitas Liga de Gastroenterologia e Emergência

Apresentação de caso. Marco Daiha / Raquel Lameira

ENFERMAGEM DOENÇAS GASTROINTESTINAIS. Parte 2. Profª. Tatiane da Silva Campos

ASSISTÊNCIA DE ENFERMAGEM À CRIANÇA NO PÓS-OPERATÓRIO DE APENDICECTOMIA

FÍSTULA ENTEROCUTÂNEA COMO COMPLICAÇÃO DE APENDICECTOMIA NA ADOLESCÊNCIA: RELATO DE CASO

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO. Dario A. Tiferes

Afecções Sistema Digestório. Aula 03 EO Karin Bienemann

ESTADO ATUAL DO TRATAMENTO DA MUCOCELE DE APÊNDICE CECAL

Imagem da Semana: Tomografia computadorizada. Figura 1: Tomografia computadorizada contrastada de abdome

CHEGOU UMA CRIANÇA NO PLANTÃO

HOSPITAL GERAL DE FORTALEZA PROGRAMA DE RESIDÊNCIA MÉDICA EM CIRURGIA GERAL GUSTAVO AUGUSTO MENDES COSTA LIMA

REVIEW ARTICLE ESCALA DE ALVARADO PARA O DIAGNÓSTICO CLÍNICO DE APENDICITE AGUDA

Sessão TOMOGRAFIA. Diego S. Ribeiro Porto Alegre - RS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Imagem da Semana: Colangioressonância

Ultrassonografia no Abdome Agudo Pediátrico

ABDOME AGUDO NA GRAVIDEZ Waldemar Prandi Filho

SABAA SISTEMATIZAÇÃO DO ATENDIMENTO BÁSICO DO ABDOME AGUDO

APENDICITE AGUDA MIMETIZANDO ESCROTO AGUDO: relato de caso

CURSO CONTINUADO DE CIRURGIA GERAL DO CBC-SP ABDOME AGUDO VASCULAR

Emergências Cirúrgicas em Pediatria. Marco Daiha Hospital Alcides Carneiro Hospital Federal Cardoso Fontes

Resolução CNRM Nº 11, de 10 de agosto de 2005

Confira se os dados contidos na parte inferior desta capa estão corretos e, em seguida, assine no espaço reservado para isso.

URI: / DOI: / _25

Fatores de Risco para as Complicações após Apendicectomias em Adultos

Complicações do Uso de Implantes em Cirurgia Pélvica Reconstrutora

APENDICECTOMIA EM PACIENTES COM IDADE SUPERIOR A 40 ANOS - ANÁLISE DOS RESULTADOS DE 217 CASOS

Centro Médico. Plínio de Mattos Pessoa

PATOLOGIA E CLÍNICA CIRÚRGICA

Complicações na Doença Inflamatória Intestinal

ABDOME AGUDO INFLAMATÓRIO CONCEITO

Funcional - Pressão intracólica aumentada - Motilidade basal e propulsiva aumentada - Lume estreito contracções segmentares

ANALISE DA ACURÁCIA DOS EXAMES DE IMAGEM DE APENDICITE AGUDA

Doenças das vias biliares. César Portugal Prado Martins UFC

UNIVERSIDADE FEDERAL DA BAHIA FACULDADE DE MEDICINA DA BAHIA Fundada em 18 de fevereiro de Monografia

PLANO DE CURSO CIRURGIA GERAL

Ingestão de corpo estranho

ESTADO ATUAL DO DIAGNÓSTICO E TRATAMENTO DA APENDICITE AGUDA NA CRIANÇA: AVALIAÇÃO DE 300 CASOS

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Fatores de risco associados às complicações de apendicite aguda.

UNIVERSIDADE DO RIO DE JANEIRO UNI - RIO

HÁ AINDA ESPAÇO PARA O EXAME FÍSICO NO DIAGNÓSTICO DE APENDICITE AGUDA?

Hemangioma hepático: Diagnóstico e conduta. Orlando Jorge Martins Torres Professor Livre-Docente UFMA Núcleo de Estudos do Fígado

Estudo das características clínico-epidemiológicas de crianças internadas com apendicite aguda em um hospital terciário

DIAGNÓSTICO E MANEJO DA DIVERTICULITE AGUDA

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

CAPÍTULO 18. MIOMAS SUBMUCOSOS: ESTADIAMEnTOS PARA TRATAMEnTO HISTEROSCÓPICO. 1. INTRODUçãO

Apendicite aguda na gestação

Histerectomia laparoscopica. Dr Namir Cavalli Cascavel Parana - Brasil

Tomografia computadorizada. Análise das Imagens

FORMA TUMORAL DA CISTICERCOSE CEREBRAL

Fatores de risco associados às complicações de apendicite aguda

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Tomografia de abdômen evidencia espessamento da parede gástrica, sem outros achados.

GASTROINTESTINAL CAUSES OF RIGHT LOW QUADRANT ABDOMINAL PAIN - HANDLING, AND TREATMENT ACCORDING TO CT IMAGE

Bárbara Ximenes Braz

Tratamento das coleções Intraabdominais PT Vs OD

Partes constituintes. Irrigação Drenagem Inervação. Movimentos de mistura. Haustrações. Movimentos propulsivos. Mov. de massa.

Punções: abdominal, vesical e torácica

CLASSIFICAÇÃO DAS INFECÇÕES DE SÍTIO CIRÚRGICO (ISC)¹ MANUAL DA CCIH. POP nº 10. Versão: 01

INSTITUTO NACIONAL DE ENSINO SOCIEDADE E PESQUISA CENTRO DE CAPACITAÇÃO EDUCACIONAL PÓS-GRADUAÇÃO EM IMAGENOLOGIA BIOMÉDICA

i r u r g i a II Série N. 36 Março 2016

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

Reparo de Lesão do Manguito Rotador

11º Imagem da Semana: Ultrassonografia dos rins e vias urinárias

Cuidados no Tratamento Cirúrgico da Colecistite Aguda

Histerectomia laparoscopica Manejo contemporâneo nuevas tecnologias. Dr Namir Cavalli Cascavel Parana - Brasil

Estéfane Lorraine Martins Vasconcelos

TERMO DE CONSENTIMENTO INFORMADO

Princípios da Cirurgia Videolaparoscópica

23/08/2016 HÉRNIAS HÉRNIAS EM PEQUENOS ANIMAIS HÉRNIAS HÉRNIAS PARTES DE UMA HÉRNIA: CLASSIFICAÇÃO PARTES DE UMA HÉRNIA: DEFINIÇÃO:

1, 3, 8, 12, 16, 17, 18, 20, 21, 23, 24, 31, 34, 38, 42, 43, 44, 46, 49, 54, 60, 64, 66, 68, 70, 71, 72, 73, 79, 80, 82, 88, 97, 99, INDEFERIDOS

Journal Club. Setor Abdome. Apresentação: Lucas Novais Bomfim Orientação: Dr. George Rosas

Giliatt Hanois Falbo Neto 1 Paulo Carvalho Vilela 2 Marianne Weber Arnold 3 David Negrão Grangeiro 4 Claudia Corrêa de Araujo 5

TRATAMENTO CONSERVADOR DO PLASTRÃO APENDICULAR

APÊNDICE NOMENCLATURA SUS PARA PROCEDIMENTOS CIRÚRGICOS SELECIONADOS

Ador abdominal é a situação mais comum no departamento

TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO

i r u r g i a II Série N. 39 Dezembro 2016

Módulo 1 ABORDAGEM E OPÇÕES TERAPÊUTICAS NO DOENTE COM LITÍASE RENAL AVALIAÇÃO DIAGNÓSTICA CÓLICA RENAL 3 OBSERVAÇÃO 4 OPÇÕES TERAPÊUTICAS

Alterações no Trato Urinário

Complicações em videolaparoscopia. marcoams - inomed

ESTUDO DA FREQÜÊNCIA DE PARASITAS E DE OVOS NAS CAVIDADES APENDICULARES DAS APENDICITES AGUDAS *

PORTARIA Nº 152, de 10 de agosto de Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira. Ministério da Educação.

Transcrição:

APENDICITE AGUDA O QUE É APÊNCIDE CECAL? O apêndice vermiforme ou apêndice cecal é uma pequena extensão tubular, com alguns centímetros de extensão, terminada em fundo cego, localizado no ceco, primeira porção do intestino grosso. Este órgão está anatomicamente localizado no quadrante inferior direito do abdômen. (Fig 1) Figura 1 Apêndice vermiforme (Cecal) O QUE É APENDICITE E PORQUE OCORRE Trata-se de um processo inflamatório agudo supurativo do apêndice vermiforme, deflagrado por sua obstrução intraluminar. A obstrução se dá, na maior parte das vezes, pelo aumento do tecido linfoide localizado na submucosa do apêndice, seguido por concreção fecal (fecalito). Corpos estranhos, como caroço de frutas, são causas menos comuns de obstrução apendicular. Com a obstrução da luz do apêndice, a secreção contínua de muco provoca um aumento de sua

pressão interna, comprometendo o retorno linfático, o retorno venoso e o aporte arterial. Essas alterações anatômicas favorecem proliferação descontrolada de bactérias, com consequente invasão bacteriana para a parede do apêndice. O processo evolui para a necrose e ruptura do apêndice tanto pela alteração vascular quanto pela destruição bacteriana. INCIDÊNCIA O pico de incidência é o início da segunda década de vida. Ocorre em aproximadamente 9% das pessoas, um pouco mais frequente no sexo feminino. SINAIS E SINTOMAS Os sintomas iniciais são náuseas e vômitos, febre baixa, acompanhados de dor epigástrica mal definida que, com a evolução do quadro, passa a localizar-se na fossa ilíaca direita. O exame físico, inicialmente é inespecífico. Com a evolução do processo inflamatório, a dor passa a se localizar no quadrante inferior direito. A descompressão brusca no ponto de Mc Burney (ponto localizado entre a cicatriz umbilical e a espinha ilíaca anterossuperior) é sugestivo da afecção e recebe o nome de Sinal de Blumberg. Com a gangrena e perfuração do apêndice há uma piora do quadro toxêmico e a febre torna-se mais elevada. Surge um abscesso localizado na região do apêndice ou uma peritonite generalizada (pús em toda a cavidade abdominal). COMO FAZER O DIAGNÓSTICO O diagnóstico é fundamentalmente clínico. Os exames laboratoriais e radiológicos são inespecíficos e pouco contribuem para esclarecer dúvidas quanto aos diagnósticos diferenciais. A US (Fig 2) e a TC (Fig 3), realizadas por

profissionais experientes e com equipamentos adequados, podem contribuir de maneira mais efetiva. Figura 2 (US) Ultrassonografia mostrando aumento do volume do apêndice com espessamento de sua parede. Figura 3 (TC) Tomografia computadorizada mostrando fecalito no interior do apêndice.

TRATAMENTO O tratamento é sempre cirúrgico e consiste em antibioticoterapia préoperatória, retirada do apêndice (apendicectomia) que pode ser feita por laparotomia (Fig 4) ou por laparoscopia (Fig 5). Quando houver pús, recomenda-se a lavagem e eventual drenagem da cavidade peritoneal (Fig 6). FIGURA 4 Apêndice cecal com necrose.

Figura 5 Visão laparoscópica do apêndice FIGURA 6 Aspiração do pús intraperitoneal.

O QUE É MELHOR: APENDICECTOMIA POR VIA CONVENCIONAL OU POR VIA LAPAROSCÓPICA? Desde MacBurney (1894) a via de acesso para a retirada do apêndice inflamado se faz através de uma incisão no quadrante inferior direito, imediatamente sobre o apêndice, sendo que essa técnica se mostrou muito efetiva com pouca dor e baixa morbidade pós-operatória. Com o advento da laparoscopia, essa nova via de acesso passou a despertar o interesse do cirurgião de adultos e posteriormente do cirurgião pediatra. Langer & Albanese em sua recente publicação sobre Cirurgias Minimamente Invasivas em Pediatria (Pediatric Minimal Access Surgery, publicado pela Taylor & Francis Group, USA), fizeram uma metanálise dos artigos com casuística mais expressivas comparando as duas vias de acesso e observaram as seguintes vantagens de cada via: VIA CONVENCIONAL: menor tempo de cirurgia (portanto de anestesia), menor índice de abscesso peritoneal e volta mais precoce as atividades habituais. VIA LAPAROSCÓPICA: menor incidência de infecção de ferida operatória, menos dor e menor estadia no hospital. A conclusão dos autores é transcrita abaixo: In summary, laparoscopic appendectomy cannot be recommended as the preferred approach to the child with appendicitis, but is a reasonable alternative with some potential advantages and disadvantages. Certain patients, such as adolescent females, obese children, and children with doubtful diagnosis, may represent groups to whom laparoscopic appendectomy may be particularly beneficial. Temos optado pela via convencional para os pacientes magros com apendicite em fase inicial por permitir, através de uma incisão muito pequena, a retirada do apêndice sem manipular o restante do abdome. (Fig 7)

Figura 7 Incisão para apendicectomia convencional Já nos pacientes obesos ou com apendicite complicada a via laparoscópica tem se mostrado superior pois evita grandes incisões e permite a lavagem e aspiração do pús intracavitário. (Fig 8) Figura 8 Colocação dos portais para a apendicectomia laparoscópica

COMPLICAÇÕES As complicações pós-operatórias são representadas por infecções da ferida operatória ou intracavitárias, quadro obstrutivo ou ainda por fístula cecal. O índice de complicações está diretamente relacionado com ograu de comprometimento do apêndice. Nos casos de apendicite em fase inicial, as complicações infeccionas giram em torno dos 5%. Nas apendicites complicadas (com necrose do apêndice) variam entre 30 e 70% dos casos.